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indústria

- Publicada em 18 de Fevereiro de 2018 às 22:23

Petroquímica puxa o freio de mão na América Latina

Plantas do setor passam a se concentrar nos Estados Unidos

Plantas do setor passam a se concentrar nos Estados Unidos


JULIO BITTENCOURT/DIVULGAÇÃO/JC
Dificilmente, nos próximos cinco anos, pelo menos, a América Latina verá uma nova unidade petroquímica de porte sendo construída em seu território. Um dos motivos para isso foi o advento do shale gas (gás de folhelho ou também chamado gás de xisto), que propiciou uma matéria-prima barata e fez com que as plantas do setor se concentrassem nos Estados Unidos.
Dificilmente, nos próximos cinco anos, pelo menos, a América Latina verá uma nova unidade petroquímica de porte sendo construída em seu território. Um dos motivos para isso foi o advento do shale gas (gás de folhelho ou também chamado gás de xisto), que propiciou uma matéria-prima barata e fez com que as plantas do setor se concentrassem nos Estados Unidos.
O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado João Luiz Zuñeda destaca que hoje não há qualquer anúncio oficial de a uma nova unidade petroquímica latino-americana. "Mas o que faz uma planta sair do papel? É a demanda e a oferta", detalha o consultor. Zuñeda adianta que, levando em conta a oferta, é necessário ter preço competitivo de matéria-prima, e hoje o balizador é o custo nos Estados Unidos. O integrante da MaxiQuim faz a ressalva do caso do México, que recebeu o último grande investimento em petroquímica na América Latina feito pela Braskem Idesa (joint venture formada pela empresa brasileira e a mexicana).
Insumo competitivo (no caso gás natural) foi o fator determinante para o grupo construir seu complexo na cidade de Nanchital, com capacidade para 1.050 milhão de toneladas de polietilenos anuais. O empreendimento, inaugurado em 2016, absorveu um investimento total de US$ 5,2 bilhões, com um financiamento de US$ 3,2 bilhões, estruturado por sete agências oficiais, com maior participação do Bndes (US$ 623 milhões).
Zuñeda recorda que, nesse episódio, havia por um lado o gás natural competitivo, com o custo relacionado ao preço praticado nos Estados Unidos, e por outro os próprios mexicanos eram importadores de polietilenos, ou seja, havia um mercado para suprir. No caso em particular do Brasil, o diretor da MaxiQuim adverte que não há nafta ou gás natural nacional suficientes para atender a um novo empreendimento. O consultor diz que, se um complexo de primeira geração petroquímica (produção de eteno) começasse a ser construído hoje no País, provavelmente teria que ser alimentado com gás natural importado.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Edilson Deitos, concorda que a expectativa é de que ocorra uma estagnação quanto a investimentos na petroquímica na América Latina e no Brasil em curto e médio prazo. O empresário ressalta que a capacidade nacional de produção de resinas termoplásticas é suficiente para atender à demanda interna de petroquímicos e sobra para a exportação. No momento, cerca de 70% do volume de resinas brasileiras fica no País e 30% é destinado ao exterior. Deitos comenta que o consumo de transformados plásticos decresceu nos últimos anos no Brasil e prevê que levará de três a quatro anos para serem recuperados os patamares alcançados no passado.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), Jaime Lorandi, afirma que a estimava é que, até 2021, haverá um crescimento de cerca de 5% da demanda por polietilenos na América Latina. Nos Estados Unidos, o incremento deverá ser de 14%, contudo também haverá um aumento de 27% da oferta. "Então, temos aí os norte-americanos com 13% a mais de matéria-prima em relação a sua demanda", enfatiza o empresário.
Dentro desse contexto, o presidente do Simplás argumenta que não existe no Brasil expectativas de implantação de plantas petroquímicas em curto prazo, em virtude da perspectiva de que os Estados Unidos serão muito competitivos dentro do setor. "Não vale a pena alguém investir em petroquímica no Brasil, porque a matéria-prima shale gas é muito acessível, e os norte-americanos aportaram muitos recursos em cima de novas unidades", aponta.

Queda de preços internacionais reflete no Brasil

Valor das Resinas sofre influência do custo internacional da matéria-prima e do câmbio em dólar

Valor das Resinas sofre influência do custo internacional da matéria-prima e do câmbio em dólar


