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Publicada em 09 de Junho de 2016 às 10:15

Mulheres são maioria entre doutores com titulação no exterior

Milene fez doutorado nos Estados Unidos

Milene fez doutorado nos Estados Unidos

ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
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A sociedade está em transformação. As mulheres já ocupam parte relevante do mercado de trabalho. Elas estão mais independentes e ativas no mercado e a maternidade já não é o principal foco da vida social da mulher no Brasil. E todo esse contexto social e econômico já se reflete em números da educação nacional. A novidade é que elas são maioria com titulação de doutorado no exterior, prova de que, diferente do perfil mais dedicado para casa e família, elas desbravam o mundo em nome da ciência.
A sociedade está em transformação. As mulheres já ocupam parte relevante do mercado de trabalho. Elas estão mais independentes e ativas no mercado e a maternidade já não é o principal foco da vida social da mulher no Brasil. E todo esse contexto social e econômico já se reflete em números da educação nacional. A novidade é que elas são maioria com titulação de doutorado no exterior, prova de que, diferente do perfil mais dedicado para casa e família, elas desbravam o mundo em nome da ciência.
O estudo "Doutores Brasileiros Titulados no Exterior", conduzido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mostrou que as mulheres doutoras tituladas no exterior representam, desde 2012, mais de 60% dos brasileiros que obtiveram esse título em outros países. O estudo integra um esforço do CGEE para avaliar a formação de recursos humanos em ciência, tecnologia e inovação no País e subsidiar a formulação de políticas públicas na área.
A pesquisa está baseada em informação sistematizada pelo CGEE, a partir de dados dos 14.173 doutores titulados no exterior entre 1970 e 2014. Por quase 50 anos, deste total, 8.357 (59%) são homens e 5.786 (41%) são mulheres. A partir de 2012, há uma inversão, e as mulheres passam a fazer maior número.
De acordo com Antônio Carlos Filgueira Galvão, diretor do CGEE, o Brasil é um dos três países com mais doutoras tituladas no exterior. No entanto, ainda assim, elas ganham menos que os doutores que também se formaram em outros países. Elas recebem uma média de 83,5% do salário dos homens. "O desafio permanece, mas tenho confiança - e os números mostram isso - que esta trajetória em busca de igualdade deve mudar", reconhece.
A nutricionista Milene Pufal, de 28 anos, teve a experiência de sair do Brasil em busca da titulação de doutora. Em 2014, participou do programa de doutorado na University of Alabama at Birmingham, nos Estados Unidos, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação do Ministério da Educação (MEC). A escolha do destino foi motivada por sua paixão por pesquisa. "A universidade é referência em estatística. Tive a oportunidade de adquirir conhecimentos profundos em um dos maiores centros de pesquisa da obesidade. Mais do que isso: há uma dedicação extraordinária sobre este tema nos EUA", revela.
De volta a Porto Alegre, Milene divide o tempo entre atender no consultório, no Centro Clínico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), auxiliar nas pesquisas e dar aulas, quando convidada. "O mercado brasileiro não está preparado para doutores e pós-doutores. Pesquisador é uma profissão ainda pouco entendida. Então, confesso, é um pouco desestimulante o retorno e suas poucas possibilidades. As chances de voltar aos EUA e ser pesquisadora são bem maiores", reconhece.

Cientista global com sotaque local

Para Galvão, ainda há diferença de quem se forma no Brasil e no exterior

Para Galvão, ainda há diferença de quem se forma no Brasil e no exterior

CGEE /DIVULGAÇÃO/JC
O sistema de ensino brasileiro já oferece cursos de pós-graduação bem-estruturados em praticamente todos os seus estados. Ainda assim, para Antônio Carlos Filgueira Galvão, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), doutores que saem do Brasil em busca do título acadêmico - um contingente que já foi maior do que nos dias de hoje, como aponta o levantamento do CGEE - têm o importante papel de oxigenar os conhecimentos locais. "É através destes pesquisadores que acessamos os trabalhos feitos mundo afora. Afinal, a ciência é universal. E, por isso, é tão essencial aproximar-se desta fronteira do conhecimento", afirma.
De acordo com Galvão, ainda há diferença de quem se forma no Brasil e no exterior, especialmente quando se trata de remuneração. "Ganha mais quem tem a titulação no exterior. No entanto, não há comprovação quanto à diferença na qualidade do ensino", comenta. Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Espanha e Alemanha estão entre os principais destinos dos pesquisadores globais. "Porém, observamos uma relevante taxa de retorno destes profissionais ao seu país de origem. O brasileiro tem uma relação com a sua terra. E, além de tudo isso, ainda que o governo tenha boas políticas de incentivo, não é barato formar-se doutor no exterior", analisa.
Os doutores com titulação no exterior concentram-se nas áreas de educação e setor público. E, dividindo espaço com quem tem formação no Brasil, encontram oportunidades em algumas indústrias e empresas. "Não é à toa que nosso País tem menos patentes do que outros. Devemos impulsionar este contingente para além da educação. Há um espaço interessante para a ciência evoluir. Os doutores precisam interagir com o mundo e misturar sua bagagem com o que se faz aqui", alerta.

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