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Cultura

- Publicada em 20 de Novembro de 2017 às 00:46

Sopapo Poético reúne a voz da herança africana

Sopapo Poético celebra a cultura negra em saraus

Sopapo Poético celebra a cultura negra em saraus


MARIANA CARLESSO/JC
Luiza Fritzen
Há cinco anos, o Sopapo Poético, sarau que reúne a comunidade negra em encontros artísticos, promove a literatura e a música afro-brasileira. Após uma edição na Feira do Livro semana passada e participação na Marcha do Orgulho Crespo (em 15 de novembro), o sarau prepara mais uma edição: integra a programação da Semana de Consciência Negra do Sintrajufe (Marcílio Dias, 660) e acontece junto a um show com a Banda Afroentes, na sexta-feira, a partir das 20h.
Há cinco anos, o Sopapo Poético, sarau que reúne a comunidade negra em encontros artísticos, promove a literatura e a música afro-brasileira. Após uma edição na Feira do Livro semana passada e participação na Marcha do Orgulho Crespo (em 15 de novembro), o sarau prepara mais uma edição: integra a programação da Semana de Consciência Negra do Sintrajufe (Marcílio Dias, 660) e acontece junto a um show com a Banda Afroentes, na sexta-feira, a partir das 20h.
A história do evento começou em março de 2012, resgatando uma tradição de saraus que já existia em Porto Alegre. Após a morte do poeta Oliveira Silveira, o grupo de amigos que deu origem ao sopapo começou a se reunir na casa do escritor para organizar o acervo de materiais que o professor tinha.
Seguindo o fluxo de saraus que se desenvolviam no Brasil, o músico Vladimir Rodrigues, um dos fundadores do evento, conta que o coletivo sentiu a necessidade de criar um espaço para reunir e compartilhar a cultura negra. "A gente viu que Porto Alegre se ressentia de um espaço em que os negros e negras das artes, os artistas, se reunissem para tocar música, para falar poesia, para ter intervenções", diz. E assim, com encontros mensais todas as terças-feiras, teve início na Associação das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul (AECPARS) o Sopapo Poético.
O primeiro convidado foi o músico, compositor e ativista Giba Giba, falecido em 2014. E é inspirado no trabalho do instrumentista que o nome Sopapo Poético surgiu. Com mais de um metro de altura, o sopapo é um tambor feito de couro animal, esculpido em tronco de árvore e marcado por ter um tom grave. O instrumento teve origem na região Sul do Estado, em Pelotas, e, ao mesmo tempo em que busca um elo com as origens africanas, simboliza a identidade negra no Rio Grande do Sul. Foi graças a Giba Giba que o instrumento chegou à Capital gaúcha.
Rodrigues ressalta a importância de reconhecer o protagonismo negro, as lideranças e os nomes da cultura negra. Afinal, "todo mundo conhece os resultados da cultura como a música, a dança, só que a autoria negra também é importante". Isso porque, para ele, durante muito tempo, a comunidade negra teve porta vozes como Vinicius de Moraes, ou seja, autor branco que colocava e situava o negro através de seus olhares.
E como a representatividade é essencial para desenvolver a autoestima e a identidade, a leitura de textos e poemas escritos por negros feita por negros busca fortalecer "o sentimento através das artes, sobretudo da poesia, dando valor ao que é feito pelas pessoas negras", avisa Rodrigues. Uma das missões do sarau é, justamente, aproximar os negros dos negros. Porque, como explica o músico, "só a pessoa negra que desenvolve suas vivências nas várias situações consegue colocar no papel e prestar aquele entendimento (sobre as obras)."
O sopapo é também uma questão de empoderamento a partir do conhecimento da própria cultura, das origens e valores. Sempre com um convidado e uma temática diferente, a roda de leituras e poesias é aberta a todos que quiserem trazer suas leituras ou próprias escritas, desde que a fala tenha como protagonista o negro e sua cultura. Apesar de falarem sobre autores internacionais e do restante do Brasil, a prioridade é fortalecer a autoria local.
Com um público diverso, o sopapo é um espaço para que as gerações troquem experiências. Como conta Rodrigues, a presença da juventude traz outras percepções que dão ânimo ao projeto e problematizam questões como o genocídio dos jovens negros. Dados do Atlas da Violência de 2017 revelam que, de cada 100 homicídios no Brasil, 71 são de negros, e que o risco de um jovem negro ser vítima de homicídio é  2,6 vezes maior do que um jovem branco.
Entre os temas mais abordados, estão religião, ancestralidade, amor negro, autoestima e imagem, amor próprio e aceitação, valorização da beleza negra e os estigmas e preconceitos. Além do sarau, o grupo realiza a Feira Afro, que busca fortalecer o empreendedorismo negro, e o Sopapinho, atividade voltada às crianças, muitas delas filhas dos pais que participam do sarau.
Em 2016, a Associação das Entidades Carnavalescas, local que abriga o Sopapo, passou a se chamar Centro de Referência do Povo Negro Nilo Feijó (Ipiranga, 311). A mudança do nome presta uma homenagem ao carnavalesco conhecido por sua atuação em prol do povo negro e falecido em janeiro do ano passado. A iniciativa resultou de uma parceria entre a AECPARS, movimentos sociais e a prefeitura de Porto Alegre a partir de reivindicações feitas pelo movimento negro desde a década de 1980.
Apesar de o espaço ser cedido pela prefeitura, Rodrigues conta que manter o sarau é um ato de resistência. Quem faz a manutenção, limpeza e captação de recursos para o espaço é o próprio coletivo, que alega que o poder público não tem dotado o centro de equipamentos necessários para o funcionamento e ampliação das atividades do local. O que só reforça a importância de divulgar e dar espaço a iniciativas que visam empoderar a população negra e fortalecer esses centros de acolhimento e representatividade.
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