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reportagem especial

- Publicada em 12 de Abril de 2020 às 20:25

General Motors e sistemistas: uma economia de gigantes em Gravataí

Prédio da GM ocupa quase metade dos mais de 3,5 milhões de metros quadrados do Ciag

Prédio da GM ocupa quase metade dos mais de 3,5 milhões de metros quadrados do Ciag


/HENRIQUE AMARAL/AERO STUDIO/DIVULGAÇÃO/JC
Até pouco mais de 15 dias atrás, o ritmo de trabalho era intenso no Complexo Industrial Automotivo de Gravataí (Ciag), onde a General Motors mantém sua unidade mais moderna do planeta. Dali saem os veículos da linha Onix Chevrolet, líder de vendas no Brasil na categoria leve.
Até pouco mais de 15 dias atrás, o ritmo de trabalho era intenso no Complexo Industrial Automotivo de Gravataí (Ciag), onde a General Motors mantém sua unidade mais moderna do planeta. Dali saem os veículos da linha Onix Chevrolet, líder de vendas no Brasil na categoria leve.
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Contudo, as atividades foram suspensas por até quatro meses em razão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Não só a General Motors, como também as 16 fornecedoras de autopeças que operam na planta, conhecidas como sistemistas, frearam a esteira de produção, entrando em período de layoff, quando os acordos de trabalho são suspensos temporariamente.
Só na unidade de Gravataí, em períodos normais, são fabricados cerca 1.320 carros por dia da linha Onix. Mais de 4 milhões de automóveis já foram fabricados no complexo industrial, que completa 20 anos em 2020. Antes das interrupções motivadas pela pandemia, a rotina de produção de montadora e sistemistas era de três turnos, em um esquema sequencial.
Do lado esquerdo, o prédio da GM ocupa quase metade dos mais de 3,5 milhões de metros quadrados do Ciag. Do lado direito, estão as 16 sistemistas, com seus 3 mil funcionários e fábricas próprias, que produzem em tempo real para acompanhar o ritmo da montadora.
Segundo o diretor do Complexo Industrial Automotivo da GM de Gravataí, Luis Mesa, as peças fornecidas pelas sistemistas podem representar até 15% do total do carro. "As commodities mais importantes que compõe o veículo, como de plástico, eletrônicas e chapas, são feitas pelos fornecedores sediados no complexo", salienta o executivo.
Diante da crise econômica gerada pelo vírus, o novo acordo trabalhista impacta na redução salarial, mas mantém os empregos dos 5 mil funcionários do complexo. Quanto menor o salário, menor o corte. Por exemplo, quem ganha até R$ 2.090,00 receberá 95% da remuneração líquida, e quem recebe acima de R$ 20 mil, 75% do total.
"É um momento de calamidade pública e o setor pode acabar entrando em recessão, mas com o acordo, que vale por quatro meses, mantemos a empregabilidade neste momento difícil", diz Valcir Ascari, diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Sinmgra). Todas as fábricas da General Motors no Brasil e Argentina estão paralisadas.

Tecnologia da indústria 4.0 alavanca a produção

Para que flua a produção das sistemistas para o galpão de montagem da GM Gravataí, sistemas apurados de comunicação e logística são fundamentais para fazer girar a esteira. Com a nova expansão do Complexo Industrial de Gravataí, ferramentas tecnológicas chegaram para auxiliar a produção.
Robôs corrigem a produção humana, sensores integrados por wi-fi fazem verificações dimensionais do carro, uso de realidade aumentada ajuda a treinar montadores e até drones são usadas para manutenção do telhado. "Com os novos aparelhos podemos gerar muito mais dados sobre nossa produção e aperfeiçoá-la sistematicamente, além de manter todo o complexo conectado", diz Luis Mesa, diretor do condomínio industrial em Gravataí.

