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Gestão

- Publicada em 05 de Agosto de 2019 às 03:00

Startups viram modelo de gestão

Revolução digital muda a forma de trabalhar das empresas

Revolução digital muda a forma de trabalhar das empresas


RAWPIXEL.COM - FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Gigantes como Whirpool, Unilever e Vivo tentam copiar o modelo rápido e flexível das startups. A antiga rotina - na qual um projeto levava meses e até anos para ser concluído e, quando terminava, muitas vezes, já estava ultrapassado - começa a ser substituída por métodos mais ágeis, na velocidade da economia digital.
Gigantes como Whirpool, Unilever e Vivo tentam copiar o modelo rápido e flexível das startups. A antiga rotina - na qual um projeto levava meses e até anos para ser concluído e, quando terminava, muitas vezes, já estava ultrapassado - começa a ser substituída por métodos mais ágeis, na velocidade da economia digital.
A quantidade de empresas que começou a quebrar os muros que separam os seus departamentos para obter resultados mais rápidos é crescente nos últimos dois anos. Elas passaram a organizar os trabalhos em pequenos grupos de funcionários, misturando diferentes áreas. Eles trabalham fisicamente lado a lado, sem barreiras burocráticas ou de hierarquia. Com isso, conseguem resolver problemas ou colocar um projeto de pé o mais rápido possível, ainda que não esteja 100% pronto.
Batizada de squad (esquadrão, em inglês), essa forma de organizar o trabalho em pequenos grupos começou nos anos 2000, com a startup sueca Spotify, de serviço de streaming de música. Virou referência no mundo da administração por causa dos ganhos de produtividade alcançados que, a depender do caso, podem ser quatro vezes maiores, se comparados ao de uma empresa tradicional.
O pulo do gato para conseguir esses resultados é a multidisciplinaridade dos grupos, explica Carlos Felippe Cardoso, sócio-fundador da K21, consultoria especializada em fazer essa transição de modelo nas empresas. Nos grupos, como há redução de uma série de entraves burocráticos, ganha-se tempo e produtividade.
Além disso, os resultados são entregues a conta-gotas. A cada 15 dias, por exemplo, uma nova funcionalidade do site é colocada no mercado, no caso de projetos digitais, nos quais essa forma de trabalho já é mais familiar. Isso permite que o projeto seja testado e, se necessário, modificado enquanto é feito.
O jeito de trabalhar das startups ganha adesão de empresas dos mais variados setores. "Neste ano, houve, no País, uma explosão, e quase todos os segmentos de mercado têm empresas adotando ou, no mínimo, experimentando o trabalho em squads", diz Cardoso.
Desde fevereiro, a Whirpool, fabricante de eletrodomésticos, começou a trabalhar com o novo modelo. Hoje, tem 50 funcionários em cinco grupos. Até dezembro, quer dobrar esse número. Baseada nas formas tradicionais de linha de montagem, a empresa decidiu usar squads nas áreas ligadas ao atendimento ao consumidor.
Em menos de quatro meses, dois grupos voltados ao tema Inteligência Artificial puseram em prática projetos de um assistente virtual que atende os clientes em várias demandas e vende os produtos.
 

'Não virei a chave do dia para noite'

O banco Carrefour já trabalha totalmente em squads. A decisão foi tomada no final de 2018. "Não viramos a chave do dia para a noite", frisa o presidente, Carlos Mauad, que começou a estudar a necessidade de mudanças um ano atrás.

Ele pondera que nem tudo é uma maravilha nessa nova forma de trabalho e que ainda hoje conta com serviço de consultoria para consolidar a transição do modelo antigo para o novo, especialmente para mudar a cultura da companhia.

Nos 14 grupos em funcionamento no banco, as entregas de produtos, serviços e soluções que vão influenciar a vida do cliente ocorrem a cada 15 dias. A partir desses resultados, são feitos os ajustes necessários. "É um instrumento muito poderoso", diz Mauad. Segundo ele, os resultados financeiros atingidos no segundo trimestre deste ano pelo banco refletem também essa mudança. A carteira de crédito geral de R$ 9,5 bilhões cresceu 36% e o faturamento do cartão de crédito da bandeira Carrefour avançou 20,8% no período, com recorde de adesão de clientes.

A Dotz, empresa especializada em programas de fidelidade do varejo, também ampliou em 20% as vendas e o número de clientes ativos por conta dessa nova forma de trabalho. Roberto Chade, presidente da empresa, conta que começou a trabalhar em squads no segundo semestre de 2017 voltado inicialmente para o marketplace da empresa. Ele reconhece que a implantação dessa nova forma de trabalho não é simples. "A gente já errou bastante." Mas uma das vantagens é que os projetos vão se ajustando gradativamente. Além disso, os prazos de entrega das soluções novas para problemas são muito curtos. Com seis squads em operação, o prazo passou de quatro meses para menos de 30 dias.

O consumidor está mudando muito mais rápido do que as empresas. O consultor da K21, Carlos Felipe Cardoso, compara o momento atual das companhias tradicionais a transatlânticos, que tentam se tornar mais ágeis para não morrer. Ele lembra a frase de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial: "não serão os grandes peixes que irão 'papar' os peixes pequenos, e sim os peixes mais rápidos que irão engolir os peixes mais lentos".