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- Publicada em 28 de Novembro de 2017 às 18:19

Diálogo e ética da conversação

Detalhe da capa do livro

Detalhe da capa do livro


REPRODUÇÃO/JC
Filosofia da afirmação e da negação (É Realizações, 320 páginas, R$ 49,90), do escritor e pensador Mário Ferreira dos Santos (1907-1968), em síntese, abordando temas como o ceticismo, o relativismo, a verdade, a coragem, Deus, matéria, criação, Platão, Kant e Pitágoras, apresenta um panorama completo da obra do filósofo nascido em Tietê, estado de São Paulo, e que passou a infância e a adolescência na gaúcha Pelotas.
Filosofia da afirmação e da negação (É Realizações, 320 páginas, R$ 49,90), do escritor e pensador Mário Ferreira dos Santos (1907-1968), em síntese, abordando temas como o ceticismo, o relativismo, a verdade, a coragem, Deus, matéria, criação, Platão, Kant e Pitágoras, apresenta um panorama completo da obra do filósofo nascido em Tietê, estado de São Paulo, e que passou a infância e a adolescência na gaúcha Pelotas.
Licenciou-se em Direito e Ciências Sociais pela Ufrgs, mudou-se para São Paulo, onde fundou duas editoras. Publicou a conhecida Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais, com 45 volumes e vários outros livros, como Filosofia Concreta e Métodos lógicos e dialéticos.
Filosofia da afirmação e da negação apresenta, em forma de diálogos fictícios, uma ética da conversação, que faz muita falta em nossos dias belicosos. Escreve o autor: "Creio no diálogo, quando bem conduzido, e sob regras rigorosas. O homem de hoje não sabe mais conversar. Ele disputa apenas. É um combate em que os golpes mais diversos e inesperados surgem. Mas num diálogo, conduzido em ordem, tal não acontece. Deixa de ser um combate para ser uma comparação de ideias. Um sentido culto domina aí. Não é mais o bárbaro lutador, mas o homem culto que se enfrenta com outro, amantes ambos da verdade, em busca de algo que permita compreender melhor as coisas do mundo e de si mesmo".
Os diálogos da obra acreditam que o brasileiro tem ótimas condições para uma filosofia plural e ecumênica, e por isso o autor nos transporta os personagens dos diálogos para linguagens e cenários propriamente brasileiros, para tratar de problemas universais.
Com sua grande capacidade analítica, o autor apresenta "homens da tarde, da noite e da madrugada", dialogando de forma clara e positiva sobre temas antigos e novos, que serviram para o projeto de Santos, que era o de criar um público brasileiro para o estudo da filosofia. "Temos que sair à rua, como outrora o fez Sócrates, para denunciar os falsos sábios", escreve o autor.
Pena que Santos não esteja mais entre nós, para estimular o sentido mais profundo do verdadeiro diálogo, que anda escasso nesses tempos de monólogos, vaidades e egos gigantes.

lançamentos

  • A saúde dos ventos - Parte 2 (BesouroBox, 296 páginas) do professor, médico e escritor Waldomiro Manfroi, apresenta a sequência do diário do fictício prof. Humberto Leivas. Passagens da história rio-grandense, os elos relacionados à convivência possível entre medicina, positivismo, farmácia e odontologia no RS, os estudantes de Medicina e a gripe espanhola, e o apoteótico funeral do professor Sarmento Leite estão na narrativa bem elaborada e fluente.
  • Arquitecrônicas (Libretos, 182 páginas), do arquiteto, professor universitário, cronista e compositor Cesar Dorfman, com apresentação do jornalista e escritor Rafael Guimaraens, apresenta crônicas e histórias com personagens e situações singulares. Dorfman não perde a piada nem o amigo, fala das vicissitudes da profissão de arquiteto e dos desejos e sonhos das pessoas, que são a matéria-prima da arquitetura.
  • René Thiollier - Obra e vida do grão-senhor da Villa Fortunata e da Academia Paulista de Letras (Ateliê Editorial, 272 páginas), do professor Valter Cesar Pinheiro, da Universidade Federal de Sergipe, fala do homem que, junto com Mario de Andrade e Oswald de Andrade, compôs a trinca seletíssima que promoveu a Semana de Arte Moderna de 1922 e a Viagem a Minas em 1924. Thiollier foi cronista, jornalista e escritor, e este livro trata com profundidade de sua obra literária.

