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- Publicada em 08 de Janeiro de 2018 às 12:50

Redação do vestibular da Ufrgs aborda pátria e futuro do Brasil

"Achei o tema legal. Não foi nada muito inesperado", reagiu Vitória, que briga por vaga na Medicina

"Achei o tema legal. Não foi nada muito inesperado", reagiu Vitória, que briga por vaga na Medicina


FREDY VIEIRA/JC
Igor Natusch
O tema da tão esperada redação do vestibular 2018 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) foi pátria e futuro do Brasil. O segundo dia de provas, abertas nesse domingo (7), teve ainda as questões de Língua Portuguesa. A redação desfiou os vestibulandos a falarem de identidade nacional e futuro do País.
O tema da tão esperada redação do vestibular 2018 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) foi pátria e futuro do Brasil. O segundo dia de provas, abertas nesse domingo (7), teve ainda as questões de Língua Portuguesa. A redação desfiou os vestibulandos a falarem de identidade nacional e futuro do País.
O texto da jornalista e escritora Martha Medeiros "Pai da Pátria" (reproduzido no final da matéria), publicado em agosto de 2017, serviu de ponto de partida. Martha manifestou a descrença em melhoras na nação e diz que "somos habitantes de uma pátria órfã". Na prova, os estudantes tinham de dissertar de forma favorável ou contrária à opinião da autora, expondo sua visão sobre o momento vivido pelo Brasil.
"Achei o tema legal. Não foi nada muito inesperado, levando em conta o que estamos passando hoje em dia", declarou a estudante Vitória Antunes Overbeck, 17 anos, que está prestando vestibular para Medicina. 
A Ufrgs divulgou que a abstenção do primeiro dia da disputa ficou em 16,64%. Dos 32.438 candidatos inscritos, 27.041 compareceram aos locais de prova. A média da prova de Física ficou em 9,4418 acertos, e a de Literatura de Língua Portuguesa em 12,3056 acertos. 
Nesta terça-feira (9), será a vez das questões de Biologia, Química e Geografia. Na quarta-feira (10), último dia do concurso, serão aplicadas as provas de História e Matemática. O vestibular da Ufrgs começa às 8h30min.

Confira o texto usado na redação:

Pai da Pátria (de Martha Medeiros)
O termo vem do latim pater patriae e simboliza o papel de determinada personalidade na formação da unidade nacional e de sua independência. O nosso Pai da Pátria não é um, mas dois: Dom Pedro I e José Bonifácio. Cada nação tem o seu, que serve de modelo de heroísmo e dignidade.
O Pai da Pátria está acima de nós, como numa família tradicional. Não em valor, que valorosos somos todos, mas em representatividade. O Pai da Pátria poderia, inclusive, ser o epíteto de todo chefe do executivo, não fosse, especialmente no nosso caso, uma piada. Há pesquisas sérias sobre a importância de se ter um pai reconhecido em certidão. O Brasil, de forma simbólica, tem os dois já citados, mas, na prática, é como se fôssemos filhos de um pai fantasma, que não nos deu o senso de inclusão familiar, de responsabilidade e de orgulho, deixando-nos à deriva.
Quem me dera ser crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha, mas que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o tempo passou e me cobrou alguma lucidez e coragem para encarar a realidade. Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz de conta, acreditar em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados, pois desde que essa história começou (1500), foi um tropeço atrás de outro, um país descoberto por engano, por causa de uns ventos inesperados que conduziram as caravelas para outro destino que não a Índia e foram parar aqui sem querer, e quem dá importância ao que foi sem querer? Descuidos não são levados a sério, nunca fomos e jamais seremos a primeira opção nem pra nós mesmos. O Brasil é um acidente de percurso do qual se tenta tirar alguma vantagem para que o engano de rota não resulte em total perda de tempo.
Se você discorda, se ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me declaro invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio porque tem parentes no convés, apenas por isso.
Sorte a minha, e provavelmente a sua, de que colecionamos algumas vitórias particulares: amigos fiéis, o gosto pela música, amar e ser amado, gozar de boa saúde, poder ir ao cinema de vez em quando, não ter vergonha do passado e acreditar-se merecedor de um banho de sol, de um banho de mar, de um banho de chuva, essas trivialidades naturais que mantêm o corpo e a alma azeitados. A vida vale a pena em sua simplicidade, aquela que ainda comove, pois rara.
Mas não nos gabemos, pois ainda que nossa família nuclear e nossa trajetória pessoal não nos envergonhem, somos todos habitantes de uma pátria órfã.
Publicado em 13/8/2017, caderno Donna, de Zero Hora
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