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reportagem especial

- Publicada em 21 de Junho de 2020 às 21:49

Azeite produzido no Estado ganha reconhecimento internacional

Nos últimos 15 anos, avanço da olivicultura transformou o RS no maior produtor nacional de azeites

Nos últimos 15 anos, avanço da olivicultura transformou o RS no maior produtor nacional de azeites


OLIVAS DO SUL/DIVULGAÇÃO/JC
O azeite de oliva extravirgem produzido no Rio Grande do Sul está entre os melhores e mais saudáveis do mundo. Mesmo assim, é provável que boa parte dos leitores nunca o tenha experimentado. Nos últimos três anos, são mais de 50 premiações internacionais abocanhadas pela olivicultura gaúcha, o que garante o selo de qualidade para produção no Estado. Porém, no quesito abastecimento, ainda há um longo percurso até que os rótulos cheguem ao grande varejo, nas prateleiras dos supermercados, ao alcance dos consumidores.
O azeite de oliva extravirgem produzido no Rio Grande do Sul está entre os melhores e mais saudáveis do mundo. Mesmo assim, é provável que boa parte dos leitores nunca o tenha experimentado. Nos últimos três anos, são mais de 50 premiações internacionais abocanhadas pela olivicultura gaúcha, o que garante o selo de qualidade para produção no Estado. Porém, no quesito abastecimento, ainda há um longo percurso até que os rótulos cheguem ao grande varejo, nas prateleiras dos supermercados, ao alcance dos consumidores.
Cultura recente e ainda em desenvolvimento, a produção de oliveiras no Rio Grande do Sul tem apenas 15 anos - uma ínfima fração dos 6 mil anos que o cultivo de azeitonas e a produção de azeitem ocupam na história da Europa. Quando as primeiras mudas chegaram ao Sul do Brasil, importadas da multinacional espanhola Agromillora, pouco se sabia sobre os rendimentos e a qualidade do produto que estava por vir. Hoje, depois de uma década e meia, é consenso que qualidade não é o problema.
Cada muda de oliveira leva de três a cinco anos para dar frutos. E até 10 para atingir a fase adulta. Todos os olivais gaúchos são bem novos, não passaram de cinco safras, o que explica a pouca quantidade de azeitonas e a variação entre colheitas. Enquanto 2019 foi um ano excelente, com 1,6 mil toneladas de frutas colhidas que resultaram em 200 mil litros de azeite, neste ano, o cenário mudou completamente devido a problemas climáticos: a safra será de apenas 400 toneladas (queda de 75%), suficiente para 48 mil litros de azeite.
A próxima safra, em 2021, por sua vez, tende a ser a maior registrada, segundo o Instituto Brasileiro de Olivicultura do Estado (Ibraoliva-RS). "Se não chover muito em setembro, durante a época de polinização, vamos ter uma ótima colheita, maior do que a de 2019", projeta o presidente do Ibraoliva-RS, Paulo Marchioretto.
Essa instabilidade da safra não influencia na qualidade do produto nem impede o crescimento da olivicultura no País, em especial, no Rio Grande do Sul. A produção nacional está concentrada nas regiões Sul (além do RS, SC e PR) e Sudeste (SP e MG). Os gaúchos lideram com folga: detêm cerca de 70% do cultivo de oliveiras e 70% da produção nacional de azeite extravirgem. São 35 marcas de azeite e mais de 200 produtores no Estado.

