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Reportagem Econômica

- Publicada em 28 de Junho de 2020 às 23:13

Turismo gaúcho tenta se adaptar a exigências do 'novo normal'

Hotel Laje de Pedra, em Canela, fechou as portas após 42 anos

Hotel Laje de Pedra, em Canela, fechou as portas após 42 anos


PREFEITURA DE CANELA/DIVULGAÇÃO/JC
Não há dúvidas de que o turismo foi e continua sendo o setor da economia mais afetado pela pandemia do coronavírus, tanto no exterior quanto no Brasil. Desde o início, países se fecharam, milhares de voos foram cancelados e os aeroportos ficaram vazios, assim como os hotéis e restaurantes de cidades turísticas. Na imagem acima, o tradicional Hotel Laje de Pedra, de Canela, encerrou as atividades após 42 anos. O viajante está isolado em casa, aguardando que tudo se normalize. Mas a pergunta de ouro é: qual será o 'novo normal' do turismo? 
Não há dúvidas de que o turismo foi e continua sendo o setor da economia mais afetado pela pandemia do coronavírus, tanto no exterior quanto no Brasil. Desde o início, países se fecharam, milhares de voos foram cancelados e os aeroportos ficaram vazios, assim como os hotéis e restaurantes de cidades turísticas. Na imagem acima, o tradicional Hotel Laje de Pedra, de Canela, encerrou as atividades após 42 anos. O viajante está isolado em casa, aguardando que tudo se normalize. Mas a pergunta de ouro é: qual será o 'novo normal' do turismo? 

À espera da nova normalidade

Aeroporto Salgado Filho sem passageiros: cena impensável meses atrás

Aeroporto Salgado Filho sem passageiros: cena impensável meses atrás


MARCO QUINTANA/arquivo/JC
Os dias frios de inverno, época em que tradicionalmente diferentes regiões do Rio Grande do Sul ficam abarrotadas de visitantes, este ano compõem um novo cenário. As ruas e as paisagens bucólicas estão mais desertas desde o início da pandemia, em março. A queda drástica no movimento de pessoas e as regras de restrição de atividades impactam de forma distinta diferentes perfis de empresas ligadas ao turismo, como hotéis, agências de viagens, transportadores, restaurantes, parques e locais de eventos. E, mesmo entre as operações que estão funcionando, a receita está muito aquém da normalidade.
"Por mais que o Rio Grande do Sul esteja relativamente bem em relação a outros destinos turísticos do Brasil, com a pandemia de forma menos acentuada, houve uma paralisia no setor aéreo, o que afeta o Estado", explica Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Isso porque os destinos turísticos, de negócios e de eventos dependem da aviação civil.
Os números mostram que o transporte aéreo de passageiros despencou no Brasil. Em maio, a demanda por voos domésticos caiu 90,97% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O índice até melhorou um pouco em relação à queda de 93,09% em abril, que foi o pior mês da série iniciada em 2000 pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Os dados foram compilados pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Na hotelaria de Porto Alegre, por exemplo, cerca de 70% dos hóspedes usa como meio de transporte o avião. "O grande movimento de pessoas vem a trabalho, fica entre 50% e 60% da ocupação. Em média, 30% é turismo de eventos, como congressos, feiras, convenções, cursos. E, entre 10% e 20% é passeio", detalha Carlos Henrique Schmidt, presidente do Sindicato dos Hotéis de Porto Alegre (SHPOA). Com a situação dos voos, cerca de 80% dos hotéis ficaram fechados em abril e todos os eventos foram cancelados, mais de 20 mil, incluindo casamentos.
Na Serra, a situação se repete. Gramado recebe grande parte dos visitantes por via aérea. Já os gaúchos e catarinenses utilizam automóvel, e ocupam, respectivamente, a primeira e a terceira posição entre turistas no município. Pessoas vindas de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e estados do Nordeste representam a maior parte do movimento, reforçando a dependência de voos comerciais operando a pleno.
Como resultado, o turismo amargou perdas de R$ 4,79 bilhões entre março e maio no Estado, valor que, no País, alcançou R$ 87,79 bilhões no mesmo período, segundo projeção da CNC. E não há indicativos de que a situação melhore no curto prazo. "É um ano perdido porque não é possível afirmar que atingimos o pico da pandemia no País, e o Rio Grande do Sul tem aceleração no número de casos nos últimos dias. É cedo para cravar que esse é o fundo do poço", afirma Bentes.
Para o especialista da CNC, mesmo em um cenário mais positivo, com diminuição do número de contágios, houve queda nas atividades essenciais. "E, na economia, primeiro se retomam as atividades básicas para depois o consumo de não essenciais, caso do turismo", explica Bentes. De modo geral, a receita do setor acompanhou o desempenho da aviação e caiu em torno de 90% em abril na comparação ao período pré-Covid. Esse tombo se repetiu em maio e o economista estima retração de mesmo nível em junho.
Pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), com 388 empresários de diferentes áreas de atuação no Estado, indica que o setor de serviços, do qual o turismo faz parte, foi o mais afetado pela crise no primeiro quadrimestre de 2020. Consequentemente, foi o que mais cortou vagas de trabalho: 39,3% dos entrevistados informaram que demitiram funcionários. Realizada pelo Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR), o levantamento mostra ainda que, para 75,7% dos entrevistados, piorou o setor de atuação da empresa na comparação aos primeiros quatro meses de 2019. Isso se reflete, em menor medida, na expectativa de faturamento. Para 55,9%, deve cair ou cair muito este ano. "O setor de turismo foi um dos mais atingidos, basicamente em função do isolamento, pela redução no deslocamento das pessoas", concorda o economista Ezequiel Megiato, coordenador do EDR.
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O RANKING DE PERDAS NO TURISMO NO PAÍS

