Caixa da honestidade

Na Austrália, à semelhança do que ocorre por aqui, é comum os agricultores venderem seus produtos na beira da estrada, em pequenas bancas. Frutas e verduras frescas são expostas em oferta aos viajantes.

A distinção digna de nota neste tradicional comércio é que, daquele lado do mundo, não há qualquer vendedor ou atendente cobrando o preço pelos produtos adquiridos. Impassível sobre a banca, apenas uma caixa para que o consumidor deposite o valor devido pelos produtos que livremente escolheu e apanhou, conforme os preços sugeridos pelo produtor. Os australianos a chamam de honesty box (caixa da honestidade) e, por mais que a nós pareça surpreendente, o sistema funciona perfeitamente. A maior prova disso é a sua perpetuação como tradição.

Por certo, não é apenas no comércio informal que a honesty box é aplicada na Austrália. Pelo contrário, esta é apenas uma simbólica representação do funcionamento da sociedade, que tem como algumas de suas notas fundamentais o respeito, a ética e a honestidade. Nos supermercados, nos postos de gasolina e no transporte público, vigora o sistema de autoatendimento, que se ampara na confiança de que cada consumidor ou usuário agirá da forma correta e pagará o preço devido. Aos trabalhadores, pode-se reservar funções produtivas, não fiscalizatórias. Seguindo essa trilha, dispensável elencar todos os benefícios econômicos e sociais obtidos com essa sutil diferença cultural. Como teria dito Sócrates, "se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade". Nos pequenos e grandes negócios prevalece por lá a boa-fé. Afinal, para um pequeno produtor, uma dúzia de ovos é tão importante quanto o imóvel para a construtora e o automóvel para a montadora. Detalhes como esse ajudam a explicar por que países como a Austrália tem crescimento satisfatório.

Induvidoso que, para o incremento dos negócios, a honestidade é uma aliada. A certeza de que o seu parceiro comercial não pretenderá locupletar-se às suas custas, agindo de má-fé e sem transparência, influencia positivamente na dinâmica comercial.

E não há dúvida também de que, para a vida em sociedade, poucas coisas podem ser melhores do que a tranquilidade de saber que se pode presumir a boa-fé, confiar naquele com quem se interage no dia a dia, notadamente e especialmente, quando o interlocutor for o Estado!