O pequeno público que compareceu ao Pepsi On Stage, em Porto Alegre, na noite desta quinta-feira (22), saiu realizado: assistiu a um dos mais originais, performáticos e divertidos shows que já passaram pelo Estado. O responsável pelo espetáculo foi o criativo David Byrne, de 65 anos, mas aparentando extrema jovialidade no palco, que abriu na capital gaúcha a primeira de uma série de quatro shows no Brasil.
Para a surpresa do público, após o show de abertura da cantora Karina Zeviani, um palco minimalista foi montado para a performance de Byrne, sem bateria, teclados ou gigantescas aparelhagens de som. No centro da cena apenas uma escrivaninha, uma cadeira e a réplica de um cérebro. Atrás das correntes que cercavam o palco e serviam como cortina, no entanto, o artista escocês e sua banda entravam e saíam do palco, sempre se apresentando em pé, trocando de instrumentos e em constante movimentação.
Sua grande banda, formada por 11 músicos (entre eles três brasileiros: Gustavo Di Dalva, Mauro Refosco e Davi Vieira) exerce múltiplas funções no palco: executa coreografias, atua e faz backing vocals. Em uma das canções, o grupo chega a jogar futebol em cena, sem perder o ritmo.
Nesta performance cênico-musical, David Byrne alternava canções dramáticas, como Bullet, e outras dançantes, como I Zimbra. O repertório concentra canções do seu último álbum, American Utopia, como Here (que abriu o show, com ele exibindo o cérebro como se fosse um professor de anatomia) e Everybody's Coming To My House, com canções mais antigas, como Toe Jam, da The Brighton Port Authority, e Lazy.
David Byrne usa um cérebro como elemento cênico em Here, na abertura do show
Os clássicos do Talking Heads estiveram presentes e levantaram o público, em especial com Burning Down the House e Once in a Lifetime. Mas o público se queixou, e deixou Byrne mais de um vez constrangido, com os pedidos para que cantasse Psycho Killer, que ficou de fora do setlist.
David Byrne se comunica, e magicamente bem, pelas canções e por sua presença cênica. Com isto, acabou interagindo pouco menos do que esperava-se com o público – mas não deixou de comentar que aproveitou o dia de sol e que andou de bicicleta pelas ruas de Porto Alegre horas antes do show.
É importante observar que Porto Alegre recebeu nos últimos anos grandes shows internacionais, de artistas de primeira grandeza como Paul McCartney, Bon Jovi, Coldplay e Foo Fighters. Mas se faltou algo em todos estes shows foram manifestações políticas. David Byrne finalmente permitiu ao público portoalegrense a possibilidade de extravasar, em especial no encerramento do show, com sua versão brasileira para Hell You Talmbout, a famosa canção de protesto de Janelle Monáe.
No lugar dos nomes jovens afro-americanos que foram assassinados vítimas de violência racial ou de excesso de força policial, David Byrne e sua banda recitava nomes de brasileiros assassinados. "Diga o nome dele" dizia o refrão, que era seguido por nomes como o do líder do MST Márcio Matos, do pedreiro Amarildo e, encerrando a noite sob muitos aplausos, da vereadora Marielle Franco.
A turnê de David Byrne prossegue no sábado (24) em São Paulo, dentro da programação do festival Lollapalooza, e segue ainda por Curitiba (dia 26), Rio de Janeiro (dia 28) e Belo Horizonte (dia 29). Desde já fique o aviso: é um show imperdível.