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reportagem especial

- Publicada em 26 de Abril de 2020 às 21:13

A riqueza do agronegócio: Tupanciretã, o maior produtor de soja do Rio Grande do Sul

Estiagem impacta severamente o grão no maior município produtor do Estado

Estiagem impacta severamente o grão no maior município produtor do Estado


APROSOJA/DIVULGAÇÃO/JC
Tupanciretã, na Região Central do Rio Grande do Sul, tem cerca de 150 mil hectares tradicionalmente semeados com soja, o que lhe garante, há anos, o título de campeã na produção da oleaginosa do Estado. Para se ter uma ideia da importância e da abrangência da cultura na cidade, a área semeada corresponde a mais da metade de todo o território, estimado em 220 mil hectares.
Tupanciretã, na Região Central do Rio Grande do Sul, tem cerca de 150 mil hectares tradicionalmente semeados com soja, o que lhe garante, há anos, o título de campeã na produção da oleaginosa do Estado. Para se ter uma ideia da importância e da abrangência da cultura na cidade, a área semeada corresponde a mais da metade de todo o território, estimado em 220 mil hectares.
A soja é o carro-chefe e a maior fonte de emprego do município, assegura o prefeito Carlos Augusto de Souza. É a soja que esquenta o mercado local em todos os setores, do comércio ao imobiliário, e serve como moeda de troca em muitos negócios.
Os grandes sojicultores da cidade, como em todo o Estado, comercializam os grãos para o mercado mundial, embarcados no porto do Rio Grande e, em sua maior parte, destinados à China. Boa parte dessa riqueza fica na cidade de origem, diz Souza. Na verdade, é determinante.
"Aqui, quando a soja fracassa, tudo fracassa, do comércio até a arrecadação do município. O impacto ocorre em todos os lados, da compra de imóveis à legalização de uma área rural pendente que fica para depois", sintetiza Souza.
São recursos que alimentam revendas de máquinas agrícolas, por exemplo, assim como serviços de mecânica e aquisição de veículos em tempos de maior bonança. Já os trabalhadores das fazendas aquecem o comércio local, com compras em lojas de roupas e supermercados, e também com obras e construções de novas ou maiores residências no meio urbano. Hoje, são em torno de 450 grandes produtores de soja, metade deles com produção empresarial. Ao todo, são mais de mil propriedades focadas na cultura, segundo a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja).
Com a estiagem drenando os ganhos neste ano, lamenta o prefeito, a vida comercial da cidade se retraiu, e lojistas, agora, falam em demissões, posição reforçada com a pandemia global, assegura Souza.
Mas o coronavírus só agravou uma situação que já não era boa. No Rio Grande do Sul, a estiagem trouxe uma realidade ainda pior ao se somar à pandemia do que em outros estados, ressalta o delegado do núcleo da Aprosoja em Tupanciretã, José Domingos Teixeira. Este, porém, foi o primeiro ano de danos após sete ciclos de boas colheitas, admite Souza. Tanto que os negócios que mais se sobressaíram nos últimos anos foram no setor imobiliário - o que é curioso em uma cidade de 24 mil habitantes.
"As últimas safras vinham impulsionando bastante os negócios imobiliários. Foram muitas construções de casas e até a implementação de um bairro novo, estruturado por algumas imobiliárias", explica Souza.
Além de novas casas, como no recém-criado Residencial Progresso, a construção civil e o comércio destinado a obras e acabamentos também vinha aquecido com as reformas. Isso tudo, porém, mudou no início de 2020, lamenta o prefeito.
"Quando escasseou a chuva, a partir de janeiro, o pessoal já retraiu, pensando no que poderia vir pela frente. Hoje, tem comércio e prestador de serviço já com bastante dificuldade", lamenta ele.
O varejo local, informa o prefeito, havia se organizado para vendas maiores, principalmente com expansão de tamanho e número de lojas, e funcionários, nos últimos anos. O impacto da atual estiagem no caixa da prefeitura ainda está sendo calculado, mas deve ser de uma queda acima de 30%, antecipa Souza. O prefeito diz que ainda não sabe onde ocorrerão os cortes, mas eles virão.
"Sou meio radical com controle de gastos. Pegamos o município mal financeiramente e equilibramos. Me preparava para um fechamento de ano tranquilo, mas cortando algumas despesas e trabalhos. Agora, perdemos um pouco desse horizonte e vamos ter que encurtar mais o cobertor, certamente", antecipa Souza.
Pelos cálculos do representante da Aprosoja, o setor primário deixou na economia da cidade, em 2019, cerca de R$ 600 milhões, valor que irrigou o comércio e os serviços. Com a quebra na safra estimada em 55% neste ano, esse montante deve cair para cerca de R$ 320 milhões. No total, a riqueza gerada pelo agro representa 82% da receita municipal, tendo como carro-chefe a soja. 
"E tem ainda a agricultura familiar. Somos um município com 17 assentamentos, 13 mil de hectares assentados, e isso representa 800 famílias, com renda basicamente vindas do leite e da soja. Estimo que serão, no mínimo, R$ 350 milhões a menos circulando na cidade", analisa Teixeira.

