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Empresas & Negócios

- Publicada em 21 de Setembro de 2020 às 03:00

Dalca Brasil comemora forte procura por robôs industriais

Depois do baque nos negócios em março e abril, Dal Fré comemora forte retomada de pedidos

Depois do baque nos negócios em março e abril, Dal Fré comemora forte retomada de pedidos


Dalca Brasil/divulgação/jc
Roberto Hunoff
O Brasil está dentre os últimos colocados no ranking dos países com menor índice de robotização no setor produtivo. Mas a pandemia do coronavírus parece ter acordado o empresariado para esta tecnologia, hoje de custo mais acessível e disponível em grande escala no país. De acordo com Bruno Dal Fré, diretor e fundador da Dalca Brasil, depois do susto com o baque nas vendas em março e abril, veio a surpresa com uma retomada fortíssima de pedidos, tanto que, neste momento, as negociações estão sendo feitas para entregas no próximo ano. Os robôs industriais que a empresa produz em Bento Gonçalves atendem, principalmente, atividades de soldagem, manipulação, corte e usinagem, e paletização para vários segmentos, com destaque para metalmecânico, linha branca, farmacêutica, alimentícia, higiene e limpeza, móveis e bebidas.
O Brasil está dentre os últimos colocados no ranking dos países com menor índice de robotização no setor produtivo. Mas a pandemia do coronavírus parece ter acordado o empresariado para esta tecnologia, hoje de custo mais acessível e disponível em grande escala no país. De acordo com Bruno Dal Fré, diretor e fundador da Dalca Brasil, depois do susto com o baque nas vendas em março e abril, veio a surpresa com uma retomada fortíssima de pedidos, tanto que, neste momento, as negociações estão sendo feitas para entregas no próximo ano. Os robôs industriais que a empresa produz em Bento Gonçalves atendem, principalmente, atividades de soldagem, manipulação, corte e usinagem, e paletização para vários segmentos, com destaque para metalmecânico, linha branca, farmacêutica, alimentícia, higiene e limpeza, móveis e bebidas.
Empresas & Negócios – Como tem se comportado o mercado de robótica industrial desde o início da pandemia?
Bruno Dal Fré – Começamos o ano muito bem, com projeção de alta entre 30% e 40%, porque o mercado de robótica e automação está crescendo ao natural. Com a pandemia, todos os planos caíram por terra. Mas com o passar das semanas, identificamos elevação de demandas nas indústrias de alimentos, de higiene e limpeza, e química e farmacêutica, porque as pessoas ficaram mais tempo em casa. Até surpreendeu, porque projetos em andamento para os próximos anos se consolidaram agora. Neste momento, mesmo com a parada, já superamos a meta inicial e reprogramamos para alta de 60%. No setor comercial, estamos 15 dias atrasados no atendimento das solicitações. Não significa que isto se concretize no curto prazo, mas é sinal de que as empresas estão buscando investimentos para melhorar produtividade e os farão em algum momento. A procura está alta, tanto é que estamos vendendo projetos para março de 2021.
E&N – O que foi preciso mexer na empresa para ajustar a esta nova realidade?
Dal Fré – Mudou, principalmente, a representatividade dos setores no faturamento da empresa. Até então se tinha 50% da receita proveniente da indústria metalmecânica, especialmente automotiva, e o restante dentre os demais segmentos. Agora, temos uma participação de 30% da indústria metalmecânica, que voltou a crescer, mas em patamares inferiores aos demais. Também temos problema de espaço físico. Estamos avaliando possibilidades, como a construção de uma sede ou aluguel de pavilhões para ampliar a capacidade de produção. Outra questão é mão de obra. Temos vagas técnicas abertas e não encontramos pessoal. Estamos treinando pessoal, principalmente jovem, com experiência em mecatrônica. O quadro direto é de 60 pessoas, além de indiretos, pois temos boa parte da produção terceirizada.
E&N – A robótica já é viável economicamente para qualquer perfil ou porte de empresa?
Dal Fré - Há 10 anos, somente grandes empresas investiam em robôs; hoje, organizações com 20 funcionários já têm o sistema. Ocorre que os custos da mão de obra não param de subir, enquanto os da tecnologia seguem baixando, tornando-a viável. No passado, o retorno do investimento em robótica levava cinco anos; hoje, temos projetos para pequenas empresas com retorno de um ano. É uma mudança rápida e drástica, sem volta.
E&N – A visão de indústria 4.0 já é realidade no mercado ou será incorporada em função de situações como a pandemia?
Dal Fré - A robótica industrial é um dos pilares da indústria 4.0 e está ligada com a digitalização. A pandemia fez com que muita gente trabalhasse em casa, inicialmente com produtividade baixa até se adequar ao modelo. Atualmente, isto já mudou. A maioria das empresas já percebeu que a digitalização aumenta o controle e a produtividade. Mas tem quem siga operando no modelo tradicional. Esta é uma mudança que depende, essencialmente, do perfil do gestor, precisa vir de cima. É o caso das reuniões virtuais. Antes, tínhamos de investir dois dias em viagem para fazer reuniões em Manaus, um dos principais polos consumidores dos nossos produtos. Agora, fizemos reuniões de uma hora e com mais gente participando. O sistema de digitalização já existia, só não tinha sua importância percebida.
