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- Publicada em 22 de Dezembro de 2016 às 22:08

O debate pós-crescimento

Decrescimento - Vocabulário para um novo mundo (Tomo Editorial, 312 páginas, tradução de Roberto Cataldo Costa), organizado pelos pesquisadores Giacomo D'Alisa, Federico Demaria e Giorgos Kallis, da Universidade Autônoma de Barcelona e membros da Research & Degrowth, tem prefácio dos organizadores e apresentações de Felipe Milanez e Chico Whitaker e, em síntese, é um livro de referência essencial para o debate pós-crescimento.
Decrescimento - Vocabulário para um novo mundo (Tomo Editorial, 312 páginas, tradução de Roberto Cataldo Costa), organizado pelos pesquisadores Giacomo D'Alisa, Federico Demaria e Giorgos Kallis, da Universidade Autônoma de Barcelona e membros da Research & Degrowth, tem prefácio dos organizadores e apresentações de Felipe Milanez e Chico Whitaker e, em síntese, é um livro de referência essencial para o debate pós-crescimento.
O decrescimento é mais uma teoria da transformação social do que uma teoria do desenvolvimento. Nesta obra a coleção de ensaios cuidadosa e acessível, de uma gama de autores internacionais como Onofrio Romano, Marco Deriu, Sergio Ulgiati, Arturo Escobar, Susan Paulson, Mauro Bonaiuti e Sylvia Lorek, de leitura obrigatória, oferece muitas perspectivas diferentes que estimularão uma nova reflexão sobre que tipo de sociedade queremos e poderíamos ter.
A partir da ideia que vivemos em um momento de estagnação, empobrecimento rápido, aumento de desigualdades e desastres socioecológicos, no discurso dominante isso tudo seria decorrente da falta de crescimento ou do subdesenvolvimento. Este livro argumenta que o crescimento seria a causa dos problemas e que ele se tornou antieconômico, ecologicamente insustentável e intrinsecamente injusto.
Um movimento que começou na França e se espalhou pelo resto do mundo pretende que o debate público sobre a descolonização do idioma do economicismo e o crescimento econômico fosse abolido como objetivo social. "Décroissance", decrescimento, passou a significar, para eles, o rumo desejado de sociedades que vão utilizar menos recursos naturais e vão se organizar para viver de forma radicalmente diferente.
Simplicidade, convivencialidade, autonomia, cuidado e recursos comunitários são algumas das palavras que fazem parte do vocabulário do decrescimento. Esta obra apresenta e explica diferentes linhas de pensamento, ação, alianças, falando de autonomia, capitalismo, hortas urbanas, consumo de energia, ecocomunidades, despolitização, bioeconomia, ecologia política, cooperativas e dezenas de outros tópicos que inspiram todos que pretendem a construção de um mundo melhor.
Enfim, o livro tenta romper com o mito de que o crescimento econômico desenfreado é a panaceia para todos os males e propõe alternativas imaginadas coletivamente, implementadas de modo democrático e solidário, com vistas à busca de uma nova sociedade.
O tema é polêmico, claro, mas sem dúvida essa obra, no mínimo, contribui (e muito) para um debate indispensável sobre que tipo de crescimento ou decrescimento necessitamos, para um planeta melhor para todos.

lançamentos

  • O brincar e o jogar - Compreendendo significados (Artes e Ofícios, 272 páginas), organizado por Inúbia Duarte, com textos de Anete Ingride Kopp, Anne Pflüger, Eliane Goldstein e outras psicólogas e psicanalistas, traz experiências e estudos sobre o brincar e o jogar, temas fundamentais para o ser humano.
  • Educação e Sociologia (Edipro, 96 páginas), de Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês de renome mundial, aponta o ensino como responsável pelo bom funcionamento de uma sociedade. A obra nega o caráter individual da educação e a coloca como construtora de um ser social, expressão de crenças, práticas e opiniões da comunidade.
  • Oswald - Ponta de lança e outros ensaios (Editora Bestiário, 148 páginas), do professor-doutor em História Éder Silveira, autor de A cura da raça e Tupi or not Tupi, Nação e nacionalidade em José de Alencar e Oswald de Andrade, traz densos ensaios sobre Monteiro Lobato, Modernismo, Di Cavalcanti e Mario de Andrade.

