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Reportagem especial

- Publicada em 30 de Maio de 2021 às 17:47

Rota Romântica conquista turistas e movimenta economia local

No outono, folhas caídas formam tapetes em tons vermelhos, laranjas e amarelos

No outono, folhas caídas formam tapetes em tons vermelhos, laranjas e amarelos


SABRINA SCHUSTER/DIVULGAÇÃO/JC
Antes da Serra gaúcha, ainda no Vale dos Sinos, começa um caminho turístico e cultural que grande importância para o Rio Grande do Sul: a Rota Romântica. Seus 14 municípios concentram R$ 28,3 bilhões em PIB (dados de 2018), cerca de 6,19% da riqueza gaúcha.
Antes da Serra gaúcha, ainda no Vale dos Sinos, começa um caminho turístico e cultural que grande importância para o Rio Grande do Sul: a Rota Romântica. Seus 14 municípios concentram R$ 28,3 bilhões em PIB (dados de 2018), cerca de 6,19% da riqueza gaúcha.
São inúmeros comércios, serviços e indústrias, muitos deles tradicionais e familiares, que agregam valor à região e ajudam a incrementar o desenvolvimento das comunidades integrantes que a integram.
As cidades que compõem a Rota Romântica são Canela, Dois Irmãos, Estância Velha, Gramado, Ivoti, Linha Nova, Morro Reuter, Nova Petrópolis, Novo Hamburgo, Picada Café, Presidente Lucena, Santa Maria do Herval, São Francisco de Paula e São Leopoldo, somando uma área com 762 mil habitantes.
Justamente nesta época do ano, os plátanos e as árvores da região perdem suas folhas e colorem as margens das estradas com tons vermelhos, laranjas e amarelos, um espetáculo à parte durante o outono, deixando a paisagem ainda mais especial em um trecho histórico e turístico do Rio Grande do Sul cuja importância turística e econômica é inegável, e que desperta paixões em cada quilômetro.

Plátano, planta símbolo da região, é tão relevante que está presente até na logomarca do roteiro

Mapa da rota romântica

Mapa da rota romântica


rota romântica/divulgação/jc
Fundada oficialmente em 22 de abril de 1996, em Dois Irmãos, a Rota Romântica é cortada por centenas de quilômetros de estradas. Ao menos uma delas é federal, a BR-116, outras são estaduais, e muitas delas são vicinais, cuja grande parte nunca recebeu asfalto. Mas o que mais chama a atenção é o contraste único entre os mais diferentes lugares.
É possível vivenciar cenários densamente urbanizados, onde o tempo corre na velocidade da evolução tecnológica, mas também admirar, com diferença de poucos quilômetros, paisagens no interior pouco alteradas desde o início da colonização germânica. Nestas, o relógio parece tiquetaquear sem pressa, no ritmo da relva crescente e dos regatos cantantes.
O plátano, planta símbolo da Rota Romântica, é tão relevante que está presente até mesmo na logomarca oficial do roteiro turístico. Não são nativos da região, mas se adaptaram muito bem ao clima subtropical com tendência ao inverno frio, em partes, parecido com o local do planeta de onde são próprios - Europa e América do Norte.
"Plantamos os plátanos ao longo da Rota para que houvesse um espetáculo natural aos turistas que passam por aqui", afirma o presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, de Nova Petrópolis. O município, conhecido como Jardim da Serra Gaúcha, é onde está localizada a sede do caminho, na chamada Torre de Informações, com 25 metros de altura, e que recepciona os turistas no entroncamento da BR-116 com a ERS-235.
Cada detalhe da Rota é importante. O cientista social e antropólogo Moisés Kopper publicou, em 2013, um artigo em que detalha a construção cultural da Rota, a partir de configurações políticas e sociais. O estudo foi feito no ano anterior, durante um Seminário de Doutorado, junto ao PPG em Antropologia Social da Ufrgs.
E, conforme a publicação, na qual Weber também foi entrevistado, o próprio plantio dos plátanos foi feito de maneira proposital, já que a variedade havia sido trazida pelos imigrantes germânicos que colonizaram a região ainda no século XIX. Hoje, um levantamento da associação estima que há mais de mil unidades ao longo de todo o trajeto, e novas árvores são plantadas - e outras repostas em substituição às que morrem - todos os anos.
Os plátanos também conferem mais semelhança à chamada Romantische Straße alemã, a Estrada Romântica de mais de 400 quilômetros, entre Würzburg e Füssen, na fronteira com a Áustria, criada ainda na década de 1950, e que serviu de modelo à rota gaúcha.
"As cidades que compõem a Rota Romântica gravitam em torno do legado da colonização alemã na região. Apesar desse background comum, cada município desenvolveu estratégias específicas de incentivo ao turismo", afirmou Kopper ao Jornal do Comércio. Ele está trabalhando na Bélgica em mais um pós-doutorado, o terceiro, desta vez no Laboratoire d'Anthropologie des Mondes Contemporains da Universidade Livre de Bruxelas.

