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Comércio Exterior

- Publicada em 15 de Outubro de 2017 às 22:26

Pequenas empresas brasileiras avançam na conquista do mundo

Após sete anos atuando apenas no mercado interno, Ecotelhado vende agora para cinco países, comemora Feijó

Após sete anos atuando apenas no mercado interno, Ecotelhado vende agora para cinco países, comemora Feijó


/MARCO QUINTANA/JC
O comércio exterior sempre foi um ambiente dominado pelos grandes, porém, nos últimos anos, as empresas de micro e pequeno porte (MPEs) estão ganhando espaço no mercado externo. Em 2014, 11.184 mil micros e pequenas empresas colocaram seus produtos em outros países, representando 59,4% do total.
O comércio exterior sempre foi um ambiente dominado pelos grandes, porém, nos últimos anos, as empresas de micro e pequeno porte (MPEs) estão ganhando espaço no mercado externo. Em 2014, 11.184 mil micros e pequenas empresas colocaram seus produtos em outros países, representando 59,4% do total.
No ano seguinte, 61% das exportadoras foram MPEs, totalizando 12.163. No ano de 2016, esse volume saltou para 12.671 mil, representando 49% do total de empresas com presença no mercado externo, conforme dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Entre as MPEs que romperam fronteiras está a gaúcha Ecotelhado, que, após sete anos atuando apenas no mercado doméstico, se lançou ao exterior em 2012. A primeira parada foi no México e teve o impulso dos sócios João Manuel Feijó e Paulo Renato Machado Guimarães. Especialista em pesquisa e desenvolvimento de produtos com design biofílico - maneira de projetar lugares de forma que as pessoas estejam conectadas à natureza. Entre o portfólio de produtos estão os ecotelhados, estruturas que permitem o desenvolvimento de jardins suspensos nas construções, e as ecoparedes, jardins verticais. "Ainda estamos engatinhando, mas disputamos espaço no mercado externo com grandes empresas da Europa", destaca Feijó.
Agora, a Ecotelhado vende para  México, Peru, Uruguai e Colômbia, este considerado o maior cliente. Quem passa pelo Parque Bicentenário, em Bogotá, se surpreende com o jardim vertical apelidado de "Ponte Verde" pelos colombianos, com cerca de 12 mil plantas da Ecotelhado. Entre construções consolidadas no Brasil e no exterior, já são mais de 500 mil m² de telhados verdes, uma das principais estruturas desenvolvidas pela empresa.
No total das exportações, as empresas gaúchas fecharam o ano de 2015 em segundo lugar no ranking dos embarques, sendo que 14,2% se enquadram como microempresas e 12,6% como pequenas empresas, conforme os dados do Sebrae. Quanto aos produtos negociados, os manufaturados dominam a pauta exportadora das MPEs brasileiras, sendo representados por 84% das exportações das microempresas e 75,2% das vendas das pequenas empresas em 2015.
As MPEs somam 10 milhões de empresas no Brasil e, apesar de terem ampliado o volume de participação no comércio exterior, os resultados financeiros permanecem baixos. Em 2016, empresas brasileiras de todos os portes movimentaram cerca de US$ 185 bilhões com exportação - as MPEs ficaram com apenas 1,1% desse bolo, ou
R$ 2 bilhões. As grandes empresas representam 94,1% desse montante, conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Em média, nos últimos três anos, a participação das MPEs nos embarques foi de 0,6%. Para José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira do Comércio Exterior, a variação no câmbio é diretamente responsável pelo insucesso das micro e pequenas empresas nos lucros.
Em 2014, o valor do dólar comercial girou em torno de R$ 2,65, já em 2015, a moeda fechou o ano em R$ 3,94. Em 2016, a cotação foi ainda maior, cerca de R$ 4,04. "As MPEs não têm preço competitivo, o câmbio varia muito. Se uma empresa de grande porte tem problema, a pequena sofre duas vezes mais", frisa o dirigente. 

