Grupo do Bem abraça Santa Cruz do Sul

Uma via de mão dupla, em que as entregas são feitas com uma mão e as doações são recebidas com a outra. Assim a atuação do Grupo do Bem, de Santa Cruz do Sul, é explicada pela coordenadora do projeto, Luciana Tremea. Ao longo da jornada o grupo já esteve com famílias que fazem doações, famílias que recebem doações e também com aquelas que recebem ajuda e depois passam a ajudar doando roupas ou outros produtos.

Os sensos de coletividade e de ajuda mútua fazem parte do projeto, que conta com 188 voluntários que fazem parte de um grupo no WhatsApp. Conforme explica a coordenadora, os integrantes do Grupo do Bem são "elos de ligação" para que se encontre pessoas que desejam doar, por isso o número expressivo de voluntários.

Médicas, dentistas, faxineiras, aposentadas, jovens, idosos, das mais variadas classes sociais, compõem o Grupo do Bem. Desde a chegada da pandemia, boa parte dos voluntários não saiu mais de casa. Em razão disso, apenas um grupo de 10 a 20 pessoas atua diariamente nas atividades do projeto social.

Separar e entregar peças de roupa, buscar ranchos em supermercados, montar cestas básicas, separar remédios, buscar móveis e atender pedidos são algumas das atividades realizadas. "O Grupo do Bem não tem limite e não tem fronteira", afirma Luciana ao citar que o projeto já realizou doações para outros municípios, como Passo do Sobrado, Rio Pardo, Sinimbu, Vera Cruz, Canoas e Novo Hamburgo.

Apesar de afirmar que o projeto já tem mais de 15 anos de existência, Luciana ressalta que ainda não definiu uma data exata em que o grupo foi criado, mas estima que tenha sido por volta de 2005. A coordenadora, que também é professora universitária, afirma que sempre fez trabalhos voluntários e que no início do projeto ainda não havia um grupo formado. "Era uma EUquipe", brinca ao afirmar que era a única voluntária.

Buscando na memória, Luciana relembra que o trabalho social, que depois se tornaria o Grupo do Bem, começou com uma aula em um projeto de qualificação dos moradores de um bairro carente. O objetivo era trabalhar pela recolocação das pessoas no mercado de trabalho, mas a professora viu que o bairro tinha muitos problemas e começou a ajudar.

Pouco tempo depois, Luciana conheceu um líder comunitário do bairro que a convidou para ajudar em uma festa de final de ano. O convite foi aceito e após dois anos contribuindo com o evento, Luciana, que não costumava ir à festa, foi ao local e viu a dimensão dos festejos entre as crianças, que ganhavam alimento e brinquedos.

Para o ano seguinte, depois de ter conhecimento do que a festa representava para o bairro, a professora começou a formar grupos de voluntários para trabalhar na organização do evento. E foi em uma destas festas que o nome do projeto surgiu. Após perguntar quem ajudava na organização, uma pessoa recebeu a resposta de que era a professora Luciana e o Grupo do Bem. Dali em diante o grupo começou a organizar ações em datas especiais como o Dia das Crianças e a Páscoa.

Hoje, o Grupo vive de doações, seja de dinheiro, de móveis, de eletrodomésticos, de vale para compra de alimentos, de pães, entre outras. No ano passado, o projeto, que já fazia pães para doação, também passou a produzir um sopão com 23 ingredientes. O alimento foi entregue nos bairros da cidade durante 25 sábados, entre abril e novembro, com produção de 800 a 1,2 mil pratos por sábado.

Ao longo de 2020, milhares de peças de roupas e móveis foram doadas. De junho a dezembro foi feito um Brechó do Bem, que possibilitou a arrecadação do valor que foi utilizado na compra de alimentos para a comemoração do Natal, quando cerca de 600 cestas básicas e 2,5 mil brinquedos foram entregues.

Agora o Grupo do Bem também trabalha na preparação para se tornar uma ONG e, em razão da mudança, já começa a contabilizar algumas doações. Foi assim que descobriu que, no ano passado, mais de 300 mil peças de roupas foram entregues a quem necessitava. Há também a estimativa que 22,5 mil sopas tenham sido doadas. Neste ano, entre o dia 17 e o dia 24 de maio, 58 cobertores foram doados.

Os pedidos de ajuda são recebidos pelo Instagram e do Facebook do Grupo e dos telefones dos voluntários. Para fazer as entregas das doações, o projeto dispõe de uma caminhonete, presente de um casal que admira o trabalho feito. Batizada de Bemdita, a caminhonete vai a todos os bairros da cidade.