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Clima

- Publicada em 19 de Janeiro de 2022 às 19:40

Seca deve causar quebra de 20% na safra de uva

Expectativa atual é de uma produção de 600 mil toneladas no RS

Expectativa atual é de uma produção de 600 mil toneladas no RS


/VIVIANE ZANELLA/EMPRAPA UVA E VINHO/DIVULGAÇÃO/JC
Ainda é cedo para se ter uma dimensão exata do impacto - afinal, apenas uvas mais precoces como pinot noir e chardonnay já estão sendo colhidas e a vindima 2021/22, que deve durar até março, tem muitas videiras ainda em processo de maturação. Contudo, é certo que a estiagem causará perdas na produção de uva para a confecção de suco, vinhos e espumantes no Rio Grande do Sul.
Ainda é cedo para se ter uma dimensão exata do impacto - afinal, apenas uvas mais precoces como pinot noir e chardonnay já estão sendo colhidas e a vindima 2021/22, que deve durar até março, tem muitas videiras ainda em processo de maturação. Contudo, é certo que a estiagem causará perdas na produção de uva para a confecção de suco, vinhos e espumantes no Rio Grande do Sul.
Ante uma previsão de até 750 mil toneladas de uva, a expectativa, por enquanto, é de redução de 20% no volume - com isso, deve ficar em 600 mil toneladas. Deunir Argenta, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), diz que "as uvas comuns vêm sofrendo um problema gravíssimo, existem parreirais completamente comprometidos. Tem produtor, dependendo da localização, que já não vai nem colher uva". Segundo ele, as regiões produtoras que têm as plantações mais atingidas pela estiagem ficam na Serra Gaúcha, em Caxias, em Flores da Cunha e em Farroupilha.
As frutas mais atingidas são as uvas americanas - isto é, as uvas comuns, cultivadas para a produção de sucos e vinhos de mesa. Nestas espécies, as videiras têm menor profundidade no solo, o que faz com que tenham mais dificuldade de encontrar água em períodos de escassez de chuvas. É neste tipo de uva onde está o maior prejuízo.
"As uvas americanas estão sofrendo muito. Temos vinhedos com uvas 100% comprometidas, uvas secas, parreiras sem folhas. Ali, podemos ter a maior quebra. A produção poderia já estar 20% comprometida em quantidade. Mas também há problema na qualidade, porque a uva está murchando e perde suco, entra em processo tipo de uma passa. Com o grão em secura começa a ficar mais murcha", analisa Argenta.
A escassez de chuva é uma dura realidade no Estado. Segundo a pesquisadora da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) Amanda Junges, os valores de precipitação pluvial em novembro e dezembro foram muito abaixo das médias históricas. "Em novembro, em Veranópolis, choveu 61 mm e, em Bento Gonçalves, apenas 38 mm, o que correspondeu, respectivamente, a 44% e 27% das médias históricas. Em dezembro, novamente os valores foram baixos, com 56 mm em Veranópolis e 31 mm em Bento Gonçalves (41% e 21,5% das médias)", destaca.

