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reportagem especial

- Publicada em 18 de Abril de 2021 às 19:12

Em Pelotas, comércio também é vítima da Covid-19

Setor teme decreto de novos lockdowns, que reduzem a circulação de consumidores

Setor teme decreto de novos lockdowns, que reduzem a circulação de consumidores


Rodrigo Chagas/DIVULGAÇÃO/JC
Em 2019, o comércio respondia sozinho por 38% da participação no número de empresas registradas na Junta Comercial de Pelotas - cerca de 5,9 mil empreendimentos entre micro, pequenas, médias e grandes, de acordo com os números do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Pilar importante da economia local, o setor também é vítima do coronavírus.
Em 2019, o comércio respondia sozinho por 38% da participação no número de empresas registradas na Junta Comercial de Pelotas - cerca de 5,9 mil empreendimentos entre micro, pequenas, médias e grandes, de acordo com os números do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Pilar importante da economia local, o setor também é vítima do coronavírus.
As semanas sucessivas de bandeira preta, que obrigam os estabelecimentos a fecharem as portas, e a consequente queda no movimento de consumidores, apresentam a conta aos empresários em um momento importante ainda de combate à pandemia.
A situação atinge diretamente outra face da atividade. De acordo com a pesquisa Impacto Socioeconômico de Pelotas, desenvolvida a cada seis meses pelo Escritório de Desenvolvimento Regional da UCPel (Universidade Católica de Pelotas), 2020 terminou com saldo negativo de 581 postos de trabalho em relação a 2019 - número que poderia ser maior, segundo o coordenador do estudo, professor Ezequiel Megiato. "Houve recuperação, mas não o suficiente para zerar o saldo negativo", explica.
Equilibrar esta balança, no entanto, é tarefa que ninguém acredita que venha a acontecer no curto prazo. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Gilmar Bazanella, somente em janeiro deste ano, 358 postos foram fechados no varejo pelotense.
Esse panorama negativo dos empregos no varejo gera um cenário preocupante para um setor que, conforme dados do IBGE, respondia por 83% do PIB da cidade em 2018 - o equivalente a R$ 8,84 bilhões de riqueza. Ainda assim, falar em "quebra" pode ser prematuro.
Para o secretário Bazanella, o agronegócio e a construção civil, outros dois sustentáculos da economia de Pelotas, apresentam bons indicadores. Sobre o comércio: "Não vejo quebra", afirma o professor da UCPel. "O caminho é a busca para cooperação e saídas em conjunto", explica.
Bazanella vai além. Para ele, o segundo semestre de 2021 deve ser início de retomada - opinião compartilhada, em maior ou menor ênfase, por empresários do comércio varejista. "É perceptível que há uma demanda reprimida muito importante", informa ele.
Prognósticos mais alentadores para o cenário econômico a partir do segundo semestre de 2021 contrastam no primeiro trimestre com o pessimismo demonstrado por micro e pequenos empreendedores. De acordo com números divulgados no final de março na Pesquisa de Monitoramento de Pequenos Negócios com 744 clientes da Regional Sul do Sebrae, o ano começou com baixo grau de confiança entre os entrevistados. Em 2019, micro e pequenos empreendedores, público-alvo da instituição, perfaziam a maioria dos empresários do comércio varejista de Pelotas - principalmente aqueles definidos como micro, num total de 5.460 negócios em atividade.
"A pandemia está sendo violentíssima com os pequenos negócios", afirma o gerente regional do Sebrae, Ciro Vives. Conforme o executivo, as microempresas foram afetadas "gravemente" em seus fluxos de caixa e, devido à incerteza provocada pela pandemia, em ações de previsibilidade e planejamento.
Os dados levantados na Pesquisa de Monitoramento traduzem essas dificuldades. Para 73%, houve piora no cenário econômico nos primeiros três meses de 2021. Conforme os dados do Sebrae, seis em cada 10 micro e pequenos empresários disseram que o faturamento caiu em 2021. Apenas 14% afirmaram que aumentaram seus ganhos no primeiro trimestre.
Nenhum dos entrevistados respondeu positivamente em relação ao aumento no nível de ocupação. Já quanto ao financiamento, 24% disseram que recorreram à medida; a maioria, porém, 76% dos entrevistados, preferiu não procurar novas linhas de crédito. As justificativas variam, como alta taxa de endividamento e restrição ao nome. Neste item, 78% responderam que mantêm o empreendimento. Já 22% fecharam as portas ou suspenderam as atividades.
Diante desses números o gerente da regional Sul do Sebrae não acredita em uma aceleração "tão imediata" na economia. Para Ciro Vives, com 27 anos de atuação como executivo em empresas de mídia, a relativa estabilidade do período pré-pandemia só deve ser reconquistada a partir de 2022. "É minha opinião pessoal, assim que a maior parte da população estiver vacinada uma parcela dos consumidores deve voltar às lojas e outra não. A curva não será tão rápida."

