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Reportagem especial

- Publicada em 04 de Outubro de 2020 às 22:04

Indústrias antecipam medidas e adversidades da pandemia se transformam em recomeço

Com as medidas adotadas, chão de fábrica ganhou novos contornos

Com as medidas adotadas, chão de fábrica ganhou novos contornos


Gelson M. da Costa/Divulgação/JC
Tudo parecia muito distante quando um hospital de Wuhan, capital da província de Hubei, na China, notificou autoridades de saúde sobre um grupo com uma pneumonia misteriosa, em 27 dezembro de 2019. Logo, o mundo assistiu, em 23 de janeiro de 2020, o governo central chinês decretar lockdown em Wuhan e em outras cidades na província de Hubei, em um esforço para conter o que se transformou na pandemia de Covid-19.
Tudo parecia muito distante quando um hospital de Wuhan, capital da província de Hubei, na China, notificou autoridades de saúde sobre um grupo com uma pneumonia misteriosa, em 27 dezembro de 2019. Logo, o mundo assistiu, em 23 de janeiro de 2020, o governo central chinês decretar lockdown em Wuhan e em outras cidades na província de Hubei, em um esforço para conter o que se transformou na pandemia de Covid-19.
O novo coronavírus começou a se espalhar. Causou o caos na Europa, rumou para os demais continentes até migrar para as Américas, atingindo em cheio os Estados Unidos para, depois, rumar para o Brasil. Esse período de espera serviu para as grandes empresas se prepararem para o tsunami sanitário que viria a seguir. Muitas indústrias, especialmente as com perfil internacional, se anteciparam às restrições definidas pelos governos locais para preservar suas equipes.
Foi o caso da indústria de celulose CMPC, empresa de Guaíba, uma das primeiras a adotar normas sanitárias, antecipando-se, inclusive, aos decretos estaduais, conta Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC. Nos 70 dias iniciais, houve revezamentos, com 20% das pessoas permanecendo em casa durante 14 dias. "As medidas não prejudicaram a produção. Definimos regras, processos de trabalho eficientes e fomos nos adaptando", detalha Harger.
O rodízio também ocorreu de imediato na Braskem. A petroquímica reduziu em mais de 40% o número de trabalhadores nas plantas do País, inclusive a de Triunfo, no Rio Grande do Sul, onde atuam cerca de 3 mil funcionários diretos e indiretos. Em março, as equipes foram divididas em grupos e um ficou em casa, preservado, por um período de 14 dias. Com a efetividade das medidas de prevenção, detalha Nelzo Silva, diretor industrial da Braskem no Estado, as pessoas voltaram a trabalhar normalmente.
Na Randon, com sede em Caxias do Sul, a experiência de uma unidade da empresa na China serviu para estabelecer os parâmetros iniciais para as fábricas no Brasil. "Criamos programas de comunicação frequente com todos colaboradores, protocolos de proteção e distanciamento, higienização e também controle", explica Sérgio Carvalho, vice-presidente executivo e COO das Empresas Randon.
Processos tiveram de ser readequados para aumentar a distância entre os trabalhadores e evitar muitas pessoas no mesmo ambiente. Isso demandou a readequação de turnos e o rodízio de funcionários, bem como instalação de barreiras físicas entre os postos de trabalho, quando a situação permitia. Essas mudanças tiveram impacto negativo no fluxo de produção, seja por aumento do tempo de fabricação ou alta de custo.
O tradicional 'bater o ponto' na entrada, agora, é acompanhado pela verificação de temperatura, uso de máscara e higienização com álcool em gel. Mas foi nos refeitórios que ocorreram as mudanças mais drásticas: as conversas e as aglomerações, comuns no horário de almoço, ficaram para trás. Hoje, as cadeiras obedecem ao espaçamento mínimo, o fluxo diminuiu e os serviços de bufê trocados por pratos prontos ou servidos pela equipe do restaurante.
Em muitos casos, as linhas de produção também tiveram que atender a protocolos sanitários de cada região. Apesar de todas as prevenções, muitas empresas precisaram lidar com a queda acentuada na demanda. Os principais impactos foram a redução do nível de atividade e a necessidade de negociar com os trabalhadores mudanças de horários e a antecipação de férias. "De uma forma geral, a indústria precisou promover mudanças internas em razão dos protocolos de segurança sanitária impostos por governos municipais, estaduais e federal", explica Guilherme Scozziero Neto, coordenador do Conselho de Relações do Trabalho (Contrab) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
As alterações não se resumem à produção. O trabalho remoto, que já era adotado por algumas indústrias, virou regra para a maior parte das equipes das áreas administrativa, financeira, comercial e marketing, por exemplo. Em outros casos, os escritórios foram redesenhados para evitar contágio. A necessidade de adaptação rápida ainda levou as empresas a reelaborarem objetivos e planos de investimentos, contratações, produção e comercialização. A reorganização foi necessária para atingir metas ou, pelo menos, não sucumbir neste conturbado ano de 2020. O planejamento estratégico de curto prazo ganhou novo desenho.

