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Feira do livro

- Publicada em 19 de Novembro de 2017 às 23:23

Feira do Livro de Porto Alegre comemora ampliação de debates

Livreiros e a patrona da feira, Valeska de Assis, fizeram o cortejo final e distribuíram rosas

Livreiros e a patrona da feira, Valeska de Assis, fizeram o cortejo final e distribuíram rosas


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Encerrada na noite deste domingo (19), a 63ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre teve como protagonista a leitura e o conhecimento que ela produz - e talvez não tenha tido tantos holofotes no objeto livro. A organização do evento apontou como acertos deste ano a pluralidade de temas da programação (contemplando diversos públicos), a maior interação com a tecnologia (iniciativas como o Game da Feira, o Espaço do Conhecimento Petrobras e o Tour Virtual em 360º), o formato enxuto concentrado na Praça da Alfândega (sem divisão entre as áreas) e a homenagem aos países nórdicos.
Encerrada na noite deste domingo (19), a 63ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre teve como protagonista a leitura e o conhecimento que ela produz - e talvez não tenha tido tantos holofotes no objeto livro. A organização do evento apontou como acertos deste ano a pluralidade de temas da programação (contemplando diversos públicos), a maior interação com a tecnologia (iniciativas como o Game da Feira, o Espaço do Conhecimento Petrobras e o Tour Virtual em 360º), o formato enxuto concentrado na Praça da Alfândega (sem divisão entre as áreas) e a homenagem aos países nórdicos.
No entanto, em função do contexto econômico, há cerca de cinco anos são registradas quedas nas vendas de títulos nos estandes. “Esse histórico é grave”, comentou o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Marco Cena, em seu último ano de gestão. Ele afirmou que há de ser pensada uma nova forma de os livreiros se relacionarem com seus produtos.
Mesmo assim, o decréscimo de 14% na comercialização de exemplares em relação a 2016 é um resultado positivo, na opinião do editor, em função de fatores como crise, parcelamento de salários, desemprego, insegurança e alterações do clima. A contagem de pessoas que circularam pela Praça – 1,4 milhão de frequentadores – se igualou à do ano passado, para quantidade semelhante de dias de atrações.
Cena ainda destacou uma ampliação étnica, com o aumento do protagonismo negro e jovem durante as atividades. A participação de Conceição Evaristo foi um dos pontos altos da grade, segundo ele. E Sônia Zanchetta, coordenadora da Área Infantil e Juvenil, confirmou que “há muitos jovens lendo e recomendando leituras”. Já a coordenadora da programação geral, Jussara Haubert Rodrigues, disse: “Foi uma Feira acessível em todos os sentidos, com debates respeitosos e argumentos no nível da palavra”.

Personagens históricos da Feira

As barracas e ambientes de autógrafos celebram o encontro de autores e leitores

As barracas e ambientes de autógrafos celebram o encontro de autores e leitores


MARCELO G. RIBEIRO/JC
No balcão da banca dos títulos para autógrafos, Luiz Osvaldo Leite, ícone intelectual destes pagos, apoiado em sua bengala, separou os exemplares de Armindo Trevisan, o poeta harmonioso (Pradense), de Eduardo Jablonski, e Introdução à Filosofia a partir de pensadores que marcaram a História (Independente), de Judinei Vanzeto.
Professor de 85 anos, Leite participa do evento desde a primeira edição, frequentando todos os dias. A cada ano, ele adquire em média 150 livros por Feira. “Sou um leitor contumaz, devorador de livros, até poderia dizer um maníaco de livros. Eu tenho uma biblioteca pessoal de quase 30 mil títulos.”
Ele conta que, no primeiro dia, pega o guia e marca as obras que lhe interessam, os autores que conhece. “Vou percorrendo a via sacra durante toda a Feira, estou sempre por aqui e não preciso de convite.” O professor avalia que há excelentes atividades na programação paralela, as quais assiste, mas dá preferência aos autógrafos: “Acho riquíssima, mas às vezes é impossível, pois é no mesmo horário”.
Sobre o ano de 2017, Leite opina: “Eu acho que está menor no espaço físico, na distribuição, no número de bancas. Tem um lado bom que é mais fácil de transitar, e o lado negativo: há um certo temor por parte de algumas pessoas que tenho falado, no sentido de uma diminuição, de uma quase decadência da Feira”.
O professor não concorda exatamente com essa impressão, mas admite que o evento tem fortes concorrentes, em função das novas tecnologias: “O leitor pode encomendar pela internet e tem o livro entregue em casa. Ele não precisa vir à Praça, enfrentar sol, poeira... E a Feira também não dá mais descontos como antigamente. E, neste sentido, ela sofre”.
Outro “habitué” do evento é o ex-governador Olívio Dutra. Ele participou no domingo de um dos momentos mais esperados desta edição: a conferência do escritor nigeriano Wole Soyinka, Nobel de Literatura de 1986, que conforme ele, foi muito concorrida.
Sobre a programação da Feira, enalteceu a “evidente questão das minorias: os índios, os negros, os quilombolas, as heranças culturais, a integração, a miscigenação, e as condições difíceis que temos de uma democracia que não seja apenas da palavra, ou da letra da lei, mas que seja uma democracia vivida, sentida pelas pessoas”. Para o político, o evento contribui neste papel democrático para desconcentrar o conhecimento ou o saber:
“Num lugar como este, esses temas são debatidos, trazidos à tona, e há uma imantação para o debate político ser qualificado”. Olívio disse ter uma referência positiva desta edição, mesmo com a crise, com a renda das pessoas reduzida. “O livro é mais do que uma mercadoria”, afirma, acrescentando que o evento mantém seu caráter irradiador, agregador, emulador, promotor da leitura: “A Feira é sempre um momento provocador, porque instiga as pessoas a ler.
Primeiramente, mostra o livro, aproxima do livro. O livro é um trabalho coletivo de muita gente, não só do escritor”. Na sua opinião, a função de um evento como este é colocar as obras próximas das crianças, da juventude, das pessoas de mais idade:
“Deixá-los, no mínimo, curiosos, e nisso a Feira tem exercido este papel e muito bem, mesmo agora. Percebo, vindo aqui frequentemente, que há um público sempre interessado - ele se mantém e se renova, o que é importante, diante de todas as novas tecnologias, como ler nos dispositivos móveis. Mas, não, as pessoas estão aqui para pegar, para sentir o livro, para folheá-lo, e certamente para tê-lo em casa ou na escola, ao seu alcance”.