Queda de faturamento do setor turístico, de março a maio, em R$ bilhões:
SP - 31,77
RJ - 12,48
MG - 7,09
RS - 4,79
BA - 4,07
Brasil Total - 87,79
Fonte: CNC

Lições extraídas da adversidade

Carlos Henrique Schmidt, presidente do SHPOA  presidente do Sindicato de Hotéis

Carlos Henrique Schmidt, presidente do SHPOA presidente do Sindicato de Hotéis


SINDHA/DIVULGAÇÃO/JC
Ao mesmo tempo em que gerou um impacto econômico sem precedentes, a pandemia trouxe algumas lições e até valorização de serviços que vinham sendo substituídos por compras pela internet. A partir da redução dos voos internacionais, o retorno de muitos brasileiros pelo mundo foi facilitado por agentes de viagens e operadoras. "Quando começou a pandemia, as pessoas foram realocadas com agilidade via agência e operadora. Quem comprou on-line ficou por último, pois não tinha ajuda para retornar. Quem passou por isso ou ouviu relato de pessoas que tiveram esse atendimento diferenciado, valoriza mais. O cliente de agência é fiel justamente pelas informações e pela segurança que passamos", conta Lúcia Bentz, presidente da Associação Brasileira de Agência de Viagens do Rio Grande do Sul (Abav-RS).
Na Serra, a adversidade estimulou a parceria. "Nunca vi o trade tão engajado e empresários tão unidos. Temos sido surpreendidos, por mais que se tenha dificuldade em fiscalizar tudo, a maioria dos empresários propõem medidas (de controle sanitário) além do que pedimos", conta Rafael Carniel, secretário de Turismo de Gramado.
A pandemia também trouxe aprendizados. Carlos Henrique Schmidt, presidente do Sindicato de Hotéis de Porto Alegre (SHPOA) cita o cuidado com o caixa da empresa. "O setor está aprendendo a controlar a saúde financeira na marra", destaca.

