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Teatro

- Publicada em 08 de Novembro de 2016 às 12:42

Revisitando um espetáculo

Após duas temporadas na Vila Flores e uma outra no Teatro Renascença, a performance coreográfica - como se autodenomina - Barbie fuck forever cumpriu mais uma série de apresentações na Sala Álvaro Moreyra, no fim de semana passado. O elenco atual teve algumas modificações, com a saída da idealizadora do espetáculo, Aline Jones, mas, de modo geral, manteve a mesma equipe em cena, com três intérpretes femininas e dois intérpretes masculinos. Eu já havia assistido a este trabalho - e escrevi sobre ele, aqui nesta coluna - mas diante da troca de espaço para o espetáculo, decidi revisitá-lo. Não me arrependi.
Após duas temporadas na Vila Flores e uma outra no Teatro Renascença, a performance coreográfica - como se autodenomina - Barbie fuck forever cumpriu mais uma série de apresentações na Sala Álvaro Moreyra, no fim de semana passado. O elenco atual teve algumas modificações, com a saída da idealizadora do espetáculo, Aline Jones, mas, de modo geral, manteve a mesma equipe em cena, com três intérpretes femininas e dois intérpretes masculinos. Eu já havia assistido a este trabalho - e escrevi sobre ele, aqui nesta coluna - mas diante da troca de espaço para o espetáculo, decidi revisitá-lo. Não me arrependi.
Na encenação da Vila Flores, o espetáculo funcionava, de fato, como uma grande performance. Os personagens apareciam em diferentes espaços dos prédios que formam a vila, estando os espectadores de pé, no pátio da construção. Depois, andava-se por uma passarela, entrando-se num espaço fechado, depois de passar por uma banheira em que uma mulher encontrava-se adormecida e/ou morta, envelopada em celofane ou algo parecido.
Agora, o público, em pé no átrio do Centro Municipal de Cultura, junto à porta da Sala Álvaro Moreyra, recebe a visita de alguns modelos que desfilam entre os potenciais espectadores. Depois, somos todos convidados a entrar. O espetáculo, a partir de então, desenrola-se num espaço semelhante ao palco italiano.
Faz alguma diferença a ambientação diversa? Eu diria que o impacto inicial da primeira era mais forte. Mas a mensagem e os objetivos da produção do espetáculo, no fundo, mantiveram-se os mesmos. Mais: as múltiplas temporadas amadureceram o trabalho, que está mais objetivo, mais limpo e mais contido, sem perder os elementos de provocação que o caracterizaram desde logo, substituindo-se alguns daqueles primeiros elementos por outros, como, por exemplo, os grafites escritos a giz nas paredes internas do teatro. Assim, o espetáculo se tornou mais eficiente.
O elenco mantém a força e a unidade da performance original. Melhor, está mais finado, o espetáculo tem mais ritmo (creio que o havia assistido em sua estreia, o que explica o problema de então, que registrei). Basicamente, partindo de uma paródia e uma metáfora da existência da boneca Barbie, que foi coqueluche há algumas décadas, o espetáculo reflete a respeito da coisificação da mulher na sociedade contemporânea: inventam-se padrões de beleza, disseminados pelos mídias, obrigando as mulheres a segui-los, sob pena de serem socialmente marginalizadas. Tornam-se, assim, escravas destas verdadeiras ditaduras, até a morte. Neste sentido, o espetáculo é como uma tragédia: a Barbie humana paga o preço da própria vida para seguir à risca o que imagina ser sua obrigação.
A performance tem cerca de 60 minutos de duração e ganhou o Prêmio Funarte de Dança, mais do que justamente. Pesquisa linguagem, ousa propor uma reflexão séria sobre a contemporaneidade, alcança reunir uma reflexão teórica traduzida coerentemente enquanto um espetáculo coreográfico. No espaço da Sala Álvaro Moreyra, a trilha sonora por vezes prejudicou a audiência dos atores, mas isso não impediu que todos - na sala surpreendentemente cheia - pudessem usufruir plenamente do trabalho.
Espetáculos como este Barbie fuck forever mantém a chama viva das artes cênicas e justificam uma ida ao teatro, mesmo num horário de verão, com um belo dia lá fora, quando cruzamos as portas da sala de espetáculo. Trocamos um certo registro de vida por outro. Ambos se completam. Num, vivemos; no outro, refletimos a respeito do que fazemos.
Não me parece que o grupo tenha desistido de continuar apresentando este espetáculo. Parece-me, ao contrário, pelo sucesso de bilheteria, que existe muita gente disposta a ver-ouvir-refletir a respeito dos temas enfocados por ele. Que bom!
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