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finanças

- Publicada em 19 de Agosto de 2018 às 22:03

Cédulas dão lugar a dinheiro eletrônico

Cartões são preferência no Sul e passam a superar o papel

Cartões são preferência no Sul e passam a superar o papel


FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Há cada vez menos dinheiro no bolso dos brasileiros. Está poderia ser uma afirmação sobre a crise econômica dos últimos anos, mas a frase não deixa de ser verdadeira, também, quando se pensa apenas na forma em que a riqueza se expressa. Embora ainda dominantes, cédulas e moedas perdem espaço para meios eletrônicos - em especial, os cartões, que já são preferência no Sul do Brasil. Além disso, aproveitando-se do avanço da tecnologia e da internet, surgem novos produtos e métodos que podem acelerar a transformação nos pagamentos no País.
Há cada vez menos dinheiro no bolso dos brasileiros. Está poderia ser uma afirmação sobre a crise econômica dos últimos anos, mas a frase não deixa de ser verdadeira, também, quando se pensa apenas na forma em que a riqueza se expressa. Embora ainda dominantes, cédulas e moedas perdem espaço para meios eletrônicos - em especial, os cartões, que já são preferência no Sul do Brasil. Além disso, aproveitando-se do avanço da tecnologia e da internet, surgem novos produtos e métodos que podem acelerar a transformação nos pagamentos no País.
Pesquisa divulgada no mês passado pelo Banco Central (BC), encomendada à LGA Assessoria Empresarial, trouxe à tona algo que, de certa forma, era visto nas cidades brasileiras. Até pouco tempo de uso restrito, seja por conta de dificuldade na emissão, seja por conta de estabelecimentos que não os aceitavam, os cartões estão amplamente difundidos no País. O cartão de crédito, por exemplo, é apontado como de uso comum por 45,5% dos respondentes, e o de débito, mesmo mais recente, já ultrapassa a barreira da metade da população - usado por 51,5%. O dinheiro, logicamente, segue universal, utilizado por 96,1% das pessoas.
Quando a questão é sobre qual dos meios é mais utilizado, o dinheiro é o preferido de 60,2% dos entrevistados, contra 22,1% do débito e 15% do cartão de crédito. Na Região Sul, porém, a moeda já trocou de face: o cartão de débito é o favorito de 35,8% das pessoas ouvidas, e o crédito, de 18,2%. Somados, desbancam o dinheiro, que não alcança mais a linha da maioria, sendo o preferido de "apenas" 44,8% dos entrevistados.
Embora justifique a adoção maior no Sul como reflexo do próprio desenvolvimento mais avançado da região, o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo de Barros Vieira, vê o avanço dos plásticos no País há, pelo menos, uma década. "Já representa 32% do consumo das famílias, um crescimento importante, mas tem espaço para chegar a 50%, a exemplo de outros países", defende o executivo.
Segundo dados da entidade, em 2017, pela primeira vez na história, o volume transacionado em cartões (R$ 1,34 trilhão) superou o volume sacado em caixas eletrônicos (R$ 1,31 trilhão). Só por aí, de acordo com Vieira, já seria possível imaginar que há potencial para dobrar o volume transacionado com os meios eletrônicos.
A aposta, para que se consiga chegar lá, é nas vantagens percebidas pelo uso dos métodos em relação ao dinheiro. Uma delas é a segurança, praticamente eliminando a chance de roubos, tanto nos estabelecimentos quanto no caminho até o banco. Além disso, Vieira ressalta que não há a chance de que o cobrador não receba o valor, como no caso dos famosos "cheques voadores", que, só em 2017, atingiram R$ 25 bilhões.
Há, também, um importante aliado na tarefa, que é o próprio poder público. No início do ano, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, estabeleceu como meta da instituição o aumento das operações com meios eletrônicos, atuando com barateamento dos custos. Os motivos, segundo ele, são a diminuição nos gastos com impressão e transporte das cédulas e moedas, além do controle maior sobre as transações, coibindo atividades ilegais.