Atrações turísticas que potencializam o roteiro

Empresas Especial Rota Romântica Anelise em estrada de Gramado

Empresas Especial Rota Romântica Anelise em estrada de Gramado


/Anelise Zanoni/Divulgação/JC
Um dos estabelecimentos mais tradicionais é a Tenda do Umbu, aberta em 1965 às margens da antiga BR-2, hoje BR-116, por Eloi Ruckert, filho primogênito do casal Levino e Guida Ruckert, na localidade de Morro Bock, em Picada Café, na Encosta da Serra.
Desde 1999, o local, que recebeu este nome em razão de o comércio ter sido erguido à sombra de um umbuzeiro, é gerenciado pelas irmãs e sócias-proprietárias Liliam Ruckert, 42 anos, e Miriam Maurer, 52, filhas de Eloi.
"Geramos emprego e renda a muitas famílias que direta e indiretamente tiram aqui o seu sustento, e temos orgulho em dizer que somos um dos pontos turísticos mais conhecidos da região", comenta Liliam.
O local tem um restaurante com café colonial aos domingos, lancheria com variedades caseiras, mais uma loja, que comercializa artigos de pele, produtos de inverno, itens de artesanato e acessórios para motociclistas. Aliás, em finais de semana, os amantes de duas rodas são visitantes tradicionais da tenda, cujo slogan é "a parada obrigatória da BR-116".
"Nosso maior movimento é nos finais de semana. Recebemos em torno de 2,5 mil visitantes a cada sábado e domingo, somando cerca de 10 mil por mês", diz Liliam.
A jornalista Anelise Zanoni ama viajar, e já esteve na rota inúmeras vezes. Atualmente, ela mantém o site Travelterapia e é diretora da agência de comunicação Way Content, especializada em turismo e gastronomia. "Existe uma qualidade muito grande deste turismo que é feito nesta região da Rota Romântica, porque se encontra esta questão da imigração muito forte, as paisagens são muito bonitas, a gastronomia é boa também", afirma Anelise.
Seu destino preferido na Rota? "Gosto muito de Morro Reuter. Quando eu dava aulas de Jornalismo (na Unisinos, onde lecionou por 10 anos), levava lá meus alunos para fazer uma imersão. Ali há locais onde a arte é muito forte, como os ateliers dos artistas plásticos Flávio Scholles e Anelise Bredow, então é algo bem diferenciado".
Ela também cita Nova Petrópolis e os municípios da Serra e Encosta da Serra como eventuais destinos de interesse. E conforme a jornalista, a Rota ainda pode ser mais explorada, a depender da iniciativa das próprias cidades.
"Penso que os municípios com mais potencial turístico já se deram conta da importância do turismo, acho que pode ser mais desenvolvido. Têm cidades bem pequenas ali, com um interior lindíssimo e que também mereciam ter alguns roteiros. Há uma potencialidade enorme ligada à cultura germânica, e que a gente algumas vezes desconhece", comenta ela.
Uma das grandes satisfações do presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, cujo quinto mandato consecutivo termina em 2022 - ele iniciou na presidência em 2005 -, é engajar e manter a união entre os 14 municípios por tanto tempo em torno de uma mesma causa, mesmo com tantos gestores de todas as matizes ideológicas.
"Talvez o segredo de nosso sucesso ao longo destes 25 anos, e é claro que não podemos jogar louros, é justamente termos pés no chão, muita credibilidade, fortalecer a marca, e ter projetos que realmente saiam do papel. Sempre buscamos estar na vanguarda", afirma ele, que busca, agora, deixar um legado importante para os próximos administradores.