MARCELLO CASAL JR//ABR/JC
Um dos argumentos que eram criticados pelas empresas de terceira geração petroquímica (que transformam o produto plástico que chega ao consumidor final), quando a Braskem aumentava os preços das resinas, agora será bem-vindo. A companhia, que concentra o fornecimento de matéria-prima do setor no Brasil, sempre afirmou que acompanha a oscilação dos preços internacionais dos insumos. Como agora a tendência é de que os custos com matéria-prima fiquem acessíveis no exterior, o mesmo deve ser verificado no mercado interno.
O gerente de relações institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul, João Ruy Freire, confirma que o grupo mantém uma política de seguir os preços praticados no mercado internacional. O executivo acrescenta que, com as novas plantas dos Estados Unidos iniciando as suas operações, haverá mais oferta de produtos no cenário global, o que impactará os mercados de todos os países, inclusive o Brasil. Freire detalha que, dentro do ciclo do setor petroquímico, quando as margens de lucro estão satisfatórias, os investimentos começam a ser planejados e, depois dessa etapa, os empreendimentos são executados. "Isso leva uns cinco anos, considerando um prazo médio", destaca.
Nesse cenário, o executivo diz que está prevista para entrar no mercado, até 2021, uma capacidade extra de 20 milhões de toneladas de eteno ao ano nos Estados Unidos de plantas petroquímicas baseadas em shale gas. "Essa perspectiva faz com que os outros parem para pensar, todo mundo está em busca de matéria-prima competitiva, e hoje esse insumo está nos Estados Unidos", frisa.
Além de os norte-americanos contarem com insumos a preços atrativos, o gerente de relações institucionais da Braskem reforça que o mercado consumidor daquela região continua muito forte. No Brasil, Freire ressalta que existe, no momento, uma capacidade instalada superior à demanda nacional.
Criada no começo da década passada, atualmente a Braskem é uma das empresas mais internacionais com origem brasileira. O presidente do Sinplast-RS, Edilson Deitos, destaca que a companhia está se consolidando como um player mundial dentro do setor petroquímico, e uma prova disso são os investimentos do grupo em plantas no México e nos Estado Unidos.
Dentro desse contexto, o dirigente enfatiza que a Braskem sabe que precisa acompanhar no Brasil os preços internacionais para não perder espaço para importações. "O livre comércio e a globalização têm esse fator favorável para o segmento de transformação", comemora o empresário.
O presidente do Simplás, Jaime Lorandi, destaca que a formação dos preços das resinas têm dois fatores determinantes: o custo internacional da matéria-prima e o câmbio em dólar. "Se o dólar se mantiver estável, e lá fora havendo uma oferta muito grande de matéria-prima, isso vai baixar o preço, e nós (empresas brasileiras) também pagaremos insumos mais baratos até 2021", projeta.

Argentina apresenta mais possibilidades para atrair investimentos no continente

Apesar da falta de perspectivas de investimentos petroquímicos em um futuro próximo na América Latina, alguns países têm mais chances de surpreender e começar a desenvolver empreendimentos nessa área. O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado João Luiz Zuñeda diz que tudo leva a crer que a Argentina, em curto prazo, pode se tornar a "bola da vez" em investimentos.
O consultor considera que, mesmo o país vizinho vivendo uma crise política e com uma economia enfrentando dificuldades, a possibilidade de contar com abundância de gás de xisto, proveniente da jazida chamada de Vaca Muerta, localizada nas províncias de Neuquén e Mendoza, é um diferencial de mercado. O analista vê o Brasil, por sua vez, como um excelente mercado na área de polietilenos, então não descarta definitivamente que surja uma oportunidade de investimento local. "Mas não vejo isso acontecer no curto prazo", reitera.
Outro obstáculo para investimentos na petroquímica nacional é a dificuldade de diálogo entre as duas principais acionistas da Braskem, a Odebrecht e a Petrobras. Zuñeda lembra que a estatal sinalizou a intenção de se desfazer da sua participação na Braskem (47% do capital votante e 36,1% do capital total). Já a Odebrecht apresenta problemas de caixa e pode optar por alienar suas ações na petroquímica e focar nos seus outros nichos de negócios. Soma-se a esse quadro a crise econômica do País e diversas denúncias e investigações envolvendo essas companhias dentro da Operação Lava Jato.
Apesar dessa conjuntura, há perspectivas otimistas que entusiasmam a cadeia do plástico brasileira. O presidente do Simplás, Jaime Lorandi, prevê que o consumo de produtos plásticos em geral no País deve verificar uma retomada um pouco acima do PIB neste ano.

Braskem busca ampliar fontes de fornecimento

Livre comércio e globalização têm favorecido o segmento de transformação

Livre comércio e globalização têm favorecido o segmento de transformação


/JOS/CNI/DIVULGAÇÃO/JC
O setor petroquímico no Brasil nasceu baseado em cima de uma matéria-prima principal: a nafta. No entanto, nos últimos anos, o gás natural tem se tornado um insumo mais competitivo, fazendo com que a Braskem procure formas para aproveitar também essa alternativa. Desde o final do ano passado, a unidade de químicos da empresa em Camaçari, na Bahia, já roda com carga de etano, oriundo do gás de xisto (shale gas). Para tanto, foram feitas adequações tecnológicas no complexo, no duto de interligação e na adaptação da infraestrutura logística no terminal portuário de Aratu. A companhia investiu cerca de R$ 380 milhões nessa iniciativa.
O gerente de relações institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul, João Ruy Freire, explica que a ideia é dar flexibilidade à planta para operar tanto com nafta como com gás. A unidade baiana, que dependia integralmente do fornecimento de nafta, passou a poder utilizar até 15% de etano. Atualmente, a nafta representa 85% da matéria-prima usada nas centrais petroquímicas da Braskem no Brasil e o gás, 15%. Com o fornecimento de etano para o complexo no polo petroquímico de Camaçari, o gás aumentará sua participação para 20% de toda a matéria-prima utilizada pela Braskem no País.
No caso do Rio Grande do Sul, Freire argumenta que, para ser tomada uma atitude semelhante no polo de Triunfo, é preciso antes resolver a questão da logística do gás. "Se tiver gás com preço competitivo no Estado, a Braskem, com certeza, vai estudar esse assunto", diz o executivo. Atualmente, o Rio Grande do Sul é alimentado apenas pelo gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que se encontra com sua capacidade praticamente esgotada. Entre as possibilidades que são trabalhadas atualmente para aumentar o fornecimento desse combustível na região está a instalação de um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Rio Grande e a gaseificação do carvão gaúcho.
Apesar de admitir as vantagens do gás natural, o gerente de relações institucionais da Braskem frisa que a nafta continua sendo uma matéria-prima importante. Freire lembra que, com o gás, é possível produzir etano, mas não se consegue gerar alguns produtos que são derivados da nafta como o propeno, benzeno e xileno.