Sistema de bandeiras traz desafios para empresários

'Abre e fecha' no varejo e nos serviços se torna um problema

'Abre e fecha' no varejo e nos serviços se torna um problema


/Luciano Lanes /PMPA/JC
As perdas do setor de turismo são generalizadas, mas sua intensidade depende do tipo de empresa e do local onde operam. Enquanto empresas de eventos estão com agendas bloqueadas desde março, sem poder atuar, hotéis tiveram de se adequar a regramento sanitário, mas não foram impedidos de receber hóspedes. Diferentemente dos restaurantes, que oscilam entre operar e fechar, conforme a bandeira da região em que estão localizados, seguindo regramento do modelo de distanciamento controlado, instituído pelo governo do Estado. A definição de cor da bandeira depende do grau de risco em saúde de cada região.
O abre e fecha de empresas de serviços se torna um problema para parte dos empresários em razão do perfil de atividade. Para um restaurante funcionar, por exemplo, é necessário mobilizar garçons, cozinheiros, auxiliares, equipe de limpeza e caixa, sem contar os custos com estoques de comida. Quando há interrupção de atividades, é alto o custo com a equipe e com os alimentos que não podem ser armazenados por longo período. Esse contexto pode ocorrer de uma semana para a outra. Mas é uma situação que deve se repetir.
Para Amanda Paim, coordenadora estadual da Economia Criativa e Turismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS), houve entusiasmo desde o Dia das Mães até Dia dos Namorados, mas empresários mais atentos sabiam que poderia haver restrições das atividades. "Quem não enxergar isso não está sabendo lidar com o ambiente. A maioria acreditou que iria se manter, até porque as empresas têm caixa esgotado. É uma questão de sobrevivência retomar atividades, mas, no modelo em que estamos, haverá interrupções", salienta.
"Cada semana é diferente, cada hora há uma decisão distinta que confunde", considera José Reinaldo Ritter, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Sul (ABIH-RS) e vice-diretor operacional ABIH nacional. A opinião é compartilhada por Ângelo Sanches, secretário de Turismo e Cultura de Canela. "O contexto gera insegurança. O empresário teve custo para demitir e agora tem de contratar todo mundo de novo, depois vem a bandeira vermelha e ele precisa pagar funcionário, luz, água. Há incerteza para o proprietário e para o colaborador", afirma o secretário. Outra situação inusitada ocorreu até semana passada: os restaurantes de hotéis estavam proibidos de funcionar na Capital, enquanto os demais estabelecimentos tinham permissão para servir comida em seus salões. "Enviei carta ao governo (de Porto Alegre) para corrigir essa distorção, todos os restaurantes deveriam obedecer às mesmas regras. Gera insegurança, até porque os hotéis têm restaurantes abertos para fora", alerta Carlos Henrique Schmidt, presidente do SHPOA.
A assimetria de tratamento deixou de ocorrer no dia 23 de junho, quando o aumento de casos forçou o prefeito da Capital, Nelson Marchezan Júnior, a publicar regras mais rígidas. Assim, ficou impedida a abertura de restaurantes, bares e lancherias, padarias e lojas de conveniência para clientes, que voltaram a consumir apenas pelo sistema de telentrega e pegue e leve.