Universidades e entidades se unem em apoio ao projeto

Anelise destaca a qualidade do serviço turístico, as características da imigração alemã e gastronomia como diferenciais

Anelise destaca a qualidade do serviço turístico, as características da imigração alemã e gastronomia como diferenciais


/Anelise Zanoni/Divulgação/JC
"Imenso!" É desta forma que o presidente da Associação Comercial e Industrial de Nova Petrópolis (Acinp), Marcos Alexandre Streck, define o potencial turístico da Rota Romântica. "Hoje ela é um dos principais circuitos turísticos do Sul do país. O caminho em si já é uma atração ímpar, com estradas bem conservadas, sinalização específica e lindas paisagens", afirma ele.
A sede da Acinp foi o local onde, no último dia 13 de maio, lideranças regionais se reuniram para tratar da criação de um "plano integrado para o desenvolvimento sustentável" no âmbito do Contur (Conselho de Turismo da Região das Hortênsias), criado no ano passado por entidades de Nova Petrópolis, Gramado, Canela, São Francisco de Paula e Picada Café, e no qual a Rota Romântica também integra.
O ambiente acadêmico tem igualmente sua importância para o fomento do percurso. Em dezembro de 2012, por exemplo, a Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, firmou convênio com a Associação dos Municípios da Rota Romântica, e hoje, a instituição mantém parcerias com vários dos 14 municípios integrantes do projeto, segundo Alexandra Zottis, professora do curso de Turismo da Feevale. "Nas disciplinas dos cursos de Hospitalidade, incentivamos o desenvolvimento de projetos e os trabalhos com foco nos municípios de origem dos alunos e nas suas regiões de entorno", pontua ela.
Também na visão da docente, o projeto da Rota Romântica é bem conduzido e vem se reinventando, a partir de iniciativas como o próprio incentivo ao cicloturismo. "As oportunidades não estão restritas aos médios e aos grandes empreendimentos, como restaurantes, tendas, cafés coloniais, hotéis e pousadas.
Os pequenos negócios como os de venda de flores, frutas e artesanato, proporcionam o complemento de renda aos seus empreendedores, que, em geral, usam a frente das suas propriedades como vitrines. Esses, muitas vezes, singelos negócios são 'a cara' da Rota Romântica", afirma Alexandra.
Exemplos são a própria Tenda do Umbu e os "comércios de beira de estrada", comuns ao longo da BR-116, que vendem itens diversos, desde mudas de flores, cactos e produtos coloniais em geral, a grande maioria deles da própria região.