Experiências dos livreiros nas bancas

Livreiros pedem mudanças que a feira não caminhe para o fim

Livreiros pedem mudanças que a feira não caminhe para o fim


MARCELO G. RIBEIRO/JC
O relato dos livreiros em relação à esta edição foi divergente. Mauro Scheuer, da banca da Ladeira Livros, relatou que 2017 foi, para ele, um “divisor de águas” e confirmou o discurso apresentado na coletiva de imprensa do encerramento da Feira do Livro: “É preciso pensar na estrutura... Tem que fazer mudanças, se a Feira continuar nesse ritmo, ela caminha para o fim”.
O balanço das vendas do estande foi negativo: “Não fiz os cálculos, mas por experiência sei que caiu drasticamente, em relação a outras edições. Mas neste ano foi mais abrupta. É uma hora de mudança para este modelo. Não existe resistência cultural em uma relação comercial”.
Já o editor da Dublinense, Rodrigo Rosp, estava satisfeito no início da noite do domingo (19). Comercializando ainda o Terceiro Selo e títulos da Não Editora, o faturamento da editora foi ótimo, segundo ele, com as metas atingidas.
Rosp estimou que vendeu somente 2% abaixo de 2016, contando que as pessoas procuravam títulos de preços mais baixos, em função do parcelamento dos salários (funcionários públicos, professores etc). Outro fator apontado como influenciador negativo para este ano foi o número maior de períodos de chuva, quando se comercializa somente 25% a 30% de um dia normal.
A Dublinense editou títulos do escritor português José Luís Peixoto, que foi uma das grandes atrações do último dia da Feira do Livro de Porto Alegre. Ele tinha uma atividade às 15h30min e, uma hora, depois, acumulou uma grande fila de leitores em busca de seu autógrafo no lançamento A criança em ruínas. “O encontro foi sensacional. Uma coisa influencia a outra, com certeza, andam juntas. As vendas dos títulos do Peixoto foram excelentes. A banca impulsiona o evento e o evento impulsiona a banca.”

Números do evento

Com um enfoque aprofundado na diversidade étnica e de orientação sexual, a programação para público adulto teve 331 eventos com 665 participantes (escritores, palestrantes, convidados e mediadores) contemplando 19.168 pessoas – no ano passado, este montante ficou pouco acima de 17 mil. Foram realizadas ainda 739 sessões de autógrafos e 25 oficinas, para um público de 457 pessoas.
Na área infantil e juvenil, participaram dos encontros com autores, na Feira, 331 turmas de escolas de 23 municípios gaúchos e dois de Santa Catarina, com um total de 9.015 alunos, sem contar o público espontâneo. Entretanto, muitos professores deixaram de agendar suas turmas em função das greves da Rede Estadual de Ensino e da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre.
Contribuiu, ainda, para a queda de 22% registrada na participação de alunos (foram 11.589 em 2016) o fato de a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre ter diminuído a verba repassada às escolas municipais, para custear a visitação escolar à Feira.
Foram realizadas 631 atividades para público infantil e juvenil, incluindo 62 encontros com autores; 185 sessões de contação de histórias; 32 sessões de autógrafos e apresentações artísticas de escolas; 54 mesas-redondas, saraus, oficinas e atividades promovidas por editoras e entidades parceiras, e muitas outras.