Mais de 2 mil quilômetros de estradas de chão e uma antena de telefonia

A riqueza gerada pela soja em Tupanciretã não se reflete em boas condições de transporte dos grãos, nem mesmo de sinal eficiente de telefonia e internet. Isso para um setor que depende de colocar o grão no porto do Rio Grande e de máquinas agrícolas e produtores conectados.
As queixas sobre os problemas com estradas mal conservadas e baixo ou nenhum sinal de telefonia e conexão internet são recorrentes em todo o Estado, mas, em Tupanciretã, chama a atenção a extensão de vias secundárias carentes de melhorias. São 2.430 quilômetros de estradas de chão batido, segundo o coordenador do núcleo da Aprosoja em Tupanciretã, José Domingos Teixeira. De acordo com ele, apenas 21 quilômetros são asfaltados, na via que liga Tupanciretã até a BR-158. O restante, reclama Teixeira, é estrada de chão batido, com elevados custos de manutenção de caminhões e até mesmo de máquinas.
"Choveu, acabou o transporte. Cerca de 80% da safra sai daqui de caminhão. Apenas 20% vai por trilhos. E estrada não conduz só a produção. A estrada conduz educação, o transporte das crianças no interior do município para as escolas. E saúde, quando se precisa de uma ambulância? Não vai chegar", critica o representante da Aprosoja na cidade.
Ao falar da necessidade de telefonia e conexão de internet, as queixas dos produtores também são recorrentes. Com uma área de 224 mil hectares no município, só há uma torre telefônica. Se dependerem de internet para colher mais, os produtores ficam na mão. E a frota agrícola que poderia ser beneficiada com a conexão de internet para aumentar a produtividade é grande.
Ainda que nem todas as máquinas sejam do "último tipo" e tenham sistemas inteligentes e chips para monitoramento de produção, os números são representativos. Tupanciretã tem 1,3 mil tratores, 807 semeadoras e 526 colheitadeiras espalhadas pelo território, de acordo com a Aprosoja local.
Sobre a queixa dos produtores por melhores estradas, o prefeito Carlos Augusto de Souza afirma que o município tem catalogados 2.125 quilômetros de estrada de chão (um pouco menos do que os 2,4 mil quantificados pela Aprosoja), o que impõe dificuldade de pavimentação e melhorias frente à arrecadação.
"Temos um parque de máquinas e servidores em número reduzido, então é uma dificuldade imensa manter todos essas estradas", argumenta Souza.

Tupanciretã

População (2019)
23.948 pessoas

Salário médio
2,6 salários-mínimos

PIB per capita (2017)
R$ 45.282,28

Área: 2.253,245 km²

Santo Cristo cresce com a suinocultura

Rebanho alcança quase 131 mil animais

Rebanho alcança quase 131 mil animais


SCOTT OLSON/AFP/JC
No Noroeste gaúcho, a pequena Santo Cristo, com 14 mil habitantes, abriga o maior rebanho de suínos do Estado, especialmente devido aos muitos matrizeiros e crechários de leitões existentes na cidade. E cresceu com eles. O município foi o maior produtor de suínos do Rio Grande do Sul em 2018, com 130,5 mil animais em seu rebanho, de acordo com os últimos dados consolidados pelo IBGE sobre o tema.
Com o avanço da peste suína africana na China, ao longo de 2019, os produtores rurais da cidade colocaram nos bolsos os ganhos decorrentes das polpudas vendas para os chineses. Ao abater boa parte de seu plantel para conter o avanço da doença, a China eliminou a maior parte de seu rebanho suíno, o maior do mundo, com mais de 400 milhões de animais. Isso elevou os preços da carne em todo o mundo e, por consequência, disparou a procura pela proteína no Estado - para sorte dos santos-cristenses.

