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Pecuária

- Publicada em 18 de Julho de 2021 às 14:35

Clima gaúcho é desafio para confinamento de gado

No Rio Grande do Sul, condições climáticas demandam estrutura mais robusta para o sistema

No Rio Grande do Sul, condições climáticas demandam estrutura mais robusta para o sistema


SCOT CONSULTORIA/DIVULGAÇÃO/JC
Em 2020, o Rio Grande do Sul possuía um rebanho declarado de mais de 9,6 milhões de bovinos, segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). Apenas em 2019, foram abatidos 2,1 milhões de animais, e a carne bovina gaúcha foi exportada para 92 países. 
Em 2020, o Rio Grande do Sul possuía um rebanho declarado de mais de 9,6 milhões de bovinos, segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). Apenas em 2019, foram abatidos 2,1 milhões de animais, e a carne bovina gaúcha foi exportada para 92 países. 
Para a pecuária de corte atingir os resultados que atinge, no entanto, há uma demanda constante por aperfeiçoamento e inovações nos sistemas de criação dos animais. Entre estes sistemas, está o de confinamento do gado, sobre o qual pouco há dados estatísticos disponíveis.
Segundo o diretor vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) Carlos Simm, o confinamento serve, principalmente, para dar regularidade à oferta de carne. Porém, os motivos que levam criadores do Estado a optarem por este método são diferentes dos percebidos no centro do País, onde o sistema é mais comum. "No Centro-Oeste, há uma regularidade de clima maior, com a safra das águas e a safra das secas. Ou seja, no verão é chuvoso e no inverno é seco. Assim, no período de seca há dificuldades em manter a pastagem para o gado, que acaba sendo colocado em confinamento e é engordado com os grãos produzidos no período de chuvas", diz.
No caso dos produtores gaúchos, o clima é diferente e há um impacto financeiro maior, à medida que o estilo de confinamento precisa ser diferente. "Aqui, o clima não é tão regular, além de mais úmido. Por exemplo, em um inverno como este, com temperaturas muito baixas, muita umidade, geada quase todos os dias, o pasto não cresce e, consequentemente, há um efeito na produção. Porém, o confinamento também se torna mais dispendioso, já que, pelos mesmos motivos, não há como fazê-lo a céu aberto. É preciso uma estrutura para proteger os animais", explica.
Simm também é presidente da Associação dos Produtores Rurais dos Campos de Cima da Serra (Aproccima) e atua na Fazenda Clarice, em Campestre da Serra, que tem mais de 50 anos de atuação com confinamento de gado. Para ele, em termos de qualidade de carne, porém, o confinamento pode ser visto como uma tendência, uma vez que esse sistema intensifica a produção, dando mais rapidez ao processo de engorda e permitindo o abate do animal mais jovem. "Além da estabilidade na produção, confinar o gado permite que a terminação seja mais ágil, controlada e o animal tratado com mais cuidado, já que a alimentação feita exclusivamente de pasto torna o crescimento mais demorado e expõe o gado aos fatores externos do campo. Confinado, pode-se abater um animal dente de leite, com 18 meses, sem problemas. Do contrário, talvez, fosse necessário mais um ano. E a idade, tanto quanto o esforço que ele faz no campo, tem efeito na maciez da carne", aponta.
Ele alerta, no entanto, que não há como dizer que há um sistema melhor, criação a pasto ou confinamento, e sim o que atende melhor aos objetivos do produtor. Cada um deles demanda investimentos diferentes e oferece resultados também distintos. Por isso, aponta, é importante que haja coesão da cadeia produtiva, o que permitiria uma colaboração mais eficiente, com troca de conhecimentos e um aproveitamento pleno do sistema de terminação adotado. "Vemos que os elos da cadeia competem entre si, então, não adianta o produtor buscar um produto final de excelente qualidade, sem que haja uma integração com o frigorífico e com o varejo, por exemplo. É preciso colaborar entre si e compartilhar expertise."