Conto de Natal

Na madrugada fria, no céu escuro sem qualquer estrela, em meio aos trovões, ao vendaval e às chuvas torrenciais, a luz do Farol do Pontal brilhava, bem no alto do penhasco, provavelmente para nenhum navegante, naquele 25 de dezembro. Mas o faroleiro Jonas, como sempre, cumprira o dever de deixar funcionando as lentes, as lâmpadas e os espelhos refletores.
Há mais de 30 anos ele morava sozinho no farol e orgulhava-se de jamais ter deixado de cumprir com suas obrigações. Uma ou outra companhia feminina eventual naqueles anos todos, nenhum filho, pouquíssimas visitas de parentes ou amigos - para Jonas, aquela véspera de Natal fora como tantas outras: em silêncio, solitário, apenas o pequeno e velho presépio sinalizando a data. Pão com sardinha, conserva de frutas em lata, alguns cálices de vinho tinto popular com "gosto de uva", como ele dizia, e um café passado no coador foram a ceia.
Ele já ia deitar quando observou o mar e viu algo branco nas ondas, além das espumas. Algo que media alguns metros. Desceu os 150 degraus da torre e precisou entrar apenas alguns metros no mar para recolher a pequena canoa vazia. As duas gaivotas dentro dela esvoaçaram assim que ele chegou. Não havia remos. Dentro do pequeno barco havia só um lenço cor de rosa preso numa das tábuas do fundo.
Alguma coisa fez Jonas aguardar na praia, junto à pequena canoa branca. Ele não se importou com o frio, nem com os ventos ou com a garoa. Deixou o pensamento fixar-se no infinito do mar. Sempre pensava que nada era mais vital, misterioso, perigoso ou maior. O mar. Milhões de segredos e histórias, de movimentos de eterno retorno, milhões de vidas. Depois de observar a beleza daquele mar ainda bravio, ele enxergou um corpo de mulher que as ondas traziam. Foi até lá, conseguiu tomá-la nos braços como se fosse um noivo e a levou até o farol. Ajudou-a a respirar e a vomitar a água do mar que tinha engolido. Por milagre ela ainda estava viva. Deu-lhe leite quente e deixou, depois de lhe dar uma toalha, um pijama e acomodá-la numa pequena cama de solteiro, para que ela dormisse.
Sentiu logo que aquela mulher de 50 e poucos anos como ele, de cabelos e olhos claros, estatura mediana, nem magra nem gorda, queria apenas descansar naquele momento. Estava sem forças, precisava dormir - quem sabe, sonhar?
Por algum tempo Jonas ficou observando a navegante. Secou um pouco seus cabelos encostando levemente uma toalha para não acordá-la. O acontecimento mudara a rotina de seu Natal. Ele ficou imaginando quem seria aquela mulher e o que exatamente teria acontecido com ela e a canoa em alto-mar, naquela noite de tempestade. De onde teria vindo? Para onde ia? Era casada? Tinha filhos? Qual seria sua profissão? Quais eram seus sonhos? Sabia que as respostas, se é que as teria, somente viriam na manhã seguinte e se ela efetivamente sobrevivesse. Jonas tentara contato para socorro médico. Não conseguira.
Ele rezou e adormeceu.

a propósito...

Na manhã seguinte, o sol apareceu. Jonas acordou, preparou o café da manhã para eles e esperou que ela acordasse. Agnes, esse era o nome dela, acordou e assustou-se um pouco vendo que estava de pijama masculino listrado, no topo da torre de um farol. Agradeceu muito a ajuda, disse que na noite anterior decidira ir, sozinha, de canoa para alto-mar, sem plano de voltar ... Queria a última viagem, o final... Então, a tempestade a jogou para fora e ela, boa nadadora, mudara de ideia e conseguira chegar perto da costa quando fora recolhida por Jonas.
Nada acontece por acaso. Feliz Natal e pode ficar por aqui, até quando não sei ou não saibas, Agnes.