De acordo com a Emater, o preço médio pago pelo quilo do suíno ao produtor passou de
R$ 3,05, em 2018, para R$ 3,88 em de abril deste ano. A alta de 25% estimulou os negócios na cidade. Desde 2019, o município ganhou três novas Unidades de Produção de Leitões (UPLs), somando, agora, 18. E todas elas, sem exceção, assegura o coordenador de Agricultura de Santo Cristo, Elton Backes, ampliaram suas capacidades de produção devido ao bom momento. Dimensionar o percentual da participação da suinocultura na arrecadação municipal é um cálculo complexo, avalia Backes. A relevância para a economia da cidade, porém, é nítida.

"Somos um município tipicamente de minifúndios. Santo Cristo exibe pequenas propriedades que, em alguns casos, têm faturamento superior ao de muitas fazendas", comemora Backes.
Com sua produção concentrada em uma área menor - ao contrário dos grandes campos e lavouras da Metade Sul e da Fronteira-Oeste, por exemplo -, os produtores de suíno mantêm uma atividade trabalhosa, mas bastante rentável, especialmente nos dois últimos anos, assegura o coordenador da Agricultura de Santo Cristo. "Alguns produtores dobraram a planta desde 2018. Um deles construiu um crechário inteiramente novo. Temos aumentos desde a produção de leitões até a terminação", destaca Backes.
A vida econômica gira em torno do suíno e do leite, principalmente. De acordo com o IBGE, o município também foi o terceiro maior produtor de leite em 2018, com 50 milhões de litros (atrás de Crissiumal, com 52 milhões, e da campeã, Ibirubá, com 60,4 milhões).
Mesmo que não seja possível precisar os ganhos diretos para a arrecadação municipal, é fato que a renda extra obtida com a carne oxigenou a economia da cidade no último ano, assegura Backes. O reflexo, conforme explica, é a abertura de novos negócios e sondagens de empresas que gostariam de se instalar no município ou ampliar as atividades. E quem já está estabelecido corre para acelerar processos.
"Ficamos em evidência. O abatedouro de uma cooperativa local de pequenos agricultores quer ampliar as atividades ainda neste ano, por exemplo, e vender para fora do município também", completa Backes.

Apoio para ampliação de infraestrutura

Uma das formas de apoio aos suinocultores locais, de acordo com a Coordenadoria de Agricultura de Santo Cristo, é com a oferta de máquinas e trabalhadores para a construção de pocilgas, por exemplo, e obras de melhoria da estrutura produtiva nas propriedades. De acordo com o engenheiro-agrônomo da coordenadoria, Adriano Weber, cada produtor pode, por lei, solicitar o uso de 80 horas de serviços a cada quatro anos.
"Normalmente, ele utiliza esse tempo inteiro em uma única obra, dentro do programa Invista Mais em Santo Cristo. São serviços de máquinas para implantação de novas estruturas dentro das propriedades. Outra demanda, nos últimos anos, é por licenciamento ambiental, que é feito, nos menores criadores, pela própria prefeitura no limite até 1,5 mil animais", explica Weber.
O que destaca a cidade no cenário estadual da suinocultura é que Santo Cristo é um grande fornecedor de leitões para serem terminados por criadores de outros municípios. Em números de abates, de acordo com dados da Associação dos Criadores de Suínos do Estado (Acsurs), a campeã em volume é Rodeio Bonito. Em números absolutos, contudo, o rebanho de Rodeio Bonito, na região do Alto Uruguai, é o quinto maior (com 84,8 mil animais em 2018, de acordo com o IBGE), atrás de Santo Cristo, Três Passos, Frederico Westphalen e Santa Rosa.
"Temos muitas unidades produtoras de leitões, criados aqui e terminados em outros municípios. Santo Cristo tem 18 propriedades que criam matrizes. São 22 mil matrizes de leitões. Cada matriz produz em torno de 12 suínos por gestação", quantifica Weber.
Depois de nascidos, os leitões ainda permanecem no município até certa idade em creches localizadas em cinco propriedades, com cerca de 10 mil animais. Na terminação, são mais 55 propriedades, que podem abrigar 44 mil suínos. Nas UPLs onde têm as matrizes, somando aos leitões, se chega a 76 mil animais abrigados, calcula o engenheiro-agrônomo.
Na cidade, explica Weber, 87 famílias têm suas atividades dedicadas totalmente à suinocultura de grande porte, além dos muitos agricultores integrados e que abastecem frigoríficos da região. É de Santo Cristo que sai boa parte dos animais para o frigorífico Alibem, em Santa Rosa, explica Weber. Isso sem falar da produção familiar de pequeno porte. "De acordo com o Censo do IBGE de 2017, tínhamos 1.226 propriedades com suínos na cidade, das quais 877 com um a cinco suínos, para subsistência, principalmente", explica o engenheiro-agrônomo.
"Em 2019, a atividade certamente rendeu mais. Isso se percebe até nas rodas de conversa. Principalmente quem trabalha com terminação de animais para abate recebeu mais e teve um bom ano, o que apareceu também no comércio da cidade", assegura Weber.

