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Agronegócios

- Publicada em 21 de Agosto de 2020 às 16:09

Há 20 anos sem vacina, Santa Catarina venceu a aftosa e ampliou negócios

Santa Catarina parou de vacinar o rebanho em 2000 e obteve novos status sanitário em 2007

Santa Catarina parou de vacinar o rebanho em 2000 e obteve novos status sanitário em 2007


Divulgação/Faesc/JC
Pouco antes de o Rio Grande do Sul enfrentar o trauma do rifle sanitário que levou ao abate de milhares de bovinos no município de Joia, há 20 anos, o vizinho estado de Santa Catarina retirou a vacina contra aftosa em todo seu território. Anos depois, em 2007, se tornou o primeiro estado, isoladamente dentro de um País, considerado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zona livre de aftosa sem vacinação. Desde então, nenhum caso foi registrado em solo catarinense e, a partir de 2013, aumentou o volume de exportações de suínos. É que se espera que ocorra, em breve, no Rio Grande do Sul.
Pouco antes de o Rio Grande do Sul enfrentar o trauma do rifle sanitário que levou ao abate de milhares de bovinos no município de Joia, há 20 anos, o vizinho estado de Santa Catarina retirou a vacina contra aftosa em todo seu território. Anos depois, em 2007, se tornou o primeiro estado, isoladamente dentro de um País, considerado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zona livre de aftosa sem vacinação. Desde então, nenhum caso foi registrado em solo catarinense e, a partir de 2013, aumentou o volume de exportações de suínos. É que se espera que ocorra, em breve, no Rio Grande do Sul.
No ano 2000, Santa Catarina embarcava para o exterior apenas 74 mil toneladas de carne suína, volume que aumentou para quase 280 mil toneladas em 2005. Logo depois, as exportações desceram para um nível entre 140 mil e 200 mil toneladas anuais nos anos seguintes.
Em 2013, após um intenso trabalho de prospecção de novos mercados, tanto por parte do governo quanto das empresas, os embarques cresceram ano após ano, até atingir 416 mil toneladas de carne suína exportadas em 2019 – uma alta de 147% em seis anos. Hoje, os catarinenses lideram as exportações do produto.
O crescimento é duas vezes maior do que a média brasileira no período, de 47%, quando o País passou de 517 mil toneladas ao ano para 750 mil. O Rio Grande do Sul, neste mesmo espaço de tempo, pouco avançou: de 158 mil toneladas negociadas com o exterior em 2013 chegou a um pico de 217 mil toneladas em 2016 e caiu para 168 mil toneladas no ano passado.
Santa Catarina demorou cerca sete anos para obter a certificação da OIE, e mais seis até conquistar a confiança dos compradores internacionais de que era uma ilha segura contra a doença, mesmo sem vacinar, dentro um País da imensidão do Brasil. Depois de uma missão japonesa aos frigoríficos e campos catarinenses, especialmente, as vendas de carne suína deslancharam.
Presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Luciane Surdi avalia que é o status sanitário diferenciado que assegura aos frigoríficos locais uma vantagem competitiva importante ao agronegócio catarinense. "A certificação internacional contribuiu para que Santa Catarina se tornasse o maior exportador de carne suína, e a segundo maior de frango. E há demanda para a exportações de carne de gado, mas como o estado tem déficit - inclusive comprando boa parte do que consome de outros Estados - não se consegue atender a essa procura", explica Luciane.
De acordo com o secretário de Agricultura do estado vizinho, Ricardo de Gouvêa, tudo é fruto de uma união permanente de esforços entre produtores, indústrias e governos local e federal nos controles sanitários. Isso inclui atenção a todo o tipo de doenças animais, do frango ao gado de leite, passando pelos suínos e gado de corte.
"Exportamos para mais de 140 países, entre eles os que têm mais alto nível de exigências, como Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos. O nosso status é diferenciado, também, porque trabalhamos com a identificação e rastreamento por chips de todo nosso o rebanho bovino (de 4,7 milhões de cabeças em 2019)", ressalta Gouvêa.
Presidente da Associação Brasileira de Angus, raça britânica que tem no Rio Grande do Sul seu berço brasileiro, o catarinense Nivaldo Dzyekanski avalia que a retirada da vacina é um caminho sem volta para a pecuária gaúcha, a exemplo do que já ocorre com o Paraná, que está no mesmo processo, e que será realidade para todo o País, em 2023. Dzyekanski é pecuarista em Itaiópolis, Oeste catarinense, e se diz confiante na condução desse processo também no Rio Grande do Sul.
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“Completamos duas décadas sem vacinação, e nunca tivemos nenhum problema. No mercado interno e exportações, no caso da carne bovina, apenas não crescemos porque não temos nem o suficiente para atender ao consumo interno, ao contrário do Rio Grande do Sul. Já na venda de suínos os ganhos foram muitos”, explica Dzyekanski.
O presidente da Angus avalia que a manutenção do status diferenciado de SC por duas décadas serve de referência para o Rio Grande do Sul de que é possível manter o vírus da febre aftosa longe dos campos. “Retirar a vacina é um objetivo não apenas do Rio Grande do Sul, mas da União também”, acrescenta Dzyekanski.
Hoje, apesar das diferentes características geográficas, de pecuária e de trânsito de animais, Santa Catarina é uma mostra de que é possível manter o controle sanitário animal e um rebanho saudável. Assim como uma forma de ampliar os negócios graças ao novo status sanitário. Como destacam criadores de animais, a segurança do rebanho gaúcho vai depender de muito investimento por parte do governo, manutenção da qualidade do trabalho de defesa sanitária animal e de rigorosos controles locais e de fronteira.
O maior temor, especialmente entre pecuaristas de raças nobres e alta genética, é que um foco possa levar novamente ao abate e ao descarte de um elevado volume de animais. Especialmente touros cujo valor pode alcançar mais de R$ 1 milhão, levando em conta os melhoramentos genéticos que carrega e venda de seu sêmen.
“O Rio Grande do Sul não pode ficar para trás, mas deve haver investimento para isso, inclusive para ressarcimento de perdas na alta genética. E como mesmo na pandemia a União e o Estado têm conseguido recursos, estamos dando um voto de confiança. O Estado deve fazer sua parte, e os criadores também, comunicando rapidamente as autoridades sanitárias em caso de qualquer problema”, pondera o presidente da Angus.
Para completar duas décadas sem registros, avalia Dzyekanski, Santa Catarina prioriza um controle sanitário e de fiscalização rigoroso, com todos os animais rastreados. São em torno de 5 milhões de bovinos usando brincos dotados com chips nas orelhas, com dados completos de trânsito e de nascimento, por exemplo. Esse tecnologia é custeada totalmente pelo governo estadual, conforme salienta o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, com um custo próximo de R$ 1,50 o chip.
Nada, porém, garante mercado, destaca o médico veterinário. “Não existe mercado sem dono. Para todo tipo de comércio há alguém vendendo. Ou seja, mesmo pronto e com o aval sanitário da OIE, existe uma processo comercial a ser vencido, com qualidade de produto e preço competitivo”, acrescenta o representante da Faesc.
No Rio Grande do Sul, o chefe da Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal do Estado, Fernando Groff, avisa que não há previsão de que o Estado faça o mesmo, fornecendo os chips para rastreio dos animais. Mas Groff pondera que o rastreamento não é fundamental nesse processo. Outras medidas, porém, estão em fase final de implantação, e são consideradas essenciais.
Groff cita o reforço na vigilância rural por meio do programa Sentinela, com aumento da fiscalização e maior uso de georreferenciamento. Também há um processo aberto para contratação terceirizada de 150 auxiliares administrativos para o setor e foram adquiridas 72 camionetes para melhorar a estrutura de defesa sanitária. Outras 28 unidades ainda serão fornecidas pela União.