Investimentos chegam a R$ 100 milhões nos últimos anos

De 2005 para os dias atuais, a área plantada passou de 80 hectares para cerca de 7 mil hectares. O investimento privado na implantação de olivais e viveiros e na instalação de fábricas de azeite no Rio Grande do Sul passou dos R$ 100 milhões nos últimos anos. E, nos próximos três anos, a tendência é superar os 10 mil hectares de oliveiras plantadas no Estado, estima o Ibraoliva.
Mesmo assim, ainda é pouquíssimo para abastecer o mercado brasileiro, segundo maior importador de azeite e azeitonas do mundo - atrás apenas dos Estados Unidos. A produção nacional corresponde a 0,3% do consumo interno - o restante vem de fora. Anualmente, o Brasil importa 81 mil toneladas de azeite.
Outra variante é o preço do azeite extravirgem nacional: uma garrafa de 250 ml importada custa, em média, R$ 20,00, enquanto a média do azeite gaúcho é de R$ 35,00 por garrafa.
"Para abastecer todo o mercado interno, teríamos que ter 81 mil hectares plantados no Brasil, mas temos apenas 13 mil. Vai levar uns 10 anos para dominarmos o mercado, na melhor das hipóteses", projeta Marchioretto acrescentando que já existe um mapeamento das áreas propícias para plantações de oliveiras no Estado, e elas chegam a 1 milhão de hectares.
Além dos números que dimensionam a olivicultura no Brasil, o ecossistema dessa produção inclui, ainda, um conjunto de técnicas e processos que precisaram ser adaptados para o solo e o clima tropicais, já que, por aqui, as azeitonas estão bem distantes de sua origem no mediterrâneo europeu. O resultado tem sido um azeite de alta qualidade, com alto valor nutricional, que encontra um mercado consumidor exigente, preocupado com sua saúde e de maior poder aquisitivo.
A olivicultura no Rio Grande do Sul é um negócio tocado por pessoas fora do ramo agrícola e que ainda está aprendendo a profissionalizar a cadeia do azeite. São produtores novos no ramo, como o presidente do Ibraoliva-RS, Paulo Marchioretto, que plantou as primeiras mudas em 2017. Mesmo assim, o azeite gaúcho tem sido cada vez mais reconhecido dentro e fora do Brasil, ganhando mais de 50 premiações internacionais nos últimos três anos.

Clima com mais chuvas e sol gera árvores maiores

Na colheita, escovas elétricas derrubam delicadamente os frutos

Na colheita, escovas elétricas derrubam delicadamente os frutos


OLIVAS DO SUL/DIVULGAÇÃO/JC
As duas temperaturas basilares para que brotem as olivas das árvores são o frio no inverno e o calor no verão. Neste ponto, parece que o Estado se encaixa ao clima europeu. As semelhanças, no entanto, terminam por aí. Enquanto, na sua origem mediterrânea, o ar seco e a menor luminosidade fazem com que a planta não cresça muito, nos pampas, a alta incidência de chuvas e de sol produz oliveiras mais robustas.
Como regra geral, uma oliveira que produz muito em um ano tende a produzir bem menos no próximo. É igual a uma balança que precisa de equilíbrio entre as colheitas, sem forçar muito da árvore - a média deve ser de 20 a 25 quilos por oliveira adulta. A poda é fundamental para conter o crescimento das oliveiras gaúchas.
As variedades que melhor se adaptam no Rio Grande do Sul são as de origem grega (Koroneiki) e espanhola (Arbequina). A poda de ambas é feita no formato de cálice, de forma que o sol incida no centro do ramo. Essas conclusões são resultado de anos de estudo e ainda pautam muitas pesquisas sobre o tema no Rio Grande do Sul. "Qualquer muda plantada em condições não ideais, que é o nosso caso, produz uma série de metabólicos para se adaptar. Quando faz isso, acaba levando novas características para o azeite", explica Rogério Jorge, pesquisador Embrapa Clima Temperado de Pelotas.
Desse modo, embora a condição ideal para o desenvolvimento da oliveira esteja ausente das lavouras do Estado, o processo de resistência da planta através dos metabólicos gera um fruto de alta qualidade e muitas propriedades nutricionais, que têm se adaptado em todas as regiões do Rio Grande do Sul. "Quando poderíamos imaginar que um fruto grego, de um clima totalmente diferente do nosso, fosse se desenvolver tão bem aqui? Tudo indicava o contrário, mas fomos surpreendidos positivamente", relata Jorge.
Uma das grandes diferenças entre os pampas e o Velho Continente é na hora da colheita. Nas safras europeias, as azeitonas são cativadas bem maduras, quando adquirem coloração mais roxa. O Rio Grande do Sul opta por fazer um azeite extravirgem tendo como base a azeitona um pouco acima de verde. O fruto gaúcho é bem menor e também rende menos. "Mas possui uma quantidade muito maior de polifenóis. Significa que, nutricionalmente falando, é superior ao produto europeu", conta o presidente do Ibraoliva-RS, Paulo Marchioretto.
No Estado, a maioria dos produtores não se deu bem com as colheitadeiras que extraem a fruta sacudindo forte o caule da árvore. Uma das razões é que as oliveiras daqui são mais altas e o processo é mais agressivo à planta. A saída encontrada foi aplicar um sistema diferente: são utilizadas escovas elétricas, importadas da Itália, que "penteiam" as árvores, derrubando a azeitona em cima de redes. A colheita é mais demorada, mas preserva muito mais a oliva e a oliveira.
No processamento, as azeitonas devem ser moídas frias. Depois filtradas e enviadas para um tanque de inox, onde vão ficar até terminar a colheita. No Estado, em média, a cada sete quilos de azeitona tem um litro de azeite de oliva extravirgem, informa o Ibraoliva.