Santo Cristo

População (2019)
14.257 pessoas

Salário médio
2,1 salários-mínimos

PIB per capita (2017)
R$ 34.034,19

Área: 367,030 km²

Mesmo em crise, leite abastece Ibirubá

Família Klein é uma das maiores produtoras de leite de Ibirubá

Família Klein é uma das maiores produtoras de leite de Ibirubá


ONEIDE KUMM/DIVULGAÇÃO/EMATER
O envolvimento dos produtores de leite de Ibirubá, campeão dessa atividade em 2018, de acordo com o IBGE, com 60,4 milhões de litros, ilustra alguns dos dramas vividos pelo setor nos últimos anos. O total de agricultores envolvidos com a atividade no município vem encolhendo, tanto pela remuneração insuficiente quanto pela forte demanda de trabalho (em contraste com o envelhecimento da população rural) e por novas exigências sanitárias, o que exige adaptações e investimentos.
No ano passado, pelos dados municipais, a atividade leiteira era realizada por 395 famílias em Ibirubá e alcançou 51 milhões de litros, movimentando R$ 68,3 milhões.
Desde 2017, porém, a atividade encolhe no município: naquele ano, eram 439 famílias atuando com a pecuária de leite, ante as atuais 395 - uma retração de 10% em dois anos.
Mesmo em queda frente ao ano anterior, o leite ainda é expressivo para a economia local: representa quase 20% dos valores gerados com a produção primária, ficando em segundo lugar e perdendo apenas para a produção de soja. Quando o cálculo é feito sobre o valor adicionado, a bacia leiteira representou, em 2019, pouco mais de 6% de todo o ICMS arrecadado por Ibirubá, segundo a Secretaria da Fazenda local.
Em 2017, de acordo com a prefeitura, cerca de 55 milhões de litros resultaram em R$ 69,2 milhões em arrecadação. Acima, portanto, dos números do ano passado.
Para 2020, o cenário é preocupante, devido à estiagem, explica Oneide Kumm, extensionista da Emater na cidade. "Com a seca, estimamos uma redução de 30% na produção de leite por seis meses, de janeiro a junho. E isso tem efeito em toda a cadeia, da renda do produtor ao comércio", alerta Kumm.
Ibirubá não tem beneficiamento local - o leite é coletado diariamente por 12 empresas da região e segue, a maior parte, para a fábrica da CCGL em Cruz Alta, de acordo com o extensionista da Emater. O apoio municipal vem na forma de obra para armazenamento de silagem, cascalhamento no entorno das mangueiras e calçamento nas estradas para facilitar a coleta do leite, por exemplo, que é diária.
Hoje, porém, a principal necessidade é por apoio para minimizar os danos da estiagem, que secou a maior parte das lavouras de milho, utilizado para alimentação animal, e também para obras para abrir bebedouros para as vacas e auxílio no fornecimento de água.
"Neste ano, com a silagem mais cara devido à estiagem, muitos outros devem abandonar a cultura. Talvez não chegue a muito mais do que 300 produtores no final do ano", lamenta Kumm.
Com 26 hectares de área, onde cria 130 animais (com cerca de 60 vacas em ordenha), a família de Evandro Klein está entre os maiores produtores de leite de Ibirubá. São cerca de 1,6 mil litros de leite diários, o que lhes assegura uma posição entre os 10 maiores criadores do município. E uma preocupação extra com o futuro da atividade.
"Há silagem de menor qualidade, baixa quantidade de pasto, calor excessivo, e com custo aumentando na ração e no feno. E a estiagem não terminou ainda. A saída seria plantar pastagem de inverno, mas, sem chuva, o que já plantei ficou prejudicado", descreve Klein.

