O primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, apresentou sua renúncia ontem, dois dias depois de seu nome aparecer nos documentos da investigação conhecida como "Panama Papers". Após dizer que não deixaria o cargo, Gunnlaugsson cedeu aos protestos de milhares de islandeses que foram às ruas. De acordo com os papéis vazados, ele e sua mulher criaram uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas com a ajuda do escritório de advocacia e consultoria panamenho Mossack Fonseca.
O premiê é acusado de conflitos de interesse por não ter revelado seu envolvimento com a empresa, que tinha participação em bancos islandeses falidos que seu governo deveria supervisionar. Mais cedo, o presidente islandês, Olafur Ragnar Grimsson, havia negado o pedido de Gunnlaugsson de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, o que tornou a situação do premiê praticamente insustentável. Segundo o jornal islandês Morgunbladid, membros do Partido Progressista, ao qual pertence Gunnlaugsson, se reuniram ontem e concordaram que ele não poderia mais permanecer no cargo.
Com isso, Gunnlaugsson é a primeira figura proeminente a ser derrubada pelo vazamento de mais de 11 milhões de documentos financeiros do escritório Mossack Fonseca, que mostram arranjos para evasão fiscal de pessoas ricas e famosas em todo o mundo. Um grupo de jornalistas foi o responsável por divulgar milhares de dados sobre como o escritório abria empresas offshore para operações como lavagem de dinheiro.
Gunnlaugsson nega ter cometido qualquer má conduta e disse que ele e sua esposa pagaram todos os impostos e não fizeram nada ilegal. Segundo disse, seus investimentos financeiros não afetaram as negociações com os credores da Islândia durante a grave crise financeira sofrida pelo país.
O vazamento dos documentos desencadeou promessas de investigação e obrigou líderes, principalmente da Europa, a se defenderem de suspeitas. Dentre os citados no caso estão Ian Cameron, pai do premiê britânico, David Cameron, e aliados próximos ao presidente russo, Vladimir Putin.