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Empresas & Negócios

- Publicada em 18 de Dezembro de 2021 às 15:00

Para Arminio Fraga, economia será decisiva nas próximas eleições

Ex-presidente do Banco Central diz que inflação é um problema grave, assim como o desemprego

Ex-presidente do Banco Central diz que inflação é um problema grave, assim como o desemprego


FREDY VIEIRA/JC
Ex-presidente do Banco Central, o economista Arminio Fraga prevê que a reeleição do presidente Jair Bolsonaro é pouco provável, pelo "conjunto da obra ou da 'não obra'". Ele avalia que a economia será decisiva nas eleições, pelas dificuldades que o País passa, e alerta que o debate econômico na campanha eleitoral de 2022 terá de ser realista, ao invés de um festival de promessas não cumpridas. "Quem sabe o eleitorado melhor informado não entenda que alguma coisa está errada, que não há receita fácil, e que é preciso buscar uma proposta que tenha reais condições de dar certo". Recentemente, Fraga disse que aceitaria o cargo de ministro da Fazenda em um novo governo, desde que encontre a possibilidade concreta de colocar em prática suas ideias. Mas não deixou claro se tem simpatia por alguma candidatura. Leia mais:
Ex-presidente do Banco Central, o economista Arminio Fraga prevê que a reeleição do presidente Jair Bolsonaro é pouco provável, pelo "conjunto da obra ou da 'não obra'". Ele avalia que a economia será decisiva nas eleições, pelas dificuldades que o País passa, e alerta que o debate econômico na campanha eleitoral de 2022 terá de ser realista, ao invés de um festival de promessas não cumpridas. "Quem sabe o eleitorado melhor informado não entenda que alguma coisa está errada, que não há receita fácil, e que é preciso buscar uma proposta que tenha reais condições de dar certo". Recentemente, Fraga disse que aceitaria o cargo de ministro da Fazenda em um novo governo, desde que encontre a possibilidade concreta de colocar em prática suas ideias. Mas não deixou claro se tem simpatia por alguma candidatura. Leia mais:
O senhor disse que não pretende entrar numa campanha eleitoral em 2022, mas aceitaria ser ministro da Fazenda. Como é isso?
Arminio Fraga - De certo, digo que não pretendo me engajar em nenhuma campanha. Tenho tido a chance de conversar com muita gente e consideraria dar uma colaboração num governo onde haja chance de as ideias nas quais eu acredito serem postas em prática com algum sucesso.
Qual a sua avaliação dos cenários políticos dos presidenciáveis que já se apresentaram, do ponto de vista do debate econômico?
Fraga - Está cedo ainda. Eles terão de se posicionar com mais clareza. No momento, estão dando sinais mais gerais. Alguns não dão sinal algum. Só saberemos a partir de março, abril.
A situação econômica ruim tira a possibilidade de reeleição do presidente Bolsonaro em 2022?
Fraga - Hoje, a reeleição parece pouco provável. Não só por causa da economia. Pelo conjunto da obra ou da 'não obra'.
O debate da desigualdade ganhará força nas eleições? Esse tema sempre esteve associado mais ao PT...
Fraga - Sim, o PT fez muita coisa, Fernando Henrique também, houve continuidade. Mas, ao mesmo tempo, houve com o PT uma política de dar enormes subsídios, vantagens para os mais ricos, a chamada bolsa empresário. Sempre ouvi Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda durante o governo FHC) repetir que a raiva da pobreza e da má distribuição de renda não é monopólio de ninguém. O modelo social-liberal, que foi o do Fernando Henrique, ainda me parece o melhor caminho. Precisamos de um pêndulo político mais curto, e não de uma bola de demolição.
Por que o Brasil não consegue se organizar para embarcar numa trajetória de crescimento consistente e inclusiva?
Fraga - Essa é uma pergunta chave para nortear o debate. Politicamente, tem sido difícil o País construir esse caminho. Nos prejudica a frequência com que o Brasil anda para trás. Parece que vai engrenar, mas logo vem uma guinada para trás, tipicamente consequência de ideias erradas e populistas. Essa instabilidade inibe muito o consumo e o investimento. Quem sabe o eleitorado melhor informado não entenda que alguma coisa está errada, que não há receita fácil, e que é preciso buscar uma proposta que tenha reais condições de dar certo.