Ibirubá

População (2019)
20.350 pessoas

Salário médio
2,9 salários-mínimos

PIB per capita (2017)
R$ 44.413,47

Área: 607,390 km²

Lucros do arroz alimentam economia de Uruguaiana

Lavouras do município produziram quase 760 mil toneladas do grão

Lavouras do município produziram quase 760 mil toneladas do grão


PREFEITURA DE URUGUAIANA/DIVULGAÇÃO/JC
Em 2018 - antes da enxurrada que levou a perdas de 30% nas lavouras de arroz de Uruguaiana no ano passado -, o IBGE contou 755,5 mil toneladas do grão colhidos na cidade. Em termos de lavoura, Uruguaiana é um município praticamente de monocultura do arroz, pois mesmo com soja são poucas as áreas semeadas, assegura Roberto Fagundes Ghigino, presidente da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana e vice-presidente da Federarroz.
Dentro da área municipal, são 80 mil hectares dedicados à orizicultura, que se somam a mais 15 mil hectares de propriedades que avançam em Barra do Quaraí. "Este ano está sendo bom. A área diminuiu um pouco, mas com a produtividade compensando. O agronegócio, como um todo, representa 45% da receita do município. O arroz, sozinho, pelo menos 30%, porque a cidade conta com diferentes indústrias de beneficiamento", explica Ghigino.
São mais de 200 produtores, empregando diretamente quatro funcionários a cada 50 hectares, em média. Isso sem considerar novas contratações em períodos de plantio e colheita, entre outras atividades paralelas, como transporte. O problema da logística deficitária e a péssima qualidade das estradas secundárias - empecilho para muitos produtores gaúchos - foi resolvido, em parte, no município, com a criação de um fundo específico.
"Com certa pressão, conseguimos criar o Fundo Estradas com valores do Imposto Territorial Rural. A prefeitura fez convênio com a Receita Federal, que repassa parte do imposto, cerca de R$ 2,5 milhões por ano, para as estradas. Uma empresa terceirizada mantém quatro equipes e maquinário atuando somente em vias do interior", detalha.
Sobre 2020, Ghigino ressalta que, para o produtor e os comerciantes da cidade, o ano começou com outro ânimo. "Colhemos algo entre 9,5 mil e 9,8 mil quilos por hectare, um bom número. Começamos fevereiro, animados, mas, em março, tudo trancou com o coronavírus, e os negócios empacaram. Mas, no meio de toda essa pandemia, ao menos temos duas boas notícias no horizonte: produtividade e preços melhores", comemora o orizicultor.
Ainda que o passivo de anos anteriores não esteja totalmente recuperado, Ghigino afirma que já será possível começar a arrumar a casa e pagar contas atrasadas. Os cofres públicos também agradecem. O arroz é responsável por 81,67% da produção primária do município e também responde por 44% do PIB de Uruguaiana, de acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico da cidade, Luciana Reis.
Em 2019, a indústria contribuiu com 10,63% do ICMS, basicamente com o beneficiamento do grão em 12 indústrias, com cerca de 2 mil empregos diretos. Luciana ressalta, ainda, que Uruguaiana tem uma posição geopolítica interessante, pois, além de contar com condições ideais para grandes áreas de arroz irrigado, tem também facilidade com a região fronteiriça para exportar.
"O arroz faz com que nossa economia gire fomentando diversos outros setores. Mas nem tudo são flores: em épocas de enchentes, o município tem prejuízos com a diminuição da produção prejudicando todo o ciclo econômico", pondera a secretária.