A milenar história do azeite

Não há como saber ao certo o início da história do azeite de oliva no mundo, mas é certo que ele faz parte dos primórdios da nossa civilização. O código de Hamurabi (séc XVIII a.C.) já regulava o óleo na antiga Babilônia há mais de 6 mil anos. Na Grécia antiga, a oliveira era símbolo de paz e sabedoria, usado na área da medicina, na perfumaria, na lubrificação de armas e na coroação dos primeiros jogos olímpicos. Foi usado para proteger do frio e da fome, e também motivo de guerras e de avanços na ciência.
A história narra, por exemplo, a batalha do rio Trébia, em 218 a.C., quando Aníbal, general de Cartago, derrotou os romanos ordenando que sua tropa se untasse de azeite para o conter o frio. Os romanos não foram tão espertos, perdendo a luta. Anos depois, a oliveira seria um das principais culturas do Império Romano, expandindo-se por toda a bacia mediterrânea até chegar no que chamamos hoje de Espanha.
Com ocupação árabe no mediterrâneo europeu em meados do século IX, os muçulmanos empregaram na olivicultura todos os seus conhecimentos e as técnicas de enxerto, poda, irrigação e prensagem, profissionalizando todo o processo e tornando a Espanha como principal comerciante do produto. Com a tomada de Constantinopla, em 1453, passou a ser usado também para conservação de alimentos.
A história do azeite de oliva faz parte do desenvolvimento das civilizações europeias. No Brasil, o consumo per capita é de cerca de 350 ml de azeite ao ano. Muito pouco contra os 62 litros dos gregos, campeões mundiais no consumo anual.

Azeite é o segundo alimento mais fraudado

Embrapa Pelotas tem um laboratório dedicado ao azeite

Embrapa Pelotas tem um laboratório dedicado ao azeite


/PAULO LANZETTA/DIVULGAÇÃO/JC
Todos os azeites de oliva comercializados no Brasil contêm, na embalagem, informações físico-químicas que dão uma ideia de como a azeitona foi processada, a qualidade do óleo e o seu tempo de duração. Na próxima safra, uma mão na roda para as marcas gaúchas é o credenciamento do laboratório da Embrapa, em Pelotas, especializado em azeite. Até este ano, os produtores tinham que enviar suas amostras para São Paulo, onde se concentram os poucos laboratórios certificados pelo Ministério da Agricultura.
Segundo o presidente do Ibraoliva, Paulo Marchioretto, a unidade em Pelotas vai trazer redução no tempo de análise e no custo logístico para o produtor, além de profissionalizar ainda mais a cadeia gaúcha. De acordo com o pesquisador da Embrapa Clima Temperado de Pelotas Rogério Jorge, a instituição ainda não definiu o preço das análises que serão realizadas para a próxima safra, mas, com certeza, elas serão mais baratas que as atuais no mercado. "Por se tratar de uma empresa pública, o valor será apenas para manutenção do laboratório", afirma.
Os índices físico-químicos analisados são acidez titulável, índice de peróxido, extinção do ultravioleta e processo da rancificação do azeite. As informações são obrigatórias para o rótulo do produto, conforme Instrução Normativa nº 01/2012 do Mapa. Porém não é o bastante para identificar eventuais falsificações, explica Jorge.
"Em casos grosseiros, os testes até podem detectar algum indício de fraude, mas não é este o objetivo do exame físico-químico. O mais adequado para identificar falsificações é o teste sensorial", diz. Esse tipo de análise não é feita em grande escala no Brasil, nem é obrigatória, e é bem mais sensitiva: aromas, sabores e texturas são levados em conta.
Em geral, as falsificações são para aumentar o volume do produto. "Há importadores que compram azeite de má qualidade de fora e acrescentam óleo de soja, mas é possível identificar pelo gosto e pelo cheiro", alerta Marchioretto, do Ibraoliva.
De acordo com Cid Rozo, coordenador-geral de Fiscalização de Qualidade Vegetal do Mapa, o azeite é o segundo produto alimentar mais fraudado no mundo, perdendo somente para o pescado. Segundo o órgão, em 2019, 3,5% das marcas analisadas em fiscalização estavam irregulares.