Circuito de Cicloturismo é a nova aposta

Empresas Especial Rota Romântica grupo Brothers do Pedal

Empresas Especial Rota Romântica grupo Brothers do Pedal


/Dirceu José Pies/Divulgação/JC
O mais recente dos projetos para promover o roteiro é o Circuito de Cicloturismo da Rota Romântica, lançado no dia 27 de setembro de 2020. Trata-se de um trajeto autoguiado de 15 trechos e 355 quilômetros, que passa pelas 14 cidades, e no qual, obviamente, orienta-se o percurso de bicicleta, embora haja quem possa fazê-lo a pé ou de carro.
Há placas que orientam o visitante em todos os trechos. E a ideia do circuito é incentivar a contemplação das mais diferentes paisagens urbanas e rurais, além de proporcionar uma alternativa desafiadora aos amantes do pedal. "Percebemos, há dois ou três anos, quando iniciamos o projeto, que a modalidade do ciclismo estava crescendo muito", observa ele.
Não é regra percorrê-lo de forma integral, mas de forma a incentivar o ciclista a fazê-lo, a associação da rota criou um carimbo, adicionado ao passaporte do viajante a cada ponto de parada. As duas primeiras pessoas a completar o percurso, Hélcio Antunes e Douglas Seefeld, catarinenses de Balneário Camboriú, o fizeram apenas quatro dias depois do lançamento do caminho.
"O Circuito é muito bom, um trajeto bastante desafiador", conta Hélcio, dizendo que não conhecia a Rota Romântica, mas havia pedalado em Gramado. O trajeto também buscou privilegiar locais onde, eventualmente, havia locais de pouso e descanso, bem como fontes de água próximas.
O policial civil de Dois Irmãos Dirceu Jacó Pies, 41 anos, é um dos integrantes do grupo Brothers do Pedal, criado há cerca de três anos por seis amigos de Dois Irmãos e Morro Reuter. Hoje, são 120 participantes. Ele concorda que o circuito tem belíssimas paisagens, mas que é preciso preparo.
"Atualmente é difícil, praticamente qualquer ciclista o faz, mas a ideia do trajeto é justamente realizá-lo com calma e apreciar cada segmento. Acredito que não fosse o circuito em si, muitos locais não iriam ser apreciados e conhecidos", comenta o policial.
Dirceu, que mora em Morro Reuter, conta que costuma ir pedalando ao trabalho no município vizinho - tudo registrado no aplicativo Strava - e que já incentivou a esposa, Claudete Rhoden, 47 anos, e o filho mais velho, Claudir Rhoden Pies, de 10 anos, a tomarem gosto pelo mesmo esporte. O mais novo, Daniel, de 7 anos, ainda não pedala. O trecho favorito de Dirceu? "São vários, mas curtimos muito de Dois Irmãos à Tenda do Umbu, que fazemos praticamente todos os domingos".
Quem vai a São Leopoldo pode conferir o Museu do Trem e a Rua da Praia, defronte ao Rio dos Sinos. Em Novo Hamburgo, há o bairro histórico de Hamburgo Velho e suas atrações, a exemplo da Casa Schmitt-Presser e a Fundação Scheffel. Ivoti tem como pontos turísticos a Ponte do Imperador e o Núcleo de Casas Enxaimel.
Em Dois Irmãos, pode-se conferir o Parque Romeo Benício Wolf e a Praça do Imigrante. Já em Estância Velha, passe pelo Receptivo Turístico e pelo Paradouro Rota Romântica Oswaldo Metz. Morro Reuter conta com o Morro da Embratel, ou Felskopf, e o Pórtico, na entrada do município. Santa Maria do Herval tem a Cascata e a Caverna dos Bugres, além do Museu Municipal Professor Laurindo Vier.
Em Presidente Lucena, existe o Parque Municipal Egon Gewehr e a Igreja Três Mártires Riograndenses. Em Picada Café, o visitante pode conferir o Parque Jorge Kuhn e o Mirante, no Morro do Vento. No município de Linha Nova, as atrações são o Parque Municipal Georg Heinrich Ritter, além da Heimathaus.
Já em Nova Petrópolis, há também os parques Aldeia do Imigrante e Ninho das Águias. Gramado tem o Lago Negro e o pórtico de entrada. Canela conta com a Cascata do Caracol e a Catedral de Pedra, e, por último, São Francisco de Paula oferece visitação ao Lago São Bernardo e os plátanos da av. Júlio de Castilhos.

O melhor hotel do mundo fica na Rota Romântica

Empresas Especial Rota Romântica hotel Colline de France, além do casal Jonas e Ana Clara, que são os proprietários

Empresas Especial Rota Romântica hotel Colline de France, além do casal Jonas e Ana Clara, que são os proprietários


/Colline de France/Divulgação/JC
Embora os municípios da Rota Romântica tenham vocação turística consolidada ou a estejam desenvolvendo, é impossível dissociar a importância de Gramado para o projeto. A cidade é o segundo destino turístico mais procurado do Brasil, e recebe mais de seis milhões de visitantes por ano, segundo a prefeitura. Em 2019, 87% da economia gramadense dependia do turismo.
"As belezas inconfundíveis da Rota Romântica são visões à parte. São caminhos que demonstram um pouco do cuidado que o povo gaúcho tem com sua história e, principalmente, com aqueles que buscam na Serra o encanto de uma região que está atenta aos detalhes", comenta o prefeito de Gramado, Nestor Tissot (PP).
No começo deste ano, a cidade figurava na lista de 21 destinos tendência para 2021, feita pelo Ministério do Turismo. Hoje, a cidade do Natal Luz e do Festival de Cinema tem mais de 200 casas gastronômicas e 15 mil leitos de hotel,
Trinta e quatro dessas suítes estão no Colline de France, eleito, em maio deste ano, o melhor hotel do mundo no prêmio Traveller's Choice, do site TripAdvisor. Um incentivo e tanto para os turistas que, por exemplo, sobem a Rota Romântica e vão em direção às paisagens em estilo europeu pelas rodovias que conduzem às Hortênsias.
Os proprietários Jonas Caliari Tomazi, 40 anos, e Ana Clara Grings Tomazi, 35, estão radiantes, já que é a primeira vez que um estabelecimento do tipo no Brasil recebe esta láurea. Juntos há 14 anos, e com dois filhos - Teodoro, com 4 anos, e Henrique, um ano e dez meses -, inauguraram o empreendimento em 15 de novembro de 2018.
Já no terceiro mês, o Colline de France alcançou o topo dos hotéis nacionais na avaliação dos clientes no ranking nacional do TripAdvisor. Mas o hotel não foi premiado naquele ano: pelas regras do site, é preciso ter, no mínimo, dois anos de participação no ranking para isto.
"Estamos inseridos na Rota Romântica da melhor forma possível, que é pelo ótimo atendimento, e foi isso que norteou nosso título. O fator humano tem tudo a ver com a Rota", avalia Tomazi. O Colline também está em 1º lugar entre os hotéis de Gramado no site Booking, e tem notas máximas de avaliações no Google e Hoteis.com.
No entanto, Tomazi afirma que a Rota Romântica precisa ser mais valorizada. "A BR-116 é um pouco perigosa em comparação à outra estrada que traz a Gramado (ERS-115, caminho por Igrejinha), mas muito mais linda e encantadora. E sempre oferecemos aos clientes irem embora por ela para desvendarem essa parte linda do Rio Grande do Sul", relata.

