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Mercado externo

- Publicada em 22 de Outubro de 2021 às 11:13

Carne bovina que seria destinada à China poderá ser estocada por 60 dias

Suspensão das vendas derrubou em mais de R$ 100,00 o preço da arroba do boi

Suspensão das vendas derrubou em mais de R$ 100,00 o preço da arroba do boi


VANDERLEI ALMEIDA/AFP/JC
Os produtos bovinos que seriam destinados à China poderão ser armazenados em contêineres refrigerados por um período de 60 dias. A ampliação do prazo foi autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nesta terça-feira (19), e atende pedido feito pelo setor produtivo, que está impedido de realizar os embarques desde o dia 4 de setembro.
Os produtos bovinos que seriam destinados à China poderão ser armazenados em contêineres refrigerados por um período de 60 dias. A ampliação do prazo foi autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nesta terça-feira (19), e atende pedido feito pelo setor produtivo, que está impedido de realizar os embarques desde o dia 4 de setembro.
A suspensão das exportações destinadas ao mercado chinês partiu do governo brasileiro para atender a um protocolo sanitário firmado entre os países em função de dois casos atípicos do "mal da vaca louca" em Minas Gerais e Mato Grosso, no início de setembro.
As regras estabelecidas entre os países preveem a normalidade das negociações após investigação dos casos por um laboratório internacional, como foi feito pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) no Canadá. Mas, mesmo após o diagnóstico da OIE ter atestado que o Brasil se mantém sem risco de contaminação pela doença, as compras não foram retomadas.
“Os produtores que conseguirem estocar a carne devem aproveitar a oportunidade, porque logo a China voltará a comprar, já que não tem de onde tirar a quantidade de produtos que tem comprado do Brasil”, orienta o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira. O Estado conta com três plantas que abatem bovinos, habilitadas ao mercado chinês, localizadas em São Gabriel, Alegrete e Bagé.
Na avaliação do dirigente, a questão sanitária está sendo usada como trunfo em um jogo mercadológico internacional para baixar o preço da carne. “A China vem enfrentando o aumento da inflação, mesmo que pequeno, e aproveitou o momento para derrubar o preço do boi, que já caiu mais de R$ 100,00 por arroba”, avalia, ao destacar que os casos de “mal da vaca louca” foram pontuais e que o Brasil é considerado livre da doença. 
Além disso, Pereira argumenta que o País adota todos os cuidados com os embarques de alimentos, tanto de produtos animais quanto vegetais. “Produzimos comida para mais de 1 bilhão de pessoas, isso significa que temos que ter muito cuidado com a exportação sob o ponto de vista do aspecto sanitário”, reforça, lembrando que o Brasil é extremamente dependente do mercado internacional.
A suspensão das exportações reflete também no mercado interno. A tendência é de redução do preço da carne comercializada no País. “Embora a população brasileira seja beneficiada ao pagar menos, isso também significa que bilhões de dólares deixam de entrar na nossa economia”, pondera Pereira.

Suspensão das exportações pode reduzir preço da carne no Brasil

A suspensão de compras pela China de carne bovina brasileira, em vigor já há mais de um mês e meio, pode reduzir o preço da proteína no país aos consumidores caso o cenário persista. A avaliação é do especialista em agronegócio do Itaú BBA César de Castro. A ausência da China no mercado interno brasileiro tem causado a desaceleração dos preços da arroba de boi gordo e prejudicado pecuaristas e frigoríficos.
Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que a arroba alcançou R$ 272,55 nesta terça-feira (19), depois de ter caído a R$ 266,80 na sexta (15). Entre junho e julho chegou próximo de R$ 322,00.
Por conta da inesperada crise, a ministra Tereza Cristina (Agricultura) se dispôs a ir à China negociar a retomada das exportações ao país asiático, em carta enviada ao ministro-chefe da Administração Geral de Alfândegas chinês.
Além dos dois casos atípicos de vaca louca em Minas Gerais e Mato Grosso, no início de setembro, outros fatores devem ser levados em conta na retomada das compras pela China, como evolução menor do PIB no terceiro trimestre, crise energética e possíveis desajustes econômicos oriundos inclusive da gigante Evergrande.
A indústria brasileira sente a ausência do seu maior parceiro comercial, responsável por compras mensais de cerca de 100 mil toneladas de carne, especialmente num momento em que segurar animais em confinamentos representa aumento de custos ou queda de preço.
"Se fosse um período que o produtor poderia segurar o animal no pasto, como foi da outra vez, em 2019, final de safra, um período que ainda não tem tanto confinamento, tudo bem. Mas agora não, se segura esse animal o prejuízo aumenta. Ou porque aumenta o custo ou porque o preço cai, ou os dois. Então ele acaba tendo de desovar, o frigorífico também não tem muita alternativa de curto prazo, não tem um mercado externo que consiga absorver 100 mil toneladas no mês", afirmou Castro.
Com isso, a persistência do cenário deverá fazer com que os preços caiam, favorecendo os consumidores.
"A carne já está proporcionalmente cara em relação ao preço do boi, se a gente olhar os últimos dias. Mas isso acontece, não necessariamente as coisas andam juntinhas. Agora é a hora que os frigoríficos que sofreram nos últimos dois anos, de terem de comprar boi caro e não ter habilitação para a China, tirarem um pouco a diferença [...] Pode cair mais e acho que a carne não vai se sustentar se o boi continuar caindo. Isso tende a chegar ao consumidor, mas chega bem menos."
A avaliação do especialista em agronegócio é que os confinadores sofrem o principal impacto -já que muitos deles não tinham travas de preço e o resultado final fica comprometido, num cenário de custo de produção já elevado-, mas frigoríficos menores também são fortemente atingidos.
"Tem muitos frigoríficos pequenos que tinham exportação para a China e estão com problemas porque grande parte das receitas são oriundas da China."
Já os grandes frigoríficos, avalia, conseguem eventualmente exportar a partir de outros países e têm musculatura para reorganizar fluxos e atravessar o período.
Para os frigoríficos que não exportam, o cenário é visto por Castro como benéfico, por comprarem o boi mais barato.