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Vinhos e Espumantes

- Publicada em 13 de Novembro de 2017 às 16:57

Em busca da essência do vinho brasileiro

Abarzúa, que atua na Vinícola Geisse, é o primeiro estrangeiro a receber o título de Enólogo do Ano

Abarzúa, que atua na Vinícola Geisse, é o primeiro estrangeiro a receber o título de Enólogo do Ano


/JEFERSON SOLDI/DIVULGAÇÃO/JC
A verdadeira identidade do vinho brasileiro. É isso que o Enólogo do Ano de 2017, Carlos Abarzúa, sonha ver no futuro do setor. Porém, antes que seus desejos se concretizem, sabe que tem um longo e árduo caminho a percorrer, ao lado dos demais produtores de vinho no País. E é isso que pretende fazer durante este ano em que estará de posse do título: trabalhar para que o caráter e a qualidade do vinho nacional sejam cada vez mais reconhecidos.
A verdadeira identidade do vinho brasileiro. É isso que o Enólogo do Ano de 2017, Carlos Abarzúa, sonha ver no futuro do setor. Porém, antes que seus desejos se concretizem, sabe que tem um longo e árduo caminho a percorrer, ao lado dos demais produtores de vinho no País. E é isso que pretende fazer durante este ano em que estará de posse do título: trabalhar para que o caráter e a qualidade do vinho nacional sejam cada vez mais reconhecidos.
Carlos Abarzúa, enólogo da Vinícola Geisse há mais de 30 anos, é o primeiro estrangeiro a receber o título. Sobrinho do fundador, Mario Geisse, nasceu no Chile como o tio e veio para o Brasil na década de 1980, fazer com ele um estágio depois de se graduar no Instituto de Formação Técnica da Universidade Tecnológica do Chile (Inacap). À frente de uma das mais reconhecidas e premiadas vinícolas do País, especializada exclusivamente em espumantes, Abarzúa aprendeu com o tio e mentor a importância de conhecer e valorizar as características do terroir. É assim, estudando minuciosamente cada detalhe sobre o clima, o solo e a capacidade produtiva das terras da vinícola, em Pinto Bandeira, que o enólogo extrai do vinhedo a matéria-prima de excelência que é a base para os produtos da Geisse.
Abarzúa é o 14º enólogo a receber a distinção, concedida pelos colegas de profissão que integram o quadro da Associação Brasileira de Enologia (ABE). O anúncio foi feito no dia 27 de outubro, em Bento Gonçalves. Degustador em concursos ao redor do mundo, também possui cursos de especialização em vinificação de espumantes em países como Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos, França e Portugal. Também tem forte atuação junto ao setor vitivinícola, tendo sido, inclusive, presidente da ABE por dois anos. Surpreso com a escolha, Abarzúa mal teve tempo de comemorar entre uma viagem de trabalho e outra. Em um dos intervalos, enquanto aguardava um voo para participar de um evento sobre vinhos na Europa, Carlos Abarzúa conversou com a reportagem do Jornal do Comércio. Confira os principais trechos desse bate-papo.
O prêmio foi uma surpresa?
Sim, foi, eu não esperava. Afinal, sou o primeiro estrangeiro a receber esse prêmio. Mas acho que isso se deve ao longo trabalho que venho fazendo não só como enólogo, mas como atuante na cadeia produtiva do vinho como um todo. Já fui presidente da ABE, vice-presidente da União Brasileira de Vitivinicultura, faço parte do conselho do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho). Além disso, trabalho em uma das empresas mais reconhecidas do Brasil na elaboração de espumantes.
Você fez parte da descoberta e da transformação de Pinto Bandeira no grande terroir para espumantes do Brasil. Como foi isso?
Eu cheguei em 1984 para fazer um estágio com o Mário Geisse, que na época era diretor da Chandon. Eu, como sobrinho dele, pedi para vir para aprender, pois tinha acabado de me formar. Quando comecei esse estágio na Chandon, o Mário já havia comprado os terrenos da Geisse, mas não havia plantado nada ainda, era tudo muito inicial. Fomos percebendo, então, que a região tem características muito especiais, como altitude e o tipo de solo, que é muito drenado, que são ideais para a produção de uvas de altíssima qualidade para espumantes.