Nova Bassano é destaque na produção de aves

Município tem mais de 5 milhões de aves alojadas

Município tem mais de 5 milhões de aves alojadas


FRANCISCO REISCHERD/divulgação/JC
Se há um setor primário no qual os números municipais de produção ficaram bastante próximos entre o primeiro e o segundo colocados em 2018, de acordo com ranking consolidado pelo IBGE, é o de aves. Mas, no cálculo geral, a campeã de produção é Nova Bassano, na Serra, com 5,35 milhões aves alojadas, ante 5,2 milhões de Nova Bréscia, no Vale do Taquari. Em comum, ambas as cidades têm anos de tradição no setor e culturas predominantemente italianas.
Em Nova Bassano, os lucros com a avicultura impactam mais a economia municipal como um todo do que o caixa da prefeitura especificamente, explica Valdecir DallAgnoll, secretário de Agricultura da cidade.
A produção é pelo sistema de integração, praticamente na totalidade, e sem abates diretamente no município. O retorno vem na forma de renda que vai diretamente para o bolso do produtor, que gasta na cidade, e com uma fábrica de rações instalada em Nova Bassano em expansão ao longo dos anos.
"O ICMS vai para o município que emite a nota, esse é o problema. O município não tem muita arrecadação. São quase todos produtores integrados, que recebem a ração e entregam o que produzem direto à indústria. Então não tem imposto significativo que venha para o município, porque os abates são feitos em outras cidades, onde são emitidas as notas fiscais", explica DallAgnoll.
De acordo com ele, as aves são encaminhadas para frigoríficos em Passo Fundo, Nova Araçá e Serafina Corrêa, em plantas da BRF, da Agroaraçá e da JBS, respectivamente. As aves criadas no município serrano, assim como uma grande parte de toda a produção gaúcha, são comercializadas nacionalmente e exportadas para diversos países espalhados pela Ásia e pela Europa, entre outros destinos.
"Se as empresas têm mercado maior, há também um ganho melhor para o produtor. As perspectivas a gente não sabe, com tudo o que está ocorrendo. Mas as pessoas vão precisar sempre, o frango é bom e mais barato que outras carnes. Mercado sempre vai ter", resume DallAgnoll.
Em 2019, de acordo com dados fornecidos pelo município, o volume de aves criadas na cidade para abate deu um salto. Estimulada pelas exportações para a China, principalmente, a produção foi de cerca de 7,5 milhões de cabeças. O município conta com 280 granjas, aproximadamente, sendo que o maior produtor da cidade tem capacidade de alojamento para 50 mil animais e produção anual em torno de 300 mil aves.
Nova Bassano tem uma capacidade total de alojamento próxima de 1,2 milhão de aves. A perspectiva, dizem empresas sondadas pelo município, é de um aumento de 10% na produção de aves em 2020. A atividade é a segunda mais importante na agropecuária local, ficando atrás somente da produção de leite, representa cerca de 20% da produção agrícola de Nova Bassano.
 

Aviários estão presentes em mais de 50% dos municípios gaúchos

O retorno e o efeito multiplicador da avicultura movimentam a economia de milhares de famílias e aquecem, em diferentes proporções, os negócios em mais da metade dos 497 municípios do Estado. Se nem todos contam os ganhos do ICMS (recolhido onde a ave é abatida, normalmente), fica no caixa municipal a renda e o consumo dos produtores, além do ISS, que é arrecadado pela prefeitura a partir dos serviços do entorno da produção que vão para os cofres do município, explica o diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos.
Assim como se espalha pelos diferentes setores das comunidades onde está inserida, diz Santos, a atividade também é bastante disseminada pelo Estado, beneficiando quase 250 municípios. Mais da metade das cidades gaúchas, portanto, têm ao menos uma parcela de suas economias, em diferentes proporções, enriquecidas pelos aviários.
"E a tendência é de aumento. Estamos tendo muita demanda por informações de municípios que querem diversificar culturas, como aqueles mais focados no leite e no fumo, estão migrando para a avicultura nos últimos anos", conta Santos.
No ano passado, exemplifica o executivo, a Asgav foi procurada por um grupo de 11 municípios do Norte e Noroeste do Estado que buscavam recomendações para alternativas de produção rural. Desde então, os prefeitos estão negociando com um abatedouro de aves de Minas Gerais, que também busca inserção no Rio Grande do Sul, e que poderá anunciar alguma operação no Estado ainda em 2020.
"Os aviários estão localizados em municípios que contam com frigoríficos no raio de 150 quilômetros. É o que viabiliza o sistema integrado de produção. Facilita o atendimento do produtor com assistência técnica, entrega da ração e apoio ao manejo", finaliza Santos.