Sistema é uma estratégia para driblar dificuldades, afirma criador

Menos competição e mais coletividade entre os elos da cadeia produtiva também é visto como fundamental para Luiz Roberto Saalfeld, proprietário da Fazenda Pérola Negra, de São Lourenço do Sul. Na visão do criador, os produtores precisam ter segurança, já que a regularidade de oferta deve atender a uma demanda também equilibrada, que depende do compromisso na relação de compra e venda. "É necessário que haja um comprometimento entre os elos, sem que eles sejam rompidos em função do contexto de elevação ou diminuição de preços, para que ninguém saia prejudicado."
Entretanto, Saalfeld vê o confinamento mais como uma necessidade. Na Pérola Negra, a utilização é feita de forma estratégica para driblar os períodos de seca, que tem se tornado cada vez mais comuns e duradouros no Estado. O produtor compara o uso dele ao maquinário caro utilizado na plantação de grãos. "É uma estratégia que adotamos desde 1996, de acordo com a necessidade em cada ano. E é fundamental para viabilizarmos a produção quando há maior dificuldade. Por exemplo, se pensarmos em quem produz grãos, hoje, é preciso ter equipamentos que custam muito caro, mas são exigidos para que se possa produzir. O confinamento passa por uma lógica semelhante. Há um custo, usamos ele por pouco tempo, mas isso nos garante a continuidade de oferta", detalha.
O resultado neste caso, ele aponta, atende ao objetivo, porém, garante uma margem mais baixa de lucratividade. Além disso, há variáveis externas, como o preço dos insumos envolvidos que deixam os produtores, sobretudo os menores, mais vulneráveis. "Temos ciclos, alguns positivos e outros, negativos. Fala-se em anos de frustração de safra para quem planta. Nós, pecuaristas, também vivemos períodos como este. É o caso de 2020 e, muito provavelmente, 2021. Entretanto, o que nos dá a possibilidade de seguir é que são períodos que se compensam quando colocados comparados ao longo do tempo", conta.

Mapeamento ajuda produtores a conhecer modelo

Mais de 15 municípios foram visitados e constarão no diagnóstico

Mais de 15 municípios foram visitados e constarão no diagnóstico


Wenderson Araujo/Trilux/CNA/JC
Para mapear e conhecer as tendências não só gaúchas, mas do Brasil inteiro, a Scot Consultoria, empresa dedicada a analisar dados de competitividade do agronegócio, deu início à segunda edição da expedição Confina Brasil. A iniciativa visa coletar e analisar dados de manejo, gestão, índices zootécnicos, infraestrutura, nutrição e sanidade, entre outros fatores de produção de gado em confinamento.
No Rio Grande do Sul, propriedades em mais de 15 municípios foram visitadas, entre os dias 21 e 29 de junho. "Passamos por diferentes modelos de confinamento, recria e terminação intensiva, desde pequenos produtores, com atividade familiar, até os de gestão empresarial, de grande escala. No primeiro cenário, notamos estruturas mais simples, administradas mais de perto pelos familiares, passando os conhecimentos de pai para filho, colocando a mão na massa, sem deixar a aplicação de tecnologia de lado. No segundo, estruturas maiores e mais complexas, empregando número maior de pessoas e maquinário e até mesmo softwares modernos de gestão", ressalta o médico veterinário Olavo Bottino, técnico do Confina Brasil.
Segundo o médico veterinário e consultor da Scot, Hyberville Neto, o clima gaúcho não demanda a adoção do confinamento no Estado na mesma proporção de outras regiões como o Brasil Central. "O principal objetivo em outras regiões do País é manter a engorda e, consequentemente, vender o gado no segundo semestre, quando percebe-se preços melhores. Porém, no Sul, as pastagens de inverno corroboram até mesmo com a criação de raças britânicas, que encontramos mais por aqui e apresentam maior facilidade em razão das condições climáticas. São raças que sofrem mais em outras regiões" explica.
Os resultados do estudo, junto aos números atualizados de parte do mapeamento feito em 2020, darão origem a uma pesquisa que deve conter informações de estabelecimentos responsáveis pela terminação de mais de dois milhões de bovinos, confinados em 14 estados.