Braskem mantém medidas adotadas

A indústria petroquímica Braskem adotou, no início de março, algumas medidas se mantêm, como a ocupação de 50% dos transportes, higienização frequente dos ambientes de trabalho e espaçamento nos restaurantes, mesmo que o sistema de bandeiras permita maior ocupação dos ambientes.
Outra prática, que não é propriamente novidade na empresa, consolidou-se nesse período. Adotado há dois anos pela Braskem, as atividades de escritório ocorrem em sistema flex office - o colaborador pode escolher onde irá atuar, pois as posições de trabalho deixaram de ser fixas, e também optar pelo home office em alguns dias. "O aumento deste formato de trabalho certamente será um legado, na medida em que o dia a dia está fluindo", afirma Silva.
Mais um resultado positivo veio das pesquisas a partir de necessidades identificadas após a chegada da pandemia. Por meio de nanotecnologia, a Braskem está desenvolvendo tecnologias e produtos em conjunto com os clientes. "As resinas plásticas são essenciais para o combate e prevenção do coronavírus. Nossa atuação está sendo fundamental para a produção de itens básicos de proteção", destaca o executivo.
Já algumas ações, que entraram em vigor em março para mitigar a contaminação, não têm mais necessidade de prosseguirem como a redução em mais de 40% do número de trabalhadores nas plantas do País. Agora, todas as unidades trabalham a pleno.

Mudanças estimulam a criação de produtos específicos

Senai participou diretamente de oito projetos de pesquisa para identificação ou mitigação da pandemia

Senai participou diretamente de oito projetos de pesquisa para identificação ou mitigação da pandemia


/Dudu Leal/Divulgação?JC
As indústrias tiveram oportunidade de desenvolver produtos específicos, seja por necessidade de mercado ou para contribuir com o País no enfrentamento da pandemia. "Isso incluiu a adaptação de portfólios e das linhas de produção para fabricar novos produtos, respondendo de forma positiva aos desafios que essas mudanças no chão de fábrica impõem", afirma Guilherme Scozziero Neto, coordenador do Conselho de Relações do Trabalho (Contrab) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). E comemora: "Trouxemos para a área da saúde os recursos da tecnologia 4.0, que já dominamos e aplicamos em outros projetos para a indústria".
Nesse cenário, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Estado (Senai-RS), por exemplo, participou diretamente de oito projetos de pesquisa para identificação ou mitigação da Covid, todos em fase final, gerando os primeiros protótipos. "O prazo para desenvolvimento foi encurtado para que os produtos possam entrar no mercado rapidamente e serem utilizados durante a pandemia", detalha Carlos Trein, diretor regional do Senai-RS que, além da pesquisa,  presta consultoria, auxiliando as empresas a aprimorarem produtos a partir de normas técnicas.
Fora da indústria, o mercado se retraiu, impactando em um tombo de 7,1% no Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul (IDI-RS) no acumulado de 12 meses até julho de 2020. "Um ano perdido", resume o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, sobre o desempenho do setor no Estado.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirma a retração da produção industrial gaúcha. De janeiro a julho de 2020, a queda no Estado foi de 14,5% sobre o mesmo período de 2019. Em 12 meses, o índice acumula perdas de 9,7%.
 