Recuperação será demorada, segundo previsão da Câmara de Dirigentes Lojistas

Uma das preocupações é com novos lockdowns que reduzem a circulação de consumidores

Uma das preocupações é com novos lockdowns que reduzem a circulação de consumidores


Jô Folha/Divulgação/JC
Em função de ser o setor que mais promoveu demissões em Pelotas na pandemia, a recuperação do comércio deve ser a mais demorada. A avaliação é do empresário do setor automotivo José Laitano, que integra grupo de gestores da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade.
Ele não arrisca uma estimativa de tempo para retomar contratações em um patamar que indique reaquecimento do comércio varejista em Pelotas. Laitano lembra que nenhum cenário aponta para uma recuperação financeira rápida das famílias, especialmente da classe trabalhadora, "a mais atingida",
Além disso, o empresário destaca outro entrave, que é o alto índice de desemprego na região - percentual que, para ele, deve superar a média nacional, que registrou 14,1% no último trimestre do ano passado. "Só entre amigos aqui da volta foram no mínimo 500 demissões no comércio", lamenta o empresário.
O desempenho "excepcional" das commodities, como soja, dado que poderia ser visto com otimismo na recuperação econômica de Pelotas e Zona Sul, também não anima o empresário, que só no setor automobilístico, seu ramo de atividade, testemunhou em 2020 uma queda de 41,75% no volume de vendas. "Infelizmente, o agronegócio não é um setor que injeta dinheiro diretamente na economia e não repercute, com rapidez, na recuperação econômica das famílias", afirma.
Laitano também vê com preocupação decretos de novos lockdowns em finais de semana no município - medida que atinge com contundência ainda maior o comércio varejista. Cidade polo, Pelotas costuma receber no fim de semana milhares de consumidores dos 23 municípios da região (uma população total estimada em quase 1 milhão de pessoas) exatamente para o chamado turismo de compras.
Inquietação compartilhada pelo empresário Abud Qadan, da Brascon, uma das maiores lojas de departamentos estabelecida na área central da cidade. "Sábado é o dia do nosso maior faturamento, é o dia que só o comércio funciona", reforça o lojista. "É preferível nos tirar a segunda ou terça-feira, mas nunca somos chamados para discutir a respeito", reclama ele.
Laitano concorda e adverte que a economia é responsável por "tudo": recolhe impostos, gera emprego e renda para o sustento das famílias, mas "foi ouvida muito pouco" durante a crise sanitária. Ao mesmo tempo, diz que as vidas precisam ser preservadas e defende maior agilidade e eficácia na aplicação da vacina contra a Covid - considerada por ele "a única solução" para reativar a economia.
Em um cenário onde o risco de infecção pelo coronavírus esteja controlado e com a maioria da população vacinada contra a doença, José Laitano crê em um segundo semestre "positivo".
O empresário concorda que há uma "vontade represada de consumo" e se coloca entre os que apostam em uma recuperação "gradativa" já a partir de agosto. "Teremos um bom Natal", assegura ele: "2021 não será ano perdido."
O empresário lamenta falta de apoio dos governos, especialmente nas esferas municipal e estadual. "Nunca teve, não teria porquê acreditar que viria agora", pontua. Ele enumera ações que poderiam ter sido tomadas desde março do ano passado, como prorrogação da cobrança de IPTU e IPVA.