Velhice, envelhescência

Segundo a Organização Mundial da Saúde, idoso é quem tem 60 anos ou mais. Na real, todo mundo acha que só os outros é que são velhos e idosos. Ninguém é muito chegado a considerar-se idoso ou velho e pensar que um dia a cortina final se fecha. É bom pensar que velho é quem tem 20 ou 30 anos mais do que a gente. Antigamente, velho era quem tinha 10 anos mais do que nós. Hoje mudou, as pessoas estão vivendo bem mais. Lá por 1974, por exemplo, o brasileiro vivia em média 55 anos. Hoje, vive 70 e poucos. Daqui a pouco, teremos em torno de um terço da população composta de idosos.
Envelhescência é chamado o período que vai de 45 a 65 anos, no qual as pessoas se preparam para a velhice. Se preparam para ter uma nova cara, um novo olhar sobre o envelhecimento e pensar que nunca é tarde para se reinventar. Os novos idosos e aposentados procuram, tanto quanto possível, viver as últimas décadas de vida com alegria, vida, saúde, movimento, produtividade e seguirem fazendo parte ativa da sociedade. Uns até tentam carreira de dançarino com 70 ou 80 anos.
Na civilização oriental, especialmente na China, o idoso é venerado. Lao-Tsé entendia que a velhice era um momento supremo, o alcance espiritual máximo, quando o corpo, em êxtase, se libertaria para o humano se tornar um santo. Confúcio encarava a velhice como um período em que as pessoas merecem paz, cuidado e atenção.
No velho Egito, 2.500 a.C, Ptah-Holep, o filósofo, reclamava que a velhice era pior coisa que poderia acontecer a um homem. Na Grécia, Sócrates falava em preparação para a velhice saudável, através de atividades físicas regulares, boa alimentação, muita água, trabalho feliz e amizades profundas. Já Aristóteles tinha uma visão amarga da velhice, dizendo que os velhos eram reticentes, de mau caráter, maldosos e desconfiados. O médico Hipócrates, por sua vez, pregava higiene física e mental, dieta sóbria e moderação na vida.
Em Roma, Cícero ensinava que, na velhice, os prazeres corporais são substituídos pelos prazeres intelectuais e que vale a pena descobrir o prazer que cada idade proporciona. Sêneca achava que a velhice era boa. Já Deepak Chopra, o médico do Bill Clinton, aproxima medicina oriental e ocidental, aplica princípios de física quântica e nos anima dizendo que não há fim para a dança cósmica, mostrando que a vida segue.
Como se vê, nesses milênios, os doentes, os mal-humorados de nascença, os que estão em dificuldades financeiras e os que não gostam de sorrir acham que a velhice é uma m... ou uma m... pura. Os que conseguem manter a saúde, a alegria de viver, de aprender e descobrir todo dia, acham que a "melhor idade" é um período maravilhoso. "O trabalho é a farra dos velhos", disse o Mario Quintana, que também ensinou: "A gente está velho quando começa a adular ou criticar os jovens". Sabia muito, o Mario, que deve estar lá em cima, em contato com os anjos que apareceram em muitos poemas que escreveu.

a propósito...

É isso. Precisamos falar mais em idosos do que em velhos ou macróbios. Idoso é o velho respeitado. Precisamos de preparação para um país que terá um terço de idosos e, daqui para diante, muitos centenários, como no Japão e nos Estados Unidos, por exemplo. Envelhescência já, com disposição para os aposentados não ficarem só nos aposentos. Lugar de idoso é em todo lugar possível e imaginável. Enquanto os idosos ainda dançam a "dança cósmica" por aqui, vida saudável, ativa e longa para eles. Quando forem bailar a "dança cósmica" em outras dimensões, aí suas boas lembranças permanecerão nos que ainda não entraram noutra.