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Empresas & Negócios

- Publicada em 18 de Maio de 2020 às 03:00

Foco na Ciência permite ao Estado antecipar cenários e mitigar riscos

Para Lamb, governo tem o dever de ajudar as pessoas a se organizarem e apontar um rumo

Para Lamb, governo tem o dever de ajudar as pessoas a se organizarem e apontar um rumo


CLAITON DORNELLES/JC
Patricia Knebel
As jornadas de trabalho têm sido de sete dias por semana, de 18 a 20 horas por dia, desde março. Diante de uma pandemia como a Covid-19 e da importância da ciência para antecipar cenários e mitigar os riscos, o que menos o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Luís Lamb, tem feito, é dormir. "O momento é de muita exigência. As atividades têm sido intensas, mas tem que ser assim mesmo. O governo tem o dever de ajudar as pessoas a se organizarem dentro deste cenário e apontar um rumo", comenta.
As jornadas de trabalho têm sido de sete dias por semana, de 18 a 20 horas por dia, desde março. Diante de uma pandemia como a Covid-19 e da importância da ciência para antecipar cenários e mitigar os riscos, o que menos o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Luís Lamb, tem feito, é dormir. "O momento é de muita exigência. As atividades têm sido intensas, mas tem que ser assim mesmo. O governo tem o dever de ajudar as pessoas a se organizarem dentro deste cenário e apontar um rumo", comenta.
Para Lamb, que é pesquisador em Inteligência Artificial e tem a sua trajetória profissional marcada pela vivência no mundo acadêmico, especialmente dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), não é novidade ver o quanto a Ciência é fundamental. Em momentos como este, essa sentença ganha ainda mais peso, pois todos aguardam ansiosamente por uma vacina para o vírus que está apavorando o mundo. "Estamos no século da Ciência", reforça.
Formado em Ciência da Computação pela Ufrgs, tem mestrado em computação pela mesma instituição e PhD pelo Imperial College London. Antes de assumir a secretaria, foi pró-reitor de pesquisa e professor na Ufrgs e é um dos idealizadores da Aliança para Inovação liderada pela Ufrgs, Pucrs e Unisinos, que tem como uma das suas iniciativas mais concretas o Pacto Alegre.
Segundo ele, o governo gaúcho tem se apoiado no Comitê Científico formado por estatísticos, epidemiologistas das universidades e da Secretaria Estadual da Saúde, médicos e economistas, para tomar decisões sobre o coronavírus. "Podemos dizer que aqui temos visto, sim, a consciência e a valorização da pesquisa e da ciência", elogia.
Empresas & Negócios - A Covid-19 está mostrando o quanto somos dependentes da Ciência, tanto para entender o vírus como para buscar uma vacina e até mesmo determinar a melhor estratégia de isolamento social. Muitas pessoas parecem estar descobrindo agora o poder da Ciência. Como o senhor, como pesquisador, percebe esse comportamento?
Luís Lamb - Quem ficou surpreso é porque ainda não se deu conta que a mudança já estava acontecendo. Estamos no século da ciência. A inovação é o maior recurso natural que existe. Os gestores com visão de futuro, dos próximos 10, 15 e 20 anos estavam preparados. Mas os que pensam no curto prazo podem ter sido pegos de surpresa mesmo. A noção de riqueza mudou, e não faz pouco tempo. Hoje, está mais associada à capacidade de agregar conhecimento a tudo que se faz, independentemente do setor econômico.
E&N - A pesquisa vive um cenário de desincentivo nos últimos anos, com muitos recursos sendo retirados dessa área. Estamos pagando o preço disso agora?