Cenário mais ameno traz expectativa de melhora

Apesar dos resultados negativos, os impactos do novo coronavírus começam a arrefecer sobre a economia. Em setembro, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI-RS) subiu 8,5 pontos em relação a agosto e alcançou 65,2, quarto mês consecutivo de alta. Com o resultado, o indicador se distancia em 33,2 pontos do mínimo de maio e fica apenas a 1,7 ponto de fevereiro, patamar anterior à pandemia.
E o índice de produção chegou a 61,8 pontos em agosto, acima da média histórica do mês (53). Segundo a assessoria econômica da Fiergs, a marca de 50 pontos indica que o crescimento foi intenso e disseminado em relação ao mês anterior.
Outro indicador positivo foi o de vagas de trabalho. Após quatro sequências de números negativos, o emprego subiu pelo segundo mês consecutivo. O índice passou de 52,3, em julho, para 55,9 pontos em agosto. De acordo com o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry, o retorno das atividades econômicas sustenta essa recuperação. Mas o dirigente reforça que o nível de atividade ainda está abaixo do que se verificava antes da crise.
"As empresas não se furtaram em fazer todo o possível para que o menor número de postos de trabalho fosse extinto. Isso demonstra a grande preocupação que a indústria do Estado tem com sua força de trabalho", pondera Guilherme Scozziero Neto, coordenador do Contrab.
Enquanto produção e emprego reagem, o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria, no primeiro semestre, caiu 12,3% na comparação ao mesmo período do ano passado. O índice é recorde negativo da série histórica, divulgada desde 2002 pela Fundação de Economia e Estatística, hoje Departamento de Economia e Estatística (DEE). Os números da indústria só não foram piores do que os 33,3% da agropecuária, impactada pela estiagem. O setor de serviços teve queda de 5,4%. No geral, o tombo do PIB gaúcho foi de 10,7% no período.
Em nível nacional, PIB caiu 5,9% no primeiro semestre em relação a igual período de 2019. Na base de comparação, o pior resultado foi da indústria, retração de 6,5%, seguido de serviços, queda de 5,9%. Somente a agropecuária teve desempenho positivo, com alta de 1,6%. Os resultados no País acompanham a queda da atividade industrial no mundo. Dados divulgados em setembro pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) apontam retração de 24,2% na América Latina, 19,3% na Europa, 16,5% na América do Norte e 12,9% na Ásia.
Especialistas alertam que a pandemia deve acelerar o processo de desindustrialização do País. O fenômeno já é observado pela perda de participação do setor no PIB, na indústria global e nas exportações. A indústria brasileira, que chegou a representar "30% do PIB na década de 1980, passou para 13,3% em 2012 e, caso continue nesse ritmo, a projeção para 2029 é de menos de 10%", detalha análise divulgada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e assinada pelos professores Daniel Arruda Coronel, Nelson Guilherme Machado Pinto e pelo estudante Leonardo Sangoi Copetti.
 

Práticas diárias alteradas para reduzir o risco de contágio

Planta industrial de aves iniciou as atividades em fevereiro, em Arroio do Meio, redobrando atenção com protocolos

Planta industrial de aves iniciou as atividades em fevereiro, em Arroio do Meio, redobrando atenção com protocolos