O premiado de Cachoeira do Sul

Olivas do Sul foi a primeira marca registrada no Estado e recebeu diversos reconhecimentos internacionais

Olivas do Sul foi a primeira marca registrada no Estado e recebeu diversos reconhecimentos internacionais


/OLIVAS DO SUL/DIVULGAÇÃO/JC
Os desbravadores do azeite nos pampas, especialmente os que têm marca própria, em geral, não são da área rural. Normalmente são aposentados, ou estão por se aposentar, e buscam na oliveira um novo ciclo de trabalho, agora mais conectado ao campo. Os donos de olivais entrevistados pelo JC Empresas & Negócios fizeram carreira na cidade grande, construíram patrimônio e estabilidade financeira, para daí sim se arriscar com as plantações. Poucos dependem dela para se manter.
Entre os rótulos gaúchos reconhecidos por sua qualidade, o Olivas do Sul se destaca. Conquistou o selo de qualidade Selezione Leone em 2019 com seu monovarietal (apenas uma variedade de oliva), concedido na Itália - o mesmo selo estampado nas principais marcas portuguesas e espanholas encontradas nos supermercados. Também foi premiado em Nova York com seu Blend (mistura de duas variedades). Ao todo, são 27 prêmios.
"Até chegar nesta qualidade levou tempo: tivemos muito problema com a poda, mas agora as oliveiras já estão com 15 anos e produzindo a quantidade ideal", explica Vani Aued, dona dos azeites Oliva do Sul juntamente com o marido José Alberto Aued. A partir das premiações internacionais galgadas pelo Olivas do Sul, o Rio Grande do Sul entrou na rota internacional do azeite extravirgem.
Uma coisa importante na lida é não pode deixar a oliveira produzir demais. O ideal é em torno de 20 a 25 quilos de azeitonas por árvore. Em 2012, as árvores de Vani chegaram a produzir 70 quilos cada. No ano seguinte, o ocorreu o contrário: quase nada de frutos. "Foi um erro de iniciante que demorou a ser corrigido. Durante três anos, uma especialista da Itália esteve aqui para podar a produção", relata Vani. Em geral, a poda adequada para as condições gaúchas são em formato de taça, explica a produtora.
A família Aued espera produzir 12 a 14 mil litros de azeite em 2021. Assim como a maioria dos produtores, eles também não vêm do ramo: se aposentaram no funcionalismo público enquanto construíam o olival. A Olivas do Sul é a primeira marca registrada de azeites no Estado.
Embora reconhecida pelas boas propriedades e sabor, a marca enfrenta as mesmas dificuldades de escoamento que os outros produtores gaúchos. Falta escala para atingir o varejo e o preço geralmente mais elevado assusta os consumidores acostumados com o importado. O principal mercado acaba sendo a compra direta via site.