Integração, sinergia e velocidade entre fabricantes

Dinamismo na linha de produção é o mesmo dos fornecedores da montadora

Dinamismo na linha de produção é o mesmo dos fornecedores da montadora


/LUIZA PRADO/JC
Para fazer girar a esteira de carros no condomínio industrial em Gravataí, GM e sistemistas utilizam um sistema de comunicação que informa em tempo real o que está entrando na linha de produção. A montagem coreografada, que demanda sinergia e velocidade das empresas, gera 66 carros por minuto.
Através de um monitor instalado nas 16 fábricas, e 100% conectado com a planta da GM, fornecedoras conseguem prever demandas horárias, semanais e até mensais do Complexo. "A partir do momento que a informação chega para mim, em aproximadamente 120 minutos os assentos já estão prontos, dentro de um carro da General Motors", diz Júlio Alves, gerente de planta da Adient, líder global na fabricação de assentos automotivos e uma das sistemistas em Gravataí.
Baseada no conceito de Just in Time e Just in Sequence, que visa reduzir o estoque da produção ao longo da cadeia de abastecimento e produzir conforme a demanda horária, a fábrica da GM cobra o mesmo dinamismo dos fornecedores. Conforme Marco Marelli, diretor da SL Brazil, sistemista que fornece faróis automotivos para GM, o modelo de produção é seguido por toda cadeia.
Marelli explica que a GM tem estoque relativo a duas horas de produção em sua planta e o resto fica dentro das sistemistas. Seguindo o mesmo modelo, a SL tem um fornecedor de plástico em Gravataí, que também mantém um pequeno estoque no seu galpão, e abastece a sistemista conforme a demanda. "Ou seja, cada agente da cadeia só puxa o que é necessário para a produção horária. Isto otimiza muito o processo". A SL produz cerca de 60 peças por horas no Ciag.
Na realidade, a partir das informações da GM, as sistemistas têm uma visão de até 40 semanas da produção, sendo as primeiras oito semanas fixas, cuja produção, em tese, não poderia ser alterada. "Em períodos de exceção como o que estamos vivendo, isto acaba mudando", ressalva Marelli.
O modelo de condomínio industrial de Gravataí também representa redução dos custos fixos e um trabalho sinérgico entre as fornecedoras multinacionais. Todas as empresas podem utilizar as estruturas compartilhadas do Complexo, como centro de treinamento, linhas de ônibus, departamento médico, segurança e refeitório.
"Alguns percalços que temos na GM em São Caetano (SP) não temos em Gravataí por fazer parte do condomínio. Custo do frete e controle de estoque nos dão uma vantagem competitiva forte no Estado" diz o gerente de planta da Adient, acrescentando que sistemistas e a GM são parceiras até em solução de problemas de manutenção.

Quem são as sistemistas da General Motors

Mesa diz que fornecedores devem acompanhar evolução da fábrica

Mesa diz que fornecedores devem acompanhar evolução da fábrica


/LUIZA PRADO/JC
Embora tenha passado por três expansões ao longo de seus 20 anos, sendo a última em 2019 com aporte de R$ 1,4 bilhão, o complexo industrial da General Motors (GM) no Estado segue com mesmo número de sistemistas desde sua fundação: 16 empresas. O que ocorre é a substituição de fornecedores de acordo com os modelos dos carros.
A GM não informa quais foram as sistemistas substituídas. No entanto, na expansão de 2019 da montadora, com o lançamento do novo Onix Plus, ao menos duas novas fornecedoras de autopeças passaram a fabricar no local, substituindo antigas indústrias do Ciag, segundo apuração da reportagem.
"A diferença tecnológica entre o Celta, que era produzido em 2000, e a nova linha do Onix é imensa. Temos que buscar fornecedoras que se adequem ao nível de aprimoramento que hoje demandamos", diz Luis Mesa, diretor do Complexo Industrial Automotivo da GM de Gravataí.
O crescimento da planta e das sistemistas, segundo ele, também têm evoluído nesse sentido, O executivo acrescenta que as fornecedoras crescem internamente, ampliando seus metros quadrados no complexo.
Atualmente, a maior parte das sistemistas que operam no condomínio industrial em Gravataí são multinacionais de grande porte, referências em seus segmentos e, muitas delas, líderes no mercado automotivo. Apenas três têm origem brasileira. Fabricam desde faróis, bancos e pneus, até suspensão de eixos, chapas metálicas, tanques de combustível, entre outras peças fundamentais para a movimentação do carro.
O diretor do Ciag salienta que a política de compra da GM, que rege a contratação das sistemistas, preza por acordos de longo prazo e que algumas fornecedoras provam isto. "Trabalhamos no desenvolvimento de cadeias de abastecimento que duram ao longo do tempo" explica Mesa.
 

