Ciro Gomes foi filiado de primeira hora do PSDB - em 1990, dois anos depois da fundação do partido, ele se elegeu governador do Ceará pela legenda. Nesta segunda-feira, após uma palestra em São Paulo, o hoje pré-candidato à presidência pelo PDT criticou o partido, rival em potencial nas eleições de 2018.
"O PSDB já não é mais um partido sério desde o (governo) Fernando Henrique Cardoso (FHC)", comentou, após participar de um debate na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Ele respondia a uma pergunta a respeito da crise interna do PSDB, que se divide em relação ao apoio a Michel Temer.
Na semana passada, as tensões no tucanato se acirraram quando Aécio Neves afastou Tasso Jereissati - antigo aliado de Ciro no Ceará - da presidência interina da legenda e nomeou o paulista Alberto Goldman.
"Isso aí é só um desdobramento da corrupção que o Fernando Henrique impôs à estrutura do PSDB", afirmou o pedetista, em crítica à aliança do ex-presidente tucano com lideranças do PMDB em seu governo (1995-2002).
"Renan Calheiros foi ministro da Justiça do Brasil, minha filha. Ninguém se lembra disso - eu não esqueço. Foi comandante em chefe da Polícia Federal. O Eliseu Quadrilha (em alusão a Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil) era ministro dos Transportes."
Segundo o pedetista, "quem não quer ver isso é o Jereissati, que e vota pela absolvição do Aécio num dia e, no dia seguinte, pede a renúncia. Estão pensando que estão enganando a quem?".
Trabalhando na costura de apoios para sua candidatura, Ciro tem repetido que se negará a tratar de alianças políticas com o PMDB: "É necessário, inadiável".
O pedetista contou que busca alianças em um "arco de esquerda democrática", com a participação de políticos de centro.
"Neste momento, nem eu nem ninguém tem a capacidade de responder a essa pergunta (quem serão seus aliados)."
Ele comparou a pré-corrida presidencial a um treino de Fórmula 1, em que "cada carro está fazendo seu trecho sozinho, para conhecer o circuito" e, assim, conseguir "obter um bom lugar no grid de largada".
No entanto, o ex-governador do Ceará conta que tem conversado formalmente com PSB, PCdoB e PT - em 2018, poderá dividir palanques com Lula em ao menos três estados (Piauí, Ceará e Bahia).
Ciro falou a estudantes e professores da FAAP acompanhado pelo filósofo Luiz Felipe Pondé, professor da instituição e colunista da Folha de S.Paulo, e pelo fotógrafo J.R. Duran, que lançava na ocasião a 10º edição de sua "Revista Nacional".
Pondé, durante a palestra, afirmou que enxerga no Brasil uma polarização eleitoral entre o populismo de esquerda, representado pelo ex-presidente Lula, e o populismo de direita, simbolizado pelo Jair Bolsonaro. "Eu não sou de centro. Essa percepção paulista de que haveria um lugar que adjetivamente se chama de centro para proteger a gente de um populismo de esquerda, que é o Lula - se o Lula for de esquerda, eu sou um perigoso comunista", disse Ciro.