E&N – A cadeia de fornecedores da Dalca conseguiu atender esta reação?
Dal Fré – Adotamos o perfil italiano de gestão, com foco naquilo em que somos especialistas. Nosso quadro é formado, basicamente, por engenheiros, projetistas, programadores e instaladores dos equipamentos. Atividades mais industriais, como caldeiraria, pintura e corte e dobra, são feitas por terceiros. Isto não é comum no Brasil, onde se procura concentrar tudo internamente. Escolhemos a cultura europeia, porque a capacidade de expansão é mais rápida e com foco na especialização. Por isso, temos uma cadeia de parceiros, que foram informados antecipadamente da expectativa de crescimento, o que permitiu que se organizassem, contratassem e investissem, se necessário.
E&N – Como é a parceria com Casarini Robótica?
Dal Fré - A Dalca começou fazendo serviços de assistência técnica e pequenas automações de máquinas. Em viagem ao exterior, em busca de tecnologia, encontramos a Casarini, com quem fechamos contrato de joint-venture. Recebemos tecnologias e pagamos em forma de royalties. Investimos, principalmente, em aplicações que já deram certo lá fora para ter mais assertividade. A empresa nos alavancou no início, mas hoje a engenharia local é praticamente autossuficiente, cada vez buscamos menos recursos no exterior. Inclusive, já estamos fazendo o processo inverso, desenvolvendo no Brasil e enviando para a Itália.
E&N – Com base neste avanço tecnológico, é possível viabilizar a produção local de robôs?
Dal Fré – Já houve iniciativas de outras marcas, mas sem êxito. Na verdade, não se produz robôs, mas células robotizadas. Os robôs, que são os braços, vêm da Alemanha, Suécia e Japão. Para robotizar, precisamos de projeto, engenharia, esteiras, programação e respeito às normas técnicas de segurança, parte que nos cabe. O robô é um equipamento com alta precisão, com motores e eletrônica muito avançada. Mesmo que fossem montados no Brasil, continuarão tendo grande parcela de conteúdos importados. Portanto, não basta só o robô, é preciso evoluir toda a produção destas peças. Hoje, não é viável, talvez no futuro. A grande dificuldade não é fazer o robô trabalhar, mas trabalhar 24 horas por dia durante 20 anos.
E&N – O fato de um dos componentes mais importantes ser importado prejudicou a rentabilidade em função da variação cambial?
Dal Fré – Por mais estranho que possa parecer, o dólar alto é um dos fatores para o nosso crescimento. Como o mercado tem muitas marcas de fora, o dólar e o euro valorizados mais ajudou do que nos prejudicou, porque os concorrentes ficaram inviáveis pelo valor e também pela dificuldade do deslocamento de técnicos por causa da pandemia. Logicamente, que a questão da pandemia é momentânea, mas fechamos negócios por conta disto. Também estão surgindo oportunidades, pois várias operações de equipamentos da Ásia, em função da variação cambial, estão sendo trazidas para o Brasil, o que vai exigir montagem de estruturas.
E&N – O custo se tornou mais viável em função de escala de produção?
Dal Fré – Antes, a robótica era futurística, hoje está à disposição de todos com sensível redução do custo de implantação. Especialmente para trabalhos repetitivos e insalubres, hoje feitos por profissionais de mais idade e nos quais os jovens não querem atuar. É mais fácil colocar esta geração na programação de um robô do que fazer trabalho repetitivo. Tem ainda uma mudança na visão do empreendedor, que diariamente é provocado a investir. Quando começamos ninguém sabia o que era robótica ou indústria 4.0. Hoje, é tema do momento e o empreendedor percebe que terá seguir este caminho. Para reforçar o grau de importância destas tecnologia, basta lembrar que, com a pandemia, as empresas automatizadas desligaram as máquinas. Agora, com a retomada religaram. Com processo manual é muito mais complicado.
E&N – A Dalca tem projetos de exportar?
Dal Fré – Para 2021, temos meta de ingressar em mercados da América Latina e avaliamos projetos em andamento para a Europa. Ocorre que vários clientes no Brasil são multinacionais, o que nos permite replicar os projetos em outros continentes. Neste caso, será fundamental a parceria que temos com a Casarini.
E&N – Como se estrutura atualmente o mercado de robótica no Brasil e como a Dalca se insere nele? Qual o potencial deste mercado?
Dal Fré – É um mercado dinâmico, pois algumas empresas atuam em determinados segmentos, outras em aplicações específicas e ainda há concorrentes indiretos. A Dalca está no top 10 do Brasil quando se fala em robôs industriais. Anualmente, são colocados no Brasil em torno de 2 mil unidades, metade na indústria automotiva; na China, são 100 mil. Vale lembrar o número de robôs instalados a cada 10 mil trabalhadores. No Brasil, são 14; na Europa, 200; na Ásia, 100; e em Cingapura e na Coreia do Sul, com 700. É um mercado enorme para se trabalhar. Mas as mudanças não se darão no curto prazo, nenhuma empresa muda de 10 para 100 robôs de uma hora para outra, tem toda uma aprendizagem de mudança de cultura interna.
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