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Memória

- Publicada em 13 de Agosto de 2017 às 18:56

Araújo é homenageado por líderes partidários

Defesa da democracia foi marca mais lembrada em homenagens ao político

Defesa da democracia foi marca mais lembrada em homenagens ao político


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Lideranças de diferentes partidos se manifestaram após a morte do político e advogado trabalhista Carlos Araújo, aos 79 anos, ocorrida no sábado em Porto Alegre. Araújo era ex-marido da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Presente no velório, Dilma intercalou momentos ao lado do caixão e em um espaço restrito. A petista ficou em pé, boa parte do tempo, na companhia da filha que teve com Araújo, a promotora do trabalho Paula Rousseff de Araújo, e do genro, Rafael Covolo.
Lideranças de diferentes partidos se manifestaram após a morte do político e advogado trabalhista Carlos Araújo, aos 79 anos, ocorrida no sábado em Porto Alegre. Araújo era ex-marido da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Presente no velório, Dilma intercalou momentos ao lado do caixão e em um espaço restrito. A petista ficou em pé, boa parte do tempo, na companhia da filha que teve com Araújo, a promotora do trabalho Paula Rousseff de Araújo, e do genro, Rafael Covolo.
Em discurso emocionado, ao final da cerimônia, Dilma destacou a coerência política do ex-marido e lembrou da solidariedade de Araújo durante o período em que sofreu o processo de impeachment, no ano passado. "Ele estava estarrecido. Ele foi um lutador contra a ditadura (militar) e contra o poder que emana das elites econômicas, políticas e midiáticas", destacou.
Outras manifestações de políticos ocorreram antes da despedida final a Carlos Araújo. O ex-governador Tarso Genro (PT, 2011-2014) lamentou a perda do amigo, destacando o passado de luta pela democracia do político. "A gente está em uma idade de perder as nossas melhores referências", disse.
O tom de perda de um amigo também caracterizou as palavras do ex-governador Olívio Dutra (PT, 1999-2002), para quem Araújo exercia uma liderança que chamou de "franca e fraterna". Ele lembrou o envolvimento do político nos movimentos sociais e sindicais na década de 1980 e o trabalho de Araújo como deputado estadual. "Era daqueles militantes que não vacila na luta pelos direitos do trabalhador", ressaltou.
O governador José Ivo Sartori (PMDB) se manifestou por nota afirmando que Araújo "se destacava pelo espírito democrático, se relacionando de forma fraternal e sempre respeitando posições diversas". Lembrando a atuação do político na luta pela redemocratização do País, a nota o trata como "referência na defesa das causas sociais" e conclui afirmando que "Carlos Araújo deixa um legado à democracia que permanecerá na memória dos gaúchos".
Também por meio de nota, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre o falecimento. "Carlos Araújo manteve durante toda a sua vida a militância e coerência política, a honestidade e o compromisso com a defesa dos trabalhadores e do Brasil. A democracia brasileira deve muito ao empenho e coragem de Carlos Araújo durante a ditadura militar", diz a nota.
O deputado estadual Ibsen Pinheiro (PMDB) falou do falecimento de Carlos Araújo como uma perda pessoal. "Fomos amigos desde a juventude comunista, nos anos 1950. A diferença nunca impediu a boa convivência. Estivemos no mesmo campo, ainda que em partidos diferentes, e sempre fui testemunha do seu invariável espirito público", destacou Ibsen.
A ex-deputada Dercy Furtado, contemporânea de Araújo no Parlamento gaúcho, colega de partido depois da redemocratização e amiga pessoal do político, lembra dele como "uma pessoa de bem com a vida". "Sofreu muito na ditadura e nunca se queixava. O enfisema pulmonar (do qual resultou sua morte) tem muito a ver com as torturas que sofreu (durante a ditadura militar)", avalia.
Também se manifestou o vice-governador da gestão Alceu Collares (PDT, 1991-1994), João Gilberto Lucas Coelho (na época, PSDB). Hoje afastado da vida pública e sem vínculo partidário, ele lembra de Araújo como "um militante com muito vigor e bastante idealismo. Participou da resistência ao regime militar, sofreu perseguição. Depois, teve trabalho construtivo nas relações políticas no Rio Grande do Sul". O ex-governador Collares também esteve presente no velório.
Carlos Araújo estava internado desde o dia 26 de julho na UTI do Hospital São Francisco, no Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. Ele não resistiu a complicações pulmonares e faleceu na madrugada de sábado. O velório foi realizado à tarde no Salão Júlio de Castilhos, na Assembleia Legislativa, e foi aberto ao público. A cerimônia de cremação foi restrita aos familiares. Além de Paula, ele deixa, de outra relação, os filhos Leandro e Rodrigo.
 

Luta contra ditadura militar e atuação como advogado trabalhista marcam trajetória do político

Deputado Carlos Araújo em discurso na Assembleia Legislativa, em 1989

Deputado Carlos Araújo em discurso na Assembleia Legislativa, em 1989


ARQUIVO/JC
Nascido em 1938 na cidade serrana de São Francisco de Paula, Carlos Franklin Paixão de Araújo era filho do também advogado trabalhista Afrânio Araújo, de quem herdou o gosto pelo direito e pela política.
Na década de 1950, ingressou na Juventude Comunista e integrou a delegação brasileira para o Festival da Juventude de Moscou em 1957. Anos mais tarde, integrou a organização guerrilheira VAR-Palmares, na qual em 1969 conheceu a futura esposa, Dilma Rousseff, com quem viveu até 2000 e depois seguiu como amigo.
Max, codinome pelo qual era conhecido nos tempos de luta armada, foi preso pela ditadura militar em julho de 1970, meses após a captura de Dilma. Ele deixou a cadeia em 1974, mesmo ano em que perdeu o pai e assumiu o escritório de advocacia que existe até hoje na capital gaúcha.
Na carreira política, era ligado a Leonel Brizola e foi um dos fundadores do PDT, partido pelo qual se elegeu deputado estadual em 1982, sendo reeleito por mais duas legislaturas, e disputou a Prefeitura de Porto Alegre em 1988 e 1992, perdendo em ambas ocasiões para candidatos petistas.
Em 2000, junto com Dilma e outros correligionários, Araújo deixou o PDT e passou a se dedicar ao escritório que mantinha na capital gaúcha. Voltou ao partido em 2013.
Mesmo afastado da vida política, Carlos Araújo não deixou de opinar sobre assuntos políticos contemporâneos. Sobre o processo que levou ao impeachment da amiga e ex-mulher da Presidência, Araújo considerava que houve um "golpe" e que Dilma foi abandonada pelo PT.