Guerra das maquininhas torna cartão mais atrativo ao varejo

Uma das grandes rupturas foi o surgimento de máquinas sem aluguel

Uma das grandes rupturas foi o surgimento de máquinas sem aluguel


MARCOS NAGELSTEIN/ARQUIVO/JC
Não faz muito, era cena comum em pequenos estabelecimentos ou mesmo, em alguns casos, em setores inteiros do comércio cartazes de "não aceitamos cartões", ou de uso condicionado a um valor mínimo. Os motivos, segundo os varejistas, sempre tratavam do custo da operação, com aluguel, taxa por transação e o prazo de dias até o recebimento dos valores. A quebra do antigo duopólio, há menos de uma década, porém, deu a largada para a entrada de novas empresas no setor de adquirência, com novos modelos de negócio mais simpáticos a quem estava excluído.
Uma das grandes rupturas foi o surgimento de máquinas sem aluguel, produto que ganhou notoriedade com a PagSeguro, do Uol, que, em pouco tempo, cresceu a ponto de abrir seu capital em Nova Iorque no início de 2018.
O modelo deu força à chamada "guerra das maquininhas", cujo movimento relevante mais recente foi o lançamento da Pop Credicard, no mês passado, pelo Itaú, que, mesmo dono de uma das líderes de mercado (a Rede), percebeu que não conseguia alcançar autônomos e microempreendedores. "Identificamos que esse era um segmento pouco assistido e no qual os pagamentos com cartões tinham apenas 20% de penetração, devido, especialmente, às taxas praticadas", comenta o diretor executivo do banco, Marcos Magalhães, que estima que 80% desse público ainda esteja apartado do pagamento por meios eletrônicos.
O presidente do Banrisul, Luiz Gonzaga Veras Mota, ainda estima que há, pelo menos, R$ 1 trilhão em operações realizadas por consumidores não bancarizados. Em cinco anos, a projeção é de que as operações com meios eletrônicos aumentem de 33% para até 45%, passando do atual volume de R$ 1,3 trilhão para R$ 2 trilhões. "Toda essa massa de consumidores vai influir no crescimento do setor. E também de outros meios, especialmente o celular, não mais o cartão", afirma o presidente do Banrisul, que investe na expansão da Vero para todo o País, por meio de parcerias com subadquirentes regionais. "Essa competição traz pressão sobre as taxas, e tanto o consumidor quanto o varejo ganham com isso", analisa o presidente executivo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra.
Mesmo que ainda veja desafios, principalmente geracionais, com maior dificuldade no uso por parte de pessoas mais velhas, menos afeitas à tecnologia, o coordenador de pesquisas do Programa de Administração de Varejo (Provar/FIA), Nuno Fouto, argumenta que o uso dos meios eletrônicos tem avançado mais rapidamente do que era imaginado há pouco tempo. "Ficou mais prático, o que facilita a venda, porque as pessoas andam cada vez com menos dinheiro em papel", analisa Fouto, ao defender que as vantagens do sistema têm compensado o pagamento de taxas. Só o fato de eliminar a inadimplência, por exemplo, já "paga" o serviço para o comerciante, que ainda cita a agilidade, a segurança e a possibilidade de gerenciar melhor os movimentos do estoque com outros ganhos.