'Como atender à saúde sem arrecadação?', questiona secretário municipal da Fazenda

"Se ninguém pagar os tributos como atender à saúde durante um cenário de pandemia crescente?", pergunta o secretário da Fazenda do município, Jairo Dutra. "Este é o grande dilema não só de Pelotas, mas de todos os municípios brasileiros", acrescenta.
Dutra diz ainda que até junho a prefeitura precisa aportar R$ 30 milhões na saúde com recursos próprios, o que levou o governo a encaminhar à Câmara de Vereadores um projeto de suplemento de despesas para cobrir o gasto que não será irrigado por outras fontes. "O governo federal não sinaliza com recurso nenhum", lamenta. Conforme ele, o resultado da equação pode ser trágico: "Se abrir mão de recursos agora, pessoas vão morrer nos hospitais."
Para o montante previsto o secretário não pode contar com o repasse estimado do ICMS. Jairo Dutra calcula perda de 10% do imposto ao longo do ano - cerca de R$ 10 milhões Ele reconhece que a queda da atividade do comércio varejista compromete o PIB do município
Mas, para o secretário municipal da Fazenda, outros setores podem ajudar na economia. É o caso da construção civil "aquecida" e uma maior fatia do Fundo de Participação dos Municípios (FPM),. Também há perspectiva de aumento na arrecadação do IPTU.
Já o ISS tem previsão de queda. Ainda assim, a expectativa é de que o município consiga cumprir com as despesas inerentes aos serviços de saúde durante a pandemia. "O paciente não está em estado grave, mas inspira cuidados", disse, referindo-se à situação econômica.

Reinvenção se impõe para além da pandemia

Fabiana ampliou investimentos para turbinar as vendas online

Fabiana ampliou investimentos para turbinar as vendas online


/Colcci/Divulgação/JC
Para superar a pandemia, o comércio varejista em Pelotas vai precisar, antes, sobreviver a ela. Para isso, terá que recorrer à reinvenção. Muitos empreendedores não esperaram a crise passar e já colocaram em ação estratégias para reduzir perdas e manter os negócios em operação.
O incremento das vendas online e uma presença maior nas redes sociais foram as principais saídas encontradas por empresários locais, juntamente com delivery e do take away (pegue e leve). São ações necessárias para driblar a falta de potenciais consumidores diante da necessidade da população não sair de casa para evitar exposição aos riscos da Covid.
"A reinvenção está acontecendo agora", reforça o empresário, José Laitano. Fabiana Fetter, proprietária de uma franquia da marca Colcci, é um exemplo. Ela recorre a lives temáticas na rede social Instagram desde janeiro.
Antes, ela conta, a partir de novembro do ano passado, começou a trabalhar mais fortemente em vendas online. Foi o jeito para fugir da crise diante das restrições e três lockdowns. "Para quem vive da venda diária, não abrir a loja nos coloca numa situação muito difícil", disse.
A lojista está satisfeita com a iniciativa. Percebeu melhora no faturamento, que chegou a despencar 95% há um ano, após 54 dias sem abrir. As novas restrições vividas em 2021 só reforçam o apelo nas redes sociais e em contatos por Whatsapp.
As lives temáticas com produtos da grife, jeans, acessórios, calçados, entre outros, vão continuar para além da pandemia. A empresária promete apostar no filão do meio digital, mas sem se descuidar da loja física. "Acredito muito nela."