Uma das bandeiras que você mais tem defendido ao longo dos anos é o estabelecimento das Denominações de Origem (DO) para os vinhos brasileiros. Qual a importância disso?
É um grande passo para o reconhecimento e para a qualidade do vinho brasileiro. Acredito que, ainda em 2018, teremos, em Pinto Bandeira, a Denominação de Origem exclusiva para espumantes, que será a primeira desse tipo no mundo. Estamos fazendo um trabalho muito minucioso, junto da Embrapa Uva e Vinho, para conquistar esse título. No Brasil, estamos começando a engatinhar na produção de vinhos, se formos comparados aos países como França, Itália, Espanha. Mas já temos coisas muito boas acontecendo, produtos com qualidade excepcional. Com a Denominação de Origem, seremos reconhecidos como uma das melhores regiões do mundo para a produção de espumantes.
Como vai funcionar a Denominação de Origem?
Dentro desta nova DO, teremos normas para a produção, assim como já existe na DO do Vale dos Vinhedos. Estamos trabalhando há anos na elaboração destas normas, para que elas sejam abrangentes e eficazes. O objetivo final disso é que todos os produtos fabricados aqui sejam de excelente qualidade. Cada empresa com sua personalidade, mas sempre com qualidade certificada, todas obedecendo a normas que vão desde o plantio até a vinificação.
Qual o maior desafio do setor vitivinícola hoje?
Acredito que nosso maior desafio hoje é reduzir, cada vez mais, o uso de agentes externos na produção de vinhos, por exemplo, os agrotóxicos nos vinhedos. A premissa para um vinho bom é ter uma excelente matéria-prima. Então a equação que teremos que resolver é garantir a qualidade da uva com a menor interferência possível. Estamos sempre pensando em fazer produtos mais sustentáveis e naturais, dentro do limite que a natureza e o vinhedo nos impõem. E estamos no caminho para ampliar esses limites. Existem exemplos bons disso em Pinto Bandeira, com vinícolas que apostaram no cultivo biodinâmico.
O vinho sustentável é o futuro?
Isso é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo todo. Na Geisse, há oito anos, trabalhamos com menos agrotóxicos do que a média das vinícolas, e temos buscado a redução constante da aplicação de defensivos. Temos tido conquistas importantes, mas é preciso dizer que estes métodos de cultivo orgânico ou biodinâmico não são fáceis, especialmente na serra gaúcha. Mas já têm vinícolas conquistando resultados importantes.
O vinho brasileiro já construiu a sua identidade própria?
Acho que já estamos chegando a isso, mais rapidamente do que esperávamos. Não podemos esquecer que outras regiões do mundo, que já têm a sua característica estabelecida, estão 400, 500 anos na nossa frente. Mas já estamos começando a desenhar, dentro da vitivinicultura brasileira, algumas regiões com vocações especiais. Eu, por exemplo, acho que a serra gaúcha vai acabar se dedicando aos espumantes e aos sucos de uva de altíssima qualidade. E alguns tintos, claro, que se adaptam à região. Com a diversidade de um país tão grande como o Brasil, podemos ter vinhos com variadas personalidades, expressando a vocação de cada região. Ao mesmo tempo, ainda vemos, em alguns casos, especialmente nos tintos, o Brasil tentando seguir o estilo de outros países, europeus ou do Novo Mundo. No futuro, vamos abandonar essas tendências para descobrir a verdadeira identidade dos nossos vinhos.
Como você pretende atuar nos próximos 12 meses como Enólogo do Ano?
O compromisso é bastante grande. Tenho muito trabalho na Geisse, claro, com os nossos projetos, mas também temos as demandas coletivas do setor, pelas quais vou continuar trabalhando. E claro que vou passar este ano muito feliz e honrado com a generosidade dos colegas.
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