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Teatro

- Publicada em 05 de Maio de 2016 às 22:31

Experiência futurista

Antonio Hohlfeldt
O coletivo Habitantes reúne quatro artistas, entre artes plásticas e visuais e artes cênicas, estreando com este espetáculo denominado Habitantes d'Ela, ora em cartaz no espaço da Casa Cultural Tony Petzhold. O projeto recebeu o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz de 2014, que financia parcialmente produções de artes cênicas. O roteiro original é de Maria Luiza Sá e Madureira, com direção de Renata de Lélis, responsável, ainda, pela produção e sua única intérprete. O coreógrafo Eduardo Sanseverino responde pela direção de movimento (neste caso, fundamental), com cenário de Zoé Degani, figurinos de Antonio Rabadan, trilha sonora de Caio Amon e desenho de luz de Edu Rabin. Colaboraram, ainda, Daniel P. Teixeira e Lucas Rachewsky, além de Fernando Krum, que respondem pelo conceito visual e vídeo mapping. Trata-se de um espetáculo eminentemente experimental e autoral. Na prática, deve-se reconhecer uma autoria coletiva em relação ao trabalho, porque todos os aspectos da encenação estão umbilicalmente ligados entre si.
O coletivo Habitantes reúne quatro artistas, entre artes plásticas e visuais e artes cênicas, estreando com este espetáculo denominado Habitantes d'Ela, ora em cartaz no espaço da Casa Cultural Tony Petzhold. O projeto recebeu o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz de 2014, que financia parcialmente produções de artes cênicas. O roteiro original é de Maria Luiza Sá e Madureira, com direção de Renata de Lélis, responsável, ainda, pela produção e sua única intérprete. O coreógrafo Eduardo Sanseverino responde pela direção de movimento (neste caso, fundamental), com cenário de Zoé Degani, figurinos de Antonio Rabadan, trilha sonora de Caio Amon e desenho de luz de Edu Rabin. Colaboraram, ainda, Daniel P. Teixeira e Lucas Rachewsky, além de Fernando Krum, que respondem pelo conceito visual e vídeo mapping. Trata-se de um espetáculo eminentemente experimental e autoral. Na prática, deve-se reconhecer uma autoria coletiva em relação ao trabalho, porque todos os aspectos da encenação estão umbilicalmente ligados entre si.
Na dramaturgia contemporânea, o conceito de dramaturgo (autor do texto dramático) foi praticamente abandonado. O que se tem é um roteiro básico, a partir do qual o realizador (metteur en scène) de certo modo preenche os vazios propositadamente deixados no texto, através de uma coautoria que se concretiza em cena, podendo ser concentrado nele ou repartido entre os demais elementos da equipe coletiva, como ocorre neste caso. Assim, praticamente, afasta-se do conceito de autoria individual para se pensar em um trabalho eminentemente conjunto, em que cada elemento do espetáculo depende do outro, numa espécie de criação holística. Renata já havia experimentado, enquanto atriz, um trabalho solo, sob direção de seu pai, o diretor Camilo de Lélis, a partir de texto do poeta Walmir Ayala e aqui vai mais além, estreando na direção. Na verdade, uma direção relativa porque, como já mencionado, estamos diante de um trabalho coletivo. De qualquer modo, é dela a responsabilidade pelas decisões finais que concretizam o trabalho, motivo pelo qual ela pode assinar a performance, com cerca de uma hora de duração.
O programa de Habitantes d'Ela fala a respeito de uma mulher que se comporta esquizofrenicamente, considerando-se invadida por um chip que teria sido colocado no interior de seu corpo e que coordenaria suas ações e até mesmo sentimentos.
O espaço ambiental é estranho, lembra bastante aquelas paisagens de filmes de ficção científica, inclusive com a incidência de iluminação cinzenta, opaca e agressivamente voltada para o público que, por vezes, sobretudo nas primeiras fileiras da plateia, fica prejudicado em sua visão. O texto configura-se basicamente em um monólogo da personagem, mas, em contraste com o que ela declara sofrer, apresenta-se uma cientista (desdobramento da primeira figura?) que explica, "cientificamente", a ocorrência que está sendo estudada. Por vezes, se estabelece um diálogo entre as duas personagens, mesmo que o espectador não posso ouvir as réplicas de Ela, de certo modo, a vítima de tal processo invasivo.
No que toca ao espetáculo, o que se pode anotar é um conceito forte, bem objetivo, por parte de todo o grupo, quanto a sua concepção. Tudo se dirige para um determinado resultado, que é este estranhamento da mulher com seu próprio corpo e mente. Para nisso, concorrem todos os elementos cênicos que compõem o trabalho, e isso desde os colchões ou balsas salva-vidas que se amontoam sobre a personagem, logo no início da encenação, até o maquinário criado para permitir a "conferência" da aparente cientista que se dirige a um hipotético auditório, na verdade, nós mesmos, espectadores.
Renata de Lélis revela uma nova faceta: não sei se ela já tinha treinamento de bailarina, mas é certo que se desempenha muito bem da tarefa, inclusive por seu corpo esguio e flexível, que lhe permite movimentos incomuns.
O resultado de tudo isso é um trabalho provocativo, curioso, que obrigado o espectador a sair de sua zona de conforto e participar, mesmo que indiretamente, da própria trama, de certo modo, um espetáculo futurista.
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