Livraria aposta em feira do livro online e relação com editoras

Beth é proprietária da Vanguarda, com lojas em Pelotas e Rio Grande

Beth é proprietária da Vanguarda, com lojas em Pelotas e Rio Grande


/beth lovatel/arquivo pessoal/jc
Um ano de pandemia ficou para trás, e a livraria Vanguarda também precisou de reinvenção para manter suas quatro lojas, duas em Pelotas e duas em Rio Grande. Desafio e tanto para quem tem mais de 30 anos de mercado e não sabe quando o atual cenário estará superado. "Tem sido um sufoco", diz a empresária Beth Lovatel. "Bandeira preta liquida."
A adversidade obrigou o casal de proprietários, ela e o marido, Gelso, a procurarem soluções para contornar a crise. O histórico de bom relacionamento com editoras contou a favor para renegociar prazos e formas de pagamento. Além disso, a empresa investiu em marketing com a contratação de especialistas para gerar mais renda em menos tempo.
A parte de vendas foi reestruturada, o que envolveu ações de capacitação e treinamento de pessoal, além de focar em um público mais direcionado no universo online, passando pelo site da livraria e redes sociais. Houve cortes de pessoal. "Não teve outro jeito", diz. Alguns colaboradores, segundo ela, pediram para sair com medo de colocar familiares em risco.
Apesar das dificuldades e do duro aprendizado, a experiência também revelou a importância da marca em Pelotas e região, como uma expressiva fidelização da clientela. "O hábito de leitura cresceu na pandemia e a forte concorrência online, pelo menos no segmento em que atuamos, demonstrou que o público valorizou o comércio local", afirma.
Além disso, ocorreu uma feira do livro virtual entre os dias 30 de outubro e 17 de novembro de 2020, em vez do tradicional evento presencial na Praça Coronel Pedro Osório. Na ocasião, foi oferecida a mesma margem de desconto em todos os livros e a promoção de lives com autores. Beth prefere não especular se o formato se repete este ano. Torce para que o "Natal dos livreiros" volte a ser na praça, presencial, e não arrisca uma previsão. "A essa altura já estariam ocorrendo reuniões para discutir a respeito."

Demissões refletem crise no setor de calçados e vestuário

O número de demissões na loja de departamentos Brascon, a maior de capital exclusivamente pelotense na área central de Pelotas, e nos outros 15 empreendimentos administrados pela família Qadan Shawkat (ao todo são dez em Pelotas e seis em cidades da Zona Sul do Estado), a maioria delas voltadas para a comercialização de roupas e calçados, traduz bem o impacto negativo de 30,8% na arrecadação do ICMS entre as lojas do setor no período de abril de 2020 a março de 2021. Os números são do governo do Estado.
Conforme o empresário Abud Qadan, de um total de 600 funcionários, o grupo precisou se desfazer de pouco menos da metade. "Foi o mais difícil", lamenta ele. "Hoje estamos com um quadro que não chega a 400 (colaboradores)", afirma. "É doloroso, precisávamos deles e eles precisavam que os negócios estivessem indo bem."
De acordo com o empresário, mesmo com a retomada das atividades ao longo de 2020, o faturamento nunca mais se repetiu. Ele estima perdas de 40% no volume de vendas em comparação com 2019. Situação que impediu a recontratação de, ao menos, parte do pessoal dispensado. "Se ainda tivéssemos sidos contemplados com algum incentivo fiscal, poderíamos, quem sabe, manter um quadro maior trabalhando", queixa-se.
Para Abud, o momento mais frustrante provocado pela pandemia ocorreu em dezembro. Na ocasião foi decretado lockdown que impôs o fechamento do comércio local durante oito dias. Na época, os hospitais no município estiveram à beira do colapso. Situação que, se por um lado sensibiliza o administrador, por outro preocupa intensamente. "Fechar o comércio em dezembro?", pergunta. "É o mês que esperamos durante todo o ano."
 

