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Empresas & Negócios

- Publicada em 25 de Maio de 2020 às 03:00

Campanha busca empregos para LGBTI em meio à pandemia

A marginalização e as vulnerabilidades impostas à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexo (LGBTI ) colocam estas pessoas entre as mais expostas à pandemia de Covid-19. Um dos maiores desafios para governos, empresas, organismos internacionais e demais atores envolvidos é garantir que as medidas de apoio para mitigar o impacto socioeconômico desta crise tenham como foco esta parcela da população, comprovadamente mais propensa ao desemprego e à pobreza que a população em geral.

A marginalização e as vulnerabilidades impostas à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexo (LGBTI ) colocam estas pessoas entre as mais expostas à pandemia de Covid-19. Um dos maiores desafios para governos, empresas, organismos internacionais e demais atores envolvidos é garantir que as medidas de apoio para mitigar o impacto socioeconômico desta crise tenham como foco esta parcela da população, comprovadamente mais propensa ao desemprego e à pobreza que a população em geral.

 Muitas pessoas LGBTI trabalham no setor informal e não têm acesso a licença médica remunerada, indenização por desemprego e nem cobertura de proteção social. A pandemia de Covid-19 torna este quadro ainda mais grave, impondo desafios até então inimagináveis para esta parcela da população.

 Como parte das celebrações do Dia Internacional contra a LGBTIfobia, comemorado em 17 de maio, conhecido pela sigla em inglês IDAHOBIT (International Day Against Homophobia, Biphobia, Interphobia & Transphobia), a ONU Brasil reforça seu compromisso com a proteção dos direitos humanos das pessoas LGBTI e com a promoção do acesso dessas populações ao mercado de trabalho, através de empregos dignos e do respeito à diversidade.

A web-série Capital Trans, criada no Brasil pela campanha da ONU Livres & Iguais, em parceria com a iniciativa #ZeroDiscriminação, do Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/AIDS (Unaids), busca inspirar as pessoas para estas ações por meio do compartilhamento de exemplos de empresas empenhadas no enfrentamento à discriminação contra pessoas trans no ambiente de trabalho, no mercado e na comunidade.

Diversas empresas têm desenvolvido ações específicas para atrair pessoas trans para suas vagas, buscando, ao mesmo tempo, sensibilizar seus funcionários para a importância desse acolhimento.

"Esquece a régua que você tem, busca uma outra régua. São outras vivências que são tão ou mais ricas do que muitas das vivências que a gente considera as oficiais", conta Rodrigo Santini, líder de marca para sua empresa no Brasil. "Quando você tem pessoas que podem ser quem elas são, elas produzem mais, elas produzem melhor", comenta Flavia Bianco, mulher trans que trabalha como analista administrativa plena.

Neste contexto de inúmeros obstáculos globais para a saúde e a economia, a web-série Capital Trans busca trazer uma luz sobre a importância do respeito aos Padrões de Conduta da ONU para empresas no enfrentamento da discriminação contra pessoas LGBTI .

Criado há três anos pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), em colaboração com o Institute for Human Rights and Business, estes padrões oferecem cinco passos essenciais para que empresas consigam alinhar suas políticas e práticas aos padrões internacionais de direitos humanos das pessoas LGBTI . Atualmente, mais de 300 empresas já declararam apoio a estes princípios.

"Se não agirmos agora, neste momento de crise, fatores como a discriminação, o acesso desigual a oportunidades e a negação dos direitos humanos só contribuirão para um aumento da pobreza e do desemprego de pessoas LGBTI ", afirma Ariadne Ribeiro, mulher trans, vivendo com HIV, que trabalha como assessora de mobilização social para o Unaids no Brasil.

"Pesquisas recentes conduzidas pelo Unaids Brasil, incluindo neste contexto de COVID-19, demonstram que o impacto da pandemia sobre as já precárias condições de emprego informal e subemprego destas populações têm colocado grande parcela desta população em condições de extrema vulnerabilidade."

Outra iniciativa das Nações Unidas para a promoção da empregabilidade de pessoas trans é o Projeto Cozinha & Voz, desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde 2018.

O Cozinha&Voz faz parte de uma ampla iniciativa de promoção do trabalho decente para pessoas em situação de vulnerabilidade, desenvolvida em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT), com apoio da cozinheira Paola Carosella e da Casa Poema.

Para garantir a capacitação contínua e treinamentos essenciais em tempos de Covid-19, o projeto adotou um plano de contingência para assegurar a profissionalização das pessoas já capacitadas, com um método inédito de aulas online ministradas por meio de ferramentas de videoconferência, conversas virtuais e outras alternativas de conexão. Nas primeiras semanas do curso, iniciado em abril, já participaram cerca de 50 pessoas de Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.

Gestora de uma rede de apoio emocional que já realizou mais de 100 atendimentos a LGBTIs no Rio de Janeiro, a vice-presidente do Grupo Arco-Íris, Marcelle Esteves, ouve diariamente os desabafos de pessoas que perderam seu sustento com a crise, tiveram que se confinar em lares em que não são aceitas e sofrem violências físicas e psicológicas por parte das próprias famílias.

"A gente atende os mais variados públicos. Desde aquele indivíduo que é estudante e mora com os pais até aquele que já tem o seu escritório e nesse momento perde o seu sustento e fica refém dos familiares. E qual escolha ele tem? Volta para a família? Vai para a rua?", lamenta a psicóloga, que atende com frequência casos de depressão. "A autonomia financeira é primordial. Sem ela, você fica sem o seu direito de escolha, fica refém do outro, e muitos acabam reféns de suas próprias famílias".

Uma pesquisa internacional realizada com 3,5 mil homens gays, bissexuais e transexuais pelo aplicativo de relacionamentos Hornet confirma a percepção da psicóloga. Segundo noticiado pela Fundação Thomson Reuters, 30% dos entrevistados responderam que não se sentem seguros em casa durante o isolamento.

Marcelle destaca, entretanto, que a violência é ainda mais severa contra a população transexual, que tem sua identidade negada por familiares. "Tenho jovens em atendimento que preferem ir para a rua e correr o risco de se contaminar, porque não estão suportando ficar nas suas casas".

Mesmo que a LGBTfobia já tenha sido declarada crime pelo Supremo Tribunal Federal (STF), muitas vítimas relatam dificuldades em denunciar familiares próximos, como pais e mães, e se veem sem ter onde buscar abrigo após uma denúncia, conta Marcelle, que muitas vezes tenta aconselhar as vítimas a buscar amigos. "É importante que essa pessoa rompa com esse círculo de violência, se não ela pode acabar sendo morta".  

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