Desigualdade e corrupção

A corrupção deve ser combatida (sem diferenciação entre os partidos!). Por que proclamar o óbvio? Porque, na irracionalidade que prevalece hoje no debate político, alguém dirá que, como considero a preocupação com a igualdade muito mais importante, isto decorre de despreocupação com os corruptos. É triste suportar a assertiva de que a corrupção é o maior problema brasileiro. Mais uma vez se está enganando o povo. Corrupção é caso de polícia, de Ministério Público e de Poder Judiciário. O grande problema é a desigualdade social e econômica. Dar ênfase só à corrupção é tentar ocultar aquilo que é muito mais grave. Esta técnica foi empregada contra Getulio Vargas (1954) e João Goulart. Não houve corrupção nos governos militares e de FHC? A desigualdade brutal não permite igualdade de oportunidades, a igualdade de educação, a alimentação adequada, a igualdade no acesso à saúde, à moradia, ao salário digno etc. É a desigualdade que gera a criminalidade que infesta nossas ruas. Os crimes dos que estão bem de vida têm outras causas, que não há espaço para aqui examinar. Parece que o desespero por um rápido impeachment visa segurar a Lava Jato, antes que apanhe os políticos de quase todos os partidos. O povo deve se manifestar nas ruas também pelo imposto sobre as grandes fortunas (está na Constituição), pela participação dos trabalhadores nos lucros e na gestão das empresas (também está), contra a flexibilização das leis trabalhistas, contra uma carga tributária que mais afeta os pobres, pelo aumento do imposto sobre as heranças, pela celeridade da reforma agrária, pela reforma urbana, contra os altos juros e o rentismo desenfreado. Em suma, manifestar-se em favor de uma adequada distribuição da riqueza.