Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 07 de Outubro de 2016 às 00:26

O Portinari de todos nós

Quebro o tema geral da coluna para destacar a importante exposição de Candido Portinari apresentada no Masp (Museu de Arte de São Paulo), até o próximo dia 15 de novembro. São cerca de 50 obras do grande mestre de Brodowski, interior de Minas Gerais, denominada Portinari popular, título polissêmico, que tanto se refere ao tema-guia da exposição (aspectos da vida popular brasileira) quanto ao fato de aí estarem reunidas algumas das telas mais populares - mais conhecidas, mais admiradas, mais reproduzidas - do grande artista.
Quebro o tema geral da coluna para destacar a importante exposição de Candido Portinari apresentada no Masp (Museu de Arte de São Paulo), até o próximo dia 15 de novembro. São cerca de 50 obras do grande mestre de Brodowski, interior de Minas Gerais, denominada Portinari popular, título polissêmico, que tanto se refere ao tema-guia da exposição (aspectos da vida popular brasileira) quanto ao fato de aí estarem reunidas algumas das telas mais populares - mais conhecidas, mais admiradas, mais reproduzidas - do grande artista.
A importância da pintura de Portinari reside no fato de ele ter fixado essencialmente aspectos da vida popular brasileira: colhedores de café, batedores de feijão, plantadores de milho, estivadores do cais, por um lado; do outro, aspectos estilizados das favelas cariocas que ele conheceu quando de sua fixação no Rio de Janeiro, onde viria a atender encomendas de grandes murais, inclusive aqueles que se encontram no prédio do antigo Ministério de Educação e Saúde, graças a Gustavo Capanema, no período de Getúlio Vargas.
Muitas das figuras desses trabalhadores apresentam-se com mãos e pés superdimensionados em relação às demais partes do corpo. É a preocupação do artista em valorizar o trabalho, em especial o trabalho braçal que aqueles homens e mulheres desenvolvem, em condições muitas vezes revoltantes e que, bem ou mal, a política trabalhista de Vargas havia parcialmente protegido, com a edição da chamada CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que garantia alguns direitos básicos ao trabalhador.
É mais do que evidente que Portinari se identificou e apoiou tais iniciativas do chamado Estado Novo. Mas, ao contrário das práticas da sociedade autoritária de então, ele sempre guardou e expressou aspectos profundamente humanos de seus personagens. Basta ver aquelas telas em que aparecem mulheres da favela em busca da água, com pesados cântaros na cabeça, mas acompanhadas de suas crianças; ou aquelas cenas das pequenas paradas quando as comadres trocam ideias e informações, sempre acompanhadas dos pequenos; ou as brincadeiras infantis nos campinhos abertos das cidades interioranas, lembranças de sua cidade natal, soltando pipas, jogando futebol, ou embalando, líricas, alguns animais domésticos, em especial ovelhas e galinhas.
Portinari fixou, nos grandes painéis, momentos significativos da história-pátria, como a Inconfidência Mineira, ou as grandes tragédias nacionais, como as marchas para a morte dos retirantes nordestinos. A dor da morte e o enterro dos anônimos é um de seus temas mais constantes. Em todas as suas telas encontramos um sensível jogo de tintas: nas obras mais líricas, pequenas faixas escurecidas são vencidas pelos espaços abertos - brancos, azuis claros etc. - onde perambulam as pipas e o sol que se espalha, iluminando a todos. Mas, nas telas trágicas, as cores se escurecem de vez e os corpos humanos revestem-se na formatação de figuras cadavéricas, com olhos esgazeados, dizimados pela fome e a sede, mas, sobretudo pela desesperança. Em alguns, as lágrimas saltam copiosamente dos olhos e se derramam por todo o espaço da tela.
O espaço dedicado pelo Masp à mostra de Portinari é relativamente pequeno, uma parte do subsolo. As telas estão bem distribuídas, na armação que se coloca de costas para as janelas envidraçadas, defendidas por largas cortinas brancas, a fim de que a luminosidade solar não prejudique as pinturas, muitas delas expostas pela primeira e talvez única vez, oriundas de coleções privadas. Há um pequeno e objetivo catálogo, mas as etiquetas de identificação das obras foram colocadas atrás de cada uma delas, o que dificulta para o visitante.
Duas coisas a destacar: filas para comprar ingressos. Outra coisa a espantar: professoras com crianças pequenas a guiarem tours pela exposição. Me senti civilizado. Os ingressos são relativamente baratos, e na terça-feira a entrada é livre. É uma mostra imperdível, identidade ampliada de cada um de nós, experiência inesquecível: terrível teatro que Portinari paralisou e eternizou em suas telas.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO