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agronegócios

- Publicada em 02 de Novembro de 2016 às 18:49

Estados Unidos se torna principal vitrina para a carne de gado do Brasil

Para embarcar o produto, é preciso cumprir várias exigências rigorosas

Para embarcar o produto, é preciso cumprir várias exigências rigorosas


MARCO QUINTANA/JC
Passados mais de três meses do acordo que permite as exportações de carne bovina in natura para os Estados Unidos, o volume enviado para lá soma 126 mil toneladas em dois embarques, de acordo com o Ministério da Agricultura. Mesmo que a quantidade seja pequena, tanto que parte desse volume chegou a ser enviada de avião (já que não era viável economicamente o embarque em navio) a conquista do mercado norte-americano é comemorada pelo setor.
Passados mais de três meses do acordo que permite as exportações de carne bovina in natura para os Estados Unidos, o volume enviado para lá soma 126 mil toneladas em dois embarques, de acordo com o Ministério da Agricultura. Mesmo que a quantidade seja pequena, tanto que parte desse volume chegou a ser enviada de avião (já que não era viável economicamente o embarque em navio) a conquista do mercado norte-americano é comemorada pelo setor.
O potencial de negócios que foi aberto é o principal fator positivo do negócio, asseguram especialistas, ressaltado que o acordo deve agregar aos potenciais cliente compradores de Canadá, México e Japão. O Rio Grande do Sul, que ainda não tem nenhuma indústria habilitada à exportar aos EUA aguarda para qualquer momento a autorização para frigoríficos como da Marfrig, na Fronteira Oeste, e Silva, de Santa Maria.
"É possível que ainda neste ano tenhamos o primeiro envio de carne bovina gaúcha in natura para a produção de hambúrguer aos Estados Unidos" avalia Zilmar Moussale, diretor do Sindicato da Industria de Carnes do Rio Grande do Sul (Sicadergs).
O executivo do Sicadergs explica que para a produção de hambúrguer são utilizados cortes da parte dianteiro do animal (com peito), não são muito valorizados pelo gaúcho. Aqui, diz Moussale, a maior procura é pelos cortes da parte traseira do animal (como picanha e alcatra) e costela.
"Ao melhorar o valor obtido pelo dianteiro do boi o produtor também terá ganhos, não somente a indústria. Isso porque haverá preço melhor obtido no do animal como um todo, que terá valor maior em seus conjunto", diz o executivo.
Ao dimensionar a importância do abertura do mercado norte-americano liberando a compra de carne de gado in natura, Carlos Sperotto, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) ressalta que o volume, no momento, é o menos importante.
"O que vale, nesse caso, é o aval americano para o nosso produto. A carne brasileira entrou em outro patamar internacional no quesito qualidade a partir disso. O produtor já tem qualidade na criação de gado para atender esses mercados, agora esperamos apenas que a indústria conquista os compradores" diz Sperotto.
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No momento, nem empresários, nem entidades e nem o governo federal estão fazendo estimativas de volume a serem alcançados, seja com projeção ou como meta.
"Ainda é muito cedo para se fazer projeções sobe volumes de vendas, até porque isso agora é uma questão individualmente. O trabalho das entidade e do governo para abri o mercado americano já feito. Agora, é com a indústria. Mas o Brasil é extremamente competitivo dentro do grupo. O que se pode dizer é que o potencial é de US$ 300 milhões ao ano. E temos competitividade para desbancar boa parte dos concorrentes" calcula o técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rafael Linhares.
Para chegar a este valor, Linhares multiplicou o valor médio da carne de gado in natura exportado hoje pela cota inteira do grupo ao qual o Brasil foi agregado. Pelo acordo, o Brasil está integrado ao grupo de exportadores integrado por Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Irlanda, de acordo com o técnica do CNA. Esse grupo tem uma limitação de exportações totais de 64,8 mil toneladas para 2017. Neste caso, existe duas tarifas: de 4% e de 10%, conforme o tipo de corte. Sobre o volume que passar dessa cota total do grupo é pago uma taxa de 26,4%.
Na avaliação do governo federal, o potencial de vendas é multiplicado por três se levado em consideração os mercados que podem ser abertos por outros países. Durante a assinatura do acordo, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, há a possibilidade de um acréscimo de mais US$ 900 milhões nas receitas se for levado em conta os potenciais de vendas para outros países após a abertura do mercado norte-americano ao produto.

Longo processo até o acordo

O Brasil já exportava carne industrializada há muitos anos, e agora começa também a vender carne in natura. Foram 17 anos de negociações até chegar a um acordo. Os Estados Unidos são importante não apenas pelo grande mercado consumidor como, por ter exigências sanitárias bastante rígidas, serve como parâmetro para países como Japão, México e Canadá.
Atualmente, são 13 estados e mais o Distrito Federal que estão habilitados para as exportações. No caso dos Estados Unidos, essas autorizações são por plantas industriais, que devem seguir um check list de critérios. As exigências sanitárias seguem o mesmo quesito de um país para o outro, há equivalência sanitária, mas há diferenças das restrições de importação na hora de comprar a carne in natura do Brasil.
Enquanto o País pagará 4% ou 10% (conforme o tipo de corte) ou 26,4 % (sobre o que passar da cota de 64,8 mil toneladas anos), não haverá tarifa para a entrada do produto norte-americano que eventualmente venha a ser importado pelo Brasil.
A aprovação dos frigoríficos será por lista previa, ou seja, o Ministério da Agricultura e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos poderão indicar uma lista de estabelecimentos para exportação e, desses, apenas os que cumprirem todos as obrigações previstas no acordo serão chancelados pelos serviços oficiais dos dois países. Os frigoríficos interessados em exportar carne bovina in natura para os Estados Unidos devem pedir a habilitação ao Mapa, desde que já tenham registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF).
O ministério verifica se a empresa cumpre os requisitos sanitários exigidos pelas autoridades norte-americanas. Caso atenda a todas as exigências, o ministério indica o estabelecimento aos Estados Unidos, que então faz a homologação com base no acordo de equivalência. Depois disso, a exportação da carne bovina in natura é autorizada.