Cuidado com os caminhos fazem a rota acontecer

Empresas Especial Rota Romântica

Empresas Especial Rota Romântica


/Rota Romântica/Divulgação/JC
O presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur Serra Gaúcha), Mauro Salles, diz que a Rota Romântica é um empreendimento que deu certo.
"Na verdade, ela é uma grande experiência. Imagine então para um turista que vem de outra região do País e que vivencia com os encantos, serviços e produtos, bem como os costumes do gaúcho", afirma, ao destacar que há muitos feedbacks positivos de clientes que ficam encantados com a rota.
Para o dirigente, este modelo de empreendimento é muito importante, pois desenvolve todo o entorno, ajuda as empresas a evoluírem e o turista a ter uma experiência diferenciada.
Com relação aos negócios, especialmente da agricultura familiar que se utiliza da rota para escoar suas produções, mas também ao turismo, pelo menos um grande projeto alternativo está em curso: trata-se da pavimentação de dez quilômetros da ERS-373, entre Gramado e Santa Maria do Herval. O anúncio do novo asfalto foi feito em fevereiro deste ano, e o custo estimado para a obra é de R$ 15 milhões, recurso obtido em parte por meio de emendas parlamentares federais.
Para se ter uma ideia, a distância entre os centros dos dois municípios é de 24 quilômetros por esta rodovia, passando por dentro das localidades de Boa Vista do Herval e Alto Padre Eterno, em Santa Maria do Herval, e Serra Grande, em Gramado, e aumenta para 80 quilômetros via BR-116.
O presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, realiza reuniões e planejamentos constantes com os órgãos governamentais em busca de melhorias. Por exemplo, no que diz respeito ao Circuito de Cicloturismo, cuja pequena parte do trajeto é feita em rodovias estaduais, como a ERS-235 e a VRS-873, mas especialmente com as prefeituras, para conservação das estradas vicinais. Com o governo federal, por meio do Dnit, responsável pela BR-116, principal rodovia da rota, trata sobre podas e limpeza da rodovia.
Por sua vez, as administrações salientam a importância do caminho para o desenvolvimento econômico e turístico das cidades e toda a região. "Desde sua criação, nos anos 1990, a Rota Romântica passou a movimentar o turismo e a economia de muitos municípios, em especial de colonização alemã no Vale do Sinos e Região das Hortênsias.
Muitos deles, que são de pequeno e médio portes, passaram a ter um incremento na arrecadação local e criação de postos de emprego com a atração de turistas de todo o Brasil", observa o secretário estadual de Turismo, Ronaldo Santini.
Em nota, a Embratur, agência que atua na promoção internacional do turismo - e nacional, junto ao Ministério do Turismo, durante a pandemia -, também reforça a importância da Rota Romântica.
"Por contemplar alguns dos principais destinos brasileiros, a Rota é acompanhada de perto pela Embratur, seja pela demanda do trade operador na região, seja pela necessidade de exaltar os atrativos turísticos regionais em feiras nacionais, internacionais e em campanhas publicitárias", afirma.
A agência também diz que recebeu recentemente o prefeito de Gramado, Nestor Tissot (PP), para discutir a participação em projetos, e está em contato permanente com o secretário de Turismo de Canela, Ângelo Sanches Thurler, eleito, no final de março, presidente da Associação Nacional dos Secretários e Dirigentes Municipais de Turismo (Anseditur). A partir do mês de julho, a agência deverá voltar a atuar com foco no mercado do exterior.

