Mesmo ainda crescendo em volume, as exportações gaúchas registraram, no primeiro trimestre de 2016, o pior resultado para o período desde 2010. Nos três primeiros meses do ano, as vendas externas totalizaram US$ 2,80 bilhões, queda de 9,2% em relação a 2015. O resultado é explicado pelo recuo de 17,7% nos preços, que anularam o crescimento de 10,4% no total embarcado. Com isso, o Estado perdeu duas posições entre os maiores exportadores, para Mato Grosso e Paraná (cujos embarques de soja começam antes do que no Rio Grande do Sul), e agora é o sexto principal do País.
Segundo o pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Tomás Torezani, a queda nos preços é decorrência da diminuição generalizada do preço internacional das commodities, além de sofrer influência da desvalorização do real, que torna o produto brasileiro mais barato em dólar. "Por outro lado, vemos que o volume segue crescendo sistematicamente há vários anos", contextualiza Torezani. Todos os principais estados exportadores brasileiros cresceram em volume e sofreram com a queda nos preços.
Embora, pelo estudo, não seja possível medir a influência real do câmbio, o pesquisador ressalta que, provavelmente, a rentabilidade dos exportadores tenha crescido por conta da desvalorização da moeda nacional. Torezani lembra, porém, que boa parte dos custos e insumos também é atrelada ao dólar, o que afetaria negativamente o resultado.
Entre os grupos de produtos, a única variação positiva foi vista, novamente, nos semimanufaturados. O crescimento de 57,8% entre os períodos é ainda fruto da entrada em funcionamento da expansão da Celulose Riograndense em maio de 2015, que fez com que as vendas de celulose crescessem 700% em volume. O produto deve continuar sendo destaque na pauta até o fim do ano, assim como a soja. Tradicionalmente, é a partir de abril, com o início dos embarques do grão, que as exportações gaúchas disparam, algo que deve se repetir neste ano com previsão de nova safra recorde.
Nos básicos, que caíram 19,6% em valor, os destaques positivos foram as carnes bovina ( 52,8%) e suína ( 10,4%), puxadas pelas aberturas de mercado, principalmente a China. Por outro lado, o setor sofreu com a queda de 66,1% nas vendas de trigo. O cereal teve vendas atípicas em 2015, por conta da baixa qualidade da safra, que atrasou as exportações e direcionou o trigo a países como Tailândia e Bangladesh, que nunca haviam comprado do Estado, e em 2016 voltou a níveis normais. O farelo de soja também sofreu uma redução de 40% no valor, graças a diminuições nos embarques para a Holanda.
Nos manufaturados, cujo valor sofreu retração de 9,8%, o destaque foi a retomada do setor calçadista, que cresceu 37,5% em volume e 9,5% em valor, com vendas principalmente para os Estados Unidos. Os principais produtos industrializados da pauta continuam sendo os polímeros plásticos, que representaram 21% do total embarcado na categoria. As maiores quedas foram percebidas em máquinas agrícolas (-58% em valor) e ônibus (-79,8% em valor).
Para os próximos meses, as perspectivas são positivas, de acordo com Torezani, pelo câmbio favorável e pelas safras recordes. "Além disso, a demanda por alimentos da China não deve cair, independentemente do cenário econômico, e vemos os Estados Unidos voltando a ter um crescimento sustentável", projeta. Os países são os dois principais compradores dos produtos gaúchos e registraram crescimentos de US$ 69,9 milhões e US$ 45,2 milhões, respectivamente. O terceiro destino é a Argentina, que diminuiu em US$ 39,4 milhões as suas compras no Estado.