Pontos menores, custos mais baixos e boa localização

Vazio, calçadão da Andrade Neves é ponto tradicional do comércio

Vazio, calçadão da Andrade Neves é ponto tradicional do comércio


/GUSTAVO VARA/DIVULGAÇÃO/JC
Até março de 2020, o empresário Rafael Rochedo, da Joias Rochedo, não tinha do que reclamar. Administrava quatro lojas em Pelotas - a maior, e também a de maior custo, localizada no Calçadão da Andrade Neves, área do metro quadrado comercial mais valorizado do centro de Pelotas.
A pandemia no meio do caminho, porém, o obrigou a fechar o empreendimento. Atualmente com três pontos comerciais, um deles no Shopping Pelotas, Rochedo volta a contar com o mesmo número de estabelecimentos da fase anterior à crise sanitária. A diferença está no tamanho e no custo. E o melhor, ressalta: está mais próximo do Calçadão da Andrade Neves - mas desta vez não custa R$ 27 mil mensais de aluguel. "Quase quatro vezes menor", informa. O ponto fica a alguns metros da esquina da Andrade Neves com Sete de Setembro, em diagonal ao chafariz das Três Meninas, uma das área mais nobres do centro comercial pelotense.
"A situação exige investimento para se reinventar", justifica ele, que soma 20 anos no ramo de bijuterias e semijoias. "Hoje, o foco está no centro, é a primeira vez que é possível escolher um ponto." O tom entusiasta não esconde também as agruras da incerteza trazida pela pandemia.
O lojista classifica a situação como "caótica" em função dos 23 dias em que esteve com as lojas fechadas mês passado e reclama que não contou com "nenhum apoio governamental". Critica os critérios das multas aplicadas pela prefeitura ("o mesmo valor para comerciantes de diferentes tamanhos") e espera não ter que se deparar diante de novos lockdowns.
"Se tiver outro não sei o que fazer, já demiti 15 funcionários. O pequeno e o microempreendedor não têm mais gordura para queimar", completa o empresário.

Restaurantes de buffets a quilo viram minguar a clientela

Restrições de circulação reduziram drasticamente o fluxo de consumidores

Restrições de circulação reduziram drasticamente o fluxo de consumidores


MARIANA ALVES/JC
Atingidos em cheio devido às medidas que obrigaram a redução na circulação de pessoas, os restaurantes de buffet a quilo em Pelotas viram a clientela sumir desde que a pandemia começou, um ano atrás. As sucessivas bandeiras pretas, com medidas mais rígidas, também causaram danos.
É o caso do empresário Delvo Stigger. Dono de dois estabelecimentos no centro de Pelotas, o segundo deles aberto em 2019 com um investimento de R$ 400 mil, ele amarga no total queda de 80% no movimento de clientes e de 75% no faturamento. Desanimado, classifica a situação como "muito ruim".
Não é para menos. Nos últimos 12 meses, a crise que atingiu o setor teve reflexos não apenas em seus negócios, cujo quadro de funcionários caiu pela metade - 26 para 13. "Não consegui segurar", lamenta.
Mas não foi apenas isso: Stigger precisou se desfazer de parte do próprio patrimônio, o que incluiu a venda de dois veículos de passeio. Também colocou um imóvel à venda. Não foi, no entanto, suficiente para escapar das dívidas. O empresário reforça o coro contra lockdowns decretados nos sábados, dia de maior movimento. "Sou guerreiro, não sou de jogar a toalha, mas se caso eu tivesse fechado o segundo restaurante, teria economizado pelo menos uns
R$ 250 mil", lamenta.
Com 18 anos de atuação, a empresária Loiva Griep, proprietária de um restaurante que trabalha com buffet a quilo na avenida Bento Gonçalves, também não tem motivos para se animar.
Precisou recorrer a financiamentos, vender bens e dispensou funcionários. Ainda assim, diz, "não melhora". "Jamais vivi algo assim, é sem dúvida o pior momento que experimentei como empresária."
Para ela, enquanto aulas presenciais em faculdades e escolas não forem retomadas, dificilmente haverá reversão do quadro. Loiva diz que o faturamento caiu 80% no último ano. Já se desfez de um imóvel cujo montante obtido com a venda foi todo alocado no restaurante.
Ainda assim, o aporte foi insuficiente para amenizar a situação que já a levou a pensar em desistir. "Ao mesmo tempo o governo não nos reduz impostos, não temos alívio de lado nenhum", reclama Loiva Griep.