Roteiro é motivo de orgulho para moradores e de mobilização para prefeituras

Para o prefeito de Nova Petrópolis, Jorge Darlei Wolf (PSDB), a Rota Romântica representa tudo o que a região tem de melhor a oferecer aos turistas. "Além disso, a associação faz um grande trabalho institucional, que trouxe muito retorno a todos nós", diz ele.
O prefeito de Dois Irmãos, Jerri Meneghetti (PP), comenta que o município integra a rota desde seu início e é um fundadores desde a concepção do projeto. "De forma integrada com outras cidades da região, ela contribui para o desenvolvimento do turismo, história e cultura regionais, atraindo visitantes, potencializando a economia local e fomentando nossos empreendimentos", afirma Meneghetti.
Já o prefeito de Linha Nova, o município menos populoso de toda a rota, Henrique Petry (MDB), afirma que o caminho é de fundamental importância para a cidade. "Foi nosso pontapé inicial dentro do turismo. Além de estimular o desenvolvimento desta área em especial, a Rota Romântica também levou o nome de Linha Nova pela região", afirma ele.
Na visão do presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, outra característica é proporcionar uma clara diferenciação, mas ao mesmo tempo uma mescla entre o turismo rural, mais contemplativo, representado muito mais pelos municípios do interior da Encosta da Serra e Serra, e o turismo de negócios, mais presente de maneira relativa em grandes centros urbanos.
"Você vai a Novo Hamburgo, por exemplo, e visita uma feira ou uma convenção, e aquilo não deixa de ser turismo. Agora, estes municípios maiores, São Leopoldo, por exemplo, também têm seu interior. E esta exploração pelos interiores não deixa de ser uma divulgação indireta do roteiro turístico", afirma ele.
Entre os moradores, há o sentimento permanente de pertencimento às belezas da Rota Romântica. Recentemente, o casal Carla Luciane Jahnel Gonçalves, 37 anos, e Roni Heleno Weber, 40, ela bancária e ele contador, fizeram um ensaio fotográfico com a profissional Sabrina Schuster, de Nova Petrópolis, em meio aos plátanos, com os filhos gêmeos Betina e Bernardo, ambos com 10 meses. A família é do mesmo município.
"Admiro a limpeza e conservação das áreas públicas, o acolhimento do povo e a hospitalidade. Onde moro é um ótimo lugar para viver, pouca violência e boa infraestrutura", comenta Carla.

Manutenção depende de eventos e captação de recursos

Cicloturismo é apontado como uma das atividades que deve apresentar crescimento e nortear outros projetos

Cicloturismo é apontado como uma das atividades que deve apresentar crescimento e nortear outros projetos


/Rota Romântica/divulgação/jc
Para que diversos dos projetos executados pela rota aconteçam, há uma importante parceria com cooperativas com atuação regional, como a Sicredi Pioneira RS, instituição que apoia, entre outros, o Circuito de Cicloturismo.
"Temos um propósito muito forte, que é o de construir comunidades melhores. O turismo passou a ser um de nossos segmentos norteadores a partir do planejamento estratégico 2018-2020", diz Daniel José Hillebrand, gerente de relacionamento e coordenador do painel estratégico de turismo na cooperativa.
Somando estes dois fatores, explica ele, a cooperativa acabou se vinculando a entidades que representam o setor e fazem a diferença na região. "Isto motivou nossa aproximação com a Rota Romântica", relata.
Atualmente, a Sicredi Pioneira RS, fundada em Nova Petrópolis, está presente em 21 municípios, entre eles, os 14 da região da Rota Romântica. Na opinião de Hillebrand, a pandemia frustrou alguns investimentos que seriam realizados pela cooperativa, por exemplo, em eventos regionais que não aconteceram.
Com a mudança do presencial para o virtual, a Sicredi Pioneira RS ainda assim fez questão de investir nas ações ocorridas, como os patrocínios aos natais de Gramado, Canela (Sonho de Natal) e Nova Petrópolis (Natal no Jardim da Serra Gaúcha).
"Vamos apoiar todos os projetos que têm por objetivo beneficiar as comunidades das cidades da rota", destaca. Hillebrand afirma também que o orçamento da associação, em geral, é pequeno, mas que, mesmo assim, é possível, por meio das parcerias firmadas, realizar projetos virtuosos, em razão da credibilidade de todo o projeto ao longo do tempo.
No começo de maio, o presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, foi um dos painelistas do evento Festuris Connection, em Gramado, realizando um workshop justamente sobre o cicloturismo como uma opção dita por ele viável durante a Covid-19.
"Nossa participação no Festuris foi muito boa, no sentido de que foi mais uma oportunidade para divulgar o cicloturismo. Então, de toda forma, os eventos são importantes. Eles não estão acontecendo presencialmente, devido ao coronavírus. Mas, quando acontecem, temos que estar lá para divulgar nosso produto macroatual. Quando o Circuito de Cicloturismo estiver pronto e andando com as próprias pernas, poderemos focar em um outro projeto", detalha Weber.
Há, ainda, segundo ele, algumas adequações que podem ser realizadas no Circuito de Cicloturismo, a exemplo do carimbo eletrônico, que, eventualmente, irá substituir ou complementar a marcação manual no passaporte criado pela Rota.
O outro projeto em estudo, revelado em primeira mão ao Jornal do Comércio pelo presidente da Associação da Rota Romântica, é um trajeto para caminhantes. "Esta é outra modalidade que cresce absurdamente. E provavelmente vamos utilizar a mesma estrutura do Cicloturismo", conta. Os moldes devem seguir os do atual projeto para bicicletas, com pontos de parada e sinalização específicos.

