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Geral

- Publicada em 01 de Outubro de 2017 às 21:35

'Não há mais onde cortar na Ufrgs', dizem reitores da universidade

Há risco de levar 'dívidas significativas' para o ano que vem, afirmam Jane Tutikian e Rui Oppermann

Há risco de levar 'dívidas significativas' para o ano que vem, afirmam Jane Tutikian e Rui Oppermann


/CLAITON DORNELLES /JC
Igor Natusch
A gestão do reitor Rui Oppermann e da vice-reitora Jane Tutikian à frente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) completou um ano em 29 de setembro. Desde o início, a administração se mostrou agitada, com o movimento de ocupações nas instituições. Mas foi o contingenciamento de recursos para as universidades, promovido pelo Ministério da Educação, que criou os maiores problemas no primeiro ano de mandato. No momento, apenas 80% das verbas previstas para 2017 foram liberadas, e é grande o risco de arrastar dívidas significativas para o ano que vem - quando o orçamento já estará congelado em patamares que, segundo a reitoria, são bem distantes do ideal.
A gestão do reitor Rui Oppermann e da vice-reitora Jane Tutikian à frente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) completou um ano em 29 de setembro. Desde o início, a administração se mostrou agitada, com o movimento de ocupações nas instituições. Mas foi o contingenciamento de recursos para as universidades, promovido pelo Ministério da Educação, que criou os maiores problemas no primeiro ano de mandato. No momento, apenas 80% das verbas previstas para 2017 foram liberadas, e é grande o risco de arrastar dívidas significativas para o ano que vem - quando o orçamento já estará congelado em patamares que, segundo a reitoria, são bem distantes do ideal.
Apesar da falta de recursos, a gestão comemora conquistas como a melhora dos índices da pós-graduação junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além de projetar esforços para internacionalizar a Ufrgs, trazendo conhecimento e investimentos de fora. Há também mudanças no ingresso, com a inclusão de cotas para pessoas com deficiência e a criação de uma comissão de verificação das autodeclarações, após denúncias de fraude recebidas pela universidade.
Jornal do Comércio - O primeiro ano de gestão acabou sendo marcado por uma série de dificuldades de custeio. De que forma isso tem afetado a universidade?
Rui Oppermann - Na verdade, desde 2014 ou 2015, vinham ocorrendo reduções. E acho que acabou sendo positivo, porque nós melhoramos a administração da universidade, buscando nos adaptar a uma realidade pós-Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). O Reuni foi uma realidade de expansão, mas isso não ia se manter indefinidamente. Só que agora, em 2017, em nosso primeiro ano, as reduções foram se avolumando, e hoje estamos em uma situação bastante difícil.
JC - Qual a extensão do problema?
Oppermann - Até agora, o Ministério da Educação liberou 80% da nossa verba de custeio. Isso significa que precisamos de recursos não só para saldar os gastos de outubro, novembro e dezembro, mas também o passivo de dívidas que carregamos desde o começo do ano.
Jane Tutikian - A universidade fez um esforço muito grande para se adequar a essa realidade. Nós fizemos cortes onde achamos que poderíamos causar menor prejuízo. Neste momento, eu diria que, se a gente não sabe como será outubro, novembro e dezembro, também não há mais onde cortar. A gordura já foi, e já passamos da carne também. Neste momento, estamos chegando nos ossos.
JC - Se o cenário persistir, quais áreas podem sofrer mais?
Oppermann - Nós temos a expectativa de que o governo libere um maior percentual de custeio. Se não houver essa liberação, nós vamos levar dívidas muito significativas para 2018. No ano que vem, o orçamento que está projetado para a Ufrgs é o mesmo de 2017, então, além da inflação e do aumento de custos decorrentes do próprio andar do ano (2018), herdaremos uma dívida ainda de 2017. A coisa pode ficar bastante problemática.
Jane - Se nós pensarmos que o decreto (que limita recursos da educação) dura por 20 anos... Isso significa que, a cada ano, será pior. É insustentável. Todas as áreas saem prejudicadas.
JC - De que modo esse contingenciamento de recursos afeta a pesquisa?