Multinacional coreana fabrica os faróis

Da Coreia do Sul para o mundo, a SL Corp, sistemista responsável pelos faróis em Gravataí, começou com peças para bicicleta em 1950, quando ainda se chamava Samlip. Passados 70 anos, está presente em cinco continentes com 29 plantas industriais, cerca de 10 mil funcionários e um faturamento anual de U$ 4 bilhões, sendo China, EUA e Coreia seus principais mercados.
No Brasil, porém, a SL Corp. ainda é uma caloura: está no Complexo Industrial Automotivo de Gravataí (Ciag) apenas desde 2017. Quando a GM anunciou o lançamento da plataforma GEM (Global Emerging Markets), com o intuito de reduzir o custo de produção em países emergentes como Brasil, China e México, a fornecedora de faróis foi convidada a operar em Gravataí.
"Temos uma parceria longa com a GM e, como um dos maiores volumes da plataforma GEM seria no Brasil, foi necessária uma unidade no País", salienta o diretor da SL Brazil, Marco Marelli. Antes instalar a própria fábrica, a SL tentou comprar a ARTEP, fabricante brasileira de faróis, mas acabou não dando certo e precisou de uma operação própria.
Responsável por 100% dos faróis dos três modelos de Onix Plus, a sistemista produz, em média, 1.320 pares de faróis por dia, em Gravataí - somente da nova linha Onix. Além de mais 340 pares diários de faróis do novo SUV da GM, que é produzido em São Caetano (SP), mas com algumas peças do Rio Grande do Sul. Em nível de Brasil, a SL Corp. representa 85% dos faróis dos carros da GM. Trabalham no complexo, em três turnos, 236 funcionários da sistemista de faróis - em dias fora da pandemia.

Companhia norte-americana produz os bancos

Empresa produz 25 milhões de bancos ao ano para um terço dos carros do mundo

Empresa produz 25 milhões de bancos ao ano para um terço dos carros do mundo


ADIENT/DIVULGAÇÃO/JC
Entre as fornecedoras de autopeças da GM Gravataí, a Adient é responsável por todos os assentos. Na realidade, um terço dos carros do mundo têm bancos Adient. A multinacional fabrica cerca de 25 milhões de unidades ao ano para quase todas as grandes marcas automotivas. Está presente em 33 países e tem uma receita anual avaliada em U$ 20 bilhões, que deve cair com os reflexos do novo coronavírus na economia mundial.
A empresa se instalou em Gravataí em 2015, quando comprou a antiga sistemista Lear Corp., e passou a operar no complexo industrial, além de fornecer a outras três fábricas da GM no Brasil e uma na Argentina. Quando chegou por lá, ainda fazia parte da Johnson Controls, conglomerado industrial responsável pela fabricação de vários de tipos de peças automotivas. Em 2016, tornou-se independente, de capital aberto, e líder no segmento.
Dos negócios da Adient na América do Sul, o condomínio industrial no Estado representa 30% do volume. Cerca 400 funcionários trabalham em Gravataí e fabricam em torno de 130 bancos automotivos por hora - o dobro da produção de veículos no mesmo tempo já que, para cada carro, são necessários os assentos frontais e traseiros.
Na nova linha do Onix, todos os veículos passaram a ter airbags nos bancos também. "Tecnologias foram implantadas com a última expansão do complexo, em 2019, e pudemos dinamizar a produção com ganhos em segurança, tanto que a linha foi premiada neste quesito", enfatiza o gerente de planta da Adient, Júlio Alves.
De acordo com Alves, muitos dos processos estão automatizados na indústria de assentos automotivos, mas a mão de obra ainda é fundamental. "Nossa peça é um produto de aparência, acabamento visual, e depende muito da interface humana, principalmente na parte de montagem."

