Faz parte da infância de muita gente um jogo de montar, feito de madeira, no qual eram construídas casinhas e pequenos prédios com telhados coloridos. Chamado de Brincando de Engenheiro, o brinquedo foi criado em 1947 e continua fazendo sucesso até hoje, sendo o produto mais vendido pela Xalingo. A empresa, criada há quase 75 anos em Santa Cruz do Sul, onde mantém suas instalações, registrou faturamento de R$ 150 milhões no ano passado, uma alta de 30% frente a 2019. Além dos brinquedos, a Xalingo também fabrica produtos para clientes do agronegócio, mas a divisão de brinquedos segue a principal. Hoje, são 850 produtos no portfólio, com 10 mil pontos de venda em todo o Brasil. Conforme explica na entrevista abaixo o novo presidente da Xalingo, Rodrigo Ebert Harsteln, para 2021 a empresa preparou 200 lançamentos na linha de brinquedos, apostando em nova alta dos negócios.
Empresas&Negócios - Como a Xalingo cresceu 30% no ano passado, quando o coronavírus afetou duramente a economia?
Rodrigo Harsteln - A Xalingo atua em dois setores. Tem o agronegócio, com a produção de tanques para alguns clientes da área industrial que fabricam implementos agrícolas. Mesmo com a pandemia, essa produção não parou, seguiu com ritmo mais ou menos constante. Já na nossa área mais conhecida, de brinquedos, foi diferente. Para a nossa "surpresa", a gente começou a ver que, quando começou a pandemia, tivemos aquele fechamento ali por abril do ano passado. A partir de junho ou julho, percebemos uma procura maior principalmente no setor de brinquedos. Percebemos que, à medida em que as pessoas foram começando a entender como funcionava a pandemia, e as aulas também foram suspensas, a procura por brinquedos aumentou.
E&N - Deve ter sido porque as crianças ficaram mais tempo dentro de casa, devido ao isolamento social?
Harsteln - Sim, e a gente começou a acelerar o nosso processo interno de fabricação, culminando nesse crescimento que obtemos em 2020, que foi acima do esperado. O que eu comento sempre é o seguinte: durante a pandemia, as crianças ficaram mais em casa. Eu tenho filhos e não podia levá-los ao cinema, ao parquinho. Então muitos pais, de alguma forma, desenvolveram novas maneiras de entretenimento em família, e elas incluíram, muitas vezes, o brinquedo. Então essa demanda ocorreu naturalmente.
E&N - Os brinquedos sempre foram o principal negócio?
Harsteln - Isso, exatamente. A Xalingo surgiu em 1947. Foi fundada pelos meus avós, que trabalhavam muito com peças de madeira. Começou, inclusive, com a criação de estojo escolar e de régua, depois com a parte de brinquedo de madeira. Os brinquedos de madeira são um sucesso e respondem por mais de 30% da nossa linha de produtos.
E&N - Eles têm o foco mais educativo, como as casinhas de madeira?
Harsteln - Sim, a nossa linha de madeira foca muito na parte pedagógica. Então, temos muitos blocos de montar, inclusive o Brincando de Engenheiro, aqueles bloquinhos de construir casinha de madeira, foram uma criação dos meus avós lá no passado. É dos que mais vendem. A gente começou a expandir mais, à medida que os anos foram passando, para todos os tipos de brinquedos pedagógicos. Mas o Brincando de Engenheiro não muda, permanece igual há mais de 60 anos. A minha filha está com 3 anos. Eu brinco com ela da mesma maneira que eu me lembro de brincar quando eu era pequeno e acho que as gerações anteriores também brincaram. Ele representa a identidade da Xalingo.
E&N - O brinquedo ainda é a maior parte do negócio?
Harsteln - Sim. O brinquedo responde por cerca de 80% do nosso faturamento. Temos também jogos de memória, de letras, e agora a gente está investindo bastante em lançamentos da Linha Ensino, que une ciência, tecnologia, matemática e engenharia. São brinquedos mais sofisticados, então tem simulação do sistema solar, mas todos feitos de madeira. Nos nossos estudos, a gente tem bastante pesquisa nessa área, na questão do lúdico. Então, a madeira propicia essa questão do aprendizado, do movimento, e associa isso a uma questão da parte de desenvolvimento pedagógico, por exemplo, na ciência e tecnologia, o movimento dos planetas. A gente está tentando misturar os dois mundos. A parte mais forte do brinquedo de madeira é o viés pedagógico.
E&N - O restante vem do agronegócio?
Harsteln - Exato. A parte do fornecimento de peças começou junto com a nossa expansão de linha, mais ou menos no final da década de 1990. Antes, a gente fazia linha só desses brinquedos mais pedagógicos, aí começamos a expandir para playgrounds. Aqueles playgrounds de plástico que a gente vê em parquinhos etc. E, com a tecnologia dos playgrounds, surgiu a oportunidade de ter uma outra unidade de negócios, que é essa de fornecimento de peças para o setor agrícola, que foi desenvolvida em paralelo em função da tecnologia que a gente tinha.
E&N - A divisão focada nn mercado agro tem crescido também?
Harstein - Sim. Esse ano, inclusive, ela está apresentando mais crescimento até que o brinquedo.
E&N - Talvez por causa dessa safra grande de soja...
Harstein - Exatamente. Então, esse resultado do ano passado passa pelo brinquedo, começou a expandir já a parte da unidade industrial, que a gente chama, do fornecimento de peças e, esse ano, a gente segue bem forte nessa área industrial. Os nossos clientes estão produzindo bastante implemento agrícola, bastante tratores, britadeiras, em função dessa safra e de todo potencial que o Brasil tem, e a gente segue fornecendo para eles muito em função disso.
E&N - O dólar tem influenciado na produção da Xalingo?
Harstein - Na verdade, como é o nosso portfólio no brinquedo? Temos um percentual de produtos que a gente importa e apenas coloca a marca Xalingo - em torno de 20%. Temos mais ou menos 850 itens na linha de brinquedo. E digo 'mais ou menos' porque todo dia a gente lança alguma novidade e algum brinquedo sai de linha. Neste ano, teremos 200 lançamentos de brinquedos. O nosso portfólio se renova muito rápido. Então, uma parte disso é importado, que dá mais ou menos 20%, e os outros 80% é produção nacional.