Turismo mais responsável no radar dos gestores

Gramado adotou iniciativas para deixar os viajantes mais tranquilos

Gramado adotou iniciativas para deixar os viajantes mais tranquilos


fernanda fauth/prefeitura gramado/jc
Ao mesmo tempo em que amargam perdas econômicas, é consenso entre as pessoas que trabalham no trade a necessidade de preservar a saúde dos moradores de cidades que recebem turistas, dos trabalhadores dessas localidades e de seus visitantes. Até porque nenhum destino quer ter seu nome atrelado a algum surto da doença. E a comunicação com os clientes de ações que priorizam a saúde é fundamental. "Por mais que haja desejo de retomar, as pessoas precisam se sentir seguras. Não basta empresários e municípios quererem voltar se não houver confiança de que será viável", diz Amanda Paim, coordenadora estadual da Economia Criativa e Turismo do Sebrae-RS.
Na Serra, prefeituras e empresários adotaram iniciativas de estímulo ao turismo responsável. "Precisamos ter olhar sistêmico, não podemos deixar queimar o nome de uma das cidades (da Região das Hortências) vistas como as melhores aos olhos do Brasil, com turismo de altíssimo nível, respeito ao turista e acolhimento", ressalta Mauro Salles, presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias (Sindtur/Serra Gaúcha) dos municípios de Canela, Gramado, São Francisco de Paula e Nova Petrópolis.
Salles conta que a primeira fase foi de responsabilidade com a saúde, pela falta de informações. "Defendemos a paralisação no início. Depois, fomos tomando conhecimento e buscando orientações, o que possibilitou gerar confiança para começarmos a retomada no final de abril, com gastronomia, e no início de maio, com hotelaria. Desenvolvemos protocolos e entregamos aos municípios - com diálogo, foi construída a abertura. Desde maio, estamos com todas as regras e orientando os clientes", detalha.
Em Canela, a administração municipal buscou uma forma de se diferenciar no novo normal e lançou o programa Turismo Seguro, no qual avalia os estabelecimentos e concede selo de acordo com a pontuação, que será entre A e E. Entre os critérios estão protocolos de saúde, acessibilidade, inclusão e preocupação com o meio ambiente. Por exemplo, ganham pontos os restaurantes com cardápios nas versões em inglês, espanhol e braile. "O novo turista será mais preocupado com segurança, como é com o atendimento, a hospitalidade, com o que fazer", destaca Ângelo Sanches, secretário de Turismo de Canela. "A preocupação é capacitar ainda mais os serviços, com espaços kids ou temáticos nos restaurantes, criar atrativos nos parques para que o turista aproveite mais o espaço, ter atendimento bilingue, trilíngue, mudar a identidade, ou seja, mostrar que estamos preocupados com o turista. O maior patrimônio que vamos vender são as relações, a segurança do contato", explica o secretário.
Em Gramado, a iniciativa para deixar os viajantes mais tranquilos é a adoção da plataforma de rastreamento Smart Tracking, obrigatória por decreto nos estabelecimentos comerciais do município. Por meio de um QR Code que o empreendedor deixa visível, o visitante pode acessar, preencher o cadastro e informar os locais onde passa. A ferramenta mapeia indivíduos diagnosticados com o coronavírus sem identificar o usuário, explica o secretário de Turismo de Gramado, Rafael Carniel. "A Secretaria da Saúde não tem nome das pessoas ou do estabelecimento, mas o sistema, mantendo sigilo, manda e-mail a todas as pessoas que cruzaram com quem foi diagnosticado nos últimos 15 dias, inclusive ao estabelecimento", explica Carniel.
Outra ação adotada em Gramado é a conscientização sobre a importância das medidas de prevenção da população, dos empresários e dos visitantes. Na Trupe Use Máscara, dois atores cantam paródias de marchinhas de Carnaval para sensibilizar as pessoas. E, nas barreiras sanitárias, quem chega de automóvel tem sua temperatura medida, informa sobre estado de saúde, recebe orientações e, caso necessário, é encaminhado para uma unidade de saúde.
Também o Ministério do Turismo, além de criar protocolos de atendimento ao turista, lançou no início de junho o selo Turismo Responsável - Limpo e Seguro. A adesão à ação é estimulada pelo secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rodrigo Lorenzoni, como forma de divulgar entre os clientes os cuidados sanitários adotados pelas empresas. Para ele, que assumiu há apenas um mês a pasta, é preciso inovar para o setor se adequar à nova normalidade.
Um dos objetivos é articular uma rede para conectar governo federal, Estado, municípios e iniciativa privada, já que o momento é de recursos escassos. "É um desafio trabalhar com indefinição, em razão da pandemia, mas isso não impede de planejar", completa.
 

