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entrevista especial

- Publicada em 25 de Dezembro de 2016 às 21:17

Lindenmeyer quer um novo operador para estaleiro

'Por enquanto, não há risco de parcelamento de salários em Rio Grande', diz Alexandre Lindenmeyer

'Por enquanto, não há risco de parcelamento de salários em Rio Grande', diz Alexandre Lindenmeyer


MARCOS JATAHY/DIVULGAÇÃO/JC
É em meio a um contexto de crise e desemprego no polo naval de Rio Grande que o prefeito Alexandre Lindenmeyer (PT) foi reeleito para mais um mandato no segundo maior município da Metade Sul do Estado. Com uma queda no ICMS estimada pelo prefeito em R$ 40 milhões e as 3,2 mil demissões de funcionários da Ecovix, Lindenmayer espera ajuda não só do governo do Estado e da União, mas também do setor privado. "Essa é a tentativa de buscar um novo operador para o estaleiro e novas licitações que permitam que não só o estaleiro da Ecovix, mas a QGI e a EBR possam ter novos contratos que fortaleçam o setor naval", explica.
É em meio a um contexto de crise e desemprego no polo naval de Rio Grande que o prefeito Alexandre Lindenmeyer (PT) foi reeleito para mais um mandato no segundo maior município da Metade Sul do Estado. Com uma queda no ICMS estimada pelo prefeito em R$ 40 milhões e as 3,2 mil demissões de funcionários da Ecovix, Lindenmayer espera ajuda não só do governo do Estado e da União, mas também do setor privado. "Essa é a tentativa de buscar um novo operador para o estaleiro e novas licitações que permitam que não só o estaleiro da Ecovix, mas a QGI e a EBR possam ter novos contratos que fortaleçam o setor naval", explica.
Segundo o prefeito, a recuperação é necessária, pois, apesar da chegada de novas empresas em setores como o químico e o logístico, "isso não é o alto valor agregado que vinha sendo oportunizado pela indústria naval". Apesar disso, em 2017, Lindenmayer descarta medidas já tomadas pelo Estado e outras prefeituras como o parcelamento de salários. "(Vamos) racionalizando outras atividades para poder fazer com que haja encontro de contas", admite.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Lindenmayer também criticou algumas medidas do pacote de austeridade do governo de José Ivo Sartori (PMDB), principalmente no tocante à extinção de órgãos e fundações. "O caso da AGDI (Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento) é um desses setores que eu penso que eram estratégicos para o Estado."
Jornal do Comércio - Que cenário o senhor encontra em Rio Grande a partir de 2017, principalmente levando em conta a recente demissão de trabalhadores do polo naval e o pedido de recuperação judicial da Ecovix?
Alexandre Lindenmeyer - Nós acreditamos que, apesar desse cenário de dificuldade, de recuperação judicial da Ecovix, em um curto tempo, nós teremos um novo operador do estaleiro, e que, somando-se aos estaleiros QGI e EBR, nos permitam novas licitações, encomendas, contratos que possam gerar emprego e renda para esse povo todo aqui. Fora isso, ainda na área química, a própria Yara está construindo uma planta de R$ 1 bilhão, são três anos de obra, que vai pegar muita gente, e principalmente na área de metalurgia, vai conseguir minimizar um pouco o desemprego que foi gerado nesses últimos dois meses, em função da parada desses contratos na Ecovix. Além disso, preserva-se um polo educacional extraordinário, com duas universidades, e o próprio quinto distrito naval, que, por si só, representa um acréscimo de renda na cidade, que nos permite nos desafiar a superar o cenário de crise, e buscando alternativas.
JC - Quais seriam essas alternativas?
Lindenmeyer - A expectativa de que a questão da UTE (Usina Termelétrica de Rio Grande), da térmica de gás, possa se tornar realidade, com um investimento esperado de R$ 3,2 bilhões e mais de 4,5 mil postos de trabalho. Teremos um novo mandato, uma nova oportunidade para ajustar aquilo que andou bem, corrigir aquilo que não andou tão bem quanto nós gostaríamos, e reconhecer nessa vontade popular uma responsabilidade muito grande. Vamos procurar fazer mais, com mais eficiência e menos custos, para adequar uma redução de orçamentos que é advinda - não com exclusividade - em Rio Grande, e que vai se agravar, aparentemente, nos próximos anos, mas vai ter um momento em que essa curva de queda possa ser revertida.
JC - Quando o senhor fala em redução do orçamento: em Rio Grande, de quanto é essa queda?
Lindenmeyer - Em termos de ICMS, no ano que vem, a expectativa é uma queda de R$ 40 milhões. Evidentemente que ela existe em outros setores, então as medidas estão sendo adotadas, aproximadamente... já há mais de um ano que estamos com uma medida de contenção, e vamos agravá-la ainda mais, apertar ainda mais o cinto para poder se adequar e honrar todos os compromissos assumidos. Salários pagos, está tudo bem ajustado, mas tem que enxergar o futuro e apertar mais ainda.
