Dois projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), ligados ao grupo Havan (tradicionalmente vinculado à rede de varejo que ostenta réplicas da estátua da Liberdade em suas lojas), saíram vencedores do leilão de energia promovido ontem pelo governo federal. Com isso, tiveram a comercialização da geração de eletricidade garantida para ser entregue até 2022. Os dois empreendimentos somam uma potência instalada de cerca de 34,5 MW (0,8% da demanda média gaúcha) e significarão um investimento de cerca de R$ 186 milhões, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Um dos complexos é a PCH de Quebra Dentes, que será construída no rio Toropi, entre os municípios de Júlio de Castilhos e Quevedos, na Região Central do Rio Grande do Sul. A usina ocupará uma área de 54,6 hectares, terá capacidade instalada para 22,36 MW e implicará investimento de R$ 115,7 milhões. A outra estrutura é a PCH de Salto do Guassupi, no rio Guassupi, entre Júlio de Castilhos e São Martinho da Serra, também situada na região Central. Essa unidade terá 12,19 MW de potência, ocupará uma área de 79,3 hectares, e significará um aporte de R$ 70,1 milhões. As duas PCHs, recentemente, receberam as licenças ambientais de instalação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
No total, o leilão A-4 (quatro anos para começar o fornecimento) resultou na contratação de 39 projetos de geração de energia elétrica, com capacidade instalada total de 1.024,5 MW de potência. A energia contratada irá suprir a demanda estimada de 17 concessionárias. O preço médio da energia negociada no certame foi de R$ 124,75 o MWh, alcançando um deságio de 59,07 %, com investimentos previstos da ordem de R$ 5,277 bilhões. Dos empreendimentos contratados, 29 são de usinas solares fotovoltaicas, duas Centrais Geradora Hidrelétrica (CGH), duas PCHs, duas usinas termelétricas a biomassa (proveniente de bagaço de cana) e quatro usinas eólicas. As usinas contratadas estão localizadas nos estados de Bahia (quatro), Ceará (14), Espírito Santo (sim), Mato Grosso (sim), Minas Gerais (oito), Pernambuco (três), Piauí (seis) e Rio Grande do Sul (dois). Nenhum parque eólico gaúcho foi bem-sucedido na disputa, como era esperado. Esses complexos, assim como uma forte concorrência das iniciativas desenvolvidas no Nordeste, enfrentam dificuldades para escoar energia devido a limitações no sistema de transmissão da região.
Apesar de o Estado ter sido o único contemplando com a aquisição de energia de PCHs, o presidente do conselho de administração da Associação Gaúcha de Fomento às PCHs (AGPCH), Alderi do Prado, considerou como insuficiente o volume contratado de geração a partir desse tipo de planta. "Não atendeu às expectativas do mercado, esperávamos mais", frisa o dirigente. Prado defende que seria necessário prestigiar mais essa fonte pelo que representa na criação de empregos e renda, além de reforço para o setor elétrico.
De acordo com o integrante da AGPCH, existe hoje um desequilíbrio na compra de energia, com as PCHs tendo volumes bem menores sendo adquiridos do que usinas de outras naturezas, como as solares e as eólicas. O pequeno número de PCHs contratado também vem casado à redução dos preços da energia vendida, salienta Prado. O dirigente espera que o leilão A-6), previsto para ocorrer até agosto, acabe contemplando uma quantidade maior de usinas, no entanto adverte que isso dependerá da demanda de energia que se apresentará naquele momento.