Nova Bassano

População (2019)
9.916 pessoas

Salário médio
2,8 salários-mínimos

PIB per capita (2017)
R$ 51.101,73

Área: 211,611 km²

Uruguaiana

População (2019)
126.970 pessoas

Salário médio
2,2 salários-mínimos

PIB per capita (2017)
R$ 21.633,17

Área: 5.702,098 km²

Gado a perder de vista em Alegrete

Alegrete foi a maior produtora de bovinos em 2018, de acordo com o IBGE

Alegrete foi a maior produtora de bovinos em 2018, de acordo com o IBGE


PEDRO PÍFFERO/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Com criação de gado e terneiros em destaque, assim como exportações de carne e de animais em pé, Alegrete, na Fronteira-Oeste, é o lar da bovinocultura. Isso porque o município tem um ciclo completo, da produção e venda de terneiros à entrega de animal gordo para abate na própria cidade.
"Não adianta ter o rebanho sem bons índices de desfrute de gado gordo, de terneiro e uma planta frigorífica de grande porte. É esse conjunto que traz os ganhos a Alegrete. Ter apenas a cria é perda de valor, porque antes de nascer tu já investiu na vaca, na prenhez, na inseminação. Os ganhos estão no ciclo completo, com maior lucro na carne", pondera o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Farsul, Pedro Píffero.
Em 2018, segundo o IBGE, habitavam os pastos do município 582 mil cabeças de gado, criados em cerca de 2,5 mil propriedades focadas em pecuária. O agronegócio como um todo representa diretamente, mais de 40% da receita de Alegrete. O fato de ter um grande frigorífico na cidade, habilitado a exportações, ajuda a ampliar ainda mais os ganhos. "Isso permite que os recursos oriundos da cadeia e os empregos fiquem na cidade. No Marfrig, são 700 os empregados. O comércio depende do setor primário, da livraria à loja de roupas", resume Píffero.
"Foi o bom preço da arroba, no ano passado, por sinal, que amenizou os danos do arroz, outra cultura importante na cidade", informa o produtor, referindo à forte valorização da carne bovina no segundo semestre de 2019 devido à alta nas exportações.
"O consumo interno vinha em queda, com desemprego em alta, renda em baixa e pouco poder de compra. Principalmente para a proteína bovina. Sem as exportações, isso se refletiria nos preços pago pelo produtor pela carne. A exportação permite que os valores não caiam tanto, e até subam", assegura Píffero.
O maior percalço, em 2020, é a seca - com pasto escasso, o animal perde peso. A falta de chuva, assegura o pecuarista, vai refletir em breve nos índices de desfrute (aumento do rebanho), com menor produção de terneiros. Isso porque a pastagem de inverno já deveria estar implantada, mas não se conseguiu fazer na hora certa. O pasto disponível, que deveria ser de reserva, os animais já comeram.
"Vai ter represamento da engorda e no acabamento logo adiante. Na pecuária, não se tem índices de perdas precisos como em uma lavoura. É peso que não foi ganho no gado, é o custo extra para engordar o boi ou a venda de um animal com peso menor. São também prejuízos da estiagem", explica Píffero.

Reforço na fiscalização pode abrir mercados

O frigorífico Marfrig instalado em Alegrete é também um símbolo da força da pecuária na cidade. Abastecido por pecuaristas do município e da região, é responsável por despachar mundo afora os cortes bovinos de boa parte do pampa gaúcho. Embarques que a prefeitura tenta ampliar. A unidade tem autorização para abater até 700 animais por dia.
O município está em tratativas com o Ministério da Agricultura para ceder fiscais sanitários para que o frigorífico possa receber técnicos de uma missão dos Estados Unidos com a intenção de liberar a planta para vender para os norte-americanos. Em 2019, diz o secretário de Agricultura, Daniel Gindri, a unidade não pôde receber a missão porque não contava com o número de fiscais agropecuários públicos necessários.
"Enviamos projeto para a Câmara de Vereadores para que autorize o Executivo a ceder esses fiscais ao Ministério da Agricultura com esse fim. Os custos viriam de uma arrecadação extra sobre os abates adicionais. Com a auditoria norte-americana, conseguiremos acessar esse mercado, aquecendo os negócios em Alegrete", finaliza Gindri.

Alegrete

População (2019)
73.948 pessoas

Salário médio
2,2 salários-mínimos

PIB per capita (2017)
R$ 25.890,38

Área: 7.800,163 km²

* Thiago Copetti é jornalista, especializado em Gestão de Empresas e setorista de agronegócio do Jornal do Comércio. Também é bacharel em Relações Internacionais, com foco em temas sino-brasileiros