Oppermann - A questão tem dois lados. O primeiro se refere aos recursos para pesquisa, que são geralmente obtidos por editais dos quais o pesquisador participa. Claro que são muito bem-vindos, mas oneram a universidade em infraestrutura. Na medida em que um pesquisador obtém recursos para adquirir um equipamento sofisticado, ele vai ser colocado em uma sala adaptada, que vai precisar de ar-condicionado, uma fonte de energia... Na medida em que a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) não nos dá chance de obter esses recursos, eles têm que ser orçamentários. E o orçamento foi reduzido! Vamos perder espaços duramente conquistados para nossos pesquisadores, porque não podemos trabalhar com investimentos.
JC - E o quadro funcional? Já foi colocado que pode haver falta de dinheiro para quitar salários dos terceirizados.
Oppermann - Todo o esforço que estamos fazendo para preservar as atividades da universidade, com menos recursos, está sendo apoiado pela comunidade de docentes e técnicos-administrativos. A solidariedade deles é tocante, eles estão entendendo que o que estamos fazendo é para manter a universidade em funcionamento, face a uma contingência orçamentária com a qual nós também não estamos confortáveis. Quanto aos servidores do quadro, estamos especialmente preocupados com os técnicos-administrativos, porque recentemente o ministro do Planejamento fez uma proposta de mudar o número de classes dos servidores de 16 para 30, caindo o vencimento de quem entra no serviço público. Isso vai fazer com que a universidade tenha dificuldades na contratação de pessoal técnico-administrativo qualificado.
JC - Esse quadro pode ter efeitos no ingresso de novos estudantes? Há risco de, por exemplo, a Ufrgs cancelar vestibulares em um futuro próximo?
Jane - A crise econômica afeta o ingresso, mas isso não quer dizer que afete o número de alunos que teremos. Nós tivemos, no ano passado, cerca de 10 mil inscritos a menos no vestibular, o que é um contingente muito grande. Ainda assim, como a Ufrgs é uma grande universidade, a procura continua alta. Acho que não corremos risco de ter só o Enade ou o Sisu como portas de entrada, por isso o vestibular dificilmente vai cair. Só em uma situação muito extrema, mas hoje não há nenhuma perspectiva disso.
Oppermann - Ainda que essa decisão caiba ao conselho universitário, é muito importante frisar isso, porque essa é a nossa visão como gestores, mas o conselho universitário pode propor mudanças. Mas não há, neste momento, indicações objetivas de que isso venha a acontecer.
JC - E o que pode ser feito? Em que aspectos a reitoria planeja atuar para atenuar toda essa situação?
Oppermann - Por meio da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) estamos continuamente em diálogo com o MEC. No Congresso Nacional, temos mantido diálogo com lideranças tanto na Câmara quanto no Senado para que, uma vez em discussão, o orçamento seja preservado ou até melhorado. Então, a resposta é o diálogo, com a compreensão de todos de que as universidades ocupam um espaço extremamente importante, que ninguém mais ocupa dentro da sociedade.
JC - Tudo isso que discutimos é para evitar recuos. O que se pode projetar em termos de avanços, de fazer a universidade ainda maior do que ela já é?
Jane - Começaria citando a implantação da governança na universidade, além de vários projetos de racionalização de recursos. Dentro disso, temos a questão da internacionalização. Mas estamos trabalhando em outros aspectos também, como a criação de uma central do aluno, um espaço onde estarão todas as informações sobre sua vida acadêmica. A política de inovação e empreendedorismo também é extremamente importante para nós. Então a universidade não está parada, ela continua produzindo muito.
Oppermann - A universidade chegou num patamar em que ela está entre as melhores do País, mas é evidente que não podemos nos acomodar. Vamos continuar fazendo mais do mesmo quando o mais do mesmo é bom, porque ele nos dá a base, mas queremos ir além. Nós não estamos querendo nos internacionalizar para nos transformarmos em estrelas, mas para melhorar a formação e a pesquisa no Estado e no País. Nós somos uma universidade do Rio Grande do Sul e, para que possamos melhorar o que fazemos para nossa comunidade, temos que buscar essa projeção internacional.
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