Na gastronomia, o segredo para crescer e se manter

Paulsen está satisfeito com o 
La Carreta apesar da crise

Paulsen está satisfeito com o La Carreta apesar da crise


/Food Truck La Carreta/Divulgação/JC
Com um empreendimento nascido há três anos e mantido rigorosamente fiel à proposta original (enxuto, pequeno e leve), o microempresário Daniel Paulsen, apesar da crise geral, está satisfeito.
O food truck La Carreta, especializado em quitutes da gastronomia uruguaia, como panchos e chivitos, não só se mantém na pandemia como deve ser ampliado em breve, o que inclui abertura de um novo food truck e de um restaurante na área central - agora voltado para a comida campeira.
Contudo, apesar do bom momento, o último ano foi de percalços para ele. Paulsen admite uma queda de 29% no faturamento na comparação com o mesmo período do ano anterior. O impacto, no entanto, foi menor que o esperado. Motivo? Ele responde: "Baixo custo de operação".
O cardápio limitado, estoque baixo, pequeno quadro de funcionários e aluguel barato jogam a favor. Tanto que Paulsen abriu franquias - uma delas em Balneário Camboriu, Santa Catarina, e outra durante o verão passado, em São Lourenço do Sul.
O ponto que funcionou na cidade vizinha, de novembro a março, migrou agora para Pelotas. A previsão de abertura é ainda em abril, no recém-inaugurado bairro planejado Quartier. Segundo Paulsen, já há investidores interessados em assumir novas franquias da marca, desta vez em Porto Alegre, Gravataí e também no Cassino.
Paulsen compartilha a experiência bem sucedida que faz o La Carreta seguir na contramão da crise: escolha criteriosa de parceiros para abertura de novas franquias - investidores, em geral, interessados em diversificar sua área de atuação -, e investimento na marca e padronização.
Também não pode deixar de lado a presença constante nas redes sociais. Para Daniel Paulsen, a ferramenta é de baixo custo e favorece a aproximação com o cliente. "Publicamos imagens diferentes dos nossos pratos todos os dias", ilustra o empreeendedor.
Ele também enumera outras atividades que considera importantes: investimento em marketing e em softwares de gestão, como cardápio digital, pagamento via Pix, automatização do processo de pedido e serviços de delivery e take away. "As oportunidades estão passando e muitos empresários não percebem", afirma.

Pandemia também trouxe lições a empresa centenária

Apesar de provocar uma crise sem precedentes no comércio varejista de Pelotas, a pandemia também deixa legado de aprendizado.
O empresário Oswaldo Neto, da Hercílio Calçados, que o diga. Segundo ele, mesmo com todas as dificuldades, a empresa vai sobreviver à pandemia. Não será a primeira vez. Com 114 anos de história no comércio varejista de Pelotas, a Hercílio Calçados resistiu à febre espanhola de 1918.
Representando a quinta geração de administradores da família no negócio, Oswaldo Neto concorda que, apesar dos inúmeros danos, a pandemia deixa aprendizado: "Mostrou o quanto estávamos inchados e pouco competitivos", admite.
O momento mais crítico foi registrado em março do ano passado, quando Neto não imaginava ter que fechar a loja, talvez pela primeira vez em sua longa história, durante 14 dias consecutivos. "Você manter uma loja que precisar estar fechada é o fim", desabafa o empresário.
Com uma queda "assustadora" no volume de vendas - que ele calculada em cerca de 50% -, o jeito foi administrar o negócio com uma "tesoura no bolso". "Já cortamos quase tudo, estamos no osso", admite.
As medidas de aperto, inevitavelmente, passam por todo o quadro de funcionários. Se em março de 2020 a Hercílio Calçados tinha em torno de cem funcionários, para os próximos meses é deve ficar com 85 colaboradores.
Em março de 2020, antes da pandemia, o problema era outro para a Hercílio Calçados. O alto volume de estoque era uma dor de cabeça para o empresário. Com o lockdown se tornou solução: em vez de novos pedidos à indústria, Oswaldo Neto colocou o que então era excedente nas prateleiras para tentar transformar em faturamento. "Foi a solução, de repente tivemos gordura para queimar, o que ajudou a segurar as pontas no início da crise", ilustra o empresário.

