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Guerra na Ucrânia

- Publicada em 14 de Março de 2022 às 19:01

Guerra deve afetar mais a agricultura brasileira do que a norte-americana

Além da capacidade de manter o fornecimento do insumo, pairam dúvidas sobre o mercado global de grãos

Além da capacidade de manter o fornecimento do insumo, pairam dúvidas sobre o mercado global de grãos


CNA Agro/ Divulgação JC
Diego Nuñez
O Brasil, há anos, se mantém como um país diplomático internacionalmente. No campo das relações exteriores, historicamente ajuda a resolver conflitos econômicos e militares. Porém, mesmo que muito mais distante do conflito entre Rússia e Ucrânia e a aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - da qual os Estados Unidos são um dos principais líderes - os desdobramentos da guerra na agricultura devem afetar mais o Brasil que os EUA.
O Brasil, há anos, se mantém como um país diplomático internacionalmente. No campo das relações exteriores, historicamente ajuda a resolver conflitos econômicos e militares. Porém, mesmo que muito mais distante do conflito entre Rússia e Ucrânia e a aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - da qual os Estados Unidos são um dos principais líderes - os desdobramentos da guerra na agricultura devem afetar mais o Brasil que os EUA.
A questão central para a cadeia de produção brasileira é a alta dependência da importação de fertilizantes. O País é 95% dependente de fertilizantes nitrogenados proveniente de outras nações (21% da Rússia, 20% da China e 17% do Qatar), é 75% dependente da importação de fosfatados (38% do Marrocos, 15% da Rússia e 11% da Arábia Saudita) e é 91% dependente nos potássios (32% do Canadá, 26% da Rússia e 18% de Belarus).
Os russos têm um papel fundamental no fornecimento dos principais fertilizantes utilizados na agricultura brasileira. Já os Estados Unidos têm uma dependência parecida apenas nos potássio, químico cuja importação chega a 93%. Contudo, 83% dessa parcela é adquirida junto ao Canadá, vizinho e um dos mais fiéis parceiros comerciais dos EUA.
“Produzir uma maior quantidade de fertilizantes não é algo rápido de se fazer. Tenho certeza que países como o Canadá irão aumentar sua produção. Mas a demanda será alta, e os preços vão subir. O Brasil obviamente terá fornecimento, mas não vejo como pode se equiparar ao que é entregue pela Rússia”, analisa Gary Schnitkey, economista e professor de Gestão Agrícola da Universidade de Illinois (EUA).
“A situação dos fertilizantes nos Estados Unidos é provavelmente melhor do que será para o Brasil”, continua o professor. Para ele, o aumento do custo de fertilizantes pode não ser algo restrito a este início de invasão à Ucrânia. “Há uma escalada de custos e eu não vejo como pode isso não continuar a escalar em 2023”, afirma Schnitkey.
O coordenador do Farmdoc, grupo de pesquisadores do Meio-Oeste dos Estados Unidos, e professor de Economia Agrícola da Universidade de Illinoi, Scott Irwin, afirma que a guerra não afeta apenas a disponibilidade de fertilizantes para as cadeias de produção agrícola no mundo: ela deve dar prosseguimento ao caos logístico no transporte internacional que se iniciou a partir da pandemia.
“A pandemia de Covid-19 criou este nó, e não havia nem navios disponíveis para carros novos. E as pessoas usam carros, o que aumentou o preço tremendamente. Tudo é conectado. Então, outra dificuldade para o Brasil adquirir nitrogênio e fertilizantes de outras fontes é o impacto logístico que será causado. Navios podem ir a diferentes lugares, mas leva um tempo e podemos observar problemas logísticos que não podemos imaginar agora”, afirma Irwin.
Outra dúvida que paira sobre o agronegócio global será a capacidade de produção e exportação de grãos da Ucrânia em meio à guerra. O país está entre os principais produtores de grãos do mundo, em culturas como a soja, o milho e o trigo. Os ucranianos exportam a maior parte destes cereais.
“Quase todo o milho é exportado, então são um dos maiores competidores do Brasil no mercado mundial de milho. Eles cultivam o trigo, que já está plantado, na fase reprodutiva e deve ser colhido em junho e julho. A previsão era de uma boa colheita. A questão agora é o quanto disso será colhido e o quanto da fatia de exportação conseguirá sair do país”, explica Irwin.
O professor resume: “Estamos olhando para um imenso choque de fornecimento no mercado mundial de grãos”.
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