Estiagem causa preocupação nos produtores com o pós-safra

O principal problema será o pós-safra, avisa Deunir Argenta

O principal problema será o pós-safra, avisa Deunir Argenta


UVIBRA/DIVULGAÇÃO/JC
A presidente Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Bernardete Boniatti Osni, cultiva uvas em sua propriedade de 8 hectares. "A perda foi grande. Parte das minhas videiras secaram e não vou conseguir colher. Acho que teremos uma quebra de 20% no total. Até mesmo que tem irrigação foi prejudicado, porque a água da chuva é melhor, tem mais nitrogênio", explica.
O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Henrique Pessoa dos Santos explica que existe muita variabilidade entre regiões, não apenas porque as chuvas não são uniformes, mas pelas características do solo utilizado para o cultivo de uvas principalmente nas regiões de serra.
"Temos plantas que praticamente não estão sofrendo porque têm uma grande profundidade de solo, enquanto manchas dentro da propriedade estão demonstrando bastante estresse por deficiência hídrica e até impacto que pode reduzir a produção não só desse ciclo, mas também do ciclo seguinte", afirma.
A estiagem está tão severa no Rio Grande do Sul que poderá impactar o cultivo de uva não só nesta safra, mas também nas três seguintes.
"O grande desafio não é o que está acontecendo agora, neste ano, mas sim o estresse que pode ocasionar para a videira nos próximos. Quais serão as sequelas que a estiagem vai ocasionar? Está certo que algumas (videiras) vão morrer, mas quantas? E como o produtor vai sustentar esse prejuízo? Porque não é só para uma safra", explica Deunir Argenta, presidente da Uvibra.
Segundo ele, "não é fácil a reposição da plantação. Tem um grande custo de reposição, reconversão dos vinhedos, preparação do solo Se conseguir plantar no ano que vem, só vai voltar a colher uva em quatro anos. Por isso é uma questão urgente: a preocupação é o pós safra", teme.
Uma das sugestões da Embrapa para amenizar a mortandade das videiras é retirar as uvas que tenham tido a maturação e o saneamento afetados, fazendo uma escolha de quais varas serão importantes para o ciclo seguinte.

Menor volume de chuva melhora qualidade para uvas viníferas

Se, por um lado, a estiagem que afeta o Rio Grande do Sul vai causar perdas no cultivo da uva na safra 2021/22, por outro, as primeiras frutas que estão sendo colhidas nas vitivinícolas gaúchas apresentam excelente qualidade para a produção de vinhos finos.
Os primeiros cachos de uvas mais precoces como chardonnay e pinot noir estão chegando para a produção nas vinícolas com excelente qualidade. Enólogo da vinícola Garibaldi, Ricardo Morari admite que haverá perdas em quantidade neste ano, principalmente em comparação à última safra, na vindima 2020/21, que foi a maior da história, mas está otimista: "a estiagem impacta com a redução de volumes, mas, por outro lado, a menor quantidade de chuvas gera uma sanidade de uvas muito boas, com pouquíssima incidência de doenças. As uvas estão com uma boa maturação, acidez, equilíbrio ideal para elaborar bons vinhos e espumantes", avalia ele.
O clima seco é, em geral, bom para os parreirais de uva. Se a estiagem não estivesse tão severa no Estado, as vitivinícolas gaúchas poderia estar comemorando as primeiras colheitas de uvas com frutos de muita qualidade sem a possibilidade de perdas em quantidade. "O ideal, para nós, é que as chuvas sejam pontuais. Não seja chuva todo dia e, com isso, as uvas acabam tendo maturação. Assim, elas preservam o frescor, o que é positivo para os espumantes", explica Morari. A cidade de Garibaldi, sede da vinícola homônima, é conhecida como a capital nacional do espumante.
Na capital nacional do vinhos, Bento Gonçalves, a cooperativa vinícola Aurora também já recebe as uvas chardonnay e pinot noir dos produtores associados. Como a cooperativa está presente em 11 municípios, os impactos da estiagem são variados. O clima relativamente seco, porém, está presente de forma geral no Estado, em maior ou menor quantidade.
"O produto que está sendo colhido agora é de muita qualidade. As uvas estão com uma sanidade muito boa, não existe podridões, sem excesso de água, que viria com excesso, o que baixaria um pouquinho a qualidade. Como vem mais seco, tem maior incidência de açúcar", afirma Renê Tonello, presidente do Conselho de Administração da cooperativa vinícola Aurora.
"As uvas para espumante e vinho estão vindo com excelência. Está se comparado à safra 2020, que foi a safra das safras em termos de qualidade" declarou ele.
Porém, Tonello admite que, em termos de quantidade, a cooperativa registra perdas. A previsão da Aurora é ainda pior do que a da Uvibra - estima uma quebra de safra de 30% a 35% na produção dos associados.
"Em algumas localidades, regiões com pouca profundidade de solo, alguns associados já colocam que a própria videira não tem recuperação. Temos casos de produtores que chegam a perder mais de 50% da plantação", relata Tonello.