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Empresas & Negócios

- Publicada em 21 de Setembro de 2020 às 03:00

Favelas e periferias, enfim, conectadas

Nos campinhos de futebol, nos becos ou nas praças, será possível acessar conteúdos selecionados

Nos campinhos de futebol, nos becos ou nas praças, será possível acessar conteúdos selecionados


/CARL DE SOUZA/AFP/JC
Com o celular na mão e o braço para fora da janela, Maria de Fátima Bezerra Rodrigues procura o sinal de internet do vizinho, na comunidade de Heliópolis, a maior favela de São Paulo. É uma busca inglória porque nem sempre dá certo. Quando funciona, é um quebra-galho. A conexão, lenta, é compartilhada voluntariamente ainda por outros moradores daquele trecho da favela, em que casas de tijolo aparente se empilham às margens de um córrego de esgoto a céu aberto.
Com o celular na mão e o braço para fora da janela, Maria de Fátima Bezerra Rodrigues procura o sinal de internet do vizinho, na comunidade de Heliópolis, a maior favela de São Paulo. É uma busca inglória porque nem sempre dá certo. Quando funciona, é um quebra-galho. A conexão, lenta, é compartilhada voluntariamente ainda por outros moradores daquele trecho da favela, em que casas de tijolo aparente se empilham às margens de um córrego de esgoto a céu aberto.
"Por causa da pandemia, qualquer cadastro ou agendamento tem de ser pela internet. E como é que faz?", questiona Maria de Fátima. Essa dimensão da desigualdade brasileira ficou ainda mais flagrante durante a pandemia da Covid-19, em que conexão à internet virou sinônimo de acesso a benefícios e direitos, a aprendizado, compras e trabalho -numa espécie de exclusão dentro da exclusão.
Ali na beira do córrego, na semana passada, enquanto Maria de Fátima equilibrava seu celular no ar, técnicos avaliavam como fazer a instalação de um dos 20 pontos de wi-fi livre programados para o bairro dentro do projeto Mães da Favela ON, da Cufa (Central Única das Favelas), que pretende conectar 2 milhões de moradores de favelas brasileiras à internet.
A iniciativa busca disponibilizar conexão aberta à internet em diversos pontos de 150 complexos de favelas nos 26 estados do País mais Distrito Federal, além de disponibilizar 500 mil chips para mães cadastradas nas bases da Cufa em quase 5 mil desses territórios pelo país. "Será o maior projeto de conectividade em favelas já feito no Brasil", gaba-se Celso Athayde, fundador da Cufa e idealizador do projeto.
Para viabilizar pontos de wifi livre e distribuição de chips, ele articulou parcerias de peso com empresas como Alô Social/TIM, PicPay, TikTok , VR Benefícios, Volvo e banco Santander, além das fundações Tide Setúbal e Casas Bahia e dos institutos Península, Humanize e Galo da Manhã.
"Durante o trabalho emergencial que fizemos em favelas desde o início da pandemia, à medida que a questão do alimento era resolvida pela entrega de cestas básicas, a demanda que surgia era por acesso à internet. Rapidamente, esta virou a nova prioridade", conta ele, que afirma ter arrecadado R$ 145 milhões em recursos e doações convertidos em cestas básicas para o projeto Mães da Favela, que antecedeu sua versão "ON".
"O sonho de conectar as favelas é uma perseguição nossa de longa data", diz ele. "Mas foi perceber que a pandemia atingia as mulheres das favelas em especial que me fez focar nossos projetos nelas, e perceber que conectividade era essencial para qualquer movimentação em direção à retomada econômica, em especial num momento em que os filhos estão fora da escola, em casa."
Levantamento do Data Favela de agosto deste ano apontou que 84% dos moradores de 247 comunidades pesquisadas que tinham filhos em idade escolar afirmaram que seus pacotes de dados para acesso a internet costumam se esgotar antes do final do período para o qual eram previstos.
Segundo o estudo, 46% das crianças em idade escolar dessas comunidades não têm assistido a aulas durante a pandemia. "Com todo mundo com celular, o acesso existe em alguma medida. Mas não é suficiente para educação à distância nem para atividades de trabalho", avalia Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, parceiro da Cufa no Data Favela. "Internet deveria ser também considerada direito fundamental."
Os chips do programa Mães da Favela ON darão acesso limitado a internet, mas ilimitado a uma plataforma com conteúdos educativos e de empreendedorismo elaborada especialmente para o projeto, sob a supervisão da Unesco, a agência das Nações Unidas para educação e cultura. A curadoria da plataforma, a cargo do Centro de Inovação para a Educação Brasileira, é feita a partir de colaborações com Instituto Península, Fundação Roberto Marinho, Canal Futura, portal Eduka e SOS Educação.
"Haverá conteúdo educacional para crianças desde a primeira infância até o Ensino Fundamental 2, e muita coisa com foco nas mães: desde estratégias para complementar o processo educativo dos filhos durante a pandemia, até como fazer bolo ou salgadinhos para fora, calculando custos e margem de lucro", explica a diretora da Unesco, Marlova Noleto, que celebra o fato de o Mães da Favela ON focar em duas desigualdades simultaneamente: de conectividade e de educação.
"Conectadas, essas mães poderão acessar um portal com temas de interesse. Vamos produzir algo amigável, que seja fácil de usar, para que as pessoas de fato acessem os conteúdos", destaca. Quase metade (49%) dos brasileiros que não têm conexão afirmam não saber usar a internet, segundo a TIC Domicílios, que pesquisa o uso de tecnologias de informação e comunicação. Há dois meses, um piloto do Mães da Favela ON acontece na Rocinha, no Rio de Janeiro, com 30% da capacidade total de pontos de conexão naquela comunidade.
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