Em vídeo, lojista apela para compra em empresas locais

Nycole Nunes fez apelo nas redes sociais para que consumidores priorizassem lojas da cidade

Nycole Nunes fez apelo nas redes sociais para que consumidores priorizassem lojas da cidade


/Roberto Ribeiro/Divulgação/JC
Diante da perspectiva de novo lockdown nos primeiros dias de março, a empresária Nicole Nunes deixou de lado seu perfil reservado em redes sociais e postou um vídeo. A proprietária da loja de calçados femininos My Shoes fez um apelo, no perfil do estabelecimento no Instagram, para que os consumidores pelotenses dessem prioridade para comprar em empresas do município.
A iniciativa foi bem vista. O vídeo de dois minutos, postado dia 6 do mês passado, teve mais de 20 mil visualizações, 1,4 mil curtidas e 375 comentários, todos em apoio à iniciativa da empresária.
"Não costumo me expor, mas, diante da iminência de passarmos por uma situação parecida com a de 2020, quando muitas lojas e restaurantes não resistiram e infelizmente fecharam, senti que não contribuí para que essas empresas, algumas delas minhas concorrentes, seguissem operando", justifica.
A fala de Nicole, em tom de desabafo, também chamou atenção para conscientizar os consumidores sobre a importância de incentivar a economia local em vez de "comprar longe". "É uma questão de sobrevivência do negócio e das famílias que dependem dele. Senti que isso necessitava ser dito com todas as letras", reforça. Ela reconhece, porém, que o apoio online não resultou em aumento "considerável" nas vendas - mas ressalta a repercussão positiva.
Em nove anos como lojista, Nicole viveu neste último ano de pandemia o momento mais delicado. Admite que pensou em fechar as portas "várias vezes". O maior desgaste é provocado pela incerteza. "É um desafio ter as portas abertas e muito complicado ter negócio sem retaguarda financeira", afirma.
Nicole Nunes também critica o fechamento do comércio como política de contenção à propagação do vírus. "Essa [fechar o comércio] não é a alternativa, obedecemos a todos os cuidados, se é para dar exemplo, festas clandestinas são muito mais letais."
Ela também recorreu à internet para aquecer as vendas. Se até março de 2020, 70% de seu faturamento era proveniente da venda em loja, presencial, na pandemia se inverteu. "Tem dias que não recebemos nenhum cliente, mas se vende pela internet", disse.
A lojista também se ressente da paralisação da verdadeira "indústria" da formatura. De acordo com Nicole, todo seu estoque de linha festa para formandas, noivas, aniversariantes, entre outros, está parado.

"Tem dinheiro para crédito", diz Edson Brum

Colocar dinheiro no mercado por meio de linhas de crédito ao micro e pequeno empreendedor via Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e Badesul. Este, para o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Edson Brum, seria um caminho para amenizar a crise enfrentada pelo comércio varejista no Rio Grande do Sul.
"A retração que o comércio em Pelotas está sofrendo não é diferente no setor em todo o Rio Grande do Sul", ressalta ele.
Segundo Brum, que assumiu a pasta dia 9 de março, ter acesso a linhas de crédito pode e deve ser uma saída para amenizar a crise. De acordo com ele, somente no BRDE há R$ 300 milhões disponíveis para capital de giro, além de R$ 1 bilhão via Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). O secretário lembra que essas iniciativas têm poder de fomentar a economia e facilitar a captação de empréstimos por empreendedores do comércio varejista. "Tem dinheiro sobrando para isso", afirma.
Brum cita também programas de isenção de impostos, como o Fundopem Integrar, que prevê desconto de até 65% de desconto do ICMS com a contrapartida de garantir empregabilidade nas empresas que contratam a linha de apoio.
"Otimista", como se define, o secretário alerta que o melhor projeto de recuperação econômica já começou em todo o País: a imunização. Para Edson Brum, com a vacina, "e se o povo não aglomerar", o comércio varejista em Pelotas e nos demais municípios do Rio Grande do Sul deve comemorar um bom Natal ainda em 2021.