/Carina Marques/Dália Alimentos/Divulgação?JC
Antes de o alarme de início de turno soar, o convívio dos cerca de 1,2 mil funcionários era mais próximo no frigorífico de suínos da Dália Alimentos, em Encantado. Assim que as máquinas começavam a operar, os trabalhadores iniciavam a produção do dia. Em março, após uma pausa, o cotidiano teve de ser alterado para reduzir o risco de contágio da Covid-19.
Os apertos de mãos foram substituídos por acenos e sorrisos, e as conversas se mantiveram, ainda que fisicamente mais distantes. Em Arroio do Meio, a adequação aos novos tempos dos quase 500 colaboradores se misturou ao início da operação da planta de aves da Dália, que começou em fevereiro. No total, a cooperativa tem 2,6 mil trabalhadores.
"Há uma cultura diferente, uma reeducação do jeito de ser, que é do abraço e cumprimento, pois todo mundo é conhecido ou amigo. Isso não tem mais", conta o presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Antônio Piccinini, ao destacar que as pessoas vão aprendendo a mater o convívio, mas agora com a máscara, álcool em gel e luvas.
Na produção, o número de horas do abate aumentou para ter menos pessoas no mesmo momento", Com os associados, as mudanças foram maiores. A assembleia, agendada para 31 de março, ocorreu apenas em agosto, em razão da necessidade de lei específica que validasse as decisões tomadas em reunião online. O encontro surpreendeu com a rápida adequação ao ambiente virtual pelas 90 lideranças de famílias associadas. "A assembleia foi diferente, mas não ficou prejudicada em nada. Durou duas horas e meia e vencemos toda a pauta", comemora Piccinini.
Nas propriedades, a Dália realiza um levantamento para ver quantas têm equipamentos de internet. A ideia é estimular toda a rede a utilizar o aplicativo já disponível, que permite solicitar a orientação técnica, fazer compras, emitir notas fiscais eletrônicas e analisar leite, por exemplo. Em breve, o aplicativo oferecerá novas funções. Além da ferramenta, os produtores têm assessoria técnica, agora com cuidados redobrados e menor número de pessoas, detalha o presidente do conselho.
O fluxo do refeitório também ganhou atenção. As equipes almoçam em locais e horários diferentes, em menor número e sem contato com outros setores. A Dália vai começar a construção de um novo refeitório na unidade de Encantado, evitando saída para rua no deslocamento para o almoço.
Em maio, depois da confirmação de Covid entre trabalhadores nos frigoríficos de suínos e de aves, a cooperativa intensificou as medidas de prevenção após assinatura de Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério Público Estadual (MPE). E, além das ações já implementadas anteriormente, passou a fazer vigilância ativa com barreira sanitária nas entradas, adotou sistema de renovação de ar e instalou anteparos físicos entre postos de trabalho.
As adequações feitas a partir de março - de compra de equipamentos de proteção às mudanças internas - totalizaram, até o momento, investimentos da ordem de R$ 3 milhões. "Os esforços deram resultado, apesar de alguns casos positivos para Covid, não perdemos nenhuma vida entre os funcionários, todos se curaram", afirma Piccinini.
 

Oportunidades de negócios surgem diante das novas demandas de mercado

Enquanto o País parava diante da chegada do novo coronavírus, a Novus, de Canoas, fechou as portas, adaptou processos e reuniu um pequeno grupo de especialistas para pensar de que forma iria trabalhar durante a pandemia e quais seriam as estratégias necessárias para combatê-la. Uma das primeiras resoluções foi adaptar sensores, já desenvolvidos pela companhia, com foco na indústria farmacêutica.
A empresa passou a fazer a manutenção de respiradores hospitalares para o coletivo Brothers in Arms, ao qual aderiu e que é formado por pessoas que buscam ajudar a sociedade gaúcha. Os voluntários do coletivo elaboram boletins com as carências de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) dos hospitais e unidades de saúde do Estado.
Além disso, desenvolveu um equipamento que usa inteligência artificial para analisar sinais vitais de pulsação, frequência respiratória, pressão arterial, saturação de O2 e temperatura corporal. O projeto está na reta final, passando por avaliações médicas pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde. O produto foi concebido em menos de 90 dias, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial-Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Senai- Embrapii), conta Aderbal Lima, diretor-executivo da empresa.
"Imagine o pessoal da linha de frente fazer uma série de medições sem ter contato direto com o paciente. As tecnologias estão disponíveis e dá pra fazer coisas incríveis. Vislumbro além: ter em cada residência equipamentos que medem uma série de parâmetros", diz Lima, um entusiasta da inovação.
Após a fabricação despencar cerca de 30% em abril e maio, a recuperação veio rapidamente. Em julho, a Novus bateu recordes de produção e faturamento e se manteve em alta em agosto, o que deixa o acumulado de 2020 no azul. "Atribuo esse resultado à tremenda pulverização de clientes em 60 países, ponto fora da curva para a indústria eletrônica", esclarece Lima.
Outro diferencial é a qualificação da equipe. Dos 180 funcionários, mais da metade tem curso superior. A empresa, que já adotava home office, ampliou o número de colaboradores trabalhando de forma remota. "É um novo modelo, e a performance dos colaboradores não caiu. Se atingissem 80%, já estaríamos satisfeitos, mas acabaram atendendo plenamente: em todas as etapas as entregas estão sendo cumpridas", detalha o executivo.