O processo catarinense

Santa Catarina parou de vacinar seu rebanho no ano 2000

Santa Catarina parou de vacinar seu rebanho no ano 2000


Divulgação/Faesc/JC
  • No ano de 2000, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina iriam tirar juntos a vacina, até que ocorre o registro da doença em Joia, em 2001, e o abate de estimados 200 mil animais. RS e PR então decidiram voltar a vacina e SC seguir adiante com o projeto.
     
     
  • Apenas em 2007 a OIE reconhece SC com o primeiro Estado, isoladamente, livre da aftosa sem vacinação. Neste ano se começou, então, o processo de venda de produtos com esse diferencial, explica vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina, Enori Barbieri.
     
     
  • Isso porque após no novo status sanitário oficial quem precisa começar a agir para ganhar com novos mercados são as indústrias, principalmente. Missões internacionais passaram a desembarcar em SC para ver de perto as condições sanitárias do Estado.
     
     
  • Apenas em 2013 o Estado alcançou esse objetivo, após seis anos de reconhecimento, com a ampliação os negócios com Japão, conta Barbieri, que passou a comprar carne suína de SC. Até então, adquiria apenas frango e era o grande comprador mundial de carne, juntamente com Coreia do Sul e Rússia.

O processo gaúcho

Rio Grande do Sul começou a debater a retirada ainda em 2019

Rio Grande do Sul começou a debater a retirada ainda em 2019


THAIS D'AVILA/IMPRENSA FUNDESA/DIVULGAÇÃO/JC
  • Autorizada a retirada da vacina contra a aftosa pelo Ministério da Agricultura neste mês, a União encaminhou a OIE que na reunião de outubro próximo inclua na pauta da entidade para o encontro de maio de 2021 a avaliação do pedido de mudança do status sanitário do Estado, juntamente com outras regiões brasileiras.

  • O vírus da aftosa é facilmente transmissível e um dos mais temidos do mundo na área animal. O vírus tem disseminação até maior do que o coronavírus, admite o chefe da Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal do Estado, Fernando Groff.

  • O Rio Grande do Sul ainda vive, de certa forma, o trauma pelos 11 mil animais abatidos e descartados em Joia, no Noroeste do Estado, devido à presença da febre aftosa, em 2001.

  • A doença não afeta seres humanos, mas altera as condições de saúde de bovinos em suínos, como feridas na boca e alteração nos cascos, o que dificulta a movimentação do gado, por exemplo, e sua alimentação. Assim, há perda de peso e até morte por inanição.

  • Em caso de um foco, é necessário monitorar cerca de 3 quilômetros ao redor deste ponto, mas não necessariamente abater a todos os animais na área, de acordo com Groff.

  • O maior risco gaúcho é devido ao elevado território de fronteira, de mais de 1 mil quilômetros, com Uruguai e Argentina, ante cerca de 60 quilômetros em Santa Catarina.

  • O Uruguai vacina em todo seu território e a Argentina em boa parte. O transito de animais é uma das ameaças. No caso de Joia, a doença teria origem em um bovino trazido já doente do Paraguai.

  • Médico veterinário e especialista no tema aftosa há mais de 20 anos, José Fernando Dora, porém, avalia que a situação atual da América Latina é muito mais controlada no que diz respeito à presença e fiscalização preventiva à aftosa, inclusive no Paraguai, que ainda vacina. O maior risco seria a Venezuela, avalia, mas como não há transito de animais entre a Venezuela em direção ao Sul do Brasil, não seria uma ameaça ao Estado.