JC - Entre essas medidas de contenção, o que está previsto?
Lindenmeyer - Principalmente a redução de jornada extraordinária, racionalização na questão de gastos com combustíveis, revisão de contratos com repactuação, sejam eles serviços de locações de bens, leilão de inservíveis para diminuir o custo de equipamentos, licitação para a área de manutenção de veículos. Isso tudo vai nos permitindo redução de custos. Ao mesmo tempo, revisão de folha, também para ver situações que possam ser revistas. Por exemplo, servidor que vem recebendo adicional de insalubridade e não trabalha mais em setor insalubre, mas continua recebendo. Outras questões, referentes ao Réveillon... sempre eram eventos com músicas, fogos. Dentro de uma realidade com quatro mil demissões em dois meses, evidentemente que nós vamos diminuir investimentos nessa área, sem show de fogos. Ao mesmo tempo, o formato do Carnaval será revisto. É um contexto de ações que, no final das contas, vai ter que baratear.
JC - Tem uma previsão de quanto irá economizar com essas medidas?
Lindenmeyer - No transcorrer desse último ano, só em horas extras nós, entre o valor bruto mais encargos, economizamos em torno de R$ 8,9 milhões. Mas precisamos reduzir ainda mais esse volume.
JC - Rio Grande, até por ser uma cidade portuária, acaba sendo influenciada mais que as outras cidades com a crise nacional. Qual é o impacto que isso teve na cidade?
Lindenmeyer - Nós temos variáveis. Um impacto que temos hoje é principalmente pelas demissões no setor naval. Temos recebido incremento de novas empresas, novas indústrias sendo construídas, porque, com uma demanda cada vez maior por alimentos, a produção agrícola aumentando e demandando adubo, temos um conjunto de indústrias químicas aqui que produzem adubos; na parte de logística, tem o porto, tu tens que exportar, escoar toda essa produção de grãos que vem, por vezes, até do Mato Grosso. Então esse setor acaba crescendo. O problema é que isso não é o alto valor agregado em termos de impostos, de valor salarial, como vinha sendo oportunizado pela indústria naval. Hoje, dos 20 mil trabalhadores que tínhamos no setor em Rio Grande, temos algo em torno de 3 mil. Houve uma redução drástica, mas que nós queremos e vamos buscar alternativas para retomar, seja na área de novas licitações, seja pelo repasse em embarcações tanto da Petrobras como de terceiros.
JC - Entre as alternativas estão, inevitavelmente, negociações com o governo federal
Lindenmeyer - Na verdade, com o governo do Estado, o federal e também com o setor privado. Essa é a tentativa de ações que visam buscar um novo operador para o estaleiro e, ao mesmo tempo, novas licitações que permitam que não só o estaleiro da Ecovix, mas a QGI e a EBR possam ter novos contratos que fortaleçam o setor naval.
JC - O senhor mencionou a importância do setor da educação. Medidas do governo federal, como a PEC do Teto, podem influenciar a área?
Lindenmeyer - Evidentemente que tudo isso impacta, não só a área da educação, da saúde, mas também a assistência social. Nós temos um investimento elevado. Nós ampliamos muito o número de vagas na área da Educação Infantil e Ensino Fundamental. Em aproximadamente quatro anos, foram 4.700 vagas nessas duas áreas, isso só na educação. Na área da assistência social, criamos alternativas de residência inclusiva, centro pop para moradores de rua. Isso tudo a partir do momento em que para de ocorrer o cofinanciamento, como é o caso da assistência social, isso tudo impacta a questão do município e a divisão do bolo, que fica com uma parte reduzida. Não é uma conta fácil, mas nós vamos ter que buscar alternativas de fazer fechar. Ainda que se tenha que diminuir serviços em outras áreas, racionalizando outras atividades para poder fazer com que haja encontro de contas.
JC - A prefeitura fecha em déficit hoje?
Lindenmeyer - Não. Nós fechamos o ano, vamos conseguir pagar todas as contas e salários.
JC - Não existe o risco de parcelar salários?
Lindenmeyer - Por enquanto, não. Volto a dizer que as ações que estão sendo tomadas são para que nós não nos encontremos nessa realidade, que já tem sido comum nos mais variados cantos.
JC - Qual a avaliação que o senhor faz de algumas medidas do governo Sartori, como o aumento de ICMS no ano passado?
