Imagine você sentada em um ônibus a caminho do trabalho (ou até mesmo para encontrar um amigo). De repente, a pessoa que está ao seu lado espirra no seu rosto. Qual seria a sua reação? Agora pense na mesma cena, mas ao invés de um espirro, imagine uma ejaculada no seu pescoço. Nojo?
Asco? Repulsa? Raiva? Constrangimento? Creio que seriam sentimentos comuns para todo e qualquer cidadão. Há dias, a paulista Cintia Souza passou por essa triste situação. Foi à delegacia e prestou queixa. O delinquente não chegou a ser preso. O juiz (que só julgou a causa rapidamente por pressão da mídia) sentenciou: "... Não houve constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, porque a vítima estava sentada em um banco de ônibus". O caso já estava notório no País por ser um absurdo, mas tomou proporções ainda maiores por causa do julgamento do juiz. A vítima e todos os leitores e telespectadores, que estavam acompanhando o caso, também ficaram perplexos ao saber que a moça não tinha sido a primeira vítima: ela era a 17ª. Infelizmente, não há lei específica para esse tipo de situação.
Porém, o maníaco já poderia estar preso há muito tempo, pois está longe de ser um caso isolado. Se já sabiam que ele tinha transtornos psicológicos, como deixaram ele sem tratamento? Como um indivíduo que faz o que ele faz fica solto? O julgamento é muito difícil, ainda mais para quem não é juiz. Mas também é difícil não se colocar no lugar de todas essas mulheres que passaram por esse constrangimento. Constrangimento, sim. Talvez, se a ejaculada fosse na filha do meritíssimo, a sentença seria outra.
Jornalista e escritora