Uber foi a solução para locutor de loja

Bico como motorista de aplicativo, narração de corridas no Hipódromo da Tablada e uma "verba" que tinha guardada. Foi assim que o locutor de loja Rogério Alves, 60 anos e 30 de profissão, se virou durante seis meses em 2020 longe do ofício que mais gosta: fazer locução em estabelecimentos comerciais no centro de Pelotas. "Prefiro mil vezes esse trabalho direto com o público que num estúdio", diz ele. "É só falar a palavra mágica liquidação que o povo vem correndo pra loja", orgulha-se.
Mas, entre março de 2020 e março deste ano, nunca viu nem viveu nada parecido. Alves, filho de Aníbal Alves, locutor "que marcou época" nas rádios Farroupilha e Gaúcha em Porto Alegre, como faz questão de lembrar, só conseguiu trabalho durante dois meses - entre novembro e janeiro deste ano. "O comércio fechou e o pessoal não vai ao Centro. Muita loja fechou, as pequenas principalmente", conta.
No dia da entrevista, feita na primeira semana de abril, a unidade da rede Gaston, localizada na esquina do Calçadão da Andrade Neves com a Sete de Setembro, fechou as portas. Alves foi testemunha ocular: "Uma choradeira lá", diz. "O dono pediu o prédio."

Distribuidora vê movimento crescer 100% no e-commerce

Lideranças do comércio varejista e economistas não acreditem no fim da loja física "tão cedo", mesmo que a compra de produtos via internet pareça ter consolidado uma tendência nestes 12 meses de pandemia.
Em Pelotas, a Diba Distribuidora e Serviços registrou, no período, um incremento de 100% no volume de entregas de compras online. A informação é de Nélson Pereira, proprietário da empresa.
Representante de três grandes empresas do setor na região, a distribuidora efetua 70 mil entregas por mês de produtos adquiridos via internet em toda a Zona Sul, de um trecho que vai de Camaquã ao Chuí e de São Lourenço do Sul a Santana do Livramento.
Diariamente, nas primeiras horas da manhã, um caminhão da Total Express, gigante de logística, da qual a Diba é base na Zona Sul, estaciona no amplo galpão da empresa, localizada na rua Barão de Santa Tecla, Zona Norte da cidade, para descarregar uma média de 800 produtos. Dali é feito o deslocamento. A frota é composta por quatro furgões da distribuidora e 50 entregadores terceirizados.
"Estou satisfeito", admite o empresário, que começou no mercado de distribuição há 30 anos, então só com revistas e demais publicações. Nos últimos 10 anos, ele conta, o mercado começou a sofrer alterações. Se em 2011 as revistas respondiam por 90% das entregas, hoje "vão de carona", completa.
"O e-commerce começou a ganhar espaço há 10 anos", lembra ele. "Desde então só cresce e no ano passado explodiu", afirma. O empresário não tem dúvidas de que o modelo de negócio veio para ficar. Destaca, entre as vantagens, a capacidade do mercado eletrônico em fidelizar clientes: "Ele oferece comodidade ao consumidor e sabe que precisa vencer resistências. Faz isso muito bem."

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* Álvaro Guimarães é natural de Rio Grande e jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Atualmente trabalha como repórter e assessor de comunicação freelancer
** Roberto Ribeiro é natural de Pelotas e jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Atualmente trabalha como repórter e assessor de comunicação freelancer