Simples internacional veio para desburocratizar

Domingos diz que estruturas burocráticas não beneficiam as MPEs

Domingos diz que estruturas burocráticas não beneficiam as MPEs


/CHARLES DAMASCENO/DIVULGAÇÃO/JC
"A globalização não chegou para os pequenos, as estruturas burocráticas brasileiras não foram feitas para as MPEs." Assim, o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, define o cenário para os micro e pequenos empreendedores. Apesar do aumento da participação das MPEs no comércio exterior nos últimos anos, Domingos é taxativo ao afirmar que a burocracia ainda dificulta a ampliação dos lucros das MPEs. Em parceria com a Procoméx, o Sebrae identificou 122 gargalos que dificultam a exportação: 90% são aduaneiros, ou seja, estão ligados aos trâmites de mercadoria na exportação.
O presidente acredita que o Simples Internacional - que entrou em vigor em dezembro de 2016 - irá refletir positivamente no volume de lucro das MPEs nas exportações. Assim como o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições (Simples Nacional), a versão internacional do regime visa unificar e simplificar a arrecadação de impostos e reduzir a tributação de exportação para micro e pequenas empresas. O regime facilita os processos relacionados à tarifação dos produtos, além de facilitar os processos logísticos para as empresas. 
O regime permite que as empresas nomeiem um operador logístico, que tem a missão de realizar as atividades relativas às operações de exportação, entre elas, habilitação, licenciamento administrativo, despacho aduaneiro, consolidação de cargas, contratação de seguro, câmbio, e transporte e armazenamento de mercadoria. Cabe às empresas apenas produzir. 
 

Entender o mercado externo é indispensável

Manfre dá dicas para o sucesso

Manfre dá dicas para o sucesso


/APEX-BRASIL/DIVULGAÇÃO/JC
Aprender sobre uma legislação diferente, dominar um novo idioma e entender como funciona o mercado de outro país são algumas das tarefas fundamentais para ter sucesso no comércio exterior. A entrada de uma empresa em outro país exige um preparo minucioso. 
Para fazer frente a essa demanda, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) oferece uma série de ferramentas para as companhias que desejam ingressar no exterior. Entre as alternativas está o Programa de Extensão Industrial Exportadora (Peiex), que visa capacitar as empresas para a exportação. Após receberem um diagnóstico do seu poder competitivo e diversos treinamentos relacionados à rotina de exportação de uma empresa, os empresários são expostos à primeira ação de exportação. Ou seja, os empresários têm contato direto com a atividade exportadora por meio de missões e rodadas de negócios.
Estudar o mercado antes de se inserir nele é o ponto de partida para as micro e pequenas empresas, é o que afirma Maurício Manfre, gerente da diretoria de negócios da Apex-Brasil. "Neste ano, realizamos a missão Peipex Paraguai e Bolívia, onde 42 empresas brasileiras iniciantes ou inexperientes em exportações participaram de rodadas de negócios", frisa Manfre. Nessa oportunidade, foram negociados mais de US$ 45 milhões nos dois países. O programa tem o objetivo de inserir, até 2018, 7.747 empresas no mercado exterior. O núcleo Peiex do Rio Grande do Sul tem sede nas cidades de Lajeado e Novo Hamburgo.
Especialista em comércio exterior, Alfredo Kleper Lavor percebeu a dificuldade dos pequenos com o comércio exterior. Por esse motivo, criou a empresa Intradebook, que desenvolve soluções para operações de negócios internacionais. Com sede em Florianópolis, a empresa trabalha com metodologias que preparam o micro e pequeno empresário para a exportação. "Três fatores dificultam a exportação para micro e pequenos: o desconhecimento de rotinas e procedimentos, não conhecer o mercado e a logística", afirma o especialista. A empresa auxilia os empresários nessas três etapas. Ao todo, mais de 10 mil empresas estão cadastradas no programa, dessas, 60% são brasileiras e 3 mil realizam vendas externas ativamente.

Plataforma on-line facilita a negociação

Fortalecer MPEs também é beneficiar a América Latina, afirma Piereck

Fortalecer MPEs também é beneficiar a América Latina, afirma Piereck


/BID/DIVULGAÇÃO/JC
Assim como em outros setores, a tecnologia se tornou aliada dos empresários quando o assunto é a negociação de produtos, e para os micros e pequenos empresário brasileiros não foi diferente. A ConnectAmericas - primeira rede social focada em comércio exterior - foi desenvolvida para o micro, pequeno e médio empresário. Usuário para essa rede não falta, já que 99% das empresas da América Latina e do Caribe (ALC) que integram a plataforma se encaixam no perfil MPEs. "Realizamos estudos e constatamos que, ao fortalecer MPEs, fortalecemos também as economias dos países da América Latina", ressalta o especialista em comércio e integração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Guilherme Piereck. Segundos dados do BID, 42% das empresas latino-americanas que exportam remuneram melhor, 55% vendem mais e 54% produzem mais. Um incentivo e tanto para quem ainda está fora desse filão. 
O Sebrae Nacional e o BID uniram forças para facilitar a parceria dos empreendedores com agentes na América Latina e Caribe. O acordo assinado entre as instituições - que são parceiros desde 2009 - tornou o Sebrae administrador da sessão de Comunidades de Negócios que integra a ConnectAmericas. O plano-piloto contempla as relações entre Brasil e Argentina. Neste espaço, micro e pequenos empresários dos dois países podem divulgar produtos e serviços que desejam comprar ou vender.
Por ser uma rede social, é possível comentar as publicações feitas, manifestar interesse ou entrar em contato direto por meio de um sistema de mensagem interno com o empresário que propôs o negócio. "A ferramenta extrapola, pelo meio virtual, fronteiras comerciais que empreendedores de pequeno porte têm dificuldades de transpor", pontua Fernanda Maciel, gerente de Relações Institucionais do Sebrae Nacional. A principal vantagem do uso da comunidade, diz a executiva, são as amplas oportunidades de negócios, principalmente para empresas dos estados que fazem fronteira com outros países da América do Sul, como o Rio Grande do Sul, por exemplo. Estima-se que entre as 3.500 empresas brasileiras cadastradas na ConnectAmericas, 70% sejam micro ou pequenas.

Dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas (MPes)

Financiamento da venda e da produção
No comércio internacional, as modalidades de pagamento e a logística são mais complexas, aumentando o prazo do ciclo de produção, venda e recebimento do pagamento. Isso demanda maior capital de giro da empresa exportadora para manter esse ciclo, e nem sempre as MPE têm o capital necessário disponível. Em alguns casos, o próprio processo de produção é longo, aumentando esse ciclo.
Burocracia e legislação
Conhecer a legislação e a burocracia do mercado-alvo é algo inerente às operações de comércio internacional. A empresa interessada em acessar mercados externos deve ter pessoal próprio capacitado ou contratar assessoria para lhe auxiliar na elaboração e na execução de seu projeto de comércio exterior.
Controle de qualidade
Mais desafiador do que conseguir fabricar um produto de qualidade é manter o mesmo padrão de qualidade em todos os produtos no decorrer do tempo. Importadores costumam queixar-se de receber uma amostra de excelente qualidade, aprovam a amostra, mas, quando recebem as mercadorias solicitadas, verificam que a qualidade não foi mantida. Outro problema comum, o padrão de qualidade se altera à medida que os pedidos se repetem. MPEs precisam implantar programas de qualidade, usar tecnologia adequada e ter processos devidamente normatizados.
Embalagem e transporte
A logística geralmente é mais complexa, e o tempo de viagem, mais longo no comércio internacional do que no mercado doméstico. Em muitos casos, é necessário usar embalagens de transporte mais reforçadas, marcadas de acordo com as necessidades dos clientes e normas do país de destino da mercadoria. Além disso, o mais comum é que a carga seja acomodada em contêineres em quantidades que devem ser estimadas previamente para o correto cálculo de custos e preço de exportação dos produtos, assim como produzidas na quantidade correta. As MPEs devem ter pessoal disponível e capacitado para essa atividade.
Necessidade de escala de produção
Para alguns produtos e clientes, é necessário que o exportador tenha escala de produção para atender às suas necessidades. Portanto, as MPEs devem ter cuidado redobrado para não oferecer seus produtos a clientes que não conseguirão atender.
Distribuição, assistência e pós-venda no país comprador
Ao pensar em exportação, qualquer empreendedor deve pensar na operação completa - compra da matéria-prima, produção, saída do produto de sua fábrica, chegada no consumidor ou usuário final no país de destino - e, ao mesmo tempo, manter ou adequar os serviços que oferece aos seus clientes no Brasil, mesmo que parte desse trabalho seja terceirizado. Para muitos produtos, não basta encontrar um importador-distribuidor, é necessário definir como será prestada a assistência técnica, a reposição de peças, os serviços pós-venda etc. Empresários de MPEs e até de médias e grandes empresas tendem a pensar FOB, ou seja, preocupar-se somente com a operação e seus custos até o embarque da mercadoria no navio, no caminhão ou na aeronave.
Nível de entendimento requerido do mercado
É muito comum as MPEs entregarem seus negócios internacionais a agentes, trading companies ou comerciais exportadoras, muitas vezes, sem saber se esses intermediários estão a serviço dos importadores ou apenas de seus interesses próprios. Embora esses intermediários possam ser excelentes alternativas para MPEs iniciarem seu processo de comércio exterior, é necessário que o trabalho seja conjunto e que o empresário se envolva e tenha interesse em conhecer seus clientes e em entender o mercado de destino de seus produtos e serviços.
Promoção comercial
Devido a seu custo relativamente alto, a promoção comercial no exterior acaba sendo relegada a segundo plano pelas MPEs, ou até esquecida. Em troca de pedidos mais fáceis, muitas MPEs abrem mão de sua própria marca para vender com a marca dos clientes. Essa escolha as tornam mais fáceis de serem substituídas.
Fonte: Sebrae Nacional