Febre aftosa foi um dos maiores empecilhos

Doenças e medicamentos veterinários fazem parte da lista de restrições

Doenças e medicamentos veterinários fazem parte da lista de restrições


THAIS D'AVILA/IMPRENSA FUNDESA/
Um dos grandes empecilhos para as restrições norte-americanas em comprar carne brasileira são as doenças e os medicamentos veterinários. Uma dos maiores impedimentos sanitários que o País precisou derrubar ao longo de 17 anos de negociações, sem dúvida, foi a febre aftosa, ou o uso que criadores norte-americanos fizeram da doença para barrar a entrada de carne in natura brasileira.
Vale lembrar o estrondoso caso gaúcho, que correu a imprensa mundial, em 2001, quanto até atiradores da Brigada Militar foram utilizados para tentar dar fim ao avanço da doença no Estado. Foram sacrificados, na época, mais de 10 mil animais, e enterrados em covas feitas com retroescavadeiras. O fato de o Brasil manter controlada a febre aftosa com vacinação, na maior parte do território, é encarado como incapacidade nacional para realmente eliminar a doença. Se a aftosa era um problema brasileiro, a sanidade do rebanho norte-americano também causava certo temor no Brasil por outro motivo: o mal da vaca louca vaca louca em território norte-americano em anos recentes.
"Com certeza, a febre aftosa criou um obstáculo durante muitos anos para a nossa entrada com esse produto (carne bovina in natura) em território norte-americano. A questão foi amenizada pelo acordo, que tem justamente essa função. Um cede um pouco, o outro também, até que se chegue a um consenso" diz Alex Lopes consultor da Scot Consultoria e zootecnista.

Picanha americana no espeto gaúcho?

Assim como os Estados Unidos abriu seu mercado para a carne brasileira, o Brasil também precisou abrir as prateleiras nacionais ao produto americano. Para Zilmar Mussale, presidente do Sindicato da Industria de Carnes do Rio Grande do Sul (Sicadergs), caso o produto venha ser importando, não afeta o produtor e a indústria gaúcha, que compra carne de fora do Estado."O Rio Grande do Sul não é autossuficiente na produção de carne, tanto que compras muito de Goiás, Paraná e até de Roraima e do Acre. Se entrar carne de bovino in natura no Brasil, vai afetar mais é venda destes estados para nós. Isso se o valor for atraente", acredita o técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rafael Linhares.Um dos produtos que poderia ser exportados pelos Estados Unidos para o País, de acordo com o técnico, seria picanha, por exemplo. Segundo Linhares, o custo é o fator determinante. "O nosso acordo prevê igualdade de exigências sanitárias, mas não exige reciprocidade quando o assunto são as taxas e quantidades. Os Estados Unidos não te limitação de volume e são isentos de taxas, como nós pagaremos lá" explica o técnico. A viabilidade do mercado brasileiro para a carne americana, avalia Alex Lopes, consultor da Scot Consultoria e zootecnista, também vai depender de diferencias de mercado no sentido de produto e qualidade. "Não sei se virá ou não carne dos Estados Unidos. Agora, se me perguntar se é viável e pode entrar carne de lá, diria que sim", afirma o especialista. Lopes alega que, quando está em jogo o mercado AAA, não importa a questão do preço. "Para esse público de alto padrão, não se fala em viabilidade econômica, se fala em qualidade. Tem carnes que custam de R$ 150,00 a R$ 200,00 o quilo. É o caso do waguyu, um exemplo do como isso é possível", sentencia.

Fronteira Oeste se mobiliza para conseguir habilitações

Em viagem à França, durante a recente visita do governo do Estado à Europa, o deputado Frederico Antunes tratou do assunto

Em viagem à França, durante a recente visita do governo do Estado à Europa, o deputado Frederico Antunes tratou do assunto


MARFRIG/DIVULGAÇÃO/JC
Em viagem à França, durante a recente visita do governo do Estado à Europa, em outubro, o deputado Frederico Antunes, integrante da Comissão de Agricultura do Rio Grande do Sul, reuniu-se com o presidente da Associação Brasileira de Empresas Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, e com o CEO do Marfrig, Andrew Murchie, para falar sobre o andamento das habilitações de indústrias gaúchas. Durante o encontro, o parlamentar tratou com os dirigentes sobre a possibilidade do credenciamento das plantas de frigoríficos nos municípios de Alegrete, São Gabriel e Bagé, para que possam estar aptos a exportar carne aos Estados Unidos.
"Uma das questões que estamos tentando resolver é sobre a fiscalização", destaca Antunes. Para atender o acordo com os Estados Unidos, diz o parlamentar, uma das exigências é que as vistorias não sejam feitas por pessoas que tenham ligação direta com as indústrias. "São Gabriel já está se preparando para contratar entre 20 e 25 profissionais. Em Alegrete, a situação é mais complicada e estamos estudando a possibilidade de que essa contratação seja feita por um consórcio de municípios, talvez, ou pela agência de desenvolvimento regional."