Da área da saúde para o cultivo da azeitona

Leite e Polo participaram da abertura da colheita em Caçapava do Sul

Leite e Polo participaram da abertura da colheita em Caçapava do Sul


joel vargas/alrs/jc
O casal Jorge e Rosane Abdala encontrou, nas oliveiras, uma nova forma de gerar bem-estar, já que o benefício do azeite oliva é consenso na ciência. Ambos são da área da saúde. “É aconselhável tomar no mínimo uma colher de sopa de azeite por dia em razão das propriedades cardioprotetoras”, salienta Rosane.

O médico e a farmacêutica investiram em 2005, junto de um grupo de outros 25 produtores, projetando uma vida no campo para depois da aposentadoria. A primeira compra foi de 500 mudas da Espanha distribuídas em sete hectares da propriedade em Caçapava do Sul.
Rosane explica que o negócio só tomou forma em 2014, quando houve a primeira grande safra. “Nos cinco anos iniciais estivemos no limbo, não havia técnicos no Estado e não conhecíamos as técnicas de plantio, de manutenção, a fisiologia das plantas. Agora a produção está regular”, diz a produtora, dona da marca Don José.

Quem entra no mercado de oliveiras não pode esperar lucro rápido e tem que ter capital para incrementar o negócio. A família Abdala, por exemplo, até os dias atuais apenas investiu. Em 2016, foram mais 13 hectares comprados e que ainda não deram frutos, somando 20 de área plantada. “Nosso custo mensal gira em torno dos R$ 10 mil por mês, entre mão de obra e insumos. Esperamos que a produção se pague entre 2021 e 2022”.
Para felicidade da família, a safra deste ano foi bem melhor que resultado geral no Estado, que sofreu uma queda vertiginosa de 75% em comparação com 2019. No caso das azeitonas Don José, marca da família, o prejuízo foi de apenas 30%. Este resultado fez com que a propriedade sediasse, neste ano, a 9ª edição da Abertura Oficial da Colheita das Azeitonas, realizada no início de março, que contou com as presenças do governador Eduardo Leite e do presidente da Assembleia Legislativa, Ernani Polo, entre outras autoridades.

Onde comprar o azeite fabricado no Estado?

Banca 38 do Mercado Público, de Robsdon Franzen, vende oito marcas

Banca 38 do Mercado Público, de Robsdon Franzen, vende oito marcas


MARCO QUINTANA/JC
Ainda há um longo caminho até que a produção de azeite de oliva gaúcho divida espaço com rótulos importados nas prateleiras do grande varejo: no mínimo, 10 anos, na melhor das hipóteses, já que a produção é pouca, irregular e ainda não consegue ter um preço competitivo com o mercado. "Falta escala para alcançar as redes de supermercado, ainda mais que esses pontos acabam apertando muito o produtor no preço de mercado e não conseguimos bancar", diz Vani Aued, da Olivas do Sul.
Mesmo assim, o azeite gaúcho se espraia por feiras e lojas especializadas, restaurantes e até pesquisas médicas, quando não chega diretamente ao consumidor através das vendas online. No caso do Olivas do Sul, a venda presencial ocorre em Cachoeira do Sul. Para o resto do Brasil, a principal forma de venda é no e-commerce.
"Também temos poucos restaurantes que compram diretamente, mas o preço assusta um pouco. O azeite é mais caro aqui, mas vale a pena porque faz muito bem para a saúde", acrescenta. A lógica segue a mesma para Rosane Abdala, dona da marca Don José, de Caçapava do Sul. "O maior mercado é a venda direta, mas também abastecemos algumas lojas de Caçapava, mesmo com dificuldades de manter o volume da produção", diz Rosane.
De acordo a produtora, a grande maioria dos consumidores são da área médica, principalmente na cidade de Santa Maria. "Lá tem até fila de espera".
Em Porto Alegre são poucos os pontos de venda para o azeite local. O Mercado Público é um deles. Na banca 38, especializada em azeites nacionais e internacionais, os rótulos gaúchos ganharam espaço desde 2010. "Comercializamos cerca oito marcas gaúchas. Acompanhamos a produção desde o início e tem saído bastante, mas os europeus ainda vendem mais", informa o proprietário da banca 38, Robson Franzen.
O empresário salienta que os consumidores que optam por um produto mais "Premium", escolhem rótulos produzidos no Rio Grande do Sul. É o mesmo caso na banca 43, onde cerca de seis rótulos gaúchos estão à venda. "Começamos com o Olivas do Sul, mas foi surgindo novas marcas e hoje há bastante escolha", relata Jefferson Sauer, sócio administrativo da banca 43, localizada no Mercado Público e no bairro Bela Vista.
Também é possível adquirir os azeites 'made in RS', em Porto Alegre, na Feira de Azeite, que ocorre todo primeiro sábado de cada mês na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), no bairro Menino Deus. O evento, com 20 marcas gaúchas, voltou a ocorrer em junho, após um período suspenso devido às restrições da pandemia de coronavírus.O preço também melhora porque a compra é direta com o produtor.