Cresce o foco na colaboração e na preocupação com o meio ambiente

Na CMPC, meta inicial foi a de manter os cerca de 6 mil funcionários seguros e a fábrica trabalhando a pleno

Na CMPC, meta inicial foi a de manter os cerca de 6 mil funcionários seguros e a fábrica trabalhando a pleno


/CMPC/DIVULGAÇÃO/JC
A colaboração entre sociedade, iniciativa privada e governo em prol do objetivo comum é considerado um aspecto que foi reforçado neste ano, segundo Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC. Para o executivo, as empresas necessitam transcender seu escopo para ajudar a sociedade de maneira mais efetiva, mas alerta para o desafio que o coronavírus impôs ao mundo: refletir sobre como lidamos com a natureza.
"A indústria deve buscar processos mais sustentáveis, pensar em bioeconomia e em ciclos virtuosos de produção", declara como principal lição a seguir. Entre as mudanças a partir do uso de tecnologias, Harger destaca as ligações que viraram vídeos, os horários flexíveis e o home office. "Não sabemos em que proporção essas práticas irão se manter, mas já nos desafiamos a tornar a colaboração parte da cultura da empresa", afirma.
Na CMPC, o desafio inicial foi manter os cerca de 6 mil funcionários seguros, a fábrica trabalhando a pleno e as prateleiras dos supermercados e farmácias cheias, detalha Harger, lembrando que a celulose está presente em cerca de 40 itens dentro de casa. "Criamos protocolos, processos de trabalho eficientes e fomos nos adaptando, sem prejudicar a produção", lembra Harger.
Além da complexidade de operar uma planta com milhares de pessoas trabalhando, estava programada para abril a parada geral da linha 2 da CMPC. O plano teve de ser adiado para julho para dar tempo de estudar como efetuar com segurança a operação, que mobilizou 2,4 mil pessoas.
Foram 10 dias de manutenção, inspeção e testes dos equipamentos. E, para evitar contágio por Covid-19, a empresa adotou medidas ainda mais restritivas de acesso e de prevenção nesse período, como testagem de contágio e disponibilidade de equipe médica para emergência. "O mais importante é que conseguimos detectar e tomar as medidas necessárias para não trazer doença para a fábrica".
Enquanto muitas indústrias tiveram retração de pedidos durante a pandemia, a CMPC, localizada em Guaíba, praticamente não teve impacto sob o ponto de vista da demanda. Com mais de 90% da produção exportada, a CMPC assistiu a procura por papel de impressão cair nos primeiros meses e aumentar a necessidade das indústrias de higiene, limpeza e cuidados pessoais, o que já foi normalizado. Já o setor de embalagens se manteve estável.

Desafios e oportunidades do "trabalhar em casa"