Com o PIB em recessão técnica, alta da inflação e a volta da estagflação, qual a perspectiva para 2022?
Fraga - O BC corretamente está apertando os juros. Pode-se discutir a calibragem, mas evito essa discussão conjuntural. Nessa hora, é bom que o presidente do BC tenha mandato e deixe claro que vai ficar até o fim, o que ele tem feito. A política monetária mais apertada e o enorme grau de incerteza que domina hoje a cena são fatores que deprimem a economia. Não é à toa que as estimativas de crescimento para 2022 estejam sendo revisadas para baixo. Um País com a nossa história chegar a uma inflação de dois dígitos, se começar a indexar, aí é o diabo.
A inflação é o maior problema da economia?
Fraga - Não, mas é grave. Os maiores problemas são a falta de crescimento e a desigualdade. Faz falta uma agenda com esse foco. Mas com inflação não há progresso. O Brasil vive uma situação extrema de fragilidade fiscal, desemprego e subemprego. Parte da inflação vem de choques de custos. Nesse contexto, faz sentido retornar à meta apenas em 2023, desde que em 2022 haja uma clara reversão na tendência de alta da inflação. Não combater a inflação seria pior, já vimos esse filme.
E como resolver o problema do crescimento da economia?
Fraga - Falar do crescimento agora é falar da incerteza de uma economia toda engatilhada, amarrada, fechada. É preciso tomar certo cuidado para não confundir o comportamento cíclico do ano que vem com a tendência de crescimento. Eu gosto de usar a palavra crescimento para a tendência de médio e longo prazo. Quando falamos do ano que vem, estamos falando de recuperação. E a recuperação vem fraca e o crescimento, a essa altura do jogo, está com uma cara ruim.
O senhor compartilha da avaliação de que na campanha de 2022, ao contrário do que correu em 2018, a economia será decisiva na eleição?
Fraga - Suspeito que sim. Em função do sofrimento e das dificuldades que o País vem enfrentando desde 2014. A economia sempre é uma prioridade das pessoas, porque ela está conectada com temas como: emprego, inflação, desigualdade, saúde, educação, transporte e segurança. Todos temas que afetam diretamente a qualidade de vida. Essas questões têm espaço natural de discussão no orçamento, que conecta a economia e a política. Não será o único assunto, as questões identitárias ganharão cada vez mais espaço. Mas tem muito assunto que depende de dinheiro.
O Congresso está ignorando o que acontece na economia e só pensa na eleição de 2022?
Fraga - Por ora, os sinais não são bons, o que parece ser consequência de um foco exagerado no varejo e nas eleições. A grande vítima desse jogo foi a responsabilidade fiscal. Aumentou muito o risco de uma crise maior. Mas o Congresso tem instinto de sobrevivência, espero que acordem.
O que seria uma crise maior?
Fraga - Inflação, mais pressão no dólar (que lembra 2002), uma recuperação econômica relativamente tímida e que poderá ser abortada. A partir dessa avaliação, pode-se imaginar uma dinâmica entre política e economia bem complicada. Quando os candidatos estiverem em plena campanha, o mercado vai oscilar com base nas opiniões que são ventiladas e nas probabilidades de essas posições se tornarem realidade. Essa probabilidade se extrai das pesquisas, sobretudo. Vamos ver muita volatilidade.
A elite empresarial está vivendo numa bolha, fazendo vista grossa à realidade do País?
Fraga - A conclusão inescapável é que as elites, com exceções, têm sido chapa-branca, curto-prazistas, oportunistas, na verdade um obstáculo ao desenvolvimento do País. Parte dessa "elite" abraçou a Dilma e o Bolsonaro. Ambos tiveram, até um determinado momento, apoio substancial das elites empresariais. E isso casa com o que parece ser uma obsessão suicida de voltar a um modelo de economia fechada, com subsídios abundantes, pouco respeito à previsibilidade, ao equilíbrio macroeconômico e à desigualdade. É como se a gente não aprendesse. Nas décadas de crescimento acelerado, o Brasil estava se industrializando e urbanizando. Mas o modelo se esgotou e houve um colapso na produtividade visível já na década de 1970. Em todos esses momentos, tivemos uma elite defendendo o seu pedaço de uma maneira míope e que foi responsável por uma parte relevante do nosso desempenho medíocre desde a década de 1980.
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