As qualidades de um bom azeite

Quando o leitor compra um azeite de oliva, especialmente em pontos do varejo, não é possível provar o produto antes, então é preciso verificar alguns padrões que podem identificar se ele é bom ou não. "Se o consumidor não tem uma marca de preferência, nem as conhece, ele deve buscar embalagens adequadas", diz o pesquisador da Embrapa Clima Temperado Rogério Jorge.
As melhores são as de vidro escuro, já que o óleo tende a oxidar mais se exposto na luz. Mesmo assim, explica Jorge, existem produtores que usam embalagens transparentes para mostrar a cor de seus produtos, mas estes acabam tendo problemas com oxidação. "Via de regra, ninguém vai colocar um produto ruim em uma embalagem cara".
Um erro comum, prossegue, é buscar azeites com menor acidez. Todo azeite abaixo de 0,8% de acidez é considerado extravirgem. "Existem produtos muito bons com 0,8% como também com 0,2% de acidez, então este não é o melhor parâmetro para ser analisado", informa Jorge.
Um ponto importante é a conferir a data do envasamento, informação obrigatória no rótulo, e buscar pela mais recente, já que quanto mais novo o azeite, melhor. Mas no caso dos produtos europeus, pode ocorrer uma "pegadinha". Como a data da embalagem é obrigatória no Brasil, mas não a data de processamento, muitos azeites importados ficam cerca de um ano armazenados antes de serem envasados e chegam já velhos para o consumidor final.
Para driblar esse ponto, é importante saber as épocas de safra da oliveira. No Brasil, Argentina e Uruguai, a azeitona é colhida no início do ano, entre fevereiro e abril. Na Europa, é o oposto: a safra acontece no final do ano, entre outubro e dezembro.
Outra dica que pode ajudar a evitar a dor de cabeça de adquirir um produto fraudado é a verificação de quem é o comprador do azeite. O trabalho de fiscalização do Mapa observou que, quando o importador é a própria rede de supermercado (informação estampada no rótulo), o índice de irregularidade cai bastante.
A principal desconfiança do consumidor deve ser relacionada ao preço: 80% das fraudes detectadas foram em produtos com valor inferior a R$ 13,00 (ou muito abaixo do preço habitual de uma determinada marca). O ministério também produz uma lista com de azeites fraudados e suspensos, disponível no site do órgão. É o legítimo "barato que sai caro".

A olivicultura no Rio Grande do Sul


/OLIVAS DO SUL/DIVULGAÇÃO/JC
  • Área plantada: 7 mil hectares
  • São 200 produtores 
  • Principais municípios: Canguçu, Pinheiro Machado, Caçapava, Cachoeira do Sul, Bom Jesus e Encruzilhada do Sul (este com a maior área, 1,2 mil hectares) 
  • Safra 2020 de azeitonas: 400 toneladas 
  • Produção estimada de azeite neste ano: 48 mil litros, de 35 rótulos
  • Valor médio da garrafa de 250 ml: R$ 35,00
  • RS produz 70% do azeite nacional extravirgem
Fonte: Ibraoliva

*Pedro Carrizo é formado em Jornalismo pela Universidade Ritter dos Reis. Teve passagem pelo Jornal do Comércio e, hoje, atua como repórter freelancer.