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Política

- Publicada em 29 de Agosto de 2016 às 11:04

'Hoje eu só temo a morte da democracia', afirma Dilma no Senado

"Aos quase 70 anos de idade, não seria agora que abdicaria dos serviços que sempre me guiaram", afirmou Dilma em seu depoimento

"Aos quase 70 anos de idade, não seria agora que abdicaria dos serviços que sempre me guiaram", afirmou Dilma em seu depoimento


Evaristo Sa/AFP/JC
Dilma Rousseff não foi branda em seu discurso no plenário do Senado Federal nesta segunda-feira (29), classificando o atual processo de impeachment como "golpe".
Dilma Rousseff não foi branda em seu discurso no plenário do Senado Federal nesta segunda-feira (29), classificando o atual processo de impeachment como "golpe".
"Um golpe que se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador. A eleição indireta de um governo, que já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando um povo nas urnas escolheu uma mulher para comandar o país", afirmou a presidente afastada, no quarto dia de seu julgamento no processo de impeachment, onde é acusada de crime de responsabilidade. "Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial. E já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido e aprovado pelo povo", afirmou.
A presidente afastada afirmou que "há que se configurar crime de responsabilidade, e está claro que não houve tal crime". Ela disse que afastá-la pelo "conjunto da obra", como foi alegado por alguns parlamentares ao longo do processo, não é legítimo. "Quem afasta o presidente pelo 'conjunto da obra' é o povo, e só o povo, pelas eleições", disse.
"A ameaça mais assustadora desse processo de impeachment sem crise de responsabilidade é congelar por inacreditáveis 20 anos as despesas com saúde, educação, saneamento e habitação", afirmou.
Dilma citou ainda presidentes brasileiros que foram afastados ou sofreram tentativas de afastamento, como Getúlio Vargas e João Goulart. "Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política, nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática", disse.
"Os padrões dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais, para que se empreste a aparência de legitimidade que assume".
Dilma Rousseff lembrou do período em que foi torturada pela ditadura militar e se emocionou durante seu depoimento no Senado, no julgamento do processo de impeachment. Ela disse temer que, mais uma vez, a democracia esteja em sua companhia no banco dos réus.
"Esse é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento junto comigo no banco dos réus. A primeira vez foi em um tribunal de exceção", comentou. Ela lembrou que, desse primeiro julgamento, ficou uma foto na qual ela aparece de cabeça erguida, enquanto seus julgadores tentam esconder o rosto para não serem julgados pela história. "Hoje não há prisão legal, não há tortura, meus julgadores foram eleitos pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida".
A presidente afirmou que, apesar das grandes diferenças nos dois julgamentos, mais uma vez sofre com o sentimento de injustiça e o receio de que, novamente, "a democracia seja condenada junto comigo". "Não tenho dúvida de que todos nós seremos julgados pela história".
Ela lembrou ainda que, por duas vezes, viu de perto a morte. A primeira foi durante "dias seguidos de tortura", em que as sevícias a que foi submetida a fizeram duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida. A segunda vez foi quando enfrentou um câncer no sistema linfático. "Hoje, eu só temo a morte da democracia, pela qual muitos de nós aqui lutamos com o melhor dos nossos esforços".

Sessão no Senado atrasou 40 minutos

A previsão era que Dilma falasse às 9h, mas a sessão foi só aberta pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, às 9h42min. Dilma iniciou sua fala às 9h53min.
Depois de chegar ao Congresso Nacional acompanhada do cantor Chico Buarque e do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a petista foi conduzida ao plenário pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Sentada do lado esquerdo do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, que comanda a sessão, Dilma iniciou seu discurso.
Dilma está afastada há quase quatro meses, desde que o Senado aceitou o processo e Michel Temer assumiu interinamente a Presidência. 
Com reportagem da Folhapress e do Estadão Conteúdo.
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