Próxima fronteira será popularização do telefone

Se cédulas e moedas já são vistos como em desuso, até os próprios cartões podem estar com seus dias contados. A aposta é em outros meios, como os chamados "wearables" (pulseiras, relógios, capas para celular, entre outros) e os pagamentos por meio do celular, já difundidos em outros países, especialmente na China (veja ao lado).
"As pessoas vão sempre procurar meios mais amigáveis, desde que vejam segurança em seu uso", afirma o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo de Barros Vieira, para quem a real mudança, que é a substituição do dinheiro por um meio eletrônico, já foi feita. "Se é cartão, pulseira, celular, é só o 'device' que está mudando", acrescenta.
Carteiras digitais - como Google Pay, Samsung Pay e Apple Pay - já desembarcaram no País, aproveitando um parque de maquininhas que, segundo Vieira, é dos mais modernos do mundo - quase metade dos 5 milhões de pontos no Brasil já estariam preparados para pagamentos por aproximação.
O possível "pulo do gato" nos pagamentos com o celular, entretanto, vem das transações por QR Code, método bastante similar aos aplicativos WeChat e Alipay, dominantes no gigante país asiático. Serviços como o Agipay (do gaúcho Agibank), Interpag (do mineiro Banco Inter) e até mesmo a NuConta (do paulista Nubank) se assemelham aos chineses, com transferências instantâneas e sem taxas realizadas a partir da leitura do código de barras nos celulares - hoje ainda restritos, porém, a correntistas dos próprios bancos.
O presidente do Agibank, Marciano Testa, afirma que é difícil repetir, no Brasil, o processo visto na China, onde nunca houve a cultura do uso de cartões. "O Brasil e outros países ocidentais estão nesse caminho, mas o ciclo será mais longo, porque o cartão ainda é muito presente", comenta Testa, acrescentando que o maior desafio ainda é trazer os usuários do dinheiro em papel para o meio digital.
Pelo Agipay, foram transacionados, até agora, R$ 1,6 bilhão, serviço que "cresce, mas não de forma estrondosa", segundo o executivo, por conta de barreiras. Testa lista a falta de conectividade 5g, o ainda pouco costume de uso de aplicativos por grande parte da população e a falta de políticas públicas, como acontece no Equador, onde há incentivos para o uso de modelos similares até no transporte público. "No decorrer do tempo, com mais gente utilizando, isso gera pressão de utilização e vai criando um ecossistema", projeta o executivo.
"Já faz parte do instinto lançar mão do cartão, mas, conforme tiver incentivos nas duas pontas (consumidor e varejista) para que migrem, isso vai acontecer", concorda o vice-presidente do Banco Inter, Alexandre Riccio. O executivo aposta nas vantagens aos comerciantes, que, sem pagamento de taxas e recebimento instantâneo, acabam repassando a economia aos consumidores por meio de promoções. A grande dificuldade é "universalizar" o uso, como acontece no cartão, que, com algumas exceções, qualquer máquina pode aceitar qualquer cartão. Uma forma de trazer isso ao sistema, segundo Riccio, é transformar o TED (Transferência Eletrônica Disponível) em um serviço 24 horas, iniciativa em estudo no Banco Central.

Na China, pagamento digital vai do grande comércio às ruas

O QR Code é praticamente um símbolo do dinheiro em Pequim

O QR Code é praticamente um símbolo do dinheiro em Pequim


THIAGO COPETTI/ESPECIAL/JC
Um eficiente sistema de pagamento pelo telefone domina as compras diárias dos chineses. Hoje, o QR Code é praticamente um símbolo do dinheiro em Pequim, já que pagar as contas pelo telefone ganha a adesão de chineses por todo o país. Criado pela Tencent Tecnology, o comunicador de mensagens instantâneas WeChat (equivalente ao WhatsApp) tem no pagamento digital uma de suas mais importantes e usuais funções adicionais.
A Tencent, em seu relatório financeiro de 2017, informou ter cerca de 800 milhões de usuários utilizando ativamente os meios de pagamento digital. O sistema também tem outro forte expoente na China, o Ali Pay, da gigante Ali Baba, e é ferramenta adotada desde o grande comércio até os vendedores ambulantes, como de água e de flores. Até mesmo alguns dos poucos moradores de rua existentes na capital chinesa exibem placas com seus QR Codes pedindo esmola. "Cerca de 80% dos pagamentos de compras rotineiras em Pequim, hoje, são feitos com QR Code. Fora da capital, o índice se aproxima de 50%", estima o professor Niu Huayong, da Escola Internacional de Negócios da Universidade de Pequim para Estudos Estrangeiros.
Os chineses não são muito afeitos a cartões de crédito. Na verdade, segundo Niu, eles não são muito adeptos a fazer dívidas. "Enquanto um cartão de crédito vai cobrar uma taxa de até 7% na compra, o pagamento com WeChat vai ter uma taxa que pode ficar abaixo de 1% e, em geral, até o máximo de 2%", explica o professor.
Pode ocorrer de o cliente ficar sem internet? Basta pedir o Wi-Fi do local onde se está e acessar o sistema. Simples, rápido e fácil. E se não houver conexão nenhuma? Ainda assim, é possível gerar apenas um código de barras de sua conta, e o comerciante escaneia com o seu leitor. É fácil e com baixo custo para o empresário. E com redução de custos também para o governo, que não precisa gastar fortunas imprimindo cédulas e moedas.