Saiba a função de cada fornecedora no Complexo Industrial de Gravataí

ADIENT (EUA) Produz os assentos automotivos;
ANDROID (EUA) Responsável pela montagem dos módulos de suspensão do carro;
AUTONEUM (Suíça) Fabrica isoladores térmicos e sonoros da linha Onix;
CEVA (Reino Unido) Conglomerado industrial é responsável pela AV Manufacturing, sistemista responsável pela fabricação do motor e transmissão;
FAURECIA (França) Fabrica o radiador dos carros produzidos no Ciag;
IPA (Brasil) Produz os tanques de combustível e é lider nacional no segmento;
INYLBRA (Brasil) É responsável pelos carpetes da linha Onix Plus;
GESTAMP (Espanha) Faz a fabricação de componentes por processos de estampagem e soldagem;
GOODYEAR (EUA) Fornece os pneus do carro;
PELZER (Brasil) Até 2018 era responsável pelos para-choques, com a nova linha Onix passou a fornecer componentes internos;
SAINT GOBAIN (França) Produz os vidros do carro;
SL (Coreia do Sul) Responsável pelos faróis;
SMRC (França) Com a nova expansão do Caig em 2019, empresa substituiu a antiga sistemista, Continental, na fabricação dos cockpits (painéis de controle).
SOGEFI (Itália) Fabrica filtros automotivos;
TI (EUA) Responsável pelos sistemas de fluídos automotivos;
VALEO (França) Responsável pela fabricação de sistemas de powertrain (trem de força) para a movimentação do carro.

Condomínio industrial em mãos norte-americanas

Em dias de plena produção, volume de funcionários requer 5.200 refeições

Em dias de plena produção, volume de funcionários requer 5.200 refeições


/LUIZA PRADO/JC
O Complexo Industrial de Gravataí (Ciag), que comporta 17 fábricas e 5 mil funcionários, funciona, em maior escala, como qualquer prédio residencial. Enquanto os inquilinos são responsáveis pelos imóveis, fica a cargo dos síndicos a administração das áreas nas comuns. No caso do Complexo da GM, a sindicância é responsabilidade da Jones Lang LaSalle (JLL), uma das maiores empresas do mundo no setor imobiliário.
A produção das sistemistas tem que escoar por ruas asfaltadas e bem sinalizadas até a esteira da GM, assim como o trânsito de pessoas também deve fluir dentro CIAG. Tudo que é área comum compete à JLL: da grama cortada até o asfaltamento das ruas, limpeza, manutenção elétrica, segurança patrimonial e muito mais.
Em dias de plena produção, dois restaurantes servem 5.200 refeições durante os três turnos de trabalho e o centro médico funciona 24h. "São diversos serviços importantes para a logística, mas cada com suas peculiaridades. É como administrar uma pequena cidade", diz Sergio Capaldo, gerente de contas da JLL, responsável pela administração do Ciag.
Quando a GM se instalou em Gravataí, a multinacional fez o planejamento do fluxo logístico, como onde ficariam as sistemistas e montadora, reservando espaço para futuras expansões. "Tudo foi pensado para que as peças trafeguem a menor distância possível até a GM", explica Capaldo.
Como em todo condomínio, as reuniões servem para ouvir as demandas dos "moradores" e prestar contas. Neste caso, por se tratar de uma empresa, a diretoria formada por representantes da GM e das sistemistas se reúne uma vez por semana, e todo final de mês há uma reunião com todos os funcionários.
"Enquanto as semanais discutem as demandas, mais ligadas aos serviços que impactam diretamente o trabalhador, como o cardápio do restaurante, nas mensais nós mostramos o que fizemos para melhorar", diz Capaldo.
 

* Pedro Carrizo é jornalista formado pela Universidade Ritter dos Reis. Em 2018, foi premiado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul pela matéria que investiga bingos e cassinos de Porto Alegre. Teve passagens pelo No Jornal do Comércio e, hoje, atua como free-lancer.