Roteiro, que tem história ligada às inspirações de outros caminhos, atrai novos aspirantes

A Rota Romântica nasceu de duas ideias. A primeira delas foi um projeto que englobava quatro municípios da região das Hortênsias: Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula, de acordo com Terezinha Marina Kuhn Haas, ex-secretária de Turismo de Nova Petrópolis durante 21 anos. Ela foi também a primeira presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, eleita ainda em 1996.
Na ocasião, o prefeito municipal era Siegfried Drechsler, que estava no último ano de seu segundo mandato - ele havia comandado Nova Petrópolis de 1984 a 1988. "Já vínhamos fazendo atividades entre os quatro municípios, e víamos que nosso principal público era da Grande Porto Alegre, com destino às Hortênsias. Vislumbramos uma ideia de corredor entre estes dois locais", conta ela.
Havia, nas palavras de Terezinha, uma área geográfica com opções que não eram inicialmente apresentadas aos turistas. "Eles simplesmente passavam por ali. E percebeu-se que tínhamos uma grande oportunidade". Na época, a secretaria tinha bons contatos com universidades de dentro e fora da região, inclusive para estágios na área turística.
Um deles foi realizado com os alunos do curso de Turismo da Pucrs, que, por coincidência, estavam fazendo os inventários turísticos dos municípios da Grande Porto Alegre, entre eles, São Leopoldo e Novo Hamburgo.
Também se notou que, o que unia praticamente todos os municípios era a imigração ou a inspiração germânica (talvez com exceção de São Francisco de Paula, cuja ideia de inclusão na rota foi do próprio ex-prefeito Siegfried), e que o "corredor natural", ou a BR-116, já existia.
Assim nasceu o projeto, da união de várias entidades. "Lançamos o mesmo em Porto Alegre, tendo os professores da Pucrs, inicialmente com 11 municípios, e com um pequeno inventário do que tinham de diferente a oferecer, e que já faziam isto naturalmente: danças, música, festas típicas. Nós estávamos prontos para poder oferecer isto ao público que passava pelo caminho todos os anos, e agora teriam espaço para conhecer novas alternativas", relata Terezinha.
A segunda inspiração foi a visita de uma delegação brasileira à própria Romantische Straße, entre 16 e 29 de março de 1996. Aqui, uma curiosidade: um dos convidados a participar da viagem técnica foi Eloi Ruckert, fundador da Tenda do Umbu, em Picada Café, segundo conta a filha Liliam. Lá, foram coletados subsídios para a implantação da Rota Romântica no Rio Grande do Sul.
Por aqui, a tradicional sinalização foi feita com o apoio do governo do Estado, e a proposta do plátano amplamente aceita para simbolizar o próprio projeto em si. A primeira assembleia geral da associação ocorreu em abril de 1996, e a primeira diretoria eleita em 14 de maio seguinte.
A expansão do roteiro passou de 11 para 13 municípios com a adesão de Santa Maria do Herval e Estância Velha em março de 1997, e Linha Nova, o 14º, ingressou em 2012.
Conforme o presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, mais quatro ou cinco municípios já apresentaram projetos em algum momento para aderir à rota. Existe uma série de pré-requisitos para buscar este ingresso. O primeiro deles é a própria aprovação em assembleia municipal.
"É preciso ter também alguma vocação turística, e não estar muito longe do mapa do roteiro. Convocamos uma reunião extraordinária e é preciso ter votos praticamente unânimes", explica ele.

