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Conjuntura

- Publicada em 28 de Maio de 2017 às 17:52

Em colapso, indústria naval do País tem dívida bilionária

Crise que atingiu a Petrobras trouxe reflexos amargos para o segmento

Crise que atingiu a Petrobras trouxe reflexos amargos para o segmento


/ANTONIO PAZ/arquivo/JC
Símbolo de um Brasil que dava certo e atraía investimentos bilionários, o setor naval entrou em colapso. De um conjunto de 40 estaleiros instalados no País, 12 estão totalmente parados, e o restante opera bem abaixo da capacidade. Sem encomendas, com o caixa debilitado e, em alguns casos, com sócios envolvidos na Operação Lava Jato, cinco desses estaleiros entraram em recuperação judicial (ou extrajudicial). Dos tempos de euforia, sobraram uma dívida bilionária para pagar no mercado e quase 50 mil trabalhadores demitidos, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval).
Símbolo de um Brasil que dava certo e atraía investimentos bilionários, o setor naval entrou em colapso. De um conjunto de 40 estaleiros instalados no País, 12 estão totalmente parados, e o restante opera bem abaixo da capacidade. Sem encomendas, com o caixa debilitado e, em alguns casos, com sócios envolvidos na Operação Lava Jato, cinco desses estaleiros entraram em recuperação judicial (ou extrajudicial). Dos tempos de euforia, sobraram uma dívida bilionária para pagar no mercado e quase 50 mil trabalhadores demitidos, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval).
Entre os estaleiros que ainda estão em operação, uma parte é voltada para a construção de embarcações fluviais, como barcaças, ou de transporte de passageiros, como os catamarãs comuns no Norte do País. A indústria voltada para a construção de plataformas e navios offshore, que nasceu para atender às demandas da Petrobras, está em contagem regressiva com os últimos projetos em fase final de construção. Alguns grandes estaleiros têm pouco mais de dois meses de trabalho e depois podem engrossar a lista de estabelecimentos parados.
A crítica é que a crise veio em um momento em que a curva de aprendizado estava crescendo, com milhões de reais investidos em treinamento de pessoal. "Pior. A crise pegou alguns estaleiros ainda na curva de investimentos", diz o presidente da A&M, Marcelo Gomes. É o caso, por exemplo, do Enseada Paraguaçu, que tem como sócia as empreiteiras Odebrecht, OAS e UTC, envolvidas na Lava Jato, além da japonesa Kawasaki. Com 82% das obras concluídas, o estaleiro está parado e em recuperação extrajudicial.
A solução tem sido buscar novas atividades para a área. O presidente da empresa, Fernando Barbosa, afirma que a opção em análise é a criação de um polo industrial e logístico. Outros estaleiros seguem o mesmo caminho e buscam reestruturar suas atividades, como o Inhaúma (RJ), afirma Sergio Leal, do Sinaval. No caso do Estaleiro Rio Grande, também em recuperação judicial, a solução em estudo é criar uma unidade produtiva isolada e vender em leilão a parte que inclui todos os equipamentos. "Se nada for feito, em dois anos estará tudo destruído", diz Leal.
Jorge Roberto Peixoto da Fonseca, de 46 anos, é uma das vítimas do colapso que vivem os estaleiros no Brasil. Há 10 anos, ele deixou o Rio de Janeiro para se aventurar na implementação do polo naval de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Foi trabalhar na Ecovix, dona do Estaleiro Rio Grande, que, em dezembro do ano passado, demitiu cerca de 3 mil funcionários depois de ter seus contratos rescindidos com a Petrobras.

Rio Grande sofre com derrocada de estaleiros

Instalado à beira da Lagoa dos Patos, o pórtico gigante, trazido da Finlândia, era o símbolo da prosperidade do município de Rio Grande. Com 117 metros de altura e 210 metros de largura, o equipamento - pintado de um amarelo berrante - era visto de qualquer canto da cidade, que fervilhava com o avanço do polo naval e seus três estaleiros. Hoje, esse mesmo pórtico, que custou cerca de R$ 400 milhões, está parado ao lado de milhares de toneladas de aço no Estaleiro Rio Grande (ERG).
De símbolo de bonança, o equipamento virou o retrato dos prejuízos que o setor causou na cidade. No dia 9 de dezembro do ano passado, o ERG - que tem como sócios a Engevix e o Funcef - teve seus contratos rescindidos com a Petrobras e demitiu cerca de 3 mil funcionários de uma só vez. Em seguida, entrou com pedido de recuperação judicial para equacionar uma dívida de R$ 7,5 bilhões. Nem deu tempo de terminar o casco da P-71, que ficou pela metade.
A derrocada do estaleiro teve efeito imediato na economia da cidade. Empresários que investiram na expansão dos negócios estão endividados e sem dinheiro para honrar os compromissos firmados; trabalhadores perderam o emprego e não têm perspectivas de recolocação no mercado, e o índice de criminalidade cresceu. "O retrato do que se vê aqui é de um impacto social violento e de uma retração do desenvolvimento da região", afirma o prefeito de Rio Grande Alexandre Duarte Lindenmeyer.
No auge da construção de embarcações, os três estaleiros do polo naval (Rio Grande, QGI - Queiroz Galvão Iesa e EBR - Estaleiros do Brasil) empregavam cerca de 24 mil trabalhadores e giravam uma economia que crescia em torno de 20% ao ano. Além do ERG parado, os outros dois também seguem o mesmo caminho. O QGI tem mais dois meses de trabalho, e o EBR vai até o fim deste ano. Se nada for feito, outros cerca de 4 mil funcionários serão demitidos e vão engrossar a lista de desempregados na cidade.
O efeito multiplicador do polo naval funciona para o bem e para o mal. Com a queda na demanda, os empresários locais também passaram a demitir. O empresário Luiz Carlos Hilário conta que ampliou a rede hoteleira na cidade para atender à demanda do polo e agora está com elevada capacidade ociosa. "Dependendo do mês, a ocupação fica entre 30% e 40%. No auge dos estaleiros, tinha 98%", diz ele.
A situação de Renan Guterres Lopes é ainda pior. Ele investiu em uma frota de ônibus para atender às empresas do polo naval e hoje não sabe o que fazer com os ônibus. Para piorar, Lopes pegou empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) e não tem caixa para pagar a dívida. Quando os primeiros estaleiros começaram a chegar a Rio Grande, a empresa de Lopes, a Universal, tinha apenas nove ônibus para atender os clientes. Conforme o polo avançava, ele aumentava o número de veículos, até chegar a 90 ônibus, hoje sucateados.

Pré-sal foi responsável pela euforia de investimentos e novos projetos

A euforia de investimentos em estaleiros começou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com a descoberta do pré-sal pela Petrobras. A partir daí, começaram a pipocar projetos de novos estaleiros em todo o litoral brasileiro, uma grande notícia para o governo que queria gerar emprego e turbinar a economia.
Para quem aceitasse o maior percentual de conteúdo local nas embarcações, o governo se propunha a financiar até 90% do projeto. De 2007 para cá, algo em torno de R$ 45 bilhões foram desembolsados do Fundo de Marinha Mercante (FMM) por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) e demais bancos públicos e privados para financiar o setor.
Até 2014, a política do governo se mostrava positiva. Mas, com a Operação Lava Jato, que atingiu em cheio a Petrobras, a queda no preço do petróleo e a derrocada da Sete Brasil, a indústria naval desmoronou com cancelamentos de encomendas.