Cena para não se repetir

A dança do caixão, protagonizada por garçons em um restaurante de Gramado no início de maio, quando o Brasil já contabilizava mais de 11 mil mortes por conta do coronavírus, repercutiu nas redes sociais mundo afora, com mais de 3, 3 milhões de visualizações. A cena constrangeu a cidade, mas serviu como aprendizado.
"Existe uma hipersensibilidade por conta da pandemia e às vezes falta empatia. Recebemos gente do Brasil inteiro, e precisamos saber o quanto pode doer esse episódio. Foi triste, colocou Gramado no top trends no Twitter, mas foi uma lição que tocou a todos", afirma Rafael Carniel.
O secretário de Turismo lembra que 86% dos negócios da cidade são ligados ao setor e, por isso, a população tem de estar engajada, pois "receber não é opção, precisamos receber". Por isso, repete: "Não esqueçam que o sobrenome de vocês é Gramado, todos são responsáveis pela cidade", avisa Carniel.
Mas alerta que não é qualquer turista, mas aquele comprometido em cuidar da própria saúde e do bem estar dos outros. "Tenho apelado que os moradores abordem turistas na rua e peçam que usem máscara, com informação e franqueza. Evita autuação para a pessoa e o estabelecimento, e é a maneira de deixar a cidade aberta, mantendo emprego e renda".
Para traçar um cenário sobre as perspectivas para o setor em Gramado, foi realizada pesquisa com 4.598 pessoas, entre 7 e 12 de maio, por meio eletrônico. Entre os resultados, destaca-se que 86,4% considera a situação de saúde controlada do destino como fator primordial para viajar.

Roteiros ao alcance do carro

Mauro Salles diz que 90% do público vem de regiões próximas

Mauro Salles diz que 90% do público vem de regiões próximas


/CRISTINE PIRES/ESPECIAL/JC
As localidades próximas, onde o transporte pode ser feito confortavelmente por automóvel, são os primeiros destinos dos viajantes. E isso já começa a se refletir no crescimento no número de hóspedes na Serra. No feriadão mais recente, de Corpus Christi, por exemplo, a ocupação hoteleira chegou a cerca de 60% do que era permitido. Vale lembrar que, na época, Gramado permitia utilizar até 70% de cada unidade hoteleira e Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula, até 50%. Ou seja, um hotel com 100 leitos em Canela, que poderia ocupar 50 unidades, utilizou 30 quartos. "Cerca de 90% do público que recebemos é regional, do próprio Rio Grande do Sul e, em menor número, de Santa Catarina", explica Mauro Salles, presidente do SindTur Serra.
Para estimular esses passeios internos no Rio Grande do Sul, o secretário estadual Rodrigo Lorenzoni pretende investir R$ 6 milhões na instalação de pórticos, placas de sinalização e reformulação de praças e ambientes de lazer. Com restrições orçamentárias, o governo quer reativar os centros de atenção ao turista. De 90 unidades, hoje restam apenas duas ativas, ambas na Capital e fechadas em razão da pandemia. Outras 12 estruturas estão em processo de regularização, sendo três em fase de finalização de convênio com as prefeituras: São José dos Ausentes, São Francisco de Paula e Torres. Nesses contratos, a prefeitura entra com infraestrutura e o Estado com mão de obra e material de divulgação.
Depois das viagens curtas, a tendência é buscar destinos nacionais, conforme pesquisa da consultoria Cap Amazon e do portal Mercado & Eventos, que ouviu mais de 400 agentes de viagens de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba. Segundo os entrevistados, 93,5% dos clientes têm preferência por viagens domésticas no curto prazo. Para 54%, o turismo deve se intensificar em setembro. Em relação aos tipos de viagens, o estudo apontou, como prioridades, a busca de locais que promovam bem estar, ecoturismo, cultura, gastronomia e luxo, nessa ordem.
A presidente da Abav-RS, Lúcia Bentz, acredita que, após a redução da curva da Covid-19, a tendência é de as pessoas aproveitarem para realizar sonhos e, portanto, arrumar as malas e passear. "Há uma vontade reprimida de viajar", afirma. Ela conta que alguns clientes já começam a programar roteiros, inclusive há operadoras bloqueando voos para destinos de lazer no País a partir de outubro. "Mantemos contato com os clientes para estimular e fomentar a vontade de viajar. E já estamos preparados com produtos e amparados para vender, com flexibilidade, caso seja necessário", explica a presidente da Abav-RS.
Na Serra, os preparativos devem começar para eventos a partir de setembro, como o Festival de Cinema e, na sequência, o Natal Luz, cujas atividades devem ser estendidas até janeiro. "No verão, a Serra deve atrair turistas brasileiros com renda mais alta no Brasil, que têm o hábito de viajar para o exterior. Esses roteiros devem reduzir muito em razão da saúde, questão da moeda e pela limitação da quantidade de voos para fora", avalia Mauro Salles, presidente do SindTur Serra.

