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Política

- Publicada em 13 de Setembro de 2017 às 21:50

Intolerância não é uma forma de expressão, diz Sakamoto

Jornalista ministra palestra hoje, na Unisinos, sobre tolerância nas redes

Jornalista ministra palestra hoje, na Unisinos, sobre tolerância nas redes


/PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO/JC
Bruna Suptitz
A liberdade de expressão não pode aniquilar a dignidade do outro, do contrário, se transforma em discurso de ódio. A avaliação é do jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto, que hoje à noite ministra palestra na Unisinos, em São Leopoldo, sobre tolerância na internet. "A intolerância não surge nas redes. O ódio sempre existiu e é organizado de forma mais rápida via internet", avalia.
A liberdade de expressão não pode aniquilar a dignidade do outro, do contrário, se transforma em discurso de ódio. A avaliação é do jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto, que hoje à noite ministra palestra na Unisinos, em São Leopoldo, sobre tolerância na internet. "A intolerância não surge nas redes. O ódio sempre existiu e é organizado de forma mais rápida via internet", avalia.
O recente fechamento da exposição Queermuseu no domingo, resultado de manifestações contrárias ao teor de algumas obras de arte que estavam expostas desde agosto no Santander Cultural, em Porto Alegre, representa "uma sucessão de equívocos". "Contrapõe-se uma voz com outra voz", defende Sakamoto.
Admitindo a dificuldade de se reconhecer e combater o discurso de ódio, a defesa do jornalista é não silenciar. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, ele fala sobre o livro "O que aprendi sendo xingado na internet", em que defende a qualificação do debate público, contrapondo discursos de ódio "apresentando os motivos, e de forma educada".
Jornal do Comércio - Como diferenciar liberdade de expressão e liberdade de opinião?
Leonardo Sakamoto - Quando o discurso visa à aniquilação e à destruição do adversário, da sua dignidade, da sua voz, deixou de simplesmente proferir opinião e passou a proferir ódio. Isso é de uma maneira geral. Cada caso deve ser interpretado à sua luz e no seu contexto. Quando é que termina o meu direito à liberdade de expressão? Não é apenas quando começa o direito do semelhante, mas quando começam outros direitos. Por exemplo, o meu direito à liberdade de expressão não pode aniquilar o direito à moradia, à identidade, à liberdade, à dignidade do semelhante. Nenhum direito é absoluto. Vivemos um momento em que as pessoas confundem o seu direito de expor opiniões com o direito de aniquilar a outra pessoa. O mais interessante de tudo isso é que as pessoas clamam o direito à intolerância, como se fosse uma forma de expressão. Isso é bastante equivocado.
JC - A intolerância saiu das redes e está nas ruas?
Sakamoto - A intolerância não surge nas redes. O ódio sempre existiu, e é organizado de forma mais rápida, simples, encurtando espaços, distâncias e tempos via internet. O Brasil é uma democracia em construção. Desde a redemocratização, a rua "pertenceu" aos anseios da esquerda. O movimento de junho de 2013 é um chamamento à rua para todo mundo. Acontece que vão mais pessoas para a rua, o que aumenta a incidência de debates, que acabam se transformando, muitas vezes, em clivagens.
JC - Tivemos, recentemente, o fechamento de uma exposição artística...
Sakamoto - O caso que aconteceu no Rio Grande do Sul, extremamente preocupante, é uma sucessão de equívocos. As pessoas têm direito a protestar contra uma exposição? Sim. Impedindo outras pessoas de verem a exposição? Não. Entre todas as obras de arte reunidas, não há nenhuma que fomente discurso de ódio e violência. O que se pode, sim, é questionar o gosto, a mensagem, muitas coisas. O lado insatisfeito poderia ter tentado promover uma discussão pública a respeito dessas obras, e não fechar a exposição. Contrapõe-se uma voz com outra voz, e não com o silêncio. A isso, damos o nome de democracia. À negação disso, damos o nome de ditadura. Também houve erro do patrocinador da exposição. Os bancos, como grandes representantes do liberalismo, deveriam agir como liberais não apenas economicamente. Isso prova que vivemos um capitalismo de brincadeira. É uma disruptura total entre ação e discurso do banco, que quer liberdade para o dinheiro, e não para as pessoas.
JC - Como o senhor usa sua experiência em situações de manifestação de ódio?
Sakamoto - Não se ataca ódio com mais ódio. Para muitas pessoas, verdade é tudo aquilo com o que ela concorda e mentira é tudo aquilo com o que ela discorda. Não para para pensar que, às vezes, situações no seu campo de esquerda ou de direita são ações de ódio. Se o debate público fosse mais qualificado, as pessoas se sentiriam motivadas a se informarem melhor. Se, em uma mesa de bar, um amigo faz piada racista, machista, homofóbica e ninguém fala nada, ele se sente empoderado. A mesma coisa acontece nas redes sociais. As pessoas estão coletivamente endossando aquele comportamento. Se fosse criticado, fariam menos isso. Então temos que, coletivamente, na mesa de bar, no escritório ou na amplidão da sociedade, não fazer silêncio. Não é devolver na mesma moeda e de forma violenta, mas exatamente não aceitando, apresentando os motivos, e de forma educada. Não tem importância se o outro não age de forma educada, não se pode agir com violência para questionar a violência, se não a forma acaba suplantando o conteúdo.
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