Em uma época em que ficar em casa é a regra geral para evitar contágio pela Covid-19, duas empresas da Serra vivem realidades distintas. Enquanto a Tramontina, de Carlos Barbosa, viu suas vendas online crescerem a partir do momento em que as pessoas passaram a consumir mais itens para o lar, a Marcopolo, de Caxias do Sul, assistia o segmento de transporte de passageiros ser fortemente impactado pela pandemia.
A resposta da Marcopolo foi rápida. Desenvolveu, em menos de dois meses, soluções para proteger passageiros e profissionais do transporte coletivo. Chamada Marcopolo BioSafe, a plataforma pode ser adquirida como item de fábrica ou instalada nos ônibus em circulação. As inovações abrangem distanciamento maior de poltronas, cortinas de proteção e acabamentos antimicrobianos, renovação do ar interno e uso de raios ultravioletas UV-C no ar-condicionado e nos sanitários. Já na entrada do ônibus, o sistema disponibiliza tapetes sanitizantes e dispensador de álcool gel, além de câmera que mede a temperatura e verifica se o passageiro está usando máscara.
"A plataforma BioSafe traz mudanças que, mesmo no pós-pandemia, permanecerão como diferencial de conforto para os passageiros que viajam em ônibus da Marcopolo", explica Rodrigo Pikussa, diretor de Operações Comerciais MI & Marketing.
Há, ainda, outras novidades. Para motoristas e cobradores, a Marcopolo criou o kit proteção, formado por barreira de vidro que pode ser adaptado para diferentes carrocerias. A fábrica foi além, oferecendo serviço de desinfecção dos ônibus: FIP Onboard é um sistema que consiste na aplicação de névoa seca com nanopartículas que evita a proliferação de vírus e bactérias.
 

Da China para o Brasil, experiências e aprendizados

Randon usou experiência da unidade chinesa para aplicar nos parques nacionais

Randon usou experiência da unidade chinesa para aplicar nos parques nacionais


Cleber Zeferino/Randon/Divulgação?JC
A experiência inicial de uma das unidades da Randon na China, onde surgiu o coronavírus, gerou aprendizados fundamentais para preparar as plantas fabris no Brasil. "As empresas Randon agiram prontamente no sentido de proteger a saúde dos seus colaboradores e familiares e para assegurar a continuidade das operações, seguindo as melhores práticas adotadas no mundo para mitigar os impactos da Covid-19", assinala Sérgio Carvalho, vice-presidente executivo e COO das Empresas Randon.
Além da doação de respiradores, testes rápidos, máscaras, alimentos, entre outros itens, a Randon adaptou algumas das fábricas, como a unidade Ferrari, em Flores da Cunha, para a produção de peças de ventiladores pulmonares, e a unidade Controil, em São Leopoldo, que passou a fornecer peças plásticas para protetores faciais.
Na parte de gestão, o grupo com sede em Caxias do Sul, criou uma área de logística integrada e está ampliando a Randon Ventures, para investimentos em startups para os segmentos de logística, serviços financeiros, seguros e mobilidade para aumentar a ênfase na transformação digital.
 

Consumo 'caseiro' estimulado

O isolamento social estimulou a venda de produtos para casa por canais virtuais. E, com mais de 18 mil itens no portfólio, a Tramontina teve de se adaptar rapidamente aos novos tempos e às mudanças de exigência dos consumidores. A principal alteração para a empresa ocorreu no ambiente virtual: as vendas via e-commerce cresceram e o atendimento pela central foi ampliado. "O período acelerou o movimento para a centenária Tramontina - de vocação industrial - que ainda estava em processo de consolidação com a plataforma de vendas on-line", conta José Paulo Medeiros, diretor de Produção.
Para se ter uma ideia do impacto da pandemia, de março a agosto, o contato dos consumidores pela central de atendimento aumentou em 78%, em comparação a 2019. As solicitações vão desde a busca de informações sobre características de produtos, dúvidas de utilização, a orientações para compras no e-commerce.
Ao mesmo tempo em que o consumidor está mais crítico e exigente, segue ávido por novidades. E a Tramontina não deixa por menos: criou os serviços de personalização de facas online e de soluções para churrasco, com calculadora de necessidades conforme número de envolvidos, geolocalização, previsão do tempo, impressão da lista de mantimentos e possibilidade de realizar o convite por meio das redes sociais.
Com o consumidor mais ativo e com maior disponibilidade de tempo no site, ampliou a comunicação via redes sociais e canais próprios com conteúdos e dicas para aproveitar o tempo em casa, incluindo parceria com influenciadores digitais.
 

* Karen Viscardi
Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs), Karen Viscardi atuou como editora no Jornal Zero Hora, e como editora e repórter no Jornal do Comércio.