Lindenmeyer - Penso que o desenvolvimento econômico do Estado, com atração de investimentos, ele te gera mais impostos, mais economia, e não é o aumento do ICMS que gera isso. Não adianta eu querer receber 50% do ICMS, e eu estou exagerando um pouco, se o vizinho trabalha com um índice menor, o povo vai para lá. O setor pesqueiro aqui em Rio Grande viveu isso por 10 anos. O ICMS em Santa Catarina era próximo de zero. O Rio Grande do Sul ficou cobrando 10%, 11%. O que aconteceu? Dizimou a indústria no Rio Grande do Sul. Então não foi o aumento, o índice maior aqui que ia girar a indústria, muito pelo contrário, nós perdemos o setor.
JC - Chegou a ter diminuição no volume de empresas?
Lindenmeyer - Tivemos empresas que, no fiel da balança, com a crise política, retardaram o projeto. Não estou dizendo que excluíram, mas retardaram o projeto.
JC - Como o senhor enxerga o pacote de austeridade que o governo Sartori enviou à Assembleia?
Lindenmeyer - A Fundação Zoobotânica... se perguntarem, a população não tem nem ideia de qual é a importância. Não sabe qual é o grau de pesquisa que há ali, que é um patrimônio extraordinário e que não poderia se perder. Infelizmente, nesse pacote das fundações, nós vamos perder algumas estruturas que, do meu ponto de vista, são importantes para o próprio Estado. Para o senso comum, são discursos fáceis para a população entender e dizer: "É isso mesmo". Mas, na prática, é muito mais um efeito do imaginário do que efetivo. Às vezes, uma estrutura que tem uma política de trabalho, plano estratégico com resultados, no fiel da balança, ela se paga e se justifica muito mais. Se tu extingues, deixas de fazer aquela captação, aquela política que poderia ser geradora de desenvolvimento, de emprego, de impostos. O caso da AGDI é um desses setores que eu penso que eram estratégicos para o Estado.
JC - Com os repasses atrasados do Estado no setor da Saúde, como está essa área em Rio Grande?
Lindenmeyer - No município, a gente ainda administra, o maior problema é com relação aos hospitais. Aqui, temos uma situação de intervenção, e nós estamos no bojo dos hospitais filantrópico,s que, no mês de dezembro, praticamente não têm repasses. Por quê? Sob o argumento de que o Estado tem que juntar dinheiro para pagar o seu déficit, dos seus funcionários. E como ficam os funcionários dos hospitais filantrópicos? Aí a conta é outra? Como ficam fornecedores de materiais, prestadores de serviços, a falta de medicamento, de materiais para cirurgias? Isso não impacta a perda de vidas? Isso é uma situação dramática, e que, por vezes, passa ao largo. O impacto está em todos os hospitais, seja nos salários, seja nos serviços que se presta, seja na falta de materiais por falta de fornecedores. A situação é crítica.
JC - Qual é o valor do repasse de dezembro?
Lindenmeyer - Estima-se hoje em torno de R$ 6,1 milhões, com alguma divergência em relação à Secretaria de Saúde, que apresenta algo um pouco diferente. Não é exclusivamente em relação à Santa Casa de Rio Grande, são todos os filantrópicos, a própria Federação dos Hospitais Filantrópicos está dizendo isso.
JC - Como está a questão da segurança em Rio Grande, principalmente no número de brigadianos?
Lindenmeyer - Nós perdemos, em um ano e meio, mais de 90 servidores na área da segurança, o que agravou mais ainda a situação. Na área de bombeiros, deveria ter 110 homens, mas em setembro nós estávamos com 26 e devemos terminar o ano com 15 de Rio Grande, tirando a Operação Golfinho. Tanto na parte da Polícia Civil quanto Brigada Militar, não é diferente disso. Temos feito algumas parcerias em termos de policiamento comunitário, com repasses de verbas, mas têm sido enxugado os servidores do policiamento comunitário também. Temos procurado além desse convênio, fortalecido com concurso público para a Guarda Municipal, mas é aquilo: a gente acaba absorvendo responsabilidades que não seriam do município em termos diretos. Não digo que o município tenha que se ausentar da pauta da segurança, mas, por conta das dificuldades que o Estado tem, a conta do município começa a crescer também.

Perfil

Alexandre Duarte Lindenmeyer tem 53 anos e á natural de Rio Grande. Formado em Direito pela Fundação Universidade Federal de Rio Grande (Furg) em 1984, atuou na área trabalhista. É ex-conselheiro da seccional da OAB do Rio Grande do Sul e ex-conselheiro da Agetra (Associação Gaúcha de Advogados Trabalhistas). Presidiu o Sport Club Rio Grande entre 2007 e 2010. Na política, é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi candidato a vice-prefeito em 1996 e concorreu a prefeito em 2000. Conquistou seu primeiro cargo na vida pública em 2008 como vereador, o mais votado da cidade até então. Em 2010, concorreu ao cargo de deputado estadual, conquistando uma cadeira na Assembleia Legislativa. Em 2012, candidatou-se novamente a prefeito, vencendo a eleição com 51,1% dos votos válidos. Em 2016, reelegeu-se ao cargo com 52% dos votos válidos. Para o próximo mandato, terá como vice prefeito Paulo Renato Gomes (Renatinho), do PPS.