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finanças pessoais

- Publicada em 06 de Junho de 2016 às 11:55

Hora de organizar as contas


FREEIMAGES.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Taxa de juros mais cara do que o rotativo do cartão de crédito e, em alguns casos, superando os quatro dígitos. É o que espera o consumidor que, atolado em dívidas, decidir recorrer ao crédito para negativado como última chance de reorganizar as contas. Em geral, quem oferece este produto promete ignorar qualquer mancha na vida financeira dos devedores. A contrapartida é que essa conta nunca sai barata.
Taxa de juros mais cara do que o rotativo do cartão de crédito e, em alguns casos, superando os quatro dígitos. É o que espera o consumidor que, atolado em dívidas, decidir recorrer ao crédito para negativado como última chance de reorganizar as contas. Em geral, quem oferece este produto promete ignorar qualquer mancha na vida financeira dos devedores. A contrapartida é que essa conta nunca sai barata.
Na prática, um juro na casa de 1.000% significa que um empréstimo de R$ 1 mil pode se transformar em mais de R$ 11 mil com a incidência de juro em apenas um ano. É como se, em termos aproximados, a taxa de juros de um ano completo no crédito consignado fosse equivalente ao cobrado em apenas um mês no negativado.
Saber de antemão o custo desse dinheiro não é tarefa fácil. O Banco Central não divulga dados específicos sobre o juro do crédito para negativado. A solução é buscar outra linha, a do crédito não consignado, e checar as maiores taxas praticadas no mercado. No topo do ranking, aparecem justamente as financeiras com forte apelo nesse produto, como Facta, Crefisa e Agiplan, com taxas entre 800% e 1.000%.
A metodologia do levantamento é a mesma de pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que também apontou os bancos BMG e Daycoval como instituições financeiras que ofertam abertamente esse crédito. Procuradas, Crefisa, Agiplan, BMG, Daycoval não se dispuseram a comentar a política adotada. A Facta não foi encontrada.
"Não é uma solução, justamente por conta dessas taxas de juros altíssimas", afirma Marcela Kawauti, economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). A especialista sugere que, antes de recorrer ao crédito para negativado, deve-se buscar qualquer outra saída, como a venda de bens. A economista do Idec, Ione Amorim, destaca que o risco é cair no superendividamento. "O que percebemos é uma ciranda. O consumidor toma dívidas para pagar juros de outras dívidas", afirma.
Em pesquisa com 20 bancos e instituições financeiras, Ione notou que, em comum, essas empresas prometem pouca burocracia e apontam o crédito como solução para o endividamento. "Muitas dessas instituições utilizam o crédito como uma ferramenta de fidelização do cliente", afirma. De acordo com o SPC Brasil, hoje há quase 60 milhões de inadimplentes no País. E, destes, 13,3% dizem que já recorreram ao negativado. O percentual cresce entre os mais endinheirados: nas classes A e B, 18,1% dos devedores já optaram pelo negativado.
A pesquisa também mostrou que quase metade dos inadimplentes informou que o crédito para negativado foi a única maneira encontrada para quitar os débitos. Mas, para os especialistas, existem, sim, maneiras melhores ou menos danosas de reequilibrar a vida financeira.

Consignado pode sera melhor alternativa

Para ajudar na tarefa de reduzir as dívidas e fugir dos juros elevados, a recomendação é escolher o crédito consignado, que possui a menor taxa do mercado. O custo é mais baixo porque o dinheiro é debitado diretamente da folha de pagamento. Apesar das vantagens, o consignado também possui riscos. Ione, do Idec, destaca que o consumidor deve se acostumar ao fato de que terá, todos os meses, uma redução automática da renda. "O efeito disso é que a inadimplência no consignado é controlada, mas se espalha por outras linhas de crédito, como o cheque especial e o cartão de crédito", afirma.
Nos casos extremos, é indicado ajuda de profissionais para sair do vermelho. "O endividado não precisa de mais crédito. O ideal é que ele faça um diagnóstico da situação financeira", afirma Diógenes Donizete, coordenador do Núcleo de Apoio ao Superendividado do Procon-SP. O órgão possui, desde 2012, um núcleo específico para auxiliar pessoas superendividadas a encontrarem soluções e saldar os débitos. Para participar, é preciso fazer um cadastro pelo site do Procon ou agendar um horário de atendimento pelo telefone. Depois, o Procon dá um curso de educação financeira e atua nas renegociações.

Renegociação tem segunda maior taxa de calote

Negociar com a instituição financeira pode não ser o ponto final da inadimplência. Dados do Banco Central mostram que os calotes na renegociação de dívida chegam a 17,7%, o segunda maior entre as pessoas físicas, atrás apenas para o rotativo do cartão de crédito.
Para os especialistas, esse resultado é fruto das mesmas falhas que levaram o consumidor a se tornar inadimplente pela primeira vez, como uma avaliação de crédito insuficiente. "Um erro muito comum é o consumidor topar a renegociação sem saber se conseguirá pagar as parcelas", afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Ela recomenda que, antes de negociar, o consumidor estude o seu orçamento e veja onde é possível cortar gastos.
Na tentativa de enxugar a planilha do orçamento, vale manter apenas o estritamente necessário, diz Diógenes Donizete, coordenador do Núcleo de Apoio ao Superendividado do Procon-SP. Só assim será possível saber o valor que sobra no fim do mês para o pagamento de uma renegociação.
Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), aponta que a saída é barganhar nos custos que às vezes passam batido e encarecem os empréstimos e financiamentos. "Dificilmente a instituição financeira vai querer diminuir a taxa de juros. Então é recomendável pedir o descontos de serviços, como taxas administrativas e seguros", afirma. "Um inadimplente de hoje começou lá atrás na tomada do crédito", avalia Hilgo Gonçalves, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
Gonçalves acredita que é responsabilidade das duas partes melhorar a maneira de encarar a contratação do crédito. Para ele, o consumidor precisa fazer a lição de casa para só se comprometer com o que estiver dentro de suas condições financeiras. Já a instituição financeira deve se esforçar para entender como estão as finanças do tomador e fazer uma avaliação de crédito adequada.
Em busca de melhores condições na hora de renegociar, o consumidor deve procurar a instituição financeira assim que perceber que não conseguirá honrar os pagamentos. "Quando acontece um imprevisto, como desemprego ou óbito de um membro da família, o conselho é procurar o agente financeiro o mais rápido possível e ser transparente", afirma Gonçalves.