Um futuro de otimismo projetado para o roteiro

Expectativa é de retomada do movimento de turistas com destaque para programações em meio à natureza e ao ar livre

Expectativa é de retomada do movimento de turistas com destaque para programações em meio à natureza e ao ar livre


/Rota Romântica/Divulgação/JC
Há muita expectativa, tanto na própria Rota Romântica, quanto nas entidades que a apoiam, em relação ao turismo pós-pandemia. Enquanto ainda não é possível dizer com certeza quando a Covid-19 deixará de ser uma preocupação, as apostas do presidente da Associação dos Municípios da Rota Romântica, Cláudio José Weber, estão no turismo de contemplação, que tem o Circuito de Cicloturismo como principal representante. "Acredito que haverá uma migração para a área rural, ecológica, onde você tem liberdade e espaço, sem aglomeração", relata.
Nesse contexto, segundo ele, o turismo de interior não compete com o urbano. "A escolha é do visitante", afirma, ao lembrar que, nas cidades maiores, o turismo está melhor estruturado. "Então talvez agora seja a vez de fazer investimentos mais na linha do interior", completa.
A professora do curso de Turismo da Feevale. Alexandra Zottis, concorda, e argumenta que o turismo vai se reerguer, mesmo que leve algum tempo. "Estudos que vêm sendo feitos apostam que, nas primeiras fases da retomada, haverá a valorização do regional, de segmentos com maior contato com a natureza como o rural e o de aventura, experiências mais voltadas ao bem-estar, entre outras."
A segurança, aliás, passa também a ser mais cobrada e compreendida como essencial", diz ela. Mesma visão tem Daniel, da Sicredi Pioneira RS. "O turismo pós-pandemia continuará sendo com cuidados e segurança na saúde. Terá um destaque com programações na natureza, ao ar livre, com aspectos de agregar valor. Não apenas visitar um local, que eu entre em um lugar e saia diferente", afirma.
Neste mês, a Sicredi Pioneira RS, Sebrae RS, BRDE e RS Garanti lançaram o Programa Avança Turismo, para fomento do atividade local com foco em meios de hospedagem, serviços de transporte, alimentação e agências de turismo, através da linha de crédito Fungetur, do governo federal. É uma oportunidade para alavancar um setor que ainda fatura 60% menos do que antes da Covid-19, segundo o Sebrae RS.
 "Gostaria de deixar uma mensagem de otimismo, porque tem muitos empresários com medo e receio. É mais importante olhar para o lado e perceber que tem gente prosperando, porque teve ideias e as está executando. Têm muitas oportunidades na região da Rota Romântica", diz explica Daniel José Hillebrand, gerente de relacionamento e coordenador do painel estratégico de turismo da Sicredi Pioneira RS.
Outro aspecto neste contexto é a celebração, em 2024, dos 200 anos da chegada dos imigrantes germânicos a São Leopoldo. Ainda que Weber não projete, por enquanto, ações neste sentido em razão da Covid-19, ele diz que já há conversas para que eventos possam ser realizados na ocasião.
 A rota, que celebrou recentemente seu jubileu de prata, afinal, não é apenas o caminho ou tampouco a entidade que a organiza nas mais diversas instâncias. A rota é o que cada um leva dela como experiência sensorial.
"Muitas vezes, o turista não tem exatamente a ideia de qual município ele veio para conhecer. Ele vem para comer algo diferente, para ver uma cultura diferente e onde ele for bem atendido, com certeza é lá que vai morar o coração dele. Essa hospitalidade é que deve permear todas as linhas do nosso bem receber", diz a primeira presidente, Terezinha Marina Kuhn Haas, ex-secretária de Turismo de Nova Petrópolis.

*Felipe Faleiro é jornalista formado pela Universidade Feevale, de Novo Hamburgo. Nascido e criado no Vale do Sinos, trabalha desde 2016 como repórter em veículos da região.