Crédito para evitar o fechamento das portas de hotéis no Rio Grande do Sul

A redução de turistas e a consequente queda de faturamento, a restrição de funcionamento de apenas parte da capacidade dos estabelecimentos ou seu fechamento total geraram um impacto econômico inédito para o trade turístico. No Rio Grande do Sul, muitas empresas nem voltaram a operar, aguardando melhora no cenário da pandemia. Outras, fecharam definitivamente as portas. É o caso do Hotel Laje de Pedra, de Canela. Enfrentando problemas financeiros há tempos, a tradicional marca anunciou o encerramento das atividades no início de maio. Uma das medidas para não sucumbir é a busca por financiamento,
José Reinaldo Ritter, presidente ABIH-RS, informa que o setor está tentando se reerguer, mas 95% dos hotéis independentes ainda estão fechados no País. "Temos pouco apoio do governo, há várias demandas e não somos atendidos. Falta crédito, o juro não baixa e as exigências para financiamento são as mesmas", lamenta o empresário. Para Carlos Henrique Schmidt, do SHPOA, o setor acumula dívidas e vem 'comendo' capital próprio. A única medida eficaz, ressalta, foi a redução da folha de pagamento, adotada pelo governo federal. As demais esferas mantiveram as tarifas de água, IPTU e energia. Schmidt diz que há dificuldade em acessar essas linhas, pois "grande parte das empresas já estão enroladas com dívidas. E aí se repete, o banco empresta para quem não precisa", afirma.
Maurício Mocelin, superintendente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), afirma que a liberação do financiamento depende muito mais da empresa - em fornecer balanço, informações, contrato social e documentação - do que do banco. "Estamos sendo um pouco menos rigorosos se a dificuldade de cadastro surgiu pós-março", afirma Mocelin, mas admite que os "empréstimos não são concedidos a empresas com problemas de cheque sem fundo e protesto anteriores a março".
Para disponibilizar recursos, o Badesul trabalha em parceria com uma sociedade garantidora de crédito da Serra, e que atende a Micro e Pequenas Empresas. Jeanette Lontra, presidente do Badesul, explica que o banco também está buscando se credenciar ao FGI do BNDES e ao Banco do Brasil. "Um dos problemas do empreendedor é o alto endividamento, e está aumentando com a crise. Para as pequenas, a dificuldade maior é estar com toda a documentação exigida e ter garantias", informa Jeanette.
No Estado, BRDE, Badesul e Caixa Econômica Federal estão credenciados para operar com o novo Fundetur. No Badesul, pelo Fungetur, já estão em fase de contratação com empresas cerca de R$ 2 milhões. No BRDE, somam R$ 16,5 milhões em vias de serem contratados.

Assinatura

* Karen Viscardi é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como editora no Jornal Zero Hora, e como editora e repórter no Jornal do Comércio. Entre as premiações, destaque para Troféu Mulher Imprensa, no qualficou em primeiro lugar na categoria Repórter de Jornal em 2008.