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Teatro

- Publicada em 03 de Novembro de 2016 às 11:56

Metáfora cética e oportuna

No livro de estreia, Carnaval dos animais, Moacyr Scliar apresentava o conto Cinco anarquistas, no qual cinco prisioneiros são instados a disputarem entre si a sobrevivência, terminando com uma sem saída do sobrevivente, na verdade também condenado à morte. Situação semelhante desenvolve O método Arbeuq, novo espetáculo de Jessé Oliveira, com dramaturgia de Viviane Juguero. Originalmente, trata-se do texto dramático do espanhol Jordi Galcerán, El método Grönholm, depois adaptado e levado ao cinema, sob o título de El método, pelo realizador argentino Marcelo Piñeyro (2005).
No livro de estreia, Carnaval dos animais, Moacyr Scliar apresentava o conto Cinco anarquistas, no qual cinco prisioneiros são instados a disputarem entre si a sobrevivência, terminando com uma sem saída do sobrevivente, na verdade também condenado à morte. Situação semelhante desenvolve O método Arbeuq, novo espetáculo de Jessé Oliveira, com dramaturgia de Viviane Juguero. Originalmente, trata-se do texto dramático do espanhol Jordi Galcerán, El método Grönholm, depois adaptado e levado ao cinema, sob o título de El método, pelo realizador argentino Marcelo Piñeyro (2005).
O projeto atual foi vencedor do Edital 03/2015, da Secretaria de Cultura do estado. O método arbeuq deve ser lido enquanto método quebra, proposto a cinco personagens que se apresentam a um cargo administrativo da empresa fictícia Acilbuper, na verdade, a República, se lida ao contrário. É evidente a metáfora à realidade imediata vivenciada pelo Brasil, sobre a qual Jessé Oliveira deita um olhar crítico e cético: cinco personagens disputam um cargo administrativo da empresa. Ao final, o vencedor é aquele que mais traidor e menos humano se apresenta.
O espetáculo de Oliveira tem pouco mais de uma hora de duração, ocorre num palco nu, ocupado apenas por cinco cadeiras e, naturalmente, os cinco intérpretes, Álvaro RosaCosta (que há muito não aparecia em cena enquanto ator), Carol Martins, Elison Couto, Juliana Barros - que é também a produtora do espetáculo - e Renato Santa Catharina. Um dos trunfos da direção é ter apresentado um elenco absolutamente homogêneo. Se o espetáculo tem como principal apoio o desdobramento deste enredo ao mesmo tempo relativamente linear, mas provocador, depende absoluta e radicalmente do desempenho dos intérpretes em cena.
Carlota Albuquerque assina a assessoria de movimento, importante para a presença em cena dos intérpretes; Daniel Lion criou os figurinos, contrastantes e ao mesmo tempo complementares, dos cinco personagens; a cenografia é de Rodrigo Lopes que, na simplicidade, suporta a concentração da ação sobre as figuras humanas e se complementa com a iluminação de Fernando Ochôa. Em síntese, Jessé Oliveira, com o financiamento recebido pelo projeto, pode contar com uma equipe de alta qualidade, individualmente considerada, mas cujo mérito maior foi a capacidade de atuar justamente enquanto equipe, valendo para o grupo técnico o mesmo que se disse a respeito dos atores.
A concepção é bastante contemporânea, com o uso de telefones celulares, projeções no telão que fica por trás dos atores e trilha sonora eficiente e sugestiva de André Paz, marcada por certa ironia, sobretudo a partir do tango que abre o espetáculo. O que sugiro, contudo, é colocar o telão mais alto, porque os atores tapam a projeção das notas dadas aos personagens, ao longo da encenação, para os espectadores das primeiras filas do teatro.
Sim, é um jogo o que se representa. O jogo social da mais absoluta e radical competição entre as pessoas no universo capitalista, em que os mais importantes valores éticos e humanos são esquecidos, inclusive o amor, como ocorre entre o potencial casal. As traições se somam, e só traindo se sobrevive.
O método Arbeuq está muito bem pontuado, mesmo que se considere ter sido a noite de estreia. A marcação igualmente é bem definida, de modo que o ator cobre perfeitamente seu espaço. No fundo, a encenação é quase um balé, em que os personagens trocam posições, atraem-se e repelem-se, mantendo, deste o início, uma tensão que chega ao auge no final do espetáculo. É um jogo, sim, mas um jogo que pouco tem de lúdico, no sentido de sua gratuidade, porque é um jogo desafiador, mortal, eliminatório.
Ainda que não seja um texto original, a transcriação proposta por Viviane Juguero/Jessé Oliveira mostra um olhar atento dos dois criadores, o que deve ser efusivamente saudado por quem tem, no teatro, um momento de reflexão e aprofundamento sobre a realidade que nos envolve.
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