Lamb - São lições duras. Como país, nunca priorizamos os investimentos em ciência e tecnologia, nunca fizemos grandes escolhas a partir de uma visão de futuro. Infelizmente, apostamos todas as fichas no pré-sal e nas commodities. Não tivemos visão de desenvolver a capacidade de geração de conhecimento que possa ser agregado aos negócios de alto valor. Continuamos na dependência dos recursos naturais, mas, o que vemos agora, é que aquilo que mais precisamos hoje depende essencialmente da Ciência, como as vacinas ou tratamentos. Estamos sendo obrigados a mudar a noção de valor que temos, do que é importante em termos de Estado e País, senão a nossa economia ficará mais superada ainda. Acredito que, cada vez mais, e como consequência também do que estamos vivendo, muitos países aumentarão o foco em Ciência para conseguirem desenvolver tecnologias que os tornem soberanos, menos dependentes de produtos fabricados em outros lugares.
E&N - Os países mais avançados nas áreas das ciências são os que estão se saindo mais vitoriosos no combate à Covid-19?
Lamb - Existe essa correlação, mas depende das lideranças. Os países que estavam mais avançados nos seus investimentos científicos são os que estão tendo melhores no combate a Covid-19. Basta vermos o que está acontecendo na Alemanha. A chanceler Angela Merkel (que é cientista), vai até os meios de comunicação e explica para as pessoas, de forma clara e cientificamente, o impacto que a Covid-19 pode causar e a estratégia adotada pela Alemanha, com base na ciência e na inovação, para vencer o vírus e ter uma retomada econômica responsável. E os resultados estão aparecendo. Mas, a eficácia de cada estratégia depende muito das lideranças políticas. Alguns países tiveram lideranças que prestaram mais atenção às evidências científicas, e adotaram mecanismos que os tornaram mais ágeis na tomada de decisões baseadas em ciência e nas melhores práticas. E, assim, pouparam vidas. Outros enfrentaram com mais descrença e estão sofrendo as consequências.
E&N - Como a Inteligência Artificial está contribuindo com esse cenário de pandemia?
Lamb - O Brasil acordou para a Inteligência Artificial (IA) pela pressão econômica externa que sofreu, ao se deparar com a perspectiva de ter muita dificuldade de competir em mercados sofisticados se não apostasse nesta tecnologia. O que temos visto é que os bots são muito úteis para os diagnósticos e coleta de dados. Mas, me chama atenção outros potenciais usos da Inteligência Artificial neste cenário, como aplicações em drones que estão sendo usados em outros países para analisar a temperatura das pessoas à distância, para fazer a avaliação de territórios e avisar se há alguma aglomeração e na pulverização de áreas, para limpeza (Porto Alegre tem um projeto destes em andamento). Também vamos ver com cada vez mais frequência o uso destas técnicas para distribuição de mercadorias e equipamentos para hospitais, bem como análise de dados georreferenciados. Sem falar no uso da IA para análises das moléculas para a produção de remédios. Antes de fazer experimento randômico com seres humanos, se faz em laboratórios para ver se teriam potencial maior de eliminar vírus. Quem domina essa tecnologia terá vantagens competitivas.
E&N - O ecossistema de inovação gaúcho está dando exemplo, não é mesmo?
Lamb - Sim, o nosso ecossistema de inovação está muito ativo no desenvolvimento de ações de combate à Covid-19. O fato de o Rio Grande do Sul ter parques tecnológicos muito integrados com a atividade econômica fez com que eles pudessem atuar muito fortemente com suas comunidades para oferecer soluções emergenciais, como produção de respiradores e EPIs, desenvolver sistemas de análise de dados e de exames. O mesmo está ocorrendo com as startups, que estão se envolvendo muito. A pandemia vem obrigando as pessoas a trabalharem coletivamente, rompendo barreiras institucionais entre governo, universidades e empresas, e isso ajuda a ter uma forma diferente de trabalhar em grupo. Era algo que já vinha acontecendo no Estado, pois já estávamos avançando nesta perspectiva da colaboração. Se deve ficar um legado disso tudo